quinta-feira, 10 de abril de 2014
Uma inscrição antiga feita em papiro pode
sinalizar que Jesus Cristo tinha uma esposa (Foto: AP Photo/Harvard University, Karen L. King)
Acredita-se que fragmento seja proveniente do
Egito.
Historiadora diz que análises não provam que
Jesus era casado.
Um pedaço de papiro antigo que contém uma
menção à esposa de Jesus não é uma falsificação, de acordo com uma análise
científica do controverso texto, declararam nesta quinta-feira
(10) pesquisadores americanos.
Acredita-se que o fragmento seja proveniente do
Egito e contém escritos na língua copta, que afirmam:
"Jesus disse-lhes:
'Minha esposa...”
Outra parte diz ainda:
"Ela poderá ser
minha discípula"
A descoberta do papiro, em 2012, provocou um rebuliço.
Pelo fato de a tradição cristã afirmar que Jesus não era casado, o documento atiçou os debates
sobre o celibato e o papel das mulheres na Igreja.
O jornal do Vaticano declarou que o papiro era uma farsa,
juntamente com outros estudiosos, que duvidaram
de sua autenticidade baseados em sua gramática pobre, texto borrado e origem
incerta.
Nunca antes um evangelho se referiu a Jesus como
casado, ou tendo mulheres como discípulos.
Mas uma nova análise científica do papiro e da
