23 de outubro de 2012
Certo
dia, um filósofo adentra a uma tenda de umbanda e senta-se no banquinho de um
preto velho.
Sua intenção era questionar, investigar; enfim,
experimentar.
Ao se sentar, o preto velho já sabia o que ele
queria, mas mesmo assim saudou-o gentilmente e perguntou em que poderia
ajudar.
O filósofo respondeu:
Meu preto velho, na
era da biotecnologia vemos os cientistas avançarem cada vez mais nas pesquisas
referentes à manipulação do material genético humano.
Além disso, estamos
na era do multiculturalismo, de forma tal que a diversidade, inclusive no
sentido intelectual, se faz cada vez mais presente.
Pergunto eu: _ o que
pode um preto velho dizer sobre assuntos de tamanha complexidade?
Preto Velho, com toda
sua calma, respondeu
gentilmente ao filósofo:
Misin fio, vós suncê
(Sic) tem palavra bonita na boca, por causa de que tu és homem letrado (Sic).
Nego véio cá, num
estudou nem escrevinhou essas coisa.
Mas daqui do meu
cantinho, aonde os ventos de Aruanda tocam em meus ouvidos, recebo as notícias
que vem da Terra.
Vejo também com meus
próprios olhos e presencio as lágrimas e sorrisos que brotam como flores e
espinhos no âmago de meus filhos.
Vou dizer a vós suncê
uma coisa.
Esse bicho chamado “biotecnologia”, eu sei muito bem como funciona.
Misin fio, [bio] vem do grego “bios” = vida.
”Téchne” e “Logos” também
vem do grego, fio.
Logo, biotecnologia é
o conhecimento sobre as práticas (manipulação)
referentes à vida.
Assim sendo, nego véio
é a favor de tudo que respeita a vida e que é usado para o bem.
O bem, não só de si
mesmo, mas da humanidade.
Uma faca pode ser uma
ferramenta de cozinha e ajudar a preparar um alimento.
No entanto, a mesma
faca pode ser uma arma a machucar alguém.
Não é a ferramenta,
mas sim o que se faz com ela que torna perigosa a humanidade.
Pasmo, o intelectual não sabia o que dizer,
tamanha sua surpresa sobre tão sábias palavras.
E não só isto, o conhecimento até sobre a origem
das expressões que vem do grego, aquela humilde entidade possuía.
Por alguns segundos sentiu um misto de inveja e
indignação, uma vez que pensou ser mais conhecedor sobre as coisas da vida que
o Preto Velho.
Daí
então indagou:
Você
acha que suas opiniões podem superar a luz da ciência?
Este, respondeu:
Fio, o que nego véio
fala, nego véio comprova, pois este nego vivenciou.
Caminhou na terra
que vós suncê pisa hoje.
Sorriu, chorou, se
emocionou, amou.
Conviveu com homens
de bem e também com homens do mal.
Fez suas escolhas e
por isso é hoje um espírito guia.
E só pude aqui
chegar porque acertei na maioria das escolhas que fiz.
Naquelas em que não
acertei, tive que vivenciar novamente, até aprender.
Assim como vós, na
Terra.
Quanto aos estudos (risos), esse nego véio aqui não frequentou escola na
última encarnação.
Mas, das muitas
encarnações que tive, eu estudei, me formei e, em algumas delas me doutorei.
A medicina chinesa,
a filosofia grega, a sabedoria hindu; tudo isso fez parte da minha evolução.
Da matemática
egípcia até os estudos astronômicos de Galileu pude aprender.
E
depois de aprender tudo isso, sabe qual o maior ensinamento que obtive misin
fio?!
A ter h –u- m- i- l- d- a- d- e.
Por isto, doutor,
vós me vês na aparência de um velho escravo brasileiro, semeador das raízes
deste lindo país chamado Brasil, terra da diversidade, da multi culturalidade.
Que cada um formule
a sua moral da história.
Porém, questione
seus conhecimentos e veja se estão alinhados com os propósitos de simplicidade.
Pois sem ela, não se
faz jus a benção do saber.
Ir MM.´. Daniel
Martina
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