Arrisque tudo pela verdade; ou então você vai continuar
descontente.
Você vai fazer muitas coisas, mas nada realmente vai acontecer
com você.
Você vai se movimentar bastante, mas nunca vai chegar a lugar
nenhum.
O resultado no fim será quase absurdo.
É como se você estivesse faminto e simplesmente fantasiasse
sobre o alimento
— maravilhoso, delicioso.
Mas fantasia é fantasia, não é real.
Você não pode comer um alimento irreal.
Por momentos você pode se iludir, pode viver num mundo de sonho,
mas o sonho não lhe dá nada.
O sonho tira muitas coisas e não dá nada em troca.
O tempo que você gasta usando uma personalidade falsa é
simplesmente desperdiçado; você nunca o terá de volta. Esses mesmos momentos
poderiam ter sido de verdade, autênticos.
Até mesmo um único momento de autenticidade é melhor do que uma
vida inteira de vida inautêntica.
Portanto não tenha medo.
A mente vai lhe dizer para continuar protegendo os outros e a si
mesmo, para se manter em segurança.
É assim que milhões de pessoas estão vivendo.
Freud, em seus últimos dias, escreveu uma carta a um amigo sobre
o que havia observado — e ele realmente observava a fundo, ninguém observou de
maneira tão profunda, tão penetrante, tão persistente e científica; ele dizia
na carta que até onde havia observado ao longo da vida, uma conclusão parecia
ser absolutamente certa: a de que as pessoas não podem viver sem mentiras.
A verdade é perigosa.
As mentiras são muito doces, mas irreais.
Deliciosas!
Você continua dizendo doces nadas à pessoa amada e ela continua
suspirando em seus ouvidos nada além de doces nadas.
E enquanto isso a vida segue escorrendo por entre as suas mãos e
todo mundo se aproxima cada vez mais da morte.
Antes de a morte chegar, lembre-se de uma coisa: é
preciso viver o amor antes de a morte acontecer.
Do contrário, você terá vivido em vão, e toda a sua vida terá
sido fútil, um deserto.
Antes de a morte chegar, tenha certeza de que o amor aconteceu.
Mas isso só é possível com a verdade.
Portanto, seja verdadeiro.
Arrisque tudo pela verdade e nunca arrisque a verdade
por nada mais.
Deixe que esta seja a lei fundamental: mesmo que eu tenha de
sacrificar a mim mesmo, à minha vida, vou fazer esse sacrifício pela verdade;
mas a verdade eu não sacrificarei por nada.
E você sentirá uma imensa felicidade, uma bênção inimaginável
cairá sobre você.
Se você for sincero, tudo o mais se tornará possível.
Se você for falso — só uma fachada, uma pintura, um rosto, uma
máscara — nada será possível.
Porque, com o falso, apenas o falso acontece, e com
a verdade, só a verdade.
Eu entendo o problema, o problema de todos os amantes: no fundo, todos
eles têm medo.
Eles continuam imaginando se o relacionamento será forte o
suficiente para suportar a verdade.
Mas como você pode saber de antemão?
Não existe conhecimento a priori.
É preciso fazer para conhecer.
Como você vai saber, sentado dentro de casa, se será capaz de resistir à tempestade e ao vento lá fora?
Você nunca esteve na tempestade.
Vá e veja!
Tentativa e erro é a única maneira.
Vá e veja — talvez você seja derrotado, mas mesmo na derrota vai
se tornar mais forte do que é hoje.
Se você for derrotado por uma experiência, depois por outra e
mais outra, o simples fato de ir contra a tempestade vai
deixá-lo cada vez mais forte.
Um dia chegará em que você simplesmente começará a gostar da
tempestade,
simplesmente começará a dançar na tempestade.
Então a tempestade não será um inimigo — essa também é uma
oportunidade, uma oportunidade radical, de ser.
Lembre-se: nunca as pessoas se tornam um ser de maneira agradável; do
contrário,
isso aconteceria a todos.
Lembre-se, tornar-se um ser não pode acontecer de maneira
conveniente; do contrário,
todo mundo não teria nenhum problema.
Tornar-se um ser acontece apenas quando se correm riscos, quando
se enfrenta o perigo. E o amor é o maior perigo que existe.
Ele requer a totalidade do seu ser.
Portanto, não tenha medo; vá de encontro a ele.
