DOMINGO, 24 DE
MARÇO DE 2013
UM CAMINHO PARA OBTER PAZ E CONFIANÇA.....
22
março 2013
por
Carlos Cardoso Aveline
Foi a partir da província de Magnésia,
na Grécia clássica, que o mundo ocidental começou a
falar de fenômenos magnéticos - e desde então não
parou mais.
Ali, 600 anos antes da era cristã, as
pessoas perceberam que certas pedras tinham a misteriosa propriedade de atrair
metais.
Batizadas de magnetitas, as pedras
magnéticas transformaram-se em atração em todo o mundo antigo.
Certos sábios consideravam que elas
tinham poderes curativos e efeitos milagrosos.
É claro que, desde então, o conceito
de magnetismo mudou radicalmente.
Já não se trata apenas de um efeito de
atração limitado, produzido por pedras feitas de óxidos de ferro e que
constituem ímãs naturais.
Sabe-se hoje que o magnetismo é um
fenômeno literalmente onipresente:
está atuante no espaço diminuto de
cada átomo do universo, mas rege ao mesmo tempo o funcionamento de vastas
galáxias.
No mundo especificamente humano, há um
magnetismo sutil que influencia as emoções e os pensamentos, e tem relação direta
até com as nossas motivações mais secretas
Sem dúvida, é magnética a força dos
elétrons que giram em torno do núcleo de cada átomo.
Além disso, toda luz é uma onda
eletromagnética, e isso significa que, se não houvesse magnetismo, os sóis e
estrelas da nossa galáxia se apagariam.
A própria Terra é um grande circuito
magnético e faz parte de conexões magnéticas ainda maiores.
Em nosso planeta, animais como as
pombas, as lagostas e as tartarugas marinhas têm a habilidade de entrar em
contato com o campo magnético terrestre e de orientar-se por esse meio em suas
longas viagens.
Helena Blavatsky escreveu no século
19:
“A Terra é um corpo magnético.
De fato, muitos cientistas constataram
que ela é um enorme ímã, como Paracelso afirmou há cerca de 300 anos.
A Terra está carregada com uma espécie
de eletricidade - chamemo-la positiva
- que ela produz continuamente por uma
ação espontânea em seu interior ou centro de movimento.
Os corpos humanos, assim como todas as
outras formas de matéria, estão carregados com a forma oposta de eletricidade -
negativa.”[1]
Naturalmente, o magnetismo vai muito
além do plano físico.
A realidade tem níveis variados de
sutileza e densidade, e há vários tipos de magnetismo para cada um deles.
Existe um magnetismo vital, por exemplo,
e quando ele está concentrado e harmonizado temos boa saúde, mas quando o
desperdiçamos ficamos vulneráveis.
Há um magnetismo emocional, e por isso
certas pessoas exercem atração tão poderosa sobre outras.
Há um magnetismo mental, e nesse plano
as pessoas são inspiradas por idéias,
ou lançam pensamentos cujo poder
magnético atrai milhões.
O magnetismo próprio do plano
espiritual é o mais sutil e, também, o mais durável.
Armados apenas com a energia impessoal
do seu ensinamento elevado, os grandes sábios e pensadores da história da
humanidade têm sido capazes de imantar e magnetizar corações e mentes durante
milênios, colocando-os no caminho da auto-libertação.
O poder magnético da alma imortal,
quando desperto, purifica todos os níveis de magnetismo da aura individual,
eleva o foco de consciência até o plano da vida eterna e influencia e acelera,
ao mesmo tempo, o despertar de outros indivíduos.
Por isso não importa a quantidade de
magnetismo que alguém possui. Interessa saber se o magnetismo é correto e
elevado, ou se é nocivo.
Um egoísta só cria mais problemas para
si e para os outros se tiver o seu magnetismo intensificado.
Por outro lado, o magnetismo da
sabedoria e da verdade geralmente provoca alguns obstáculos de curto prazo,
porque deve desafiar as rotinas de ilusão organizada, mas produz efeitos
benéficos a médio e longo prazo.
Embora o magnetismo compatível com a
verdade e a ética cresça muitas vezes devagar e com dificuldades, é o único que
deve ser buscado intensamente.
Ele pode ser encontrado em todos os
níveis de consciência e ação.
Ele conecta e dá coerência aos
diferentes aspectos da vida.
O processo do magnetismo está ligado a
um certo alinhamento das energias sutis.
A ciência convencional ensina que as
substâncias ferromagnéticas, isto é,
sensíveis à ação de um ímã, têm
diferentes grupos de átomos, chamados domínios.
