terça-feira, 8 de novembro de 2011
- A MÁSCARA
Quase todos nós crescemos acreditando que não somos suficientemente bons para sermos amados pelo que somos.
Por isso, procuramos desesperadamente igualar-nos a uma imagem que criamos de como deveríamos ser.
O esforço contínuo para sustentar essa versão idealizada é responsável por grande parte dos nossos problemas.
Assim sendo, é importante que você descubra sobre quais bases construiu sua imagem idealizada e como ela deu origem ao sofrimento e à frustração em sua vida.
Você perceberá que o resultado dessa imagem foi exatamente o oposto do que você esperava.
Esta descoberta pode ser dolorosa, mas lhe possibilitará reavaliar sua postura frente ao mundo e o ajudará a tornar-se o seu verdadeiro Eu , sem tensões.
O EU SUPERIOR, O EU INFERIOR E A MÁSCARA
Num esforço para compreender melhor a natureza humana,
imagine-a representada por três esferas concêntricas.
A esfera central, o núcleo mais interior, é o Eu Superior, que faz parte da inteligência e do Amor universal que permeia a vida; em suma, o Criador.
É a centelha divina.
O Eu Superior é livre, espontâneo, criativo, amoroso, generoso, onisciente e capaz de alegria e felicidade infinitas.
Você sempre pode entrar em contato com ele quando está na verdade, quando dá de coração e por meio da meditação e da oração.
A camada que recobre o Eu divino é o mundo oculto de egocentricidade que denominamos eu inferior.
Esta é a sua parte não desenvolvida, que ainda contém emoções negativas, pensamentos negativos e impulsos como medo, ódio e crueldade.
A camada mais externa, que as pessoas utilizam como um escudo protetor para encobrir o eu inferior e muitas vezes também o seu Eu Superior, é a máscara ou auto-imagem idealizada.
Cada um desses níveis de consciência contém muitos graus e estágios.
O modo como se sobrepõem, se neutralizam e se emaranham, bem como seus efeitos colaterais e reações em cadeia, precisa ser pesquisado e compreendido.
Neste caminho, você se dedica a esse trabalho de pesquisa.
Todos esses aspectos da personalidade podem ser conscientes ou inconscientes em graus diversos.
Quanto mais inconsciente você estiver de algum deles, maior conflito haverá em sua vida e menos vocês estará preparado para lidar com os desafios que surgem em sua jornada.
Se sua consciência for turva, ela reduzirá a velocidade do processo de transformação, processo esse que tem por objetivo integrar o seu inferior e a sua máscara ao seu Centro divino.
É sobre a máscara, ou auto-imagem idealizada, que desejo falar neste artigo.
O sofrimento da experiência humana, e tem seu início com o nascimento.
Embora as experiências dolorosas sejam inevitavelmente seguidas por vivências prazerosas, o conhecimento e o medo do sofrimento estão sempre presentes.
A contramedida mais significativa a que as pessoas recorrem, na falsa crença de que ludibriarão a infelicidade, o sofrimento e mesmo a morte, é a criação de uma auto-imagem idealizada como uma pseudo proteção universal.
Supõe-se que essa auto-imagem seja um meio de evitar a infelicidade.
A infelicidade, a insegurança e a falta de fé em si mesmo estão interligadas.
Simulando o que não somos, isto é, criando uma auto-imagem idealizada, esperamos restabelecer a felicidade, a segurança e a autoconfiança.
Na verdade e na realidade, autoconfiança verdadeira é paz de espírito.
É segurança e independência sadia e possibilita que alcancemos um máximo de felicidade através do desenvolvimento das potencialidades inerentes a cada um, que vivamos uma vida construtiva e que estabeleçamos relações humanas frutíferas.
Mas, como a autoconfiança estabelecida através da auto-imagem idealizada é artificial, o resultado não pode ser o que se esperava.
De fato, a conseqüência é exatamente o extremo oposto, e frustrante, porque causa e efeito não são para você coisas óbvias.
Você precisa apreender e captar o significado, os efeitos, os danos e os elos existentes entre a sua infelicidade e a sua auto-imagem idealizada, e reconhecer plenamente de que modo específico ela se manifesta no seu caso individual.
Muito trabalho é necessário para descobrir isso.
O único modo possível de encontrar o seu Eu verdadeiro, de chegar à serenidade e ao respeito de si mesmo e de viver sua vida plenamente é proceder à dissolução da auto-imagem idealizada.
