QUINTA-FEIRA, 16 DE MAIO DE 2013
Nenhum caminho é mais errado para
a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois,
quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de
alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o
seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas.
Assim como o nosso corpo está
envolto em vestes, o nosso espírito está revestido mentiras.
Os nossos dizeres, as nossas
acções, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se,
por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se
adivinha a figura do corpo.
Antes de mais nada, toda a
sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por
conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será.
Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho.
Quem, portanto, não ama a solidão,
também não ama a liberdade:
apenas quando se está só é que se
está livre.
A coerção é a companheira
inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis
quanto mais significativa for a própria individualidade.
Dessa forma, cada um fugirá,
suportará ou amará a solidão na proporção exacta do valor da sua personalidade.
Pois, na solidão, o indivíduo
mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra:
cada um sente o que é.
Ademais, quanto mais elevada for a
posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza, tanto mais solitária
será, essencial e inevitavelmente
Assim, é um benefício para ela se
à solidão física corresponder a intelectual.
Caso contrário, a vizinhança
frequente de seres heterogéneos causa um efeito incómodo e até mesmo adverso
sobre ela, ao roubar-lhe seu «eu» sem nada
lhe oferecer em troca.
Além disso, enquanto a natureza
estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade nos domínios moral e
intelectual, a sociedade,
não tomando conhecimento disso,
iguala todos os seres ou, antes,
coloca no lugar da diversidade as
diferenças e degraus artificiais de classe e posição, com frequência
diametralmente opostos à escala hierárquica da natureza.
Nesse arranjo, aqueles que a
natureza situou em baixo encontram-se em óptima situação; os poucos,
entretanto, que ela colocou em cima,
saem em desvantagem.
Como consequência, estes costumam
esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se numerosa, a vulgaridade domina.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos
para a Sabedoria de Vida'
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor leia antes de comentar:
1. Os comentários deste blog são todos moderados;
2. Escreva apenas o que for referente ao tema;
3. Ofensas pessoais ou spam não serão aceitos;
4. Não faço parcerias por meio de comentários; e nem por e-mails...
5. Obrigado por sua visita e volte sempre.