quarta-feira,
6 de março de 2013
Eu escolhi ser monge
muito cedo, porque Eu não acreditava muito na vida, porque não tive muitas
escolhas, porque a vida no mundo externo não Me agradava.
Era uma vida
conflituosa, era uma vida com dificuldade e na Minha ingenuidade achei que se
me tornasse um monge me livraria dos problemas, porque acreditei que uma vida
dedicada ao caminho espiritual fosse ser uma vida leve, uma vida sem conflitos,
uma vida só com
pessoas boas, uma vida de convivência com almas iluminadas como a Minha.
Imaginei que seria
um caminho muito bom com companheiros,
comrelacionamentos
afetuosos, uma vida longe das disputas afetuosas do mundo material.
Uma vida longe da
inveja, da raiva, da necessidade de ganhar dinheiro, de conquistas de fama.
Imaginei que no
Monastério Eu iria encontrar a paz e quanta paz Eu tive de buscar na Minha
mente, quando durante dois anos Me entregavam um balde e um esfregão.
Os outros monges
todos meditando, estudando ou cumprindo a sua missão e Eu esfregando o chão.
Nos Meus delírios,
nas Minhas rezas, nas Minhas orações, pensei assim:
-“Puxa Eu não mereço, devo ser uma alma muito,
muito má pra esfregar o chão; só esfregar o chão...”.
Para os Meus
superiores Eu não falava nada, porque imaginei que eles soubessem tudo que Eu
pensava e que um dia também tivessem esfregado o chão e ali fiquei...
Dois longos anos
esfregando o chão sonhando, imaginando como devia ser linda a meditação
daqueles Meus colegas mais velhos que ficavam em suas celas em silêncio
meditando, meditando,
meditando.Deviam ter
experiências cósmicas maravilhosas.
Quantas vezes
imaginei como a vida deles devia ser.
Uma vida linda, uma
vida de almas iluminadas, uma vida de quem sabia tudo e quanto mais eu achava
que eles sabiam tudo, mais Eu descobria que não sabia nada, porque Eu tinha que
esfregar o chão.
Quando Eu fui
chamado pra receber uma premiação, era o Meu momento de mudança, eles Me
colocaram na horta...
E aí foram mais
cinco anos cuidando da horta.
Todos os dias,
enquanto os monges passavam por mim e Me cumprimentavam, sorriam, Eu dizia
assim:
-“Meu Deus, o único que Eu posso olhar pra
trás é aquele coitado que agora lava o chão e que agora não Sou mais Eu, porque
agora Sou jardineiro”
Assim fui cuidando
da horta e ali tive vários colegas, vários amigos e briguei muito, porque cada
um fazia de um jeito.
Às vezes Eu plantava
de um lado e outro replantava do outro e uma planta brigava com a outra, porque
elas não eram compatíveis...
Quantas experiências
Eu tive mexendo na terra, mas Eu sonhava,
sonhava, sonhava e sonhava
com a vida espiritual, porque aquilo não era vida espiritual.
Mexer na terra não
era vida espiritual.
Cuidar de alimentar
as pessoas não era vida espiritual, pelo menos pra Mim não era.
Aquilo era um
trabalho humano, aquilo era um trabalho braçal,
aquilo era um
trabalho que qualquer pessoa podia desenvolver.
Não era um trabalho
espiritual e ali Eu fiquei cinco longos anos da Minha vida trabalhando muito,
com dores nas costas, às vezes na chuva, às vezes no sol, tendo que conversar
com as pessoas, ganhar o Meu espaço, porque Eu tinha a intenção de plantar as
ervas, as plantas de um determinado jeito e as pessoas que estavam do Meu lado
não aceitavam, então foi difícil, foram anos de luta, disputa de poder; poder
pela terra, poder pela salsinha.
Assim foram anos da Minha vida, lutando, Me esforçando num
trabalho humano e muitas vezes Eu pensei:
-“Meu Deus, Eu que vim
pro Monastério.
Estou aqui plantando salsinhas, tomates, batatas e pimentões;
vendo se faz sol, se faz frio, Me preocupando com o tempo, com o vento, com a
falta de chuva ou com o excesso dela...
Cadê o Meu trabalho espiritual?
Trabalhos espirituais fazem aqueles monges que ficam nas celas
trancados, fechados, orando.
Eles devem entrar em transes maravilhosos, em situações de ver
Deus e com certeza eles vêem Deus e o único Deus que Eu vejo é o coelho que
subiu na terra e comeu as Minhas plantações, são as pragas, são as pessoas que
estão aqui do Meu lado e não Me deixam fazer o trabalho direito”.
Com o tempo Eu
comecei a gostar, porque tinha dias em que o jardim estava tão bonito, a horta
estava tão linda, tão verde e justamente quando ela estava mais bonita ela
seria colhida no dia seguinte e a terra voltaria a ser revolvida
e o trabalho recomeçava e Eu pensava:
-“Isso não é vida
espiritual”
Recomeçar todos os
dias, ter que fazer tudo de novo, ter paciência, limpar as ervas daninhas, dar
continuidade,vencer a Minha preguiça, vencer o Meu cansaço, Me dedicar, Me
dedicar, Me dedicar às vezes pra não ver nada ou pra ver aquele verde florescer
num único dia e no dia seguinte ser arrancado.
Isso não é vida
espiritual...
Trabalhar tanto pra
nada...
Não, isso não é vida
espiritual.
