7 de março de
2013
Provavelmente um dos maiores
trunfos do filme Lincoln, de Steven Spielberg,
que mostra o ex-presidente norteamericano que conseguiu a
abolição da escravatura e o fim da Guerra de Secessão nos EUA, é
mostrar um líder humano, com erros e acertos, dúvidas e certezas.
O longa, com 12 indicações ao
Oscar, estreou no Brasil e já arrecadou R$ 2 milhões por aqui, segundo a Filme
B, e US$ 182 milhões em todo o mundo,
segundo o site Mojo.
Interpretado por Daniel Day-Lewis, o Lincoln
de Spielberg e do ator britânico coloca seus ideais e visão acima de tudo (e,
muitas vezes, de todos), conquista apoio pelo dom da oratória e atinge, finalmente,
resultados e metas.
Qualquer semelhança com o mundo corporativo não é mera
coincidência.
Entrevistamos coaches que analisaram o filme e extraíram dele os
erros e acertos de Abraham Lincoln, cujas frases (que
você lê nesta matéria) são reproduzidas com frequência.
1. Nunca, nunca minta para
sua equipe:
um dos erros quase mortais de Lincoln no filme é que ele omite do secretário de Estado um acordo que
havia feito com o líder dos republicanos para aprovar a abolição da
escravatura.
“Ele colocou em risco a
confiança do principal funcionário.
Deveria ter
compartilhado e explicado o porquê da decisão.
No mundo corporativo é
tão difícil estabelecer alianças sólidas, que o melhor é sempre preservá-las”, avalia Van Marchetti, diretora da Attitude
Plan.
Homero Reis, coach ontológico e sócio-diretor da Homero Reis e Consultores
concorda e explica o perigo da quebra da confiança.
“O líder se fundamenta
no processo da consolidação da confiança. Se ele chamasse o secretário e
apresentasse a decisão como uma estratégia, seria melhor.”
Como lidar com casos parecidos?
“Chama antes e combina o jogo”, diz ele
2. Respeite as regras:
no filme, Lincoln resiste a dar dinheiro aos congressistas do partido Democrata,
mas aceita dar empregos para que eles votem a favor da emenda abolicionista.
Um presidente (ou ex-presidente) pode até sobreviver a um escândalo como esses.
Mas uma atitude destas pode significar a morte de uma empresa.
3. Cuidado para não
virar um ditador:
símbolo da recém-conquistada democracia nos EUA, Lincoln chega a ser apontado
como um ditador por insistir na luta pela abolição, enquanto adia o fim da
guerra, o que implica um número maior de morte de civis.
Reis compara Lincoln com o personagem do Mito da Caverna, de Platão.
Na parábola, os homens moram em uma caverna e só conhecem o
mundo por sombras.
Um dos acorrentados foge, vê as coisas como elas são e volta
para contar, mas acaba morto por seus companheiros.
“Todo indivíduo que se
sobressai na sociedade tem de fazer uma escolha.
Geralmente ele escolhe
algo que ninguém vê.
E daí tem que dizer a
que veio.
O líder não pode ficar
em cima do muro. Tem que escolher um lado e pular”
4. Tenha visão e
comprometa-se:
em uma coisa os especialistas são unânimes.
Lincoln é considerado um líder visionário e comprometido.
Para Eliana Dutra, diretora executiva da Pro-Fit Coaching, ele tinha a capacidade
de criar uma visão inspiradora e de explicar suas decisões com base racional,
cobrindo tudo com um molho de humanidade.
“Um líder paupável, mais próximo ao interlocutor”
Na opinião de Homero Reis, Lincoln era capaz de estar comprometido com as questões de seu tempo,
sabia cultivar sua rede de relacionamento e tinha bom humor.
“Dentro das organizações, esses são os líderes mais valiosos”
5. Delegue:
ele deixa espaço para sua equipe ir a campo.
