segunda-feira, 9 de abril de 2012
“O planeta funciona como um sistema biofísico
que modera o clima (mundial, continental e
regional) e forma o solo e sua fertilidade.
Os ecossistemas oferecem uma variedade de
serviços, inclusive o fornecimento de água limpa e confiável.
A diversidade biológica é uma biblioteca viva
essencial para a sustentabilidade.
Cada espécie representa um conjunto de soluções
único para uma série de problemas biológicos e pode ser de importância crítica
ao avanço da medicina, da agricultura produtiva, da biologia que fornece a
atual sustentação para a humanidade e, mais importante, pode fornecer soluções
para o desafio ambiental”, escreve Thomas Lovejoy, professor de ciências e política
pública na Universidade George Mason e diretor de biodiversidade do Centro H.
John Heinz III de Ciência, Economia e Meio-Ambiente, em artigo publicado no
jornal International Herald Tribune e reproduzido pelo Portal Uol, 06-04-2012.
Segundo o biólogo, “chegou a hora de entender que este planeta que nos deu a
existência deve ser administrado como o sistema biofísico que é.
É hora de botar as mãos no volante, não para
salvar o planeta, mas para mantê-lo habitável”.
Eis o artigo.
Em um centro de conferências cavernoso em
Londres,
tão destituído de vida que parece um set do
filme “Matrix”, 3.000 cientistas, autoridades e membros das organizações da
sociedade civil reuniram-se na última semana de março para discutir o estado do
planeta e o que fazer a respeito.
A conferência do Planeta Sob Pressão se propõe a
alimentar diretamente a Conferência
de Desenvolvimento Sustentável da ONU “Rio+20”, que será celebrada em
junho.
A conferência ocorre 20 anos após o Encontro da Terra no Rio, que
reuniu o maior número de chefes de Estado e produziu, entre outras coisas, duas
convenções internacionais, uma de mudança climática e outra de diversidade
biológica.
Não se pode dizer que nada foi alcançado nesse
ínterim ou que a compreensão científica ficou parada,
mas está óbvio que novos estudos não são
necessários para se concluir que a humanidade fracassou em agir com a escala e
a urgência necessárias.
Nos EUA, em particular, mas não exclusivamente, atenção demais foi dada a uma questão inexistente,
ou seja, se a mudança climática é real ou não.
Enquanto isso, o aquecimento do meio ambiente
progride inexoravelmente, o gelo do Ártico afinou e retrocedeu ao seu menor
ponto no verão e foi associado a uma primavera excepcionalmente quente na
Europa e na América do Norte.
As flores nasceram cedo na América do Norte e
na Europa.
A maior parte das pessoas só repara em como o
tempo está agradável, sem terem noção da marcha da mudança climática.
Desde a revolução industrial, as nações
desenvolvidas contribuíram significativamente para a emissão dos gases de
efeito estufa.
Isso levou a uma diferenciação dos países no Protocolo de Kyoto,
originalmente adotado em 1997,
basicamente dando tempo para as nações em
desenvolvimento melhorarem suas economias antes de serem obrigadas a tomar
grandes medidas.
A resposta dos Estados Unidos na época foi abdicar de sua posição
tradicional de liderança, com uma votação no Senado baseada na noção míope que
não havia sentido fazer nada se a China e
a Índia mantivessem
sua política de expansão das usinas de carvão.
Enquanto isso, a China está fazendo um progresso
mensurável em descarbonizar sua economia e se tornou a maior produtora de
painéis solares no mundo.
Mas a questão diante da humanidade é, de fato,
maior do que a combustão de combustível fóssil
e muito maior do que a mudança climática.
O Instituto
Ambiental de Estocolmo resumiu muito bem a situação em uma
análise que identificou um planeta extrapolando os limites planetários de três
formas: mudança climática, uso de nitrogênio e perda de biodiversidade.
O uso frequente e excessivo de fertilizantes de
nitrogênio, primariamente pela agricultura industrializada, poluiu rios e lagos
e, por sua vez, as águas costeiras em torno do mundo.
As zonas mortas resultantes nas águas costeiras
e estuários não têm oxigênio e em grande parte estão sem vida.
Elas dobraram de número a cada década por
quatro décadas – um aumento por um fator de 16.
A quantidade de nitrogênio biologicamente ativo
no mundo é o dobro do nível natural.
A maior violação até agora de limites
planetários está na diversidade biológica.
Isso porque, por definição, todos os problemas
ambientais afetam os sistemas vivos, e a diversidade biológica integra todos
eles.
Reduzir nosso capital biológico é pura loucura.
O planeta funciona como um sistema biofísico
que modera o clima (mundial, continental e
regional) e forma o solo e sua fertilidade.
Os ecossistemas oferecem uma variedade de
serviços, inclusive o fornecimento de água limpa e confiável.
A diversidade biológica é uma biblioteca viva
essencial para a sustentabilidade.
Cada espécie representa um conjunto de soluções
único para uma série de problemas biológicos e pode ser de importância crítica
ao avanço da medicina, da agricultura produtiva, da biologia que fornece a
atual sustentação para a humanidade e, mais importante,
pode fornecer soluções para o desafio ambiental.
Olhando para o futuro, não temos apenas que
lidar com esses problemas em escala planetária, mas também encontrar formas de
alimentar e produzir uma qualidade de vida decente para pelo menos dois bilhões
de pessoas além dos sete bilhões que já estão aqui.
Precisamos fazer isso sem destruir mais
ecossistemas e perder mais diversidade biológica.
A inventividade humana deve se abrir ao
desafio.
Mas tem que reconhecer o problema e lidar com
ele imediatamente e em grande escala.
Um passo importante, a criação da organização
do “Futuro
da Terra”, foi
anunciado na conferência.
Ele reunirá todas as disciplinas científicas
relevantes para trabalharem neste que é o maior desafio na história da nossa
espécie.
Isso é essencial porque muitos cientistas
físicos parecem cegos à importância da biologia no funcionamento do planeta
vivo e ela como pode prover soluções críticas.
A economia e as ciências sociais também são
críticas.
A história vai medir o impacto da conferência
do Planeta Sob Pressão e
se a Rio+20 vai
enfrentar o desafio.
Chegou a hora de entender que este planeta que
nos deu a existência deve ser administrado como o sistema biofísico que é.
É hora de botar as mãos no volante, não para
salvar o planeta, mas para mantê-lo habitável.
(Ecodebate,
09/04/2012) publicado pela IHU On-line,
parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU
On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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