quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nos bastidores da ciência

sábado, 19 de janeiro de 2013
Nos bastidores da ciência
Os cientistas relataram métodos científicos pouco ortodoxos que não costumam ser divulgados junto com o resultado da pesquisas.
(Thinkstock)
Durante a semana passada, vários cientistas tiveram um surto de honestidade e usaram o Twitter para contar detalhes de suas pesquisas que jamais entrariam nos periódicos científicos.
O resultado, além de divertido, é revelador.
Um surto de sinceridade varreu a comunidade científica durante a semana passada.
Normalmente, os periódicos científicos exigem uma postura impessoal, linguagem técnica e precisão absoluta para publicar um estudo.
Por causa disso, dificilmente captam o que acontece de verdade nos laboratórios.
Os trabalhos parecem ser feitos por seres geniais, incapazes de errar.
Os cientistas, no entanto, resolveram quebrar esse véu de silêncio e mostrar as verdadeiras práticas por trás de suas pesquisas.
No Twitter, eles criaram a hashtag #overlyhonestmethods
(métodos honestos demais, em inglês) e começaram a postar mensagens revelando o que deveria estar escrito em muitas pesquisas científicas se elas exigissem honestidade absoluta.
Tudo começou com duas postagens de uma neurocientista e blogueira conhecida apenas como @dr_leigh, publicadas na segunda feira.
"Nós fizemos o experimento número 2 porque não sabíamos o que fazer com o resultado do experimento número 1 #overlyhonestmethods", escreveu.
Em seguida, postou:
"A incubação durou três dias porque esse é o tempo pelo qual o estudante esqueceu o experimento na geladeira #overlyhonestmethods."
Como se fosse uma verdade há muito tempo presa na garganta dos cientistas, o uso da hashtag explodiu, gerando milhares de mensagens na rede social.
Com isso, escancararam para o mundo o que antes era uma piada interna da comunidade científica.
Algumas das postagens brincavam com a própria linguagem usada nas pesquisas, citando truques e macetes empregados para agradar os revisores e chamar atenção para a pesquisa.
"Queríamos saber o que aconteceria se fizéssemos X, só pela diversão.
Grande explosão!
Nós criamos a hipótese depois."
@BoraZ
"As fatias foram deixadas em um banho de formol por mais de 48 horas, porque eu as coloquei ali na sexta-feira e me recuso a trabalhar nos finais de semana."
@aechase
"As amostras foram preparadas por nossos colegas do MIT.
Nós assumimos que não havia nenhuma contaminação porque,
bem... eles são do MIT."
@paulcoxon
É claro que nem todas as histórias citadas aconteceram de verdade, mas são reveladoras das condições enfrentadas pelos pesquisadores em seu cotidiano.
Os tuítes foram sintomáticos da falta de dinheiro para pesquisa, dos equipamentos defasados e do improviso generalizado — o que não impede o trabalho de ser feito.
"Mesmo em laboratórios muito ricos, às vezes é mais prático usar material improvisado. As fitas dupla-face, por exemplo, são conhecidas como as melhores amigas do cientista ótico, pois ajudam a montar as diversas partes dos equipamentos", diz Tessler.
"Nós não lemos metade das pesquisas que citamos porque elas estão atrás de um paywall (sistema de assinatura de algumas publicações científicas)."
@devillesylvain
"Deveríamos ter feito mais experimentos, mas nosso financiamento acabou e publicamos o estudo mesmo assim."
@ScientistMags
"As amostras de sangue foram giradas a apenas 1.500 rotações por minuto porque a centrífuga fazia barulhos assustadores a velocidades maiores."
@benosaka
Demasiado humano — As mensagens também foram reveladoras da personalidade de alguns pesquisadores.
Em vez de ser movidos pelos propósitos científicos mais nobres,
eles também podem ser guiados pela inveja, ambição e mesquinharia — como qualquer ser humano.
Isso acaba dificultando o trabalho em equipe.
"Nós decidimos dividir o papel de autor principal do estudo porque essa é uma decisão menos sanguinária do que duelar."
@eperlste
"Nós não demos a referência para determinada informação porque ela vem de uma pesquisa de nossos arquirrivais."
@AkshatRathi
"Eu usei estudantes como objetos de pesquisa porque os ratos são caros e costumamos ficar muito ligados a eles."
@oprfserious
Em vez de depor contra o método científico, o fenômeno #overlyhonestmethods pode ter ajudado o público a compreender o que, de fato, acontece nos laboratórios.
Segundo Tessler, a cultura popular cultiva uma imagem equivocada dos pesquisadores.
A ideia do cientista maluco, controlador, descabelado e genial surge da própria maneira de se ensinar ciência nas escolas.
"Ao ler alguns livros didáticos de física, temos a impressão de que Isaac Newton formulou todas as suas teorias logo após sentir a maçã caindo em sua cabeça", afirma Tessler.
Com os tuítes, os cientistas mostraram que são pessoas comuns,
passíveis de falhas, atos de egoísmo e até donos de algum senso de humor.
E essas características, ao invés de atrapalhar, podem ajudar a chegar a novas descobertas científicas.
Não espere ver, porém, essa honestidade aparecer tão cedo nos periódicos científicos.
"Os cérebros foram removidos e dissecados, em média, em 58 segundos. Sabemos disso com essa precisão por causa de uma competição em nosso laboratório."
@SciTriGrrl
"Não sabemos como os resultados foram obtidos.
O aluno de pós-doutorado que fez todo o trabalho abandonou os estudos para abrir uma padaria."
@MrEpid
"Não posso enviar os dados originais porque não me lembro o que significam os nomes dos meus arquivos no Excel."
@mangoedwards
"Os locais onde colhemos amostras coincidiram com resorts tropicais porque o trabalho de campo não precisa ser somente lama e agonia."
@Myrmecos
"Os dados usados estão velhos porque, no tempo entre escrever o trabalho e fazer a revisão, eu tive um filho."
@researchremix
FONTE: REVISTA VEJA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor leia antes de comentar:
1. Os comentários deste blog são todos moderados;
2. Escreva apenas o que for referente ao tema;
3. Ofensas pessoais ou spam não serão aceitos;
4. Não faço parcerias por meio de comentários; e nem por e-mails...
5. Obrigado por sua visita e volte sempre.