quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
A Via Láctea pode abrigar pelo menos 17 bilhões
de planetas do tamanho da Terra, com condições para manter água em estado líquido
em sua superfície.
[Imagem: PHL/UPR Arecibo]
Conservadorismo científico
Há alguns meses, a renomada revista Nature Geoscience causou desconforto na comunidade científica ao
defender uma posição ultraconservadora.
Em um editorial intitulado One and only Earth -
Uma, e uma única Terra, em tradução livre - a revista usou dados do telescópio
espacial Kepler, que pesquisa planetas fora do Sistema Solar, para defender uma
posição tipicamente geocêntrica, vencida séculos atrás pela própria ciência.
"Relatórios
da missão Kepler aumentaram as esperanças de encontrar um planeta como a Terra.
No
entanto, a nossa Terra é provavelmente única - não apenas por causa de sua
distância do Sol, mas também porque tem coevoluído com as formas de vida que
tem hospedado," diz a revista.
Muitos afirmaram que a posição da revista era a
defesa do conservadorismo científico contra
a chamada Hipótese de Gaia, proposta por James Lovelock.
De qualquer forma, menos de um ano depois do
controverso editorial, a própria equipe do telescópio espacial Kepler anunciou
resultados que, se fosse necessário, varreriam de vez para debaixo do tapete
quaisquer saudosistas geocêntricos.
Segundo os dados mais recentes, até uma em cada
seis estrelas pode ter em sua órbita um planeta do tamanho da Terra.
Com base nesse dado, os astrônomos fizeram uma
extrapolação e chegaram a uma estimativa de que podem existir
nada menos do que 17 bilhões de planetas parecidos com a Terra apenas na nossa
própria galáxia, a Via Láctea.
A chance de que a Terra seja um planeta
absolutamente único dentre 17 bilhões, como defende a Nature Geoscience, é de
0,0000001%.
Para comparação, os físicos aceitaram o bóson tipo Higgs como uma descoberta científica genuína com uma chance de
0,0001% de estarem errados, o que é uma chance de erro três ordens de grandeza
maior.
É fato que o número 17 bilhões está repleto de
incertezas, e deverá ser recalculado muitas vezes antes que possamos ter
qualquer coisa mais próxima do que se poderia chamar de um censo planetário
galáctico.
Mas o que importa aqui é a tendência
apresentada pelos dados, uma tendência que foge do "um", ou do "único", e caminha
tranquilamente, sem medo, entre o "muitos", para a diversidade e para a multiplicidade.
Ou seja, os próprios dados mostram uma vez mais,
e sempre mostrarão, que o conservadorismo - a tentativa de "conservar" tudo como
está, sobretudo o conhecimento - é incompatível com a ciência, e que, mais dia,
menos dia, cai por terra, ou se dilui pelo espaço.
Os dados mostraram mais uma vez que o
conservadorismo - a tentativa de "conservar"
tudo como está, sobretudo o conhecimento - é incompatível com a ciência, e cai por terra mais dia, menos dia.
[Imagem: C. Pulliam/D.
Aguilar (CfA)]
Planetas em trânsito
A estimativa do número de planetas parecidos
com a Terra foi anunciada durante o mesmo evento que apresentou a descoberta de
vários novos planetas na zona habitável.
O astrônomo François Fressin, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, queria
descobrir não somente quais candidatos detectados pelo Kepler podem não ser
planetas, mas também quantos planetas podem não ser visíveis pelo Kepler.
"Temos que corrigir duas coisas. Primeiro, a
lista de candidatos do Kepler é incompleta", disse
ele em uma entrevista à BBC.
"Nós
somente vemos os planetas que estão em trânsito pelas suas estrelas
hospedeiras, estrelas que por acaso têm um planeta que está bem alinhado para
que nós o vejamos.
Para
cada um deles, há dezenas que não estão nessas condições", explica.
"A
segunda grande correção é na lista de candidatos - há alguns que não são
planetas verdadeiros transitando sua estrela hospedeira, são outras
configurações astrofísicas", diz.
Isso pode incluir, por exemplo, estrelas
binárias, nas quais uma estrela orbita outra, bloqueando parte da luz conforme
as estrelas "transitam" umas à frente das outras.
"Nós
simulamos todas as possíveis configurações em que podíamos pensar - e
descobrimos que elas poderiam representar apenas 9,5% dos planetas Kepler, e
que todo o resto são planetas genuínos",
explicou Fressin.
Um mundo de Terras
Os resultados sugerem que 17% das estrelas
hospedam um planeta com tamanho até 25% superior ao da Terra, com órbitas
fechadas que duram apenas 85 dias ou menos - semelhante ao do planeta Mercúrio.
Isso significa que a galáxia abrigaria pelo menos
17 bilhões de planetas do tamanho da Terra.
William Borucki, um dos
líderes da missão do Kepler, se disse "encantado" com os novos resultados - apenas os resultados concretos
anunciados no mesmo evento, e não as estimativas.
"A
coisa mais importante é a estatística - não encontramos somente uma Terra, mas
cem Terras, que é o que veremos com o passar dos anos com a missão Kepler -
porque ele foi desenvolvido para encontrar várias Terras", disse.
FONTE: SITE INOVAÇÃO TECNOLOGICA
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