sábado, 26 de fevereiro de 2011
Auto-estima e auto-afirmação
Entrevista dada a Francine Moreno, repórter do Diário da Região. O Diário da Região é o maior jornal da região Noroeste do Estado, circula em 96 municípios e tem tiragem diária de 23,5 mil exemplares, com 29 mil exemplares aos domingos.
Matéria especial sobre pessoas que vivem em busca de aprovação, para o Caderno Vida & Arte.
Entrevista
1 - Porque algumas pessoas vivem em busca de aprovação? Desejam receber o amor e a aprovação das pessoas em sua volta?
Querer aprovação em demasia é sinal de que a pessoa tem uma auto-estima bastante baixa. Quem tem sentimentos de auto-estima se sente amado, se sente querido e por isso depende menos das aprovações e avaliações alheias. Em oposição, pessoas com baixa auto-estima estão perdidas e não sabem o que escolher ou decidir, e geralmente elas escolhem as pessoas mais sedutoras como modelo e aprovação. Além disso quem tem baixa auto-estima se submete no relacionamento, é controlado aversivamente e se alimenta de migalhas.
2 - A verdade é que ninguém tem necessidade vital de aprovação para ser feliz?Não. Todo mundo quer ser aprovado de alguma maneira. E em alguns casos é muito necessário: feministas, homossexuais e outros grupos minoritários são radicais para conseguir seu espaço. Tais grupos precisam o tempo todo se auto-afirmar, querem mostrar suas qualidades, competências porque a sociedade os discriminam. O problema é quando a aprovação passa de alguns limites e toma muito tempo da vida da pessoa e aí a pessoa começa a viver mais a vida alheia que a própria.
3 - Querer agradar os outros, desagradando a si próprio, é uma forma de abrir mão da sua identidade?Isso depende do contexto. Em algumas situações é inevitável nos desagradarmos para fazermos algo que nosso companheiro goste. Uma mãe pode odiar assistir a filmes de guerra, mas vai ao cinema com o filho para agradá-lo o que seria uma forma de afeto. O problema na questão de agradar aos outros está na frequência, intensidade e duração. Ou seja, uma pessoa que quer agradar constantemente aos outros e de forma intensa deixa de fazer aquilo que lhe é reforçador intrínseco (aquilo que é "prazeroso" para si) e assim aos poucos deixa de ser feliz. Imagine por exemplo um filho que quer estudar Medicina porque a mãe gosta e assim ganha atenção e aprovação dela. Ele vai para o curso, mas vive questionando sua profissão e seu curso. Além disso, nunca fica satisfeito com o que estuda. Nas orientações profissionais que realizo em jovens é muito comum acontecer isso.
4 - Como fazer para interromper esse padrão de comportamento que suga energia?O melhor caminho é o autoconhecimento. O autoconhecimento consiste da observação de nossos comportamentos e entender as múltiplas razões e causas de nossos comportamentos. Em suma, entender ao que realmente respondemos quando nos comportamentos. O que vai depender provavelmente de uma análise da história de vida com questionamentos sobre si mesmo e a busca de respostas e isso pode ocorrer através da leitura de bons livros, psicoterapia, meditação, discussões enriquecedoras etc.
5 - É preciso experimentar dizer sim, não, ousar, seguir a intuição e caminho, mesmo correndo risco de desagradar, de ser criticado ou rejeitado pelas pessoas que não suportam que seja assim?Para se chegar a isso é importante aumentar a auto-estima do indivíduo. A auto-estima é um sentimento positivo da pessoa sobre si mesma, um sentimento de ser amado e querido; amor a si mesmo. Auto-estima está associado a bem estar e satisfação. A auto-estima é produzida por uma história de vida de origem social quando o filho “não se comporta”. Quando os pais disponibilizam reforçamento social (elogio, carinho, afago físico, atenção, sorriso, convites para programas favoritos etc) independente dos comportamentos dos filhos, estão contribuindo para o desenvolvimento de sua auto-estima. Além disso, é importante que o reforçamento social não seja disponibilizado contingentemente apenas em comportamentos específicos dos filhos, para evitar uma relação do tipo “só ganho carinho se faço algo que os meus pais querem.”
Uma pessoa deixa de responder menos aos comentários e críticas alheios quando gosta de si mesmo. Pode observar ao seu redor uma pessoa que tentar argumentar tudo que falam dela geralmente é uma forma que ela tem para se livrar das críticas e é sinal de baixa auto-estima. Uma pessoa com boa auto-estima consegue tolerar mais comentários alheios sobre si.
