segunda-feira, 25 de março de 2013
"Interdependência"
25.03.2013
Chegando ao ponto de ônibus, vendo que não havia nenhum banco,
sentei no chão e me encostei ao fino pilar que sustentava a
cobertura.
Sentia uma brisa gelada que vinha contrária ao meu rosto, este
sempre olhando para a rua, esperando o ônibus.
Em um dado momento da minha espera, me senti terrivelmente mal.
Naquela noite fria, no chão, percebi o quanto seria bom estar em
casa e o quanto seria ruim se aquele mesmo lugar fosse a minha casa, ou melhor,
se eu não tivesse nenhum lugar para ir a não ser uma cobertura de ponto de
ônibus.
Eu já havia esperado por ônibus várias vezes, mas aquele dia foi
peculiar, não pela espera, e sim pelo vazio que se apoderou de mim.
Eu estava vazio de mim mesmo perante
aquele pensamento:
“E se eu não tivesse uma casa para ir?”
Desse momento em diante, comecei a perceber a forma indiferente
que os carros na minha frente desfilavam; irreverentes, talvez nenhum motorista
tenha notado que havia alguém naquela hora de uma noite fria esperando um
ônibus.
Pensei então, “Puxa
ainda bem que eu não dependo de ninguém”, mas logo
em seguida percebi que isso não era verdade.
Naquele exato momento eu dependia do motorista do ônibus,
dependia do dono da empresa daquele transporte público que
comprou o ônibus, logo eu também dependia da empresa que fabricou o ônibus e de
seus funcionários.
A casa para onde eu estava indo me deitar não era minha, eu
dependia do dono da casa.
A cama não fui eu que fiz, muito menos os lençóis e o colchão.
Nada na minha vida fui eu mesmo que tinha feito ou criado
independentemente.
Muitos poderiam dizer que cada um cumpre o seu papel na
sociedade pensando no dinheiro que irá receber.
O motorista se preocupa com seu pagamento, o dono da empresa de
transporte com o lucro das passagens, o fabricante ou montador se preocupa
apenas em vender os ônibus e os seus funcionários com os salários que irão
receber na montadora.
O proprietário da casa onde eu morava se interessava em receber
o aluguel e todo o mobiliário que eu usava nela foi feito com a intenção de ser
vendido.
Após essa reflexão, percebi como seria maravilhoso numa
sociedade onde todos dependem de todos para sobreviver e ter seu conforto se ao
invés da indiferença, da falta de sensibilidade e até mesmo da competitividade
com os outros, houvesse respeito,
harmonia, gratidão, tolerância e fraternidade.
Nesse momento, o ônibus chegou e eu desejei uma boa noite ao
motorista com muito mais entusiasmo do que de costume.
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