Vida espiritual deve
ser aqueles monges que vão à caverna e aí comecei a pensar que um dia Eu iria
pra caverna; com certeza um dia Eu iria pra caverna, um dia Eu teria coragem de
ir pra caverna, porque para ir pra caverna Eu tinha que pedir, Eu tinha que
fazer um voto, Eu tinha que procurar o monge responsável e dizer pra ele que Eu
queria ir pra caverna, mas Eu não tinha
essa coragem e aí Eu pensava:
-“Meu Deus, como sou
covarde”.
Quando Eu pensei
isso, Me colocaram pra pintar as janelas do templo e lá fui Eu.
Era um Monastério
muito grande, com muitas janelas e passei vários anos pintando janelas; anos
osuficiente pra perder o medo da altura, porque comecei com muito medo de
altura, então eles Me colocaram nas janelas inferiores e ali Eu falei:
“Nossa como Eu Sou feliz, protegido”.
Naquele momento Me
senti muito feliz, muito alegre, porque era protegido
Eu percebi que as
janelas de baixo eram as mais sujas.
Ficavam borradas de
terra, as pessoas colocavam as mãos.
Ali Eu tinha além de
pintar, lixar, tirar a tinta velha, porque senão a tinta nova não pegava.
E Eu pensava:
“Isso não é trabalho
espiritual. Trabalho espiritual é uma coisa linda, vem pronta.
Trabalhos
espirituais fazem os monges das celas, os monges que ficam nas cavernas, esses
renunciantes maravilhosos e isso que Eu faço não é renuncia, é um trabalho
duro, porque dói Meu braço,
tenho que Me
esforçar e todo dia Eu tenho que acordar e fazer tudo igual,a mesma rotina, o mesmo
exercício, o mesmo esforço e ai quando Eu termino, chove e estraga tudo...
O Meu trabalho não é
espiritual, porque o trabalho espiritual é perfeito”
Assim Eu passei
anos, anos, anos e anos pintando janelas.
Quando Eu acabava a
última e queria ver a Minha missão cumprida, queria olhar todo aquele
movimento, aquele Meu esforço e dos Meus colegas, apesar de que ali fui mais
solitário, Eu queria olhar aquilo e dizer:
“Nossa que bonito o
trabalho que Eu fiz”.
E aí quando Eu Me
preparava pra olhar tudo isso, a primeira janela já estava suja, as
dobradiças já estavam tortas e tinha de recomeçar e, Eu pensava:
“Felizes os monges
que fazem o verdadeiro trabalho espiritual nas suas clausuras, que entram nas
suas celas, que vão para as cavernas”
Eu idealizei muito a
vida espiritual, idealizei demais a vida espiritual.
Idealizei a morte,
idealizei a vida, porque Eu não tinha muita coragem de viver
Hoje Eu sei que
vocês, no mundo da matéria enfrentando o que vocês enfrentam, encontrando seus
familiares, se desencontrando dos seus familiares, amando as pessoas,
desgostando delas e tendo que perdoá-las, hoje Eu vejo que essa é a verdadeira
vida espiritual, porque quando Eu fui pra cela e fiquei parado, sentado,
Eu entrei num
desespero tão grande que Eu não via a hora de sair da meditação, Eu não via a
hora de sair daquela condição de silêncio absoluto.
Eu precisava das
palavras das pessoas, Eu precisava dos movimentos dos olhos, Eu precisava do
riso, Eu precisava das Minhas lágrimas e não tinha nada disso, porque Eu estava
num momento de silêncio e tinha que respeitar e fazer de conta que estava
meditando.
Daí Eu pensei:
“Meu Deus como Sou
ruim, porque deve haver na cela ao lado um monge verdadeiramente espiritual que
deve estar fazendo sua meditação e deve estar sofrendo com a reverberação da
Minha miséria interior, da Minha confusão interior”
Hoje Eu percebo que vocês,
com seus desafios diários, com seus momentos únicos de meditação, quando
naquele momento vocês entregam para Deus e dizem:
“Deus eu quero ser
um instrumento da sua luz, eu quero fazer o bem para essa pessoa ou Deus eu
quero ser o bem na minha vida”,
nesse momento vocês
meditam, nesse momento vocês se transformam e nesse momento vocês estão muito
próximos de Deus.
Nunca menosprezem as
suas experiências.
Não esperem um lugar
sagrado; façam o seu lugar interno ser sagrado,tornem o seu coração um lugar sagrado,
torne a sua mente um lugar sagrado, torne o seu espírito uma presença constante
em suas vidas com consciência, amor e luz.
Antes de Eu Me tornar Lanto, o Mestre Lanto, o Mestre da Sabedoria
da Chama Amarela, Eu tive muitas vidas como monge.
Vidas felizes, vidas
tristes, vidas cômicas, vidas em que as coisas deram certo e em que as coisas
deram errado.
Eu digo que Me
tornei Lanto, porque Eu aprendi a esperar,
Eu aprendi a
paciência, Eu aprendi a perdoar, Eu aprendi a olhar as Minhas experiências como
experiências importantes e sagradas.
Eu aprendi a reconhecer o Meu Eu de Luz e é isso que hoje Eu
venho falar pra vocês:
“Desapeguem-se das
coisas antigas e acreditem em vocês mesmos como seres de muita luz, de muito
amor, com muita capacidade de se doar”
Enxerguem essa luz,
manifestem essa luz.
Essa é a verdadeira
espiritualidade.
Essa é a única luz
real.
Recebam Minhas
bênçãos e amor.
Eu Estou entre
vocês, porque Eu Sou como vocês.
Eu aprendi que a morte e a vida são uma única coisa:
Um caminhar eterno e
um se transformar todos os dias.
Renasçam de suas
luzes.
Vivam e sejam o seu
sol.
Paz.
Canal - Maria Silvia Orlovas.
Solange Christtine Ventura
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