24 DE SETEMBRO DE 2012
“Nenhum crescimento econômico deveria justificar
assassinatos, qualquer tipo de violência ou a perda da qualidade de vida das
populações, atingidas em seus territórios. Mas não é isso o que acontece.”
(Marcelo Firpo,
pesquisador da Ensp/Fiocruz)
Hoje há, pelo menos,
343 conflitos ambientais no Brasil com impacto na saúde coletiva.
As populações mais
atingidas são indígenas (33,67%),
agricultores
familiares (31,99%) e quilombolas (21,55%),
em regiões rurais (60,85%), urbanas (30,99%) e em áreas com características não
definidas (8,17%)
Esses são alguns dos
dados apresentados pelo Mapa da Injustiça
Ambiental e Saúde no Brasil, elaborado pela Fiocruz e pela ONG Fase.
Misto de espaço para
denúncias e instrumento de monitoramento, o projeto sistematiza e traz a
público
– por meio de seu site – informações sobre
casos de injustiça ambiental em todo o Brasil.
O mapa enfoca a
relação entre essas injustiças ambientais e os problemas de saúde, adotando uma
concepção ampliada de saúde.
Ou seja: considera
não apenas sua dimensão biomédica,
mas questões
relacionadas aos conflitos, à qualidade de vida, cultura, tradições e
violência.
Segundo o
coordenador geral do projeto, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública
(Ensp/Fiocruz) Marcelo Firpo, a questão essencial é o combate ao atual modelo de
desenvolvimento que despreza os direitos humanos em favor de um produtivismo
exacerbado.
“Nenhum crescimento econômico deveria
justificar assassinatos, qualquer tipo de violência ou a perda da qualidade de
vida das populações, atingidas em seus territórios.
Mas não é isso o que acontece”, critica.
Além de Firpo, o
mapa conta com a coordenadoria executiva de Tania Pacheco e outros
pesquisadores que avaliam, sistematizam e revisam as informações antes de
disponibilizá-las no site.
Selecionando
conflitos sistematicamente denunciados pelas próprias populações, por
movimentos sociais e pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental desde o início de 2006, o mapa revela que a principal
resultante do impacto ambiental sofrido pelas populações é a piora em sua
qualidade de vida (79,8%).
O segundo grave
problema das comunidades é a violência,
nas formas de ameaça
(37,71%), coação física (15,82%),
lesão corporal
(12,12%) e assassinato (10,10%).
Outros problemas de
saúde também impactados significativamente em situações de injustiça ambiental
são doenças não transmissíveis (40,07%) e insegurança alimentar (30,98%).
Violência e insalubridade
Firpo ressalta que
os números da violência são essenciais na análise da interface entre saúde,
ambiente, direitos humanos e democracia, demonstrando o quanto as populações
que lutam por seu modo de vida e contra os interesses econômicos são atacadas.
Quanto às doenças
não transmissíveis, ele resgata o conceito de zonas de sacrifício ou infernais
– do sociólogo americano Robert Bullard – e resume:
“Por exemplo, pessoas passam a habitar
áreas poluídas e sem a mínima infraestrutura próximas aos grandes empreendimentos,
fábricas poluentes ou lixões em busca de empregos e sobrevivência, e acabam
sofrendo pelo agravamento de doenças como câncer e problemas respiratórios.”
Em relação à
insegurança alimentar, a questão é diretamente ligada à degradação ambiental e
às transformações nos modos de vida locais.
“As monoculturas de eucalipto, por
exemplo, geram problemas de acesso à água e isso afeta outras culturas
agrárias.
No caso de populações tradicionais, como
indígenas e quilombolas, a ruptura nos modos de vida não é apenas material, mas
também simbólica”, exemplifica.
O projeto teve apoio
inicial do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério
da Saúde e deverá continuar a ser apoiado, a partir do final deste ano,
pela Secretaria de
Gestão Estratégica e Participativa.
Visite o site do Mapa e conheça detalhes sobre os conflitos ambientais no
Brasil e seus impactos sobre a saúde coletiva.
Matéria de Daniela Lessa, da Fundação Oswaldo Cruz,
ÁGUA - QUEM PENSA, CUIDA!
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