12 de Agosto de 2011
Experimentem procurar a palavra Nibiru com Google:
2.480.000 resultados.
Mais de 94.000 só em Português.
Impressionante.
Acho que nesta altura todos sabemos o que é suposto ser Nibiru:
um planeta que está a aproximar-se ao nosso planeta, a Terra.
Depois há a história dos Annunaki, o povo feroz que Sichtin descobriu
nas antigas tábuas da Sumeria.
E graças aos quais ganhou não pouco dinheiro.
Todos estão livres de acreditar naquilo que mais lhes apetecer,
isso parece-me claro.
A amiga Ravena, por exemplo, de Evoluindo Sempre (blog
que aconselho visitar com regularidade), acredita nisso e também alguns
dos Leitores de Informação Incorrecta.
Tudo bem.
Mas eu tenho o direito de não acreditar, também isso é claro, e
de explicar porque acho Nibiru uma excelente ideia editorial mas um péssimo assunto
histórico-científico.
Começamos pelo início.
O simpático Sitchin (que é bem lembrar nunca ter
sido arqueólogo mas economista) afirma ter encontrado a saga de
Nibiru e dos Annunaki em antigos escritos originários da Sumeria, além de documentos
em antigo hebraico, accadico e babilonese.
O primeiro problema é que outros arqueólogos tinham traduzido
antes e depois os mesmos textos e os resultados sempre foram completamente
diferentes.
Sitchin atribui às palavras originais significados diversos dos "colegas".
Isso por si poderia ser bom, pois Sitchin poderia ter sido um
génio.
Mas Sicthin esquece que os Sumeros tinham inventado também os dicionários,
alguns dos quais chegaram até nós.
E, segundo os dicionários criados pelos mesmos Sumerios,
Sitchin está redondamente errado.
Hoje existe o Sumerian Lexicon, um
livro que pode ser adquirido por pouco mais de 60 Euros, e que fornece as bases
da gramática sumera (que Sitchin ignora).
O que eu digo é o seguinte: mas porque todos confiam nas
traduções de Sitchin, que nem arqueólogo, histórico ou
linguista era?
É um pouco como ter a febre e ir ao médico.
E depois tomar um ansiolítico porque segundo o carpinteiro, que
leu muito, é bem melhor.
Faz sentido?
Todas as pessoas que acreditam cegamente em Nibiru deram-se ao
trabalho de verificar, não digo todos os livros de Sitchin, mas aos menos duas
ou três frases, as mais importantes?
Já isso seria suficiente para definir Nibiru como algo sem
sentido.
Mas vamos em frente.
Nas tábuas analisadas por Sitchn não existe o termo Annunaki.
Não é que apareça poucas vezes: não existe mesmo.
É bom lembrar que as tábuas em questão não são 6 ou 7, mas cerca
de meio milhão.
Vamos ver o selo que está na base de toda a teoria.
É este:
Segundo Sichtin, os Sumeros tinham conhecimentos
astronómicos muito avançados, ao ponto que conseguiram representar todos os
planetas do Sistema Solar mais, óbvio, Nibiru.
Primeira observação: os Sumerios conseguiam ver até
Plutão
(e como?) mas não repararam que
Saturno tem anéis, o que não deixa de ser bastante curioso.
A
seguir: os Sumerios conseguiam ver até o 11 planeta mas depois eram
incapazes de representar o Sistema Solar com um mínimo de ordem (pois
os planetas aparecem segundo uma disposição caótica).
E nem as proporções são respeitadas.
A impressão é que o selo não mostre o Sistema Solar; de fato, é
mais parecido com as Plêiades.
Mas Sichtin vai além: consegue encontrar descrições
de Úrano e Neptuno (o que não deve ter sido complicado: ao atribuir significados
diferentes às palavras é possível encontrar tudo e mais alguma coisa):
segundo o escritor, os dois planetas seriam verdes,
ricos de vegetação e de vida.
Pena que ambos os planetas sejam na realidade bolhas de gás,
com uma temperatura média de -215 C.
Nibiru, planeta fresquinho
Depois há a questão de Nibiru, o planeta.
Pensamos nisso.
Nibiru não tem um Sol como nós, por isso o dia em Nibiru é
preto,
com apenas as luzes das estrelas.
Mas sem Sol não há calor: e como a temperatura no espaço está
perto do zero absoluto, podemos postular um clima bastante fresco,
à volta de 200 e passa graus negativos.
Nada mal.
Não há estações, não há luz para a fotossíntese, nada, só frio e
gelo.
Claro está: para um "fiel" de
Nibiru estas coisas não contam, pois são todos pormenores que os Annunaki
ultrapassaram graças a uma tecnologia superior.
Então vamos em frente.
E que tal uma demonstração científica da
impossibilidade dum planeta como Nibiru?
Em internet é bastante simples encontrar bom material em
propósito: se alguém estiver interessado pode contactar-me, prometo enviar
os documentos via e-mail (são pdf, em Inglês).
Resumimos: teorizar a existência dum planeta que de vez em quando entra no
interior do Sistema Solar não tem sentido.
E isso por uma razão extremamente simples: planetas como Úrano, Neptuno ou até Saturno hoje
não estariam aí onde na verdade estão e sempre estiveram.
Teriam sido afastados pelas imensas forças gravitacionais.