Dentro de cada domínio, os pólos dos
átomos apontam para o mesmo lado, mas,
normalmente, os diferentes domínios
apontam para diferentes lados.
Desse modo, suas forças magnéticas
anulam umas às outras, e o objeto de ferro ou níquel que eles compõem não tem
poder magnético.
Porém, quando o objeto é colocado em
contato com um ímã, os diferentes domínios ou grupos de átomos passam a apontar
todos para a mesma direção - e,
graças a esse alinhamento, o objeto
todo adquire propriedades magnéticas.
O sistema vital e emocional de uma
pessoa funciona de modo semelhante.
O cidadão que não tem uma vontade
forte alimenta desejos que apontam para lados e objetivos diferentes e contraditórios
entre si.
Assim, seus desejos anulam uns aos
outros.
O resultado disso é uma pessoa sem
rumo certo, cuja dispersão magnética provoca uma perda de energia vital.
Mas o cidadão magnético tem seus
diferentes domínios - que reúnem os “átomos”
físicos, emocionais e mentais -
apontando na mesma direção.
Por isso ele tem o poder de atrair
para si, com força proporcional, uma certa sabedoria.
Um grupo humano internamente
harmonizado terá o mesmo potencial, mas com energia aumentada.
Este último fato é decisivo para
estudantes de filosofia esotérica, porém deve-se ter presente que harmonia
interna inclui a diversidade externa, e que a uniformidade total extingue a
vida magnética.
Vida implica movimento.
O cosmo coloca à disposição de todos
uma energia inesgotável.
Poucos sabem captá-la.
O caminho magnético correto consiste
em desejar coisas coerentes e adequadas,
aceitando com humildade as
dificuldades e os desafios.
Conforme a atitude do indivíduo diante
da vida, o seu poder magnético aumentará ou se reduzirá.
Não havendo vigilância, ele pode ficar
preso a situações que apenas atrasam o aprendizado da arte de viver.
O magnetismo na aura do indivíduo se
acumula em torno do desejo, da vontade e dos hábitos.
O caminho espiritual é uma série de
passos pelos quais o indivíduo troca situações magnéticas inferiores por
situações magnéticas superiores.
Devido à força magnética automática
dos hábitos, não é suficiente saber o que é certo e o que é errado.
O estudante deve examinar também se
não está subconscientemente identificado com o magnetismo da ilusão. Isso pode
ocorrer mesmo depois de reconhecer a ilusão como tal em sua consciência
pensante.
Robert Crosbie escreveu:
“Ninguém que vê o seu erro é um caso perdido.
No momento em que vemos que estamos iludidos, neste
momento já não estamos iludidos, embora ainda estejamos rodeados pelas
consequências da ilusão e tenhamos que abrir caminho através delas.
Todos os obstáculos e dificuldades vêm da
auto-identificação com a ilusão e os erros; esta é a ilusão das ilusões” [2]
Além de ver o que é verdadeiro e
falso, é necessário renunciar ativamente ao que é falso, optando pelo
verdadeiro. E isso nem sempre é fácil, porque requer o desenvolvimento
magnético da vontade própria.
Quando respiramos ar puro e mantemos
contato com a luz do sol, por exemplo,
aumentamos e elevamos nosso magnetismo
vital.
A respiração curta e apressada é
antimagnética, mas a respiração profunda aumenta a força pessoal.
Exercícios diários de respiração, feitos
ao ar livre, recarregam o organismo com prana, a força vital do cosmo.
Caminhar pela natureza sem
preocupações expande a vitalidade.
Os exercícios físicos moderados
oxigenam o corpo todo e são magnetizantes.
As pessoas naturalmente magnéticas
alimentam-se corretamente, não comem em excesso, trabalham com gosto e
dedicação e agem com calma.
O magnetismo emocional superior
aumenta quando as pessoas mantêm sentimentos elevados, evitam discórdia e
praticam o desapego.
A boa vontade para com todos é uma prática
eficaz.
Se alguém manifesta inveja e procura
desprezar o seu trabalho, a pessoa magnética deixa clara a sua independência em
relação a esses jogos mentais,
mas não produz rancor dentro de si.
Quando conhecemos nosso valor, sabemos
inspirar respeito sem necessidade de agredir, e reconhecemos o que há de bom
nos outros.
“Viva e deixe viver” - este lema faz bem ao equilíbrio magnético de todo
ser humano.
No plano mental, os indivíduos
magnéticos concentram-se serena e profundamente em suas metas.
