terça-feira, 5
de março de 2013
A água mais pura da
Terra vai começar a jorrar.
É que os cientistas
russos conseguiram penetrar o lago subterrâneo Vostok, na Antártida, isolado do
resto do planeta há pelo menos 14 milhões de anos.
O trabalho de
perfuração de mais de 3.600 metros de gelo teria terminado no domingo (5), segundo a agência de notícias russa Ria Novosti.
Os cientistas tinham
parado a perfuração na semana passada.
A análise do
material retirado da água, que permanece em estado líquido por causa do calor
do interior do planeta e da pressão do gelo, pode oferecer pistas sobre a vida
na Terra há milhões de anos e sobre condições encontradas fora do planeta, como
nas luas de Júpiter.
LAGO ‘ALIENÍGENA’
Estima-se que o lago
Vostok, mantido em estado líquido pela pressão e pelo calor interno da Terra,
esteja isolado do resto do planeta há cerca de 14 milhões de anos.
Daí o interesse por
ele: sabe-se lá que criaturas podem ter sobrevivido e prosperado num ambiente
tão diferente do que conhecemos na superfície. Imagina-se que o lago tenha mais
semelhança com o ambiente encontrado em Europa, uma das luas de Júpiter, do que
com a Terra.
“É tentadora a analogia entre o Vostok e o oceano subsuperficial
de Europa”, afirma Eduardo
Janot Pacheco, astrônomo do IAG (Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
Verificar o que
existe vivo no Vostok é uma forma de especular sobre a possibilidade de haver
vida em luas geladas como Europa.
Isoladas da luz
solar, as criaturas que habitam esses ambientes têm de viver dos poucos
nutrientes que ali existem.
Os russos têm
perfurado o gelo que cobre o Vostok há muito tempo.
Mas em 1998, a cem metros de onde começa a água, eles foram obrigados a
interromper o trabalho.
A preocupação da
comunidade internacional era a de que a perfuração contaminasse o lago com
microrganismos de fora, eliminando o potencial para descobertas e prejudicando
o ecossistema que pode existir lá.
Só em 2010, após desenvolverem um novo protocolo de segurança, os russos
puderam prosseguir.
Na semana passada, a
equipe liderada por Valery Lukin reportou a colegas
americanos, por e-mail, que estava nos 20 a 30 metros finais.
O último contato
entre russos e americanos aconteceu na segunda-feira.
Desde então, a
equipe antártica vinha se mantendo em silêncio, o que gera apreensão no resto
do mundo.
O QUE PODE DAR ERRADO
Há a pequena possibilidade
de que a súbita liberação da pressão do lago gere um gêiser gigante.
Além disso, os
cientistas correm contra o tempo: as perfurações só podem ser feitas durante o
verão antártico, que está no fim.
No inverno, as
temperaturas inviabilizam os trabalhos.
Tudo faz parte de um
aprendizado que pode ser útil para explorar recantos inóspitos do Sistema
Solar.
“Esse é um grande ensaio técnico para perfurar capas de gelo em
Europa”,
diz Cassio
Leandro Barbosa, astrônomo da Univap
(Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos (SP).
O interesse maior da
pesquisa, no entanto, diz respeito à biologia e à evolução da vida.
“As formas de vida que estão para ser descobertas se isolaram do
mundo há 20 milhões de anos”, afirma.
“De lá para cá, como evoluíram?
Esses seres serão o
paradigma a ser procurado em ambientes extraterrestres”
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