MEDO DO SOFRIMENTO E DO CASTIGO
Independentemente de suas circunstâncias específicas, quando criança você foi doutrinado com recomendações sobre a importância de ser bom , de ser santo e perfeito.
Quase toda vez que seu comportamento não correspondia a essa diretriz, de uma forma ou de outra você era castigado.
É muito possível que o pior castigo tenha sido o de seus pais lhe negarem afeto; eles se enraiveciam e você tinha a impressão de que não o amavam mais.
Não admira que “maldade” fosse, então, associada com castigo e infelicidade, e “bondade”, com recompensa e felicidade.
Daí que ser “bom” e “perfeito” se tornou um dever absoluto, uma questão de vida ou morte.
Ainda assim, você sabia perfeitamente bem que não era tão bom e tão perfeito como o mundo parecia esperar que você fosse.
E isto precisava ser escondido; tornou-se uma culpa secreta, e você começou a construir um falso eu.
Este, pensava você, seria a sua proteção, o seu meio de alcançar o que desejava desesperadamente
– vida, felicidade, segurança, autoconfiança.
A consciência dessa aparência falsa começou a se desvanecer,
mas você estava e está permanentemente traspassado pela culpa de fingir ser o que não é.
Você se empenha cada vez mais para se tornar esse falso eu, esse eu idealizado.
Você estava, e inconscientemente ainda está, convencido de que se se esforçar o bastante, algum dia você será esse eu.
Mas através dessa tentativa artificial de comprimir-se dentro de algo que não é, você jamais chegará ao auto-aperfeiçoamento, à auto purificação e a um desenvolvimento autênticos.
Você começou a construir um eu irreal sobre bases falsas e deixou de lado o seu verdadeiro Eu. Na verdade, você está escondendo isso desesperadamente.
A MÁSCARA MORAL DO EU IDEALIZADO
A auto-imagem idealizada pode assumir muitas formas.
Ela nem sempre dita padrões de perfeição geralmente aceitos.
Muitas vezes, a auto-imagem idealizada impõe altos padrões morais, fazendo com que seja ainda mais difícil questionar sua validade:“Não é certo querer ser sempre decente, afetuoso, compreensivo?
Não é certo procurar não ter raiva, não cometer faltas, mas tentar alcançar a perfeição?
Não é difícil você perceber a atitude compulsiva que nega a imperfeição presente, como o orgulho e a falta de humildade, que o impedem de aceitar-se como é agora. Isso inclui a simulação e a vergonha que acompanham esse estado de imperfeição, o medo de expor-se, o disfarce, a tensão, o esforço, a culpa e a ansiedade.
É necessário certo avanço nesse trabalho antes de você começar a experimentar a diferença no sentir entre o desejo autêntico de trabalhar gradualmente para o desenvolvimento e a falsa pretensão imposta pelos ditames do seu eu idealizado.
Você descobrirá o medo profundamente secreto que sussurra que seu mundo terminará se você não viver conforme seus padrões.
Você sentirá e conhecerá muitos outros aspectos e diferenças entre o eu autêntico e o não-autêntico.
E descobrirá também o que o seu eu idealizado individual reclama.
Dependendo da personalidade, das condições de vida e das influências iniciais, existem também facetas do eu idealizado que não são e não podem ser consideradas boas, éticas ou morais.
Tendências agressivas, hostis, arrogantes e ambiciosas são exaltadas ou idealizadas.
É verdade que essas tendências negativas existem por trás de todas as auto-imagens idealizadas.
Mas elas estão escondidas, e porque contradizem grosseiramente os padrões moralmente elevados do eu idealizado particular,
provocam maior ansiedade de que o eu idealizado seja exposto pela fraude que é.
A pessoa que enaltece tais tendências negativas, acreditando que se constituem em prova de força e independência, de superioridade e distanciamento, ficaria profundamente desconcertada com a espécie de bondade que o eu idealizado de outra pessoa usa como fachada, e a consideraria fraqueza,
vulnerabilidade e dependência num sentido malsão.
Uma pessoa assim subestima inteiramente o fato de que nada torna alguém tão vulnerável quanto o orgulho; nada desperta tanto medo.
Na maioria dos casos, existe uma combinação dessas duas tendências: padrões morais super exigentes impossíveis de seguir e orgulho de ser invulnerável, distante e superior.
