[Imagem: Paulino, A.R et al./JGR]
segunda-feira, 24 de março de 2014
Flutuações
na temperatura da atmosfera a 108 km de altura, decorrentes da influência das
marés lunares e do relevo.
[Imagem:
Paulino, A.R et al./JGR]
Marés lunares
A Lua não
provoca apenas marés nos mares e oceanos.
Assim como
faz as águas subirem e baixarem ao longo do dia, a Lua também deforma a
atmosfera do planeta, esticando-a cerca de 1 metro.
Esse esticão
sutil, decorrente da atração gravitacional lunar, gera perturbações na alta
atmosfera que foram agora mapeadas em escala global por uma equipe do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
Inez Staciarini
Batista e Ana Roberta Paulino usaram dados coletados durante 10 anos
para produzir o mais detalhado levantamento das variações na temperatura a
altitudes superiores a 30 quilômetros (km)
- três vezes mais alto do que voam os aviões
comerciais.
Na faixa que
vai dos 30 km aos 110 km de altura - cobrindo a estratosfera e a mesosfera - a
temperatura pode oscilar até 8 graus ao longo do dia por influência dessa "maré
atmosférica" causada pela atração gravitacional
lunar.
A força
exercida pela Lua sobre o planeta provoca vibrações nas camadas mais baixas da
atmosfera que se propagam para as mais altas na forma de ondas semelhantes às
que surgem quando se agita uma corda.
Assim como
fazem a superfície do oceano oscilar, essas ondas, conhecidas como marés
lunares, fazem a atmosfera pulsar.
"Nos oceanos, a força gravitacional da Lua se manifesta
como uma mudança de altura, já na atmosfera ela altera a temperatura ou a
velocidade dos ventos,"
explica o professor Paulo
Prado Batista,
que orientou
o estudo
Fluido
As variações
tornam-se maiores à medida que se sobe na atmosfera - e atingem o grau máximo
por volta dos 110 km de altura, onde o ar é mais rarefeito e a densidade de
gases menor
Mas não é só
isso: além da variação de acordo com a latitude, há também variações
longitudinais, no sentido leste-oeste.
Essas
oscilações de temperatura ocorrem em ciclos com 12 horas e 25 minutos de
duração, característicos das marés lunares.
O período
corresponde ao tempo que leva para o planeta dar meia volta em torno de seu
eixo e o ponto de sua superfície que estava mais próximo à Lua se tornar o mais
distante - tanto a rotação da Terra como a translação da Lua ocorrem no mesmo
sentido, embora o movimento da Lua seja mais lento, razão por que esse tempo
não coincide com 12 horas.
O mapeamento
fornece as evidências mais abrangentes de que as marés lunares na atmosfera
realmente existem e são importantes para conhecer melhor o clima de uma região
do espaço onde ficam os satélites de pesquisa e comunicação.
Quando
formulou sua lei de gravitação universal no final do século XVII, o físico e
matemático inglês Isaac Newton propôs que, assim como provoca
oscilações no nível dos oceanos, a Lua também poderia influenciar a atmosfera,
que também se comporta como um fluido.
Pierre-Simon
Laplace, astrônomo e
matemático francês, retomou o tema cerca de um século mais tarde, mas os dados
observacionais disponíveis eram insuficientes.
Efeitos sobre os satélites
As marés lunares
são um dos três fatores que disparam a formação de bolhas na ionosfera.
Os outros
dois motivos são: os campos elétricos ao redor do equador e os fenômenos
meteorológicos como a formação de nuvens de tempestade, o deslocamento de
frentes frias ou ventos intensos na camada mais baixa da atmosfera (troposfera), onde estão 90% dos gases.
As bolhas
são regiões com menor densidade de íons.
Elas começam
a se formar em geral no início da noite a cerca de 250 km de altura na região
do equador magnético da Terra, próximo ao equador geográfico.
Como são
menos densas que o ambiente ao redor, essas bolhas, à medida que crescem, sobem
para regiões mais altas da atmosfera e reduzem a concentração de íons na
atmosfera superior.
Essa mudança
na densidade de íons dificulta - e até bloqueia - a passagem das ondas de rádio
emitidas pelos satélites de comunicação de baixa órbita, situados a alturas
entre 400 e 600 km; pelos satélites do sistema GPS, que estão a 22 mil km de
altura; e pelos satélites de comunicação geoestacionários, que orbitam a Terra
a 36 mil km de altura.
FONTE: SITE INOVAÇÃO TECNOLOGICA
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