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domingo, 28 de novembro de 2010
Como ver a clarividência - Capítulo 9 - Márcio Lupion
Como ver a clarividência - Capítulo 9 - Márcio Lupion:
"por Márcio Lupion - marcio@kallipolis.org
Quando um monge é iniciado, ele sabe que o trabalho será difícil e que a iniciação é uma ação mais do discípulo do que do mestre e precisa prestar atenção em uma missão sem desistência: destruir o seu próprio ego.
Para saber o que é ego, é preciso realmente resolver parar a vida, mudar o olhar sobre a realidade, reorganizar toda a forma de entender o mundo, reeducar os sentidos - o paladar, o tato, o olfato, o olhar e, principalmente, a audição.
O primeiro exercício foi praticar a humildade, começando pelo cuidado absoluto com o próprio corpo, não ingerindo nada que fosse produzido com maldade ou mal-estar. Em seguida à limpeza do corpo, alguns de nós passavam a dormir no chão, o que foi meu caso, usava apenas um leve manto. A alimentação era sempre simples, cuidávamos o máximo para não ter nenhum tipo de prazer sensórial... Assim, os meses e anos se passavam.
Colher os frutos desse sadana não demorava muito, porque essa aparente austeridade, na verdade, nos desligava da realidade comum. Assim, com esses exercícios apareciam os primeiros sinais espirituais.
A alma se limpa porque a nossa animação e motivação passam a ser puras, queremos realmente voltar a ver o mundo como o paraíso original. O primeiro sinal é uma sensibilidade com as palavras à flor da pele, cada palavra agora não vem só preenchida por som, mas também de intenção. Então, escutamos um 'oi' que pode ter milhares de entonações diferentes, mas a gente sabe o sentido desse 'oi', se é afetivo, se é informal, enfim...
Começamos a sentir agora tudo com o próprio corpo, com o coração. Parece que o cérebro passa a ser no coração e tudo que importa dentro desse universo é o sentimento, a qualidade da vida; o tédio e a vontade de conversar sobre trivialidades desaparecem, e disso brota o voto de silêncio. Aquele silêncio da meditação agora é incorporado ao nosso olhar, porque passamos a observar o colorido dos objetos de fato, a luz refletida neles, que cada minuto do dia muda a leitura da realidade porque mudam as luzes, os ventos, a temperatura, mudam os humores e você começa a enxergar a sua vida do alto, ou do lado e se vê, literalmente, de fora... e se percebe observando não só aos outros, mas a si mesmo, como se andássemos ao lado da gente ou sobre a nossa própria cabeça. E quase que dá para nos chamar de 'ele': ele fala, ele tem fome, ele tem as suas próprias necessidades... o corpo e o ego ficam à parte. Sobre o ego dizem que é morrendo que se renasce, exatamente porque o ego, acima de tudo, não é a nossa personalidade, mas a personalidade comum, aquela construída na convivência com as outras pessoas e que somos forçados a vestir, no momento em que chegamos próximo aos outros, como se fosse uma máscara.
Nesse distanciamento que a consciência tem do próprio corpo, a gente passa a ser mais exigente, a depender de menos coisas e querer que esses objetos, situações, alimentos e conversas sejam 100% verdade, que elas já não estejam em nossa própria mente, como na de quem que nos visita; então, reduz-se o som, porque você consegue senti-lo; os gestos, porque nenhum pensamento mais lhe visita para modelar gesto algum.
Na Índia, há uma prática chamada Mudras, a ciência dos gestos, que consiste em conseguir entender os outros pelo movimento das mãos, o desenho dos sentimentos no rosto, pela postura do corpo, e é um exercício sofisticado de reeducação, que acontece no momento em que a gente pára de pensar e apenas observa o vazio de si mesmo e os sinais de clarividência, no conceito mais simples de que tudo fica claro e evidente, começam a fazer parte do nosso viver, do nosso respirar.
Olhamos para as plantas e percebemos o fluido de vida sendo liberado, uma fumaça brilhante, densa, em alguns momentos, e transparente em outros. Todas as plantas têm isso, as plantas de mesma espécie se comunicam, é possível ver ventos caminhando de uma para a outra, como se elas trocassem fluidos, não só por debaixo da terra, mas também por cima e esses fluidos ignoram qualquer outro tipo de matéria; o homem anda e eles atravessam cada ser humano, atravessam paredes e vão se comunicando entre si como se houvessem rios multicoloridos, multivibracionais transitando por todo universo e nós estivéssemos mergulhados neles sem perceber.
Se é assim no reino vegetal, imagine no momento em que começamos a perceber que cada ser humano deixa um rastro de sentimento para trás, de emoções, mas esse rastro não é simplesmente deixado, como quando nós levantamos sem olhar para trás deixando tudo desarrumado, ou nos lugares em que a gente espera outra pessoa arrumar para nós, aquele movimento físico é 1% da sensação que um clarividente tem no momento em que ele olha para o movimento astral.
A palavra astral vem de astro, de plano astral que é entender o mundo dos nossos desejos, das nossas ações. O mapa astral nada mais é que uma carta de intenções de viagem, onde a gente consegue olhar o pensamento que deu origem a essa vida e ao mesmo tempo ver esta vida em movimento. O mais importante é perceber que a realidade que dá vida à vida desse corpo acontece fora dele. Aqui em cima, quando a gente vê o ego e os outros egos passeando percebe os sonhos de cada um materializados em suas palavras, sonhos que ainda estão por vir, mas já estão nas palavras. Ou sonhos que já existem, mas as pessoas não conseguem nem vivencià-los porque elas estão sempre desejando, sempre querendo e nunca sentindo, nunca vivendo.
Esses anos de monge e os momentos de clarividência são exatamente o caminho do aprendizado. Nunca consegui conceber monges que não fossem clarividentes, ou que não tivessem inspirações e não estivessem abertos a mundos espirituais e se comunicassem diretamente com estes. Era muito difícil entender religiosidade sem esse aparato espiritual, sem esses sentidos superiores, porque praticamente você aprende da fonte, da verdade, aquela que dá vida a todo universo fora. No momento em que resolvemos buscá-la, ela se manifesta no nosso coração, no nosso entendimento, em tudo fora da gente, estreitando a leitura de positivo e negativo, bem e mal. O exercício de clarividência mais importante foi começar a perceber que tanto os mundos inferiores - os infernos, como os mundos superiores, estão presentes, e não precisa de muita experiência para perceber isso e é desse exercício que vem a vida monástica, a vida que levou o Márcio a entender o viver entre esse mundo de pureza e perfeição, que conseguimos perceber ao desistir dessa realidade, e o mundo de agonia, que é quando acreditamos nas distorções do tempo em relação a sentimentos e verdades que estão presas no tempo.
O grande aprendizado é desistir das coisas que nos fazem mal e nos prendem ao passado, desistir dos sonhos que deram certo - esses são os que causam mais mal-estar, porque esses a gente quer -porque quer- repetir e essa desistência traz os primeiros sinais de iluminação... o exercício de clarividência.
Acessem o Capítulo 8 - http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=24138
por Márcio Lupion - marcio@kallipolis.org
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