A coexistência desses dois modos mutuamente excludentes apresenta um contratempo particular para a psique.
Desnecessário dizer, a percepção consciente desta contradição não acontece até que este trabalho esteja bem adiantado.
Há muitas facetas mais, possibilidades e pseudo-soluções individuais que combinam todos os tipos de comportamento mutuamente excludentes.
Tudo isso precisa ser descoberto individualmente.
Vamos agora comentar alguns efeitos gerais e algumas implicações da existência do eu idealizado.
Uma vez que é impossível cumprir os padrões e ditames do eu idealizado, você nunca abandona a tentativa de mantê-los e cultiva dentro de si uma tirania da pior espécie.
Você não se dá conta de que é impossível ser tão perfeito quanto seu eu idealizado exige, e por isso passa o tempo se flagelando, se castigando e se sentindo um fracasso total sempre que fica patente que não consegue corresponder às suas exigências.
Uma sensação de inutilidade desprezível se abate sobre você e o envolve em estado de miséria quando não consegue atender essas exigências fantásticas.
Às vezes esse estado de miséria é consciente, mas, na maioria das vezes, não é.
Mesmo que o seja, você não percebe o significado todo, a impossibilidade do que você espera de si mesmo.
Quando tenta esconder suas reações a seu próprio “fracasso”,
você adota meios especiais para não vê-lo.
Um dos expedientes mais comuns é projetar a culpa do seu “fracasso” no mundo, nos outros, na vida.
Quanto mais você tentar se identificar com sua auto-imagem idealizada, maior será seu desencanto toda vez que a vida o puser diante de uma situação em que esse disfarce não pode ser mantido.
Muitas crises pessoais originam-se nesse dilema , mais do que em problemas de ordem externa.
Essas dificuldades tornam-se então uma ameaça a mais, além de sua dificuldade objetiva.
A existência de problemas e de dificuldades é uma prova de que você não é o seu eu idealizado, e isso lhe retira a autoconfiança falsa que procurou assumir com a criação do eu idealizado.
Há tipos de personalidade que sabem muito bem que não podem identificar-se com seu eu idealizado.
Mas não sabem isso de uma maneira sadia.
Desesperam.
Acreditam que deveriam ser capazes de corresponder a essas imposições.
Toda a sua vida é permeada por uma sensação de fracasso,
enquanto que o tipo comum das pessoas experimenta esse fracasso somente em níveis mais conscientes quando condições exteriores e interiores culminam em mostrar o fantasma do eu idealizado como realmente é: uma ilusão, uma dissimulação, uma desonestidade.
Equivale a dizer: “Sei que sou imperfeito, mas faço de conta que sou perfeito.”
Não reconhecer essa desonestidade é relativamente fácil quando entra em ação o processo de racionalização pela consciência,
pelos padrões e metas meritórios e pelo desejo de ser bom.
A ACEITAÇÃO DE SI MESMO
O desejo verdadeiro de melhorar leva a aceitar a própria personalidade como ela é neste momento.
Se esta premissa básica for a principal força orientadora de sua motivação para a perfeição, qualquer descoberta daquilo que o impede de realizar seus ideais não o lançará na depressão, na ansiedade e na culpa, mas, antes, o fortalecerá.
Você não terá necessidade de exagerar a “maldade” do comportamento detectado, nem se defenderá contra ele com a desculpa de que é problema dos outros, da vida ou do destino.
Você adquirirá uma visão objetiva de si mesmo com relação a isto , e essa visão o libertará.
Você assumirá total responsabilidade pelas suas atitudes imperfeitas, desejoso de assumir as conseqüências sobre si mesmo.
Ao dar expressão ao seu eu idealizado, não é outro seu temor senão esse, pois assumir a responsabilidade por suas deficiências equivale a dizer: “Não sou o meu eu idealizado.”
O TIRANO INTERIOR
Sentimentos de fracasso, de frustração e de compulsão, como também de culpa e de vergonha, são as indicações mais notórias de que seu eu idealizado está em atividade.
Dentre todas as que permanecem ocultas, estas são emoções sentidas conscientemente.
Na realidade, a base da tirania da auto-imagem idealizada é a sensação de falsa vergonha e de falsa culpa que essa imagem produz quando não se consegue atender suas exigências.
Além disso, o eu idealizado também manifesta falsas necessidades , que são acrescentadas e criadas artificialmente, como a necessidade de glória, de triunfo, para satisfazer a vaidade ou o orgulho.