Se o relacionamento sobreviver à verdade, ele será lindo.
Se ele morrer, então também será bom porque um relacionamento
falso terminou e agora você será mais capaz de partir para outro
relacionamento, mais verdadeiro, mais sólido,
mais preocupado com a essência.
Mas lembre-se sempre, a falsidade nunca compensa; ela parece
compensar, mas não compensa.
Apenas a verdade compensa — e de início nunca parece que a
verdade vale a pena. Parece que ela estraga tudo.
Se você a olhar de fora, a verdade parecerá muito, mas muito
perigosa, terrível.
Mas essa é uma visão de fora.
Se você a assumir, a verdade será apenas uma coisa
bela.
E depois que começar a experimentá-la, prová- la, você vai
querer cada vez mais, porque ela lhe trará contentamento.
Você prestou atenção?
É mais fácil ser sincero com estranhos.
As pessoas que viajam de trem começam a conversar com estranhos
e afirmam coisas que nunca afirmaram antes aos amigos, porque com os estranhos
não há nada em jogo.
Depois de meia hora, a sua estação vai chegar e você vai descer;
você vai esquecer e ele irá esquecer o que você disse.
Portanto, o que quer que você tenha dito não faz diferença.
Nada está em jogo com um estranho.
Ao falar com estranhos, as pessoas são mais sinceras, e elas
abrem o coração.
Mas ao falar com os amigos, com os parentes — com o pai, a mãe,
a esposa, o marido, o irmão, a irmã — há uma profunda inibição
inconsciente.
“Não diga isso, ele pode ficar
magoado.
Não faça isso, que ela pode não
gostar.
Não se comporte dessa maneira; o pai
está velho e poderá ficar chocado”
Assim vamos nos controlando.
Pouco a pouco, a verdade é abandonada nas fundações do seu ser e
você se torna mais engenhoso e esperto com o que é falso.
Você segue sorrindo falsos sorrisos, que estão apenas desenhados
nos lábios.
Segue dizendo coisas boas, que não significam nada.
Fica entediado com o namorado ou com o pai, mas continua
dizendo:
“Que bom ver você!”
E todo o seu ser diz:
“Ora, deixe-me em paz!”
Mas verbalmente você segue fingindo.
E eles também estão fazendo a mesma coisa; ninguém se torna
consciente porque estamos todos navegando no mesmo barco.
Uma pessoa religiosa é aquela que sai
desse barco e arrisca a sua vida.
Ela diz:
“Não importa se eu quero ou não ser
sincera.
Mas falsa é que não vou ser.”
Não importa o que esteja em jogo; experimente, mas não continue
seguindo o caminho da inverdade.
O relacionamento pode ser forte o bastante, pode resistir à
verdade.
Então ele é muito, muito bonito.
Se você não puder ser sincero com a
pessoa a quem ama, então, quando vai ser sincero? Onde?
Se não puder ser sincero com a pessoa que pensa que o ama — se
tem medo até mesmo de lhe revelar a verdade, de desnudar-se espiritualmente, se
até mesmo ali estiver escondendo — então, onde
encontrará um momento e um lugar onde possa ser totalmente livre?
Esse é o significado do amor:
que no mínimo na presença de uma pessoa podemos nos desnudar
completamente.
Nós sabemos que ela nos ama; portanto, não seremos
mal-interpretados.
Sabemos que ela nos ama; assim o medo desaparece.
Podemos revelar tudo.
Podemos abrir todas as portas, podemos convidar a pessoa a
entrar.
Podemos começar a participar do ser de outra pessoa.
Amor é participação; portanto, no mínimo com a pessoa a quem
você ama, não seja falso.
Eu não estou dizendo para você sair à rua e ser sincero, porque
isso criará problemas desnecessários no momento.
Mas comece com a pessoa a quem você ama,
depois, com a família, e depois com as pessoas que estão um pouco além.
Pouco a pouco, você vai aprender que ser sincero é tão bonito
que vai ser capaz de apostar tudo nisso.
Então, na rua, a verdade simplesmente se torna o seu modo de
viver.
No alfabeto do amor, a verdade tem de ser aprendida com
aqueles que estão muito próximos, porque eles irão entender.
Osho, em "Intimidade:
Como Confiar em Si Mesmo e nos
Outros"
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