Mostra confiança, oferece segurança, monitora e intercede se
necessário.
O acordo com os democratas é todo feito pelo secretário de
Estado e sua equipe.
6. Oriente. Sempre:
além de delegar, o ex-presidente se reúne frequentemente com os
liderados para averiguar resultados alcançados e mostrar o caminho para atingir
a meta.
7. Compartilhe o
poder:
Lincoln incentivava sua equipe a assumir responsabilidades, gerando
maturidade profissional.
“Isso dá segurança e capacidade de resolução de problemas, mesmo
diante de situações críticas”, diz Van.
8. Recheie seu
discurso com empatia:
grande parte do poder de oratória de Lincoln está no fato de ele
conseguir mapear o interlocutor e, por meio de suas histórias, criar um link
emocional
(ou racional)
com ele.
Um bom exemplo é a cena em que Lincoln conversa com um operador de telégrafo.
Primeiro ele pergunta sua profissão.
Ao saber que o personagem havia se formado em engenharia, cita
uma teoria de Euclides para falar sobre igualdade.
9. Foque na solução:
todas as probabilidades estavam contra Lincoln.
O ex-presidente não tinha o apoio do Congresso para a aprovação
da emenda abolicionista, a guerra (seu maior argumento para acabar com a escravidão) estava para acabar e a
maioria da população norteamericana não queria o fim da escravatura.
Em vez de se sentir paralisado pelas dificuldades, o
ex-presidente gastava sua energia encontrando soluções para cada uma dessas
questões.
10. Cuide do seu
equilíbrio emocional:
apesar se ser um líder querido, Lincoln foi questionado por muitos de seus liderados.
A primeira reação de qualquer ser humano frente a uma crítica é
sentir raiva.
“Quando você tem uma visão muito firme, o primeiro impulso é
querer impor.
‘Como assim vocês não estão enxergando?’
Ele percebe que se não entrasse no mundo das pessoas e
entendesse como elas pensavam, não conseguiria adesão.
As pessoas pecam na falta desse equilíbrio emocional”, diz Van.
11. Vença sua
batalha interna:
administrar os republicanos, conquistar o voto dos democratas,
convencer seus liderados sobre seus ideais e ainda lidar com os dramas
familiares, definitivamente,
não é para os fracos.
Todo líder passa por esse dilema.
Os bons líderes conseguem gerenciar todas essas questões ao
mesmo tempo, sem cair na insegurança – o que acaba levando a decisões
equivocadas.
12. Tenha a coragem
de mudar de ideia:
em uma cena, Lincoln mostra seu único momento de hesitação.
Ele está prestes a ceder e terminar a guerra, mesmo sem a
aprovação da emenda abolicionista.
Chega a ditar a mensagem ao operador de telégrafo, mas muda de
ideia.
“O ser humano que não tem dúvidas está se enganando.
Não justifico o líder que senta em cima das decisões e nunca
define nada.
Mas aquela coisa rígida de ‘eu tenho sempre razão’ é ruim e não é crível”, diz Eliana.
Por mais que o líder acredite em algo, aquele é só um lado da
verdade.
13. Não seja
ingênuo:
mesmo o mais querido líder das corporações nunca será uma
unanimidade.
Mas, no fim do dia, ele precisa ter mais seguidores que
inimigos.
Para tanto, use e abuse da diplomacia.
“Há sempre o risco da demissão ou de ser colocado de lado.
É um jogo, no qual é preciso medir as consequências.
Os inimigos que não vão gostar do resultado são maiores ou
menores que os beneficiados?”, questiona Van. Reis completa:
“todos nós temos pessoas que jogam contra.
Todos nós temos pessoas que nos seguem.
É preciso conviver com isso com sabedoria.” Já para Eliana, ter
mais seguidores que inimigos é fundamental para a sobrevivência do executivo.“
O líder que não tem seguidores é só um sujeito dando um
passeio.”
Fonte
Época Negócios
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