A busca dessas necessidades nunca resulta em realização verdadeira.
O eu idealizado foi chamado à existência para alcançar a autoconfiança e, finalmente, por conseqüência, a felicidade, o prazer supremo.
Quanto mais forte for a presença do eu idealizado mais a autoconfiança autêntica se desvanece.
Como não consegue atender às exigências do eu idealizado, você se considera ainda mais inferior do que o fazia inicialmente.
Portanto, é óbvio que a autoconfiança verdadeira só pode ser estabelecida quando você remove a super estrutura, que é o tirano cruel, seu eu idealizado.
Sim, você poderia ter autoconfiança se o eu idealizado fosse realmente você; e se pudesse alcançar o seu modelo.
Visto que isso é impossível e visto que , no fundo, você sabe muito bem que não é nada parecido com o que pensa que deve ser, você aumenta a insegurança com esse “super eu”, e um número maior de círculos viciosos aparece.
A insegurança original, que presumivelmente desapareceu com a consolidação do eu idealizado, aumenta constantemente.
Ela se transforma numa bola de neve, e se torna cada vez pior.
Quanto mais inseguro você se sente, mais rígidas se tornam as exigências da superestrutura ou eu idealizado, menos é capaz de satisfazê-las, e mais e mais inseguro se sente.
É muito importante observar como esse círculo vicioso funciona.
Mas isso não pode ser feito até que e a menos que você se torne plenamente consciente dos meios emaranhados, sutis e inconscientes sob os quais essa auto-imagem idealizada existe em seu caso particular.
Pergunte a si mesmo em que áreas particulares ela se manifesta.
Que causas e efeitos estão relacionados com ela ?
AFASTAMENTO DO VERDADEIRO EU
Outra conseqüência dramática desse problema é o afastamento sempre crescente em relação ao verdadeiro Eu.
O eu idealizado é uma falsidade.
É uma imitação rígida, construída artificialmente, de um ser humano vivo.
Você pode revesti-lo com muitos aspectos do seu ser real, mas ele continuará sempre uma construção artificial.
Quanto mais você investir suas energias, sua personalidade, suas categorias de pensamento, conceitos, idéias, e ideais nele, mais força você retirará do centro do seu ser, responsável único pelo crescimento.
Este centro de seu ser é sua única parte, o eu real, que pode viver , desenvolver-se e ser.
É a única parte que pode orientá-lo adequadamente.
Somente ele funciona com todas suas capacidades.
É flexível e intuitivo.
Somente seus sentimentos são verdadeiros e válidos, mesmo se, por um momento, não estejam ainda plenamente na verdade e na realidade, na perfeição e na pureza.
Mas os sentimentos do verdadeiro Eu funcionam em perfeição relativa pelo que você é agora.
Quanto mais retira daquele centro vivo para investir no robô que criou, mais você se afasta do verdadeiro Eu e mais o enfraquece e empobrece.
No desenvolvimento deste trabalho, às vezes você se fez essa pergunta intrigante e assustadora: “Quem sou realmente ?”
Este é o resultado da discrepância e da luta entre o verdadeiro Eu e o falso.
Somente depois de responder a esta pergunta vital e profunda seu centro responderá e funcionará em sua capacidade plena; só então sua intuição começará a operar plenamente; só então você se tornará espontâneo, livre de toda compulsão, confiando em seus sentimentos porque terão uma oportunidade para amadurecer e desenvolver-se.
Seus sentimentos se tornarão tão confiáveis quanto seu raciocínio e seu intelecto.
Tudo isso é a descoberta última do eu.
Antes que isso aconteça, muitas barreiras precisam ser transpostas.
A impressão que terá é a de que se trata de uma luta de vida ou morte.
Você ainda acredita que precisa do eu idealizado para viver e ser feliz.
Quando começar a acreditar que não é assim, você terá condições de abandonar a pseudo defesa que faz a manutenção e o cultivo do eu idealizado parecerem tão necessários.
Quando compreender que a expectativa com relação ao eu idealizado era a de que resolvesse os problemas específicos da sua vida acima e além da sua necessidade de felicidade, de prazer e de segurança, você perceberá a conclusão errônea dessa teoria.
À medida que avançar e reconhecer o malefício que o eu idealizado causou à sua vida, você se desfará dele pelo jugo que ele representa.