Eles têm a capacidade de olhar para
cada aspecto da vida desde diferentes pontos de vista.
É saudável escolher temas filosóficos
como objeto de estudo e leitura.
Naturalmente, um ser magnético evita
discussões mesquinhas porque sabe que idéias e opiniões fixas são fontes de
perda energética.
Sua mente está naturalmente colocada a
serviço do bem através de ações construtivas.
Ele tem um pensamento ágil, capaz de
revisar constantemente suas premissas.
A presença do magnetismo espiritual
faz com que as metas pessoais egoístas sejam abandonadas.
Para quem possui essa força, é natural
meditar diariamente sobre a verdade universal presente no centro de todas as
coisas e no ponto central do seu próprio coração.
Nesse contexto, o indivíduo tem
interesse por investigar o que há além do pensamento.
Ele obtém o que busca concentrando-se
no vazio central da Lei do Equilíbrio [3],
que dirige silenciosamente tanto a sua
própria consciência como a consciência do universo.
Assim o estudante deixa de querer
coisas agradáveis apenas para si próprio ou no curto prazo.
A partir deste momento, tanto o seu
sofrimento como a sua felicidade são diferentes das formas de felicidade e
sofrimento que se encontra no mundo convencional.
Tal indivíduo pode fazer um ato de
sacrifício, ao combater os mecanismos pelos quais se perpetua a ignorância
ética e espiritual da humanidade.
Assim, atrairá um grau de sofrimento
para o seu eu inferior.
Porém, na mesma medida, estará
aumentando o magnetismo abençoado que caracteriza o plano do eu superior.
Todos os aspectos da vida estão
interconectados.
Quando se reúne magnetismo positivo em
um determinado domínio, isso torna mais fácil preservar magnetismo nos outros
aspectos.
É verdade que uma pessoa pode ter uma
boa quantidade de magnetismo em determinado domínio da vida e ao mesmo tempo
sofrer perdas energéticas importantes em outras áreas.
Para quem trilha o caminho teosófico,
esse é o processo de testes e provação.
Apesar dos desafios, os seres
magnéticos semeiam sentimentos de boa vontade na relação com colegas, amigos,
familiares e conhecidos.
Ninguém vive isolado, e o que se
planta, se colherá.
Esta lei funciona inclusive no plano
do pensamento.
Sem dúvida, em muitos casos a boa ou
má colheita pode ficar para a próxima encarnação.
É fato também que esta lei não
funciona de modo mecânico, nem simplório, linear ou previsível.
Mas a perfeição com que ela opera
costuma ser infalível, como se pode constatar através dos inúmeros aspectos e
processos em que o seu funcionamento é observável
Um dos fatores mais importantes da
vida magnética de todo indivíduo sábio é a capacidade de não desejar
intensamente coisa alguma no plano egoísta e pessoal de curto prazo.
A ausência de desejos confusos permite
reunir energia sutil.
A presença de uma vontade nobre,
constante e elevada é imprescindível para ter contato com a fonte da energia
superior.
Consciente disso, o indivíduo
magnético renuncia aos desejos por objetos de pequena importância.
Ele aceita o vazio no plano das coisas
secundárias, porque concentrou seu interesse no que considera principal.
Ele deixa de lado a busca de prazer
imediato e assim é capaz de agir movido por uma intenção impessoalmente justa.
Eliphas Levi escreveu:
“O prazer é um inimigo que deve
fatalmente tornar-se nosso escravo ou nosso senhor.
Para possuí-lo é preciso combater e
para gozá-lo é preciso tê-lo vencido.
O prazer é um escravo encantador,
porém, um senhor cruel, implacável e assassino.
Ele cansa, esgota e mata aqueles a
quem domina, depois de ter enganado todos os seus desejos e traído todas as
suas esperanças”.[4]
Cada cidadão produz e guarda seu
próprio magnetismo através das escolhas práticas que faz.
A vontade média exercida por uma
pessoa gera uma corrente magnética correspondente, que envolve e anima o seu
corpo.
A prática de exercícios físicos faz
bem à saúde porque acumula vontade saudável nos músculos e em cada tecido do
organismo.
Posturas de ioga, exercícios de artes
marciais, a prática da natação, caminhadas ao ar livre ou mesmo andar de
bicicleta são meios de obter e concentrar vitalidade e magnetismo físico.
Mas tudo o que se pensa, se quer e se
faz nos planos mais sutis também reúne magnetismo correspondente nos diferentes
planos ou domínios da vida.
