domingo, 19 de junho de 2011

.: a arte de não fazer nada - QUATRO

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 2011
a arte de não fazer nada - QUATRO
A ARTE DO ÓCIO
No fim do dia, é importante esvaziar a sua mente e deixar os pensamentos passear um pouco.
Mesmo que você esteja cansado, dê a si mesmo uma oportunidade de ‘voltar para casa’ antes que você adormeça. Traga sua atenção de volta para a Terra, literalmente.
Ou seja: fique perto do chão.
Arranje uma cadeira baixa – um par de travesseiros, um banquinho para os pés ou um toco de árvore também servirão – e desça mais ou menos um metro de altura, de modo que seus olhos fiquem no nível do seu umbigo quando você estava de pé.
O que acontece a seguir chama-se ‘ÓCIO’.
Exige que você fique largado por um tempinho e espere que a cabeça volte a funcionar. Não se mexa até que seu cérebro esteja a salvo em seu crânio.
Entregar-se ao ócio à noite é uma atividade privada, mesmo se você estiver entre amigos ou com a família.
É uma das raras atividades comunitárias que lhe permitem ficar sozinho, se quiser, sem que ninguém interfira ou o acuse de ser ‘bicho-do-mato’.
Você pode se sentar na varanda ou num canto da sala, balançando para frente e para trás numa rede, enquanto o restante da família conversa a uns metros de distância.
Pode ir beber com os amigos no bar, mas, em vez de falar, deixe que o murmúrio do lugar se espalhe e chegue aos seus ouvidos como ondas do mar se quebrando na praia.
Ou então, depois de os filhos irem para a cama, você pode se afundar na sua poltrona favorita e curtir o silêncio da noite.
O ócio requer paciência, embora seja difícil se acomodar confortavelmente numa espreguiçadeira, por exemplo. Ironicamente as espreguiçadeiras são tudo, menos fáceis...
Foram cuidadosamente planejadas para que você não consiga se levantar.
Tente ficar de pé: o ângulo do assento puxa você para trás.
Ou agarre-se aos braços da cadeira: eles cedem.
E quando você se inclina para frente para se libertar das almofadas, sua cabeça não é contrapeso suficiente para seus quadris.
A grelha pélvica é a estrutura óssea mais pesada do corpo humano – pesa bem mais que a cavidade craniana. Uma vez rebaixada, é como se você tivesse lançado uma âncora.
É exatamente o que você precisa para impedir seus pensamentos de saírem por aí.
Mais ainda: um bom momento de ócio ajuda a alterar seu ponto de vista.
Em vez de ‘manobrar’ numa camada de realidade a quase dois metros do chão, agora você pode lidar com um submundo a apenas meio metro dos seus dedos dos pés.
Você passa a ver o cenário em que está de um novo ângulo e observa coisas que normalmente ficam escondidas: o interior do abajur, as lombadas de livros velhos relegados às prateleiras de baixo, a tinta descascando no parapeito das janelas.
Sem perceber, você se flagra concentrado no puxador de latão de uma gaveta, espantado com o artesanato da peça. Curiosa como um gato, sua mente o ajuda nessa investigação. Conta os parafusos que prendem o puxador.
Só três! Falta um.
Logo você se sente tentado a levantar e checar se existe um parafuso sobrando na caixa de ferramentas, mas a maldita cadeira o mantém no lugar.
E assim você se afunda ‘só mais um pouquinho’ e continua sua contemplação silenciosa.
Tal como a água desgasta as pedras, a contemplação acaba com as tensões.
ACALME SUA INQUIETAÇÃO
Sossegar a atividade mental não é nada fácil. Bem, você já conseguiu trazer a mente de volta à Terra.
Agora vem a parte mais difícil.
Se continuar sentado, terá uma boa oportunidade de deixar que suas idéias, conjecturas e observações se resolvam por si.
Alguns de nossos melhores ‘insights’ acontecem quando nosso consciente está de folga.
Isaac Newton descobriu a Lei Universal da Gravidade sentado embaixo de uma árvore.
Benjamin Franklin inventou o pára-raios quando empinava uma pipa. Thomas Edison bolou os filamentos da lâmpada elétrica enquanto limpava as mãos com querosene, na maior calma.
Albert Einstein ponderava sobre os enigmas do Universo acariciando um gatinho no colo.
Portanto, não se mexa. Contribua com a ciência. 
Fique de bruços o mais que puder.
Para resistir à tentação de se levantar, passe para o tempo geológico.
Com seu centro de gravidade próximo do chão, você bem que podia ser uma cadeia de montanhas: seu corpo, uma sucessão de topos e vales; seus pés dois promontórios no extremo de uma península.
Deixe seus pensamentos circularem pelos altos e baixos do relevo.
Não precisa temer, desnude o que está na superfície e exponha o cerne de seus sentimentos.
Anthar:
A MANEIRA PERFEITA DE PASSAR UMA MERECIDA TARDE OCIOSA É ‘ESTICAR-SE’, DE CORPO E ALMA. 
APROVEITE DE VEZ EM QUANDO, POR FAVOR E POR AMOR.
(continua)
Extraído e editado por Amigos de Anthar

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