Nenhuma convicção, teoria ou palavra que possa ouvir farão com que você o abandone; apenas o reconhecimento do que especificamente você esperava que ele resolvesse e dos males que provocou e que continua provocando lhe permitirá dissolver essa que, de todas, é o protótipo das imagens.
Não é preciso dizer que você também deve reconhecer de modo muito particular e detalhado quais são as exigências e os padrões específicos do seu eu idealizado; além disso, deve perceber a insensatez e a impossibilidade dessas exigências e padrões.
Quando acometido por um sentimento de ansiedade aguda e de depressão, leve em conta o fato de que seu eu idealizado pode estar se sentindo questionado e ameaçado, quer por suas próprias limitações, quer pelos outros ou pela vida.
Perceba o auto desprezo que subjaz à ansiedade ou à depressão.
Quando está compulsivamente irritado com os outros , considere a possibilidade de que isso não passa de uma exteriorização de sua raiva contra si mesmo por não alcançar os padrões do seu falso eu.
Não deixe que ele fuja usando a desculpa de problemas externos responsáveis por depressão aguda ou por medo.
Considere a questão sob esse novo ângulo.
Seu trabalho pessoal o ajudará nessa direção, mas é quase impossível realizá-lo sozinho.
Somente depois de progredir substancialmente é que você reconhecerá que muitos desses problemas externos são conseqüências diretas ou indiretas da discrepância que existe entre suas capacidades e os padrões do seu eu idealizado e do modo como você lida com esse conflito.
Assim, à medida que prosseguir nessa fase específica do trabalho, você compreenderá a natureza exata do seu eu idealizado:
suas exigências e solicitações imperiosas são no sentido de você e outros manterem a ilusão.
Ao perceber plenamente que o elogiável para você, na verdade, é orgulho e pretensão, você terá alcançado a percepção intuitiva mais substancial que lhe possibilita enfraquecer o impacto do eu idealizado.
Então, e somente então, você se dará conta da tremenda autopunição que impõe a si mesmo.
Porque quando você fracassa, como fatalmente acontece sempre , você se sente tão impaciente, tão irritado, que seus sentimentos podem tornar-se uma bola de neve de fúria e cólera contra si mesmo.
Esta fúria e cólera em geral são projetadas nos outros porque é absolutamente insuportável estar consciente do próprio ódio nutrido contra si mesmo, a menos que a pessoa desdobre esse processo todo e o veja por inteiro, à luz.
Entretanto, mesmo que esse ódio seja descarregado sobre os outros, o efeito sobre o eu ainda permanece aí e pode provocar doenças, acidentes, perdas e fracassos exteriores sob as mais variadas formas.
A RENÚNCIA AO EU IDEALIZADO
Ao dar os primeiros passos na direção da renúncia ao eu idealizado, você terá uma sensação de liberdade como nunca antes.
Então você terá verdadeiramente renascido.
Seu Eu verdadeiro emergirá.
Você tomará assento no âmago do ser verdadeiro Eu.
Você, então, crescerá realmente, não somente nas partes mais externas que podem não ter sido subjugadas pela ditadura do eu idealizado, mas em cada parte do seu ser.
Isso desencadeará a mudança de muitas coisas.
Em primeiro lugar, surgirão alterações em suas reações com respeito à vida, aos acontecimentos, a si mesmo e aos outros.
Essas reações serão de fato surpreendentes, mas, pouco a pouco,
as coisas externas, com certeza, também mudarão.
Suas atitudes, agora diferentes, terão novos efeitos.
A superação do seu eu idealizado significa a superação de um importante aspecto da dualidade entre a vida e a morte.
No momento, você não está sequer consciente da pressão do seu eu idealizado, da vergonha, da humilhação, do abandono que teme e às vezes sente, da tensão, da pressão e da compaixão.
Se você tiver uma percepção rápida de tais emoções, você ainda não as relacionará com as exigências fantasiosas do seu eu idealizado.
É só depois de perceber plenamente essas expectativas fantasiosas e seus imperativos, muitas vezes contraditórios, que você será capaz de se desfazer deles.
A incoativa liberdade interior assim obtida permitirá que você passe a relacionar-se e a dar-se bem com a vida.
Você não precisará mais agarrar-se freneticamente ao eu idealizado.
A simples atividade interior de aferrar-se com tanta veemência gera um clima impregnante de prender-se a tudo de maneira geral.
