SEX, 29 DE MARÇO DE 2013
por Octavio Caruso
Um garoto em uma sala de aula de uma escola particular paulista,
discute agressivamente com sua jovem professora.
Seus xingamentos aumentam em tom, incentivados pelos berros dos
seus colegas, vozes femininas e masculinas em um uníssono de revoltante
violência.
A professora acuada e impotente, apenas aguarda o desfecho
daquele exibicionismo de testosterona mal direcionada.
Os gritos ganham volume e, assim como em um ritual religioso, a
histeria faz com que a professora rompa com sua civilidade e acabe abraçando o
seu lado primitivo, aceitando o confronto corporal que termina no solo.
Tudo sendo filmado com requintes da mesma crueldade que movia os
romanos nas arenas de gladiadores.
Voltemos cinco minutos no tempo e analisemos a conduta dos
alunos na sala de aula.
A professora precisa berrar para que sua voz não seja abafada.
Adolescentes conversando entre si, contorcendo-se em suas
cadeiras, levantando-se e saindo da sala sem pedir permissão, sem nenhum
respeito pela figura de autoridade.
A tragédia anunciada e que se repete diariamente em escolas
particulares e públicas de todo o país.
Independente da classe social dos pais ou da qualidade do
estabelecimento, o desrespeito ocorre.
Que vírus é este que contaminou os jovens brasileiros e os
transformou em selvagens zumbis?
A razão estaria na incompetência dos pais, que produzem filhos como
se virassem as páginas dos livros que não leem?
O fator índole existe,
porém a maldade habita na coexistência entre o ambiente propício e o estímulo.
Um homem com fome pode ser levado a roubar, porém a força que o
leva a matar após ter sua fome saciada nasce de um estímulo
(seja ele de origem psicotrópica ou não) que
pode ser controlado.
Como já disse em outros textos, a violência é um elemento
necessário ao ser humano (foi uma das causas de sua evolução)
e deve ser disciplinada, nunca reprimida (o que eventualmente dará origem a uma violência intensificada,
extravasada de várias formas).
O que controla este estímulo?
Basta analisarmos o comportamento de jovens e adultos em uma
semana na rede social, para presenciarmos dois elementos que se repetem:
excesso de impulsividade e ausência
de critério, normalmente combinados.
Ex:
alguém lê uma mensagem sobre uma conspiração que está ocorrendo e que afeta os
usuários desta rede social, com a simples resolução sendo o compartilhamento
daquela mensagem.
A pessoa lê por alto, não se informa sobre o ocorrido (o que hoje em dia é simples como nunca) e
compartilha a mensagem.
A rede social se vê inundada então de mensagens conspiratórias
alarmantes, fotos de crianças deficientes que poderão ser salvas pelo ato do
compartilhamento, políticos que se tornam mitos pop,
notícias antigas que são resgatadas como se houvessem sido
escritas naquele dia, mendigos modelos ou mendigos feios que apreciam a leitura
de um livro (compartilhados por pessoas que diariamente tropeçam em mendigos
nas ruas), animais exóticos e humor rasteiro.
Desliguei o computador e liguei a televisão.
Trocando os canais, algo me chamou a atenção em uma rede
católica: uma caixinha de madeira com uma imagem da Virgem Maria cercada por
luzes que piscavam.
A narração em off
dizia:
“Adquira hoje mesmo o terço
eletrônico...” (você
pode escutar o terço eletrônico enquanto dirige, por exemplo).
Já estou acostumado com os absurdos cometidos pelos evangélicos,
que vão desde paletós mágicos até um incrível “drive-thru” de oração (não é piada, juro), mas perceber que os
católicos também perderam o senso do ridículo me espanta.
A indústria teológica cresce nos terrenos que não são regados
pela cultura.
Ainda existem padres bem intencionados e interessados em
conduzir pessoas para o caminho do bem em igrejas modestas, mas a maioria
prefere assistir as novelas em suas televisões de sessenta polegadas.
Diferente de muitos questionadores (ateus já formam uma seita própria, tão radical e ignorante quanto
todas as que confrontam),
eu não sou contra a
existência das religiões, inclusive acho que esta filosofia é benéfica em
crianças que estão se formando.
Somente sou contra o mercado que vende fé, aproveitando-se da
ignorância e da carência daqueles que o procuram.
Não seriam a impulsividade excessiva e a ausência
de critério os elementos por trás também deste fenômeno?
O que leva uma pessoa a procurar um padre ou um pastor?
O discurso utilizado: “você que está sofrendo problemas financeiros, problemas de
saúde...”, não seria algo natural na vida de todo ser humano?
Uma pessoa fragilizada emocionalmente, que ao escutar este
discurso, impulsivamente e sem nenhum critério busca esta salvação ilusória,
não estaria cometendo o mesmo erro daqueles usuários das redes sociais?
O vírus que se alastra por nossa juventude é causado pela junção
destes dois elementos.
Pais que colocam filhos no mundo respondendo a uma impulsividade
sexual sem nenhum critério.
Jovens que vagueiam sem direção pelo mundo, orientados pela
mídia (que promove a inversão de valores, pois se mostra lucrativa).
A arte disseminada não chama atenção como um corpo sangrando no
asfalto.
O artista que não ofende é considerado careta, bobo.
O gosto musical do jovem é guiado pela mídia, que molda a pessoa
baseando-se em seus interesses.
Sejamos todos sertanejos
universitários, dancemos todos “gangnam style”,
esqueçamos os ídolos mortos e louvemos Ronaldinho Gaúcho e Neymar, torçamos
para que o outro Ronaldo emagreça,
aplaudamos os ídolos de
barro criados no “The Voice”, “Ídolos” e
similares, esqueçamos que ninguém era levado a sério ao falar de MMA até a Rede
Globo apadrinhar o esporte (se
o ator da novela gosta, posso gostar),
paremos de pensar e questionar.
Aquela professora é apenas uma estatística, um vídeo no Youtube que
logo será esquecido.
Este texto é apenas mais um desabafo que se somará aos muitos
produzidos, logo abafados pelo som das novas polêmicas e dos absurdos que
infestam este país dos feriados que, diferente de muitos filmes que possuem
necessários “alívios cômicos”, se mostra a cada ano que
passa um grande circo, que vez ou outra apresenta um “alívio de
seriedade”.
A pergunta que devemos fazer não é: como se combate este vírus,
mas sim: como fazer este povo querer sair de sua comodidade e
combatê-lo.
Enquanto muitos países em sua história foram vítimas de guerras
e injustiças, o Brasil é até hoje vítima da preguiça.
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