Agora para a nossa auto-estima melhorar precisamos ter bons amigos. Durante toda a vida, nosso ambiente interpessoal circundante – colegas, amigos, professores, bem como família – tem uma enorme influência sobre o tipo de indivíduo que nos tornamos. Nossa auto-imagem é formada, em grande medida, com base nas avaliações refletidas que percebemos nos olhos e nas falas de figuras importantes em nossas vidas. É apenas com o relacionamento interpessoal de qualidade, com bons vínculos afetivos é que desenvolvemos nossa auto-estima. Mas é bom lembrar que ter muitos amigos não é sinal da qualidade dos relacionamentos, o que desenvolve a nossa auto-estima é ter relacionamentos genuínos e afetivos. E isso envolve desabafar, ouvir, passar por dificuldades e ser acolhido, ajudar o outro, confiar no outro etc. É importante salientar que isso leva tempo para concretizar porque fazer bons amigos depende do outro, das circunstâncias, de alguns repertórios nossos etc. Logo, os vínculos afetivos que produzem o sentimento de auto-estima são raros. E além do mais, estes sentimentos são produtos de médio e longo prazo. Isto porque envolvem uma construção de confiança a partir de testes naturais na relação.
As Top models em sua maioria são vítimas de contingências que não produzem sentimentos de auto-estima. Geralmente, elas não têm tempo de ter relacionamentos duradouros devido às diversas viagens e compromissos. Como não tem tempo para os relacionamentos vingarem elas não conseguem testar se o parceiro é afetivo ou se os parceiros estão apenas por questões puramente sexuais. Além disso, estão em um ambiente que valoriza muito a estética e além do mais estão inseridas em um ambiente competitivo com outras modelos dificultando mais ainda vínculos genuínos. As circunstâncias são desfavoráveis e diminuem a probabilidade do afeto. Desse modo os relacionamentos tornam-se superficiais, não produzindo sentimentos de auto-estima.
6 - Ao ser quem é, vivendo suas expectativas e escolhendo o que dá certo, você se mantém à margem da armadilha de aprovação e busca realmente aquilo que quer?Nossa sociedade cria padrões com o objetivo de manter a ordem estabelecida para ter uma maior controle sobre os indivíduos. O que acontece é que as pessoas tem histórias de vida distintas e por isso se comportam de forma diferente e nem sempre correspondem com os padrões desta sociedade. Muitas vezes elas não se comportam de uma forma genuína para não ir em oposição aos padrões sociais, neste sentido é melhor seguir os padrões e ser aprovado, mas depois sempre ficará faltando algo porque a pessoa não segue a sua história de vida mas segue a história de vida alheia. Eu estou falando da variável social, mas é obvio que a história de vida é importante também. Uma pessoa que se sente amada em casa e tem pais que sempre valorizaram suas escolhas responderá mais a sua própria felicidade e menos aos padrões sociais vigentes.
7 - Ninguém perde aquilo que não tem. Quando você vive o que quer, as pessoas permanecem ao seu lado e apreciam por ser quem é, com qualidades e limitações?Mas falar isso a uma pessoa que tem baixa auto-estima é muito difícil de entender. Muitas pessoas são muito competentes no seu trabalho, mas péssimas em amor próprio. Muitas vezes ela tem um histórico onde o pai apenas dava carinho quando elas eram bem sucedidas nos seus afazeres. Assim, a criança cresce acreditando que será amada se fazer tudo direitinho. Aí ela desenvolve um repertório acadêmico e profissional porque acredita que assim será mais aceito e amado. O que de fato acontece é que isso não desenvolve afeto apenas fortalece a auto-afirmação. Tais indivíduos precisam quebrar a regra do desempenho para terem amor. Eles precisam aprender que precisam ser amados pela sua existência e companheirismo e não pelo sucesso que almejam. Auto-estima se desenvolve na relação com o outro. Onde o outro nos ama (organismo) pelo que a gente é e não pelo que nos comportamos ou temos.
Como a nossa sociedade tem a ilusão que pode comprar auto-estima. As pessoas pobres de estima vão compensar em altas vozes sobre o poder de compra que tem, ou falarão sobre o poder aquisitivo. Logo, o consumismo é uma estratégia perigosa que as pessoas usam para ter bem estar, nossa sociedade acredita no consumo para o bem estar. Mas, isso está longe de desenvolver auto-estima, isso só desenvolve a auto-afirmação.