Às vezes isto se manifesta em atitudes externas, mas via de regra é uma característica ou atitude interior.
À medida que prosseguir nessa nova fase do trabalho, você sentirá esse aperto interior e irá paulatinamente reconhecendo o malefício básico que ele causa.
Ele impossibilita a atitude de renúncia diante de muitas coisas.
Ele torna desmedidamente difícil passar por mudanças que permitiriam que a vida lhe proporcionasse satisfação e um espírito de vitalidade.
Você fica preso em si mesmo e, por assim agir, vai contra a vida num dos seus aspectos mais fundamentais.
Palavras são insuficientes; você precisa, muito mais, sentir o que estou querendo dizer.
Quando tiver enfraquecido o seu eu idealizado pela compreensão plena da sua função, de suas causas e de seus efeitos, então você terá alcançado a verdadeira compreensão das coisas.
Será o momento de conquistar a grande liberdade de entregar-se à vida porque não existirá mais a necessidade de esconder o que quer que seja de si mesmo e dos outros.
Você será capaz de entregar-se incondicionalmente à vida, não de modo doentio e irracional, mas de modo sadio à semelhança da própria natureza que se entrega sem medida.
Então, e somente então, você conhecerá a beleza da vida.
Você não pode abordar esta parte essencial do seu trabalho interior com um conceito geral.
Como de costume, suas reações diárias mais insignificantes,
consideradas deste ponto de vista, produzirão os resultados necessários.
Por isso , continue a busca de si tomando por base essas novas considerações e não seja impaciente se o processo exigir tempo e esforço sem tensão.
A VOLTA PARA CASA
Uma palavra a mais: em geral, a diferença entre o Eu verdadeiro e o idealizado não é uma questão de quantidade, mas de qualidade , isto é, a motivação original de ambos é diferente.
Não é fácil perceber isso, mas à medida que você reconhece as exigências , as contradições, as sequências de causa e efeito, a diferença de motivação gradualmente se tornará clara.
Outra observação importante é relativa ao elemento tempo.
O eu idealizado quer ser perfeito , de acordo com suas exigências específicas, agora, neste exato momento.
O verdadeiro Eu sabe que não pode ser assim e não julga a situação angustiosa.
É claro que você não é perfeito.
Seu eu atual é um complexo de tudo o que você é no momento.
É claro que você tem sua egocentricidade básica, mas se você a admitir, pode enfrentá-la.
Você pode aprender a compreendê-la e portanto a diminuí-la com cada nova percepção.
Você então experimentará realmente a verdade de que quanto mais egocêntrico você for, menos autoconfiante será.
O eu idealizado acredita exatamente no contrário.
Suas exigências de perfeição são motivadas por razões puramente egocêntricas, e esta mesma egocentricidade inviabiliza a autoconfiança.
A grande liberdade de voltar para casa, é encontrar o caminho do retorno para o Eu verdadeiro.
A expressão “ volta para casa “ tem sido usada muitas vezes na literatura espiritual e nos ensinamentos, mas frequentemente foi muito mal compreendida.
Muitas vezes é interpretada como significando o retorno ao mundo do espírito depois da morte física.
“ A volta para a casa“, porém, significa muito mais do que isso.
Você pode padecer muitas mortes, ter uma vida terrena após outra, mas se não tiver encontrado seu verdadeiro Eu, não poderá retornar para casa.
Você pode estar perdido e continuar perdido até encontrar o caminho para o centro do seu ser.
Por outro lado, pode encontrar o caminho para a casa exatamente aqui e agora enquanto ainda permanece no corpo.
Quando reunir coragem para tornar-se o seu verdadeiro Eu, você descobrirá que ele é muito superior ao seu eu idealizado, embora inicialmente lhe possa parecer o contrário.
Então você sentirá a paz de estar em casa dentro de si mesmo.
Então você encontrará segurança.
Então você operará como um ser humano completo.
Então você terá quebrado a chibata de aço de uma capataz a quem é impossível obedecer.
Então você saberá o que paz e segurança realmente significam.
Você cessará de uma vez por todas de procurá-las através de meios falsos.
De nada estes ensinamentos ajudarão, se apenas você tiver o entendimento apenas teórico disto que expomos acima.
É necessário que se vivencie sinceramente tudo isto para chegar ao conhecimento real, espiritual de tudo o que dissemos.
SHAUMBRA e NAMASTÊ !!!
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