Portanto, a produção de bom magnetismo
depende da formação de bons hábitos
Os costumes de uma pessoa funcionam
como pequenas centrais elétricas que geram sua energia própria.
Seja através de uma hidrelétrica ou de
um catavento, a eletricidade convencional é reunida por uma série de movimentos
mecânicos repetidos, cuja energia é retida e transformada.
Do mesmo modo, uma certa energia
magnética é acumulada com a repetição das nossas pequenas atitudes costumeiras
na vida diária, sejam elas físicas,
emocionais ou mentais.
A energia gerada por nossos hábitos
talvez pareça pequena, mas isso não é verdade.
Trinta minutos de estudo e
contemplação diários podem fazer muita diferença depois de alguns meses.
Quarenta minutos de leitura meditativa
por dia são suficientes para mudar uma vida, se levarem ao fortalecimento de
uma vontade espiritual associada a discernimento e bom senso.
Os hábitos fortalecem os desejos,
definem o caráter e estabelecem a visão que se tem da vida.
A ruptura das rotinas inúteis funciona
como uma barragem que interrompe o curso de um rio de águas barrentas - e produz
uma energia elétrica valiosa.
Ao ficar imóvel durante algum tempo
examinando verdades universais, um fluxo antes irreprimível de hábitos físicos
e emocionais dispersivos passa a ser represado, produzindo magnetismo superior.
Quando estudamos teosofia original ou
filosofia clássica, não permitimos que nenhum pensamento de ordem pessoal ou
dispersiva domine nossa consciência.
Fazemos com que os pensamentos se
concentrem uma e outra vez em um tema sagrado e abstrato livremente escolhido
por nós.
Aos poucos, esta postura se amplia
para as 24 horas do dia, e a energia mecânica dos hábitos de pensamento é
transformada em uma força eletromagnética purificada.
Esta elevação constante da consciência
gera Vontade espiritual e reduz gradualmente a força dos antigos hábitos de
pensamento e emoção.
O velho fluxo de energias gastas
inconscientemente é cada vez mais transmutado,
e deste modo passamos a ter mais força
disponível para cada iniciativa nossa.
Ganhamos uma presença mais forte e
mais magnética diante dos eventos e situações da vida.
Desativamos o envolvimento pessoal em
situações de curto prazo, e geramos magnetismo espiritual, em torno dos temas e
das realidades do eu superior.
O cérebro humano é uma estação central
de conexões eletromagnéticas.
Seu potencial é ilimitado.
A energia que passa por ele ganha
força e clareza à medida que adquirimos experiência e alguma sabedoria.
O silêncio mental, a renúncia às
diferentes formas de cobiça e medo, os pensamentos corretos e uma polarização
da nossa consciência em torno de fatos positivos e de realidades abrangentes
são, todas, decisões e escolhas voluntárias.
Essas possibilidades estão ao nosso
alcance.
Elas servem para libertar-nos do
sofrimento psicológico.
Espírito crítico é fundamental, mas
não devemos ser arrastados por ele.
É oportuno colocar mais ênfase na
construção do que é correto do que na destruição do que é errado.
A crítica franca é importante, porque
limpa o terreno sobre o qual se pretende construir.
Mas devemos ser mais duros com nós
mesmos do que com os outros, já que a principal construção é, sempre, a
auto-construção.
Toda crítica que não tenha em vista a
construção do que é correto constitui uma perda e um vazamento de energia
magnética.
A lei da conservação da energia é a
mesma lei da conservação de magnetismo.
Quando a energia vital do indivíduo
está polarizada em torno do que é bom,
verdadeiro e durável, nascem a
confiança em si mesmo, a confiança nos outros, e a confiança na vida.
Surge então o poder do entusiasmo.
Uma energia sincera e solidária faz
com que tudo valha a pena.
O coração humano se torna
simultaneamente humilde e imenso, e nele a felicidade se torna incondicional.
NOTAS:
[1] “Ísis
Sem Véu”, de Helena P. Blavatsky, obra em
quatro volumes,
Ed. Pensamento, SP. Ver volume
I, p. 81.
[2] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy
Co., Los Angeles,
1945, 416 pp., p. 147.
[3] “Vazio
central da Lei do Equilíbrio”: o fiel da
balança, o eixo simétrico da vida,
o “centro
laya” na filosofia oriental.
[4] “Grande
Arcano”, de Eliphas Levi,Ed. Pensamento, SP,
247 pp., ver p. 97.
Uma versão inicial do artigo acima foi
publicada na edição de agosto de 2003 da revista “Planeta”, de São Paulo.
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