8 - Mesmo correndo o risco de desagradar, de se sentir criticado ou rejeitado, é preciso seguir em frente. Abrir mão da autorrealização é abrir mão da oportunidade de construir sua felicidade, do seu jeito, no seu tempo, seja ela qual for?E apenas as pessoas que tem auto-estima conseguem isso. Pode perceber quanto menos uma pessoa tem auto-estima mais ela precisa se auto-afirmar. Se auto-afirmar é responder ao outro, é depender do outro, é querer a aprovação alheia para se sentir amado, mas isso é uma ilusão. Para auto-estima ser elevada é preciso ser amado independente do que temos ou a posição social que estamos e profissional que exercemos. A nossa auto-estima é elevada por um amor incondicional. Ou seja quando gostam da gente independente do que fazemos, mas pelo simples fato de nossa existência e amizade.
Uma pessoa que não possui sentimentos de auto-estima é porque tem uma história de desenvolvimento de privação de afeto. Daí uma forma de fuga/esquiva ineficaz e muito comum são comportamentos com a função de se auto-afirmar. Uma mulher, por exemplo, vai cuidar cada vez mais da sua estética. Um outro indivíduo vai compensar com um eterno desempenho e senso de perfeccionismo. Outras pessoas farão discípulos como forma de conseguir poder e status. É muito tentador ter bajuladores e adoradores e há uma função muito clara. Na verdade, os repertórios de comportamentos de fuga/esquiva (auto-afirmação) vai depender da seleção ocorrida na história de vida do indivíduo. Além disso quando uma pessoa tem seus comportamentos “adequados” extintos ou fadados à punições ou à situações aversivas incontroláveis ela desenvolve o sentimento de baixa auto-estima. Com a função de evitar mais sofrimento ela varia alguns de seus comportamentos e alguns são selecionados. Em alguns casos as pessoas desenvolvem a habilidade de se defender de críticas. Ela fica na defensiva. È uma adaptação natural. Se a crítica vir direto ela sofrerá muito por isso ele s defende veemente. A solução para tal situação é fazê-la discriminar e filtrar as críticas justas das injustas. A pessoas têm que ficar sob controle de que críticas justas devem sinalizar os comportamentos inadequados que devem ser mudados. Já as críticas injustas devem servir como sinal para a defesa. Na situação clínica o terapeuta precisa ensinar repertórios de enfrentamento e defesa da situação com a função de fugir eficazmente. Também é importante desenvolver um amplo repertório de habilidades sociais até ela se sinta segura o suficiente para testar as contingências. Quem tem baixa auto-estima precisa testar a sua importância, ter bons vínculos pessoais. Planejar situações em que o indivíduo entre em contato com pessoas afetivas é a melhor alternativa isto porque aumenta as chances de seus comportamentos de aproximação sejam reforçados em uma situação social. Em síntese, bons vínculos é o melhor ambiente para os carentes de amor a si próprio desenvolverem repertórios “adequados” e bons sentimentos e se livrar da baixa auto-estima que é uma eterna culpa.
9- Quando está centrado, vivendo á partir da própria essência, você se torna capaz de atrair o amor que deseja, sem medo ou carência, sem provar nada, apenas deixando brilhar a luz que existe em você?
Pessoas que tem boa auto-estima tem uma história em que os pais, irmãos ou amigos demonstraram amor incondicional: Tão bom estar aqui do seu lado; Filhão, você é lindo; Que saudades que estava de você. Perceba que tudo isso é dito independente da atividade do filho. É isso que constrói pessoas mais amadas e com auto-estima. È uma ilusão acreditar que o alto desempenho cria filhos mais amados. Isso só cria pessoas competitivas e bem sucedidas. Por outro lado pessoas que tem um histórico de vida que produziu auto-estima tem regras fortalecidas como: “Eu toco violão menos que meus amigos, mas dá para o gasto.” Ou: “É um baixinho, mas tem um beijo gostoso.”
É importante acrescentar que o sujeito com alto auto-estima nunca vai ser o primeiro. Ele se satisfaz com segundo, terceiro ou quarto lugar. Em contraposição, quem tem baixa auto-estima depende da referência externa, depende do outro, em muitos casos depende do desempenho. Depende da aprovação externa. Por conseguinte a regra: “Agradar aos outros a qualquer custo.” produz más relações ou relações que não duram. Logo, se livrar da aprovação ou reconhecimento dos outros é muito importante para aumentar o sentimento de auto-estima.
Quando você não precisa provar mais nada para alguém a sua auto-estima aumenta.
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Reginaldo do Carmo Aguiar é psicólogo clínico comportamental, analista do comportamento e estudioso das Neurociências.
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