E esta não é uma afirmação da Nasa, mas de Sir
Isaac Newton.
História?
Física?
No lixo
O fato dos planetas exteriores ainda estarem onde estão é a
melhor prova de que Nibiru nunca entrou no nosso Sistema Solar.
O que vamos fazer?
Deitar no lixo 300 anos de física só
porque um economista diz que está tudo errado?
Ou também Newton era parte duma
conspiração contra Nibiru?
Mas vamos em frente.
Admitimos que:
- Sichtin era mais inteligente e preparado de que todos os
verdadeiros arqueólogos.
- Arqueólogos, históricos e astrofísicos de todo o mundo são ao
serviço da grande conspiração que encobre a verdade.
- Nibiru não é um planeta gélido e sem luz mas um lugar
maravilhoso, o berço dos Annunaki.
- Todos os conhecimentos da física dos últimos 300 anos são
lixo, pois Nibiru demonstra o contrário.
Isso significa que Nibiru já passou nas
nossas redondezas,
correto?
Se atrás do cometa está escondido Nibiru, isso significa que há
3.600 anos, mais ou menos, Nibiru esteve aqui.
Então pergunto: como é que apenas os
Sumeros têm recordações do evento?
Há 3.600 anos corria o século XVI a.C., ou 1.500 a.C.
Os Hititas corriam com os seus cavalos, os Chineses inventavam a
bússola, os Aquéios migravam para a Grécia, nascia a civilização micênica. Isso
para não falar do Antigo Egito.
Porque nenhum destes povos fala de destruições terríveis, de
terramotos abismais, de novos planetas visíveis no céu?
Em particular os Egípcios: mantinham relatos completos e
pormenorizados de tudo o que acontecia no Reino: porque
nem uma palavra?
Mas ok, vamos supor que todos estes povos transmitiram algo e
que ao longo dos séculos estes conhecimentos foram escondidos por uma elite
malvada e conspiracionista.
As
provas
Vamos ver as provas.
Porque podemos não acreditar, mas de Nibiru existem montes de
provas.
Eis, por exemplo, uma fotografia que até poucos anos atrás
aparecia com frequência na internet:
Segundo os fiéis de Nibiru, na imagem é possível ver mesmo isso,
Nibiru, em aproximação.
Na verdade nada se aproxima aqui: são duas imagens tiradas com
zoom diferente e percebe-se facilmente pelo facto que as outras estrelas não
mudam de posição.
De fato, esta é a estrela V838 Mon com a sua "casca" de
gás, que pode ser ainda observada sem problemas, sempre na mesma posição.
Além disso, aqui Nibiru parece vermelho; mas há também Nibirus
azuis ou verdes, é só escolher.
Provas, provas:
Não é preciso tirar um curso de fotografia para perceber que
estamos perante reflexos, um fenómeno absolutamente natural quando apontamos
uma câmara na direcção do Sol ou de outra fonte de luz
Não estão
convencidos?
Então experimentem fotografar uma vela: descobrirão Nibiru
também no vosso quarto.
Eis
uma fotografia tirada com o meu telemóvel na semana passada na Costa da
Caparica, perto de Lisboa:
É possível observar Nibiru (um reflexo) e,
marcado com "???"...oh
minha nossa, o que é isso?
Um Annunaki?
Nibiru 2?
Não, é um parélio, um fenómeno provocado pela luz solar ao atravessar
cirrus ou cirrostratus.
Se querem observar outras fantásticas imagens de Nibiru é
possível procurar com Google, a escolha não falta.
E também Youtube é um óptima fonte de Nibiru.
Porque é normal: se Nibiru irá encontrar a Terra
em 2012, é óbvio que nesta altura já deve ter ultrapassado a órbita de Jupiter.
E, portanto, ser observável com um telescópio nem muito potente
ou até com um bom binóculo.
Mas, fato esquisito, com estes instrumentos Nibiru não aparece.
Nibiru aparece só em fotografias nas quais aparece o Sol.
Porque será?
A fé Nibiru
Falar de todos os disparates que circulam em relação a Nibiru
pede muito mais de que um simples post: Nibiru vem do Sul, Nibiru e a
Sonda Estéreo, Nibiru atrás do cometa, Nibiru em forma de aves,
Nibiru e os 7 satélites...
A verdade é que Nibiru é uma fé.
E, como tal, a razão não pode vencer.
Quem acredita encontrará explicações para tudo e não mudará de ideia.
Eu tenho sorte: sempre gostei de astrofísica, sempre
estive fascinado por estrelas e planetas e nunca as leituras ou a vontade de
perceber neste sentido faltaram.
Por isso é muito simples perceber porque a história de Nibiru
não tem nem pés nem cabeça.
Mas quem nunca ficou interessado do assunto, bom, as coisas
mudam: aparece um fulano que diz ser perito, faz afirmações, traz
documentos, diagramas, esquemas, e pronto, eis que uma teoria absurda, sem um
mínimo fundamento histórico ou físico, torna-se uma realidade
Mas temos sorte: afinal é só esperar até
Dezembro de 2012, pouco mais de um ano.
E depois?
Depois algo mais será encontrado, fiquem descansados, porque
muitas vezes escolhemos acreditar em coisas nas quais precisamos de acreditar.
E isso é mais do que suficiente.
Ipse dixit.
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