sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Saudações, Aruna. Eu sigo você e os seus com interesse. Gostaria de comentar as mudanças na Terra do ponto de vista da minha especialidade de geólogo, para qualquer um que se interessar. Quando eu era mais jovem, antes da pesquisa moderna do Ártico e da Antártida, pensávamos que havia acontecido quatro grandes Eras Glaciais. Agora, com os estudos dos núcleos da Groelândia e da Antártida feitos aqui em Denver, Colorado, percebemos que a Terra tem entrado e saído de Eras Glaciais por cerca de um milhão de anos, sobre as quais temos inúmeros dados. Estamos nos aproximando de outra Era Glacial, de acordo com informações, num futuro “geológico” bem próximo.
As flutuações de temperatura coincidem com o alinhamento astronômico de coisas como movimentações planetárias, mudança de eixo, etc. No último milhão de anos a temperatura tem controlado os níveis de gases do efeito estufa (CO2, metano, etc). Isso mudou no final do século XIX, quando os níveis de CO2 começaram a subir em peso devido à combustão humana, principalmente de carvão. Estudos de datação do carbono na atmosfera indicam se tratar de carbono geologicamente antigo, portanto sabemos que veio de carvão extraído por humanos. Com isso se conclui, sem dúvida, que o aumento de CO2 tem causas humanas. Significantemente, essas medições de CO2 foram feitas a mais de 4.200 metros de altitude, no Havaí, para que as leituras não fossem contaminadas pelas indústrias e áreas urbanas e florestais das redondezas.
A interpretação científica desta informação é que os humanos não foram a causa do aumento de CO2 na época da Revolução Industrial, mas o são agora. No passado a flutuação de temperatura natural regulava os níveis de CO2, e não o contrário. Isso significa que temos condições naturais para uma Era Glacial retornar em algum momento, mas estamos adiantando este cenário para o tempo atual, com o aumento de calor induzido pelos humanos.Outra observação a ser feita é que “mudanças climáticas” são uma regra neste planeta. A vida aqui tem se ajustado muitas vezes ao longo do Tempo Geológico. A vida mudou muito, mas sempre permitindo a sobrevivência ao longo da história da Terra. Agora, no entanto, pela primeira vez temos bilhões de seres humanos na biosfera. Migrações humanas são em grande parte resultado de dificuldades econômicas de viver onde o clima não é agro-produtivo. As razões para a migração se intensificam com o tumulto político. Ao longo do Tempo Geológico o ciclo do nível do mar sobe, forçando periodicamente remanejamentos territoriais.
Populações de doenças de animais, plantas e micróbios também são forçadas a se realocarem de tempos em tempos. Utilizamos o termo “espécies invasivas” para descrever essa realocação natural com intenção de sobrevivência. Sobre tudo isso o nosso público já ouviu falar.
O que muitos humanos não estão cientes é de que estamos à beira de um “evento de extinção em massa” que pode ser comparado ao que aconteceu com os dinossauros no final do período Cretáceo. Ele teve início há aproximadamente 50 mil anos. Esta foi a época em que os humanos começaram a sair da África e se espalhar pelo planeta. Foi nessa época que a megafauna (N. do T.: animais de porte imenso como a preguiça gigante, mamute e tigre dente-de-sabre) desapareceu vastamente das Américas, África, Austrália, Europa e Ásia. Os seres humanos caçaram e comeram todos eles? Não, isso teria sido impossível. Nas Américas, na Austrália e em toda parte nós recentemente aprendemos que muitos tipos de plantas e árvores começaram a mudar há aproximadamente 50 mil anos. Que papel nós, humanos, tivemos nessas mudanças bióticas observadas? Bem, nós começamos a “administrar” a terra. Nosso manejo da terra começou a mudar a face do planeta. No começo eram populações nativas usando o fogo para controlar os animais grandes. Essa prática levou ao desmatamento para a agricultura, ao passo em que deixamos de ser caçadores para nos agruparmos em vilas. Os humanos modernos são muito, muito bons em alterar a superfície do planeta para suprir suas necessidades percebidas. Relâmpagos causavam incêndios naturais, mas os humanos são muito bons em queimar savanas e florestas, arando e cortando, espalhando inseticidas, etc. A maior parte da vegetação “natural” que vemos hoje, na verdade não é natural. O que isso tem a ver com a biosfera da Terra? Extinções, e em grandes números, Extinção em Massa.
Agora começamos a perceber nossa situação. Nós humanos temos modificado a superfície do planeta através de nossas ações por 50 mil anos. Ele se rastejou sobre nós. Eu gosto desta analogia: “é como se viéssemos sendo espancados com um casaco de pele, mas agora, com nossos exorbitantes e crescentes níveis de dióxido de carbono, estamos prestes a sermos atingidos com um casaco que traz embrulhado dentro de si uma bigorna”.
Podemos fazer algo a essa altura? Bem, sim, nós podemos, mas o faremos? Nós humanos causamos a diminuição do ozônio em nossa atmosfera superior permitindo que a luz UV atingisse a superfície da Terra causando todo tipo de problemas para nós mesmos, habitantes da superfície, como o câncer de pele. Mudamos nossos hábitos e o problema do ozônio está retrocedendo. Temos detectado mudanças sutis no uso da terra nas florestas tropicais, que recuperaram áreas quase perdidas. Há muitos exemplos de pequenas mudanças, por números muito pequenos de pessoas, que tem trazido de volta animais à beira da extinção. O bisão americano é um exemplo. A principal estrada a ser construída através do parque Seregenti (Tanzânia, África), cortando as rotas de migração animal, pode ser feita de forma a permitir que as migrações continuem. Uma grande vitória. Nós humanos podemos viver com este planeta e todos os seus habitantes... se assim escolhermos. Se não, nossa própria presença neste planeta físico pode terminar de forma abrupta quando a bigorna nos atingir na cabeça. Mudanças climáticas são a regra.
Estamos apenas começando a vivenciar a atual. Se a humanidade puder aprender com esta oportunidade a se unir em benefício de todos os seres que habitam o planeta, nós teremos uma chance de sobreviver, quando um desastre ainda mais catastrófico vier em nossa direção exigindo ação rápida. Temos uma inversão polar a caminho; teremos um asteróide fazendo múltiplas órbitas próximas no final da década de 2020; temos o Yellowstone, um super-vulcão, em vias de erupção (tenham em mente que quando Toba, outro super-vulcão entrou em erupção, a população humana, do mundo inteiro, caiu para 10 mil sobreviventes). Sem mencionar o sofrimento humano e biótico trazido pelos desastres "comuns” como tsunamis, terremotos, furacões, tornados, enchentes e similares.
Esse dilema moderno que nós humanos criamos pode ser uma oportunidade de aprendizado. Iremos aprender, ajudar uns aos outros, e mudar nossos hábitos? Podemos, se assim escolhermos.
Wayne Pound
Colorado, EUA
“Podemos discordar, às vezes, dos homens sobre as coisas da Terra, mas nunca deveríamos discordar do Grande Espírito.” Chefe Joseph (líder da resistência indígena americana), 1881.
Texto original: http://comptedesaintgermainsblog.blogspot.com/2011/01/comments-on-yesterdays-blog-from.html
Traduzido por David Marinho
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