quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
A partir da análise de sinais achados em
estalagmites e de evidências arqueológicas pesquisadores afirmam que grande
seca teria levado civilização ao colapso
Para entender o possível impacto da mudança
climática sobre a sociedade moderna, um novo estudo sugere olhar para o fim da
civilização maia clássica, que terminou em um surto de fome, guerra e
decadência, enquanto o padrão climático de longo prazo na sua região passava de
úmido para seco.
Uma equipe internacional de pesquisadores
compilou detalhados registros climáticos sobre 2.000 anos de clima úmido e seco
no atual Belize, onde cidades maias se desenvolveram entre os séculos 4 e 10 da
era cristã.
Valendo-se de sinais achados em estalagmites,
depósitos minerais deixados pelo gotejamento da água em cavernas,
e as ricas evidências arqueológicas legadas
pelos maias, a equipe chegou a conclusões que foram publicadas nesta
quinta-feira na revista Science.
Ao contrário da atual tendência de aquecimento
global, causada principalmente por atividades humanas como a queima de
combustíveis fósseis, a mudança no clima da América Central durante o colapso
da civilização maia se deveu a uma violenta oscilação natural no padrão
climático
De início, o clima extremamente úmido permitiu
o florescimento da civilização maia, mas, ao longo dos séculos, o clima se
tornou mais seco, segundo o coordenador do estudo, o antropólogo Douglas Kennett, da Universidade Estadual da Pensilvânia
Os períodos úmidos corresponderam a fases de
prosperidade agrícola, expansão populacional e desenvolvimento civilizatório,
disse Kennett por telefone
Ele afirmou que isso também reforçou o poder
dos reis, que reivindicavam crédito pela bonança e realizavam sangrentos
sacrifícios públicos para manter as boas graças climáticas.
Mas, por volta do ano 660, o tempo virou,
segundo Kennett, e o poder dos
reis minguou.
Foi uma época de guerras por recursos escassos.
"Você imaginar
os maias sendo atraídos para essa armadilha", disse
ele.
"A ideia é que
se eles mantêm a chuva caindo, eles mantêm tudo unido, isso é ótimo quando você
está num período realmente bom ..., mas, quando as coisas começam a ir mal, e (os reis) fazendo cerimônias e nada acontecendo, aí as pessoas começam
a questionar se não deveriam estar no comando."
O colapso político dos reis maias ocorreu por
volta de 900,
quando uma seca prolongada abalou mais sua
autoridade.
As populações maias resistiram por mais cerca
de um século, e uma seca severa, durando de 1000 a 1100,
forçou os maias a abandonarem seus principais
centros populacionais.
Segundo Kennett, o
impacto ambiental da seca foi agravado pelo uso intensivo do solo agrícola, o
que provocou erosão.
"Há algumas
analogias com isso no contexto moderno que realmente deveriam nos
preocupar", disse ele, citando exemplos na África e
Europa.
Segundo ele, a atual mudança climática poderá
afetar os sistemas agrícolas de algumas regiões, motivando fome,
instabilidade social e conflitos armados que
então envolvem outras populações, exatamente o que se acredita que aconteceu
com a civilização maia.
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