sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pistas do Caminho: Uma Guardiã da Tradição Maia

SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2012
VOVÓ MARGARITA
– Uma Guardiã da Tradição Maia
Entrevista a Vovó Margarita:
“A morte não existe”…
“Quando quero algo peço a mim mesma”
Entrevista a uma sábia guardiã da tradição maia, faço a tradução para o português.
Ima Sanchez. Publicado em ‘La Contra’, jornal La Vanguardia (Espanhol)
A Vovó Margarita, curandeira e guardiã da tradição maia, se criou com sua bisavó, que era curandeira e milagreira.
Pratica e conhece os círculos de dança do sol, da terra, da lua e a busca de visão.
Pertence ao conselho de idosos indígenas e se dedica a semear saúde e conhecimento em troca da alegria que isso produz, porque para sustentar-se segue cultivando a terra.
Quando viaja de avião e as aeromoças lhe dão um novo copo de plástico, ela se aferra ao primeiro:
‘Não jovem, que isto irá parar a Mãe Terra’.
Resume sabedoria e poder, é algo que se percebe com nitidez.
Seus rituais, como gritar a terra o nome do recém nascido para que reconheça e proteja seu fruto, são explosões de energia que faz bem a quem presencia; e quando te olha aos olhos e te diz que somos sagrados, algo profundo se agita.
Ela nos diz:
‘Tenho 71 anos.
Nascí no campo, no estado de Jalisco (México), e vivo na montanha.
Sou viúva, tenho duas filhas e dois netos de minhas filhas,
mas tenho milhes com os que pude aprender o amor sem apego.
Nossa origem é a Mãe Terra e o Pai Sol.
Vim a Feira da Terra (no dia da Terra) para recordar o que tem dentro de cada um.’
-Onde vamos depois desta vida?
-Ui minha filha, ao desfrute!
A morte não existe.
As mortes  simplesmente é deixar o corpo físico, se quer.
-Como que se quer…?
-Te pode levar.
Minha bisavó era chichimeca, me criei com ela até os 14 anos, era uma mulher prodigiosa, uma curandeira, mágica,
milagrosa.
Aprendi muito dela.
-Já se vê em Você sabia, avó.
-O poder do cosmos, da terra e do grande espírito está aí para todos, basta tomá-lo.
Os curandeiros valorizamos e queremos muito os quatro elementos (fogo, água, ar e terra), os chamamos avôs.
A questão é que estava uma vez em Espanha cuidando de um fogo, e nos pusemos a conversar.
-Com quem?
-Com o fogo.
‘Eu estou em ti’, me disse.
‘Já sei’, respondi.
‘Quando decida morrer retornará ao espírito, por que não te levará o corpo?’, disse.
‘Como faço?’, perguntei.
-Interessante conversação.
-’Todo teu corpo está cheio de fogo e também de espírito
 – me disse -, ocupamos o cem por cem dentro de ti.
O ar são tuas maneiras de pensar e ascendem se é ligeiro.
De água temos mais de 80%, que são os sentimentos e se evaporaram.
E terra somos menos de 20%, que te custa carregar com isso?’.
-E para que quer o corpo?
-Pois para desfrutar, porque mantém os cinco sentidos e já não sofres apegos.
Agora mesmo estão aqui conosco os espíritos de meu marido e de minha filha.
-Olá.
-O morto mais recente de minha família é meu sogro, que se foi com mais de 90 anos.
Três meses antes de morrer decidiu o dia.
‘Se eu me esqueço -nos disse-, me recordem’.
Chegou o dia e lhe recordamos.
Tomou um banho, colocou uma roupa nova e nos disse:
‘Agora me vou a descansar’.
Se deitou na cama e morreu.
Isso o mesmo posso contar de minha bisavó, de meus pais,
de minhas tias…
-E você, avó, como quer morrer?
-Como meu mestre Martínez Paredes, um maia poderoso.
Se foi a montanha:
‘Ao anoitecer venham por meu corpo’.
Se ouviu cantar todo o dia e quando foram a buscar, a terra estava cheia de pisadas.
Assim quero eu morrer, dançando e cantando.
Sabe o que fez meu pai?
-Que fez?
-Uma semana antes de morrer se foi a recolher seus passos.
Recolheu os lugares que amava e a gente que amava e se deu o luxo de despedir-se.
A morte não é morte, é o medo que temos a mudança.
Minha filha me está dizendo:
‘Fala de mim’, assim que vou a falar dela.
-Sua filha, também decidiu morrer?
-Sim.
Tem muita juventude que não pode realizar-se, e ninguém quer viver sem sentido.
-Que merece a pena?
-Quando olha aos olhos e deixa entrar ao outro em ti e você entra no outro e te faz UM.
Essa relação de amor é para sempre, aí não tem aborrecimento.
Devemos entender que SOMOS SERES SAGRADOS, que a Terra É NOSSA MÃE E O SOL NOSSO PAI.
Até há pouco tempo os huicholes não aceitavam escrituras de propriedade da terra.
‘Como vou a ser proprietário da Mãe Terra?’, diziam.
-Aqui a terra se explota, não se venera.
-A felicidade é tão simples!, consiste em respeitar o que somos, e somos terra, cosmos e grande espírito.
E quando falamos da mãe terra, também falamos da mulher que deve OCUPAR SEU LUGAR DE EDUCADORA.
-Qual é a missão da mulher?
-Ensinar ao homem a amar.
Quando aprendam, terão outra maneira de comportar-se com a mulher e com a mãe terra.
Devemos ver nosso CORPO COMO SAGRADO e saber que o sexo é um ato sagrado, essa é a maneira de que seja agradável e nos encha de sentido.
A vida chega através desse ato de amor.
Se banaliza isso, o que ficará?
Devolver o poder sagrado a sexualidade muda nossa atitude ante a vida.
Quando a MENTE SE UNE AO CORAÇÃO TUDO É POSSÍVEL.
Eu quero dizer algo a todo o mundo…
-…?
-Que podem usar o poder do GRANDE ESPÍRITO no momento que queiram.
Quando entenda quem é, teus pensamentos se farão realidade.
Eu, quando necessito algo, peço a mim mesma.
E funciona.
-Tem muitos crentes que rogam a Deus, e Deus não o concede.
-Porque uma coisa é ser “pedinte” e outra, ordenar-te a ti mesmo, saber que é o que necessita.
Muitos crentes se voltam dependentes, e o espírito é totalmente livre; isso se tem que assumí-lo.
Nos ensinaram a adorar imagens em lugar de adorarmos a nós mesmos e entre nos.
-Enquanto não te harte de ti mesmo.
-Devemos utilizar nossa sombra, ser más ligeiros, afinar as capacidades, entender.
Então é fácil curar, ter telepatia e comunicar-se com os outros, as plantas, os animais.
Se decide viver todas tuas capacidades para fazer o bem, a vida é deleite.
-Desde quando sabe?
-Momentos antes de morrer minha filha, ela me disse:
‘Mamãe, carga teu sagrado cachimbo, tem que compartir tua sabedoria e vai viajar muito.
Não tema, eu te acompanharei’.
Eu vi com muito assombro como ela se incorporava ao cosmos.
Experimente que a morte não existe.
O horizonte se ampliou e as percepções perderam os limites, por isso agora posso vê-la e escutá-la, crê possível?
-Sim.
-Meus antepassados nos deixaram aos avós a custodia do conhecimento:
‘Chegará o dia em que se voltará a compartir em círculos abertos’.
Creio que esse tempo chegou.
fonte:
http://templodecura.wordpress.com/2012/05/25/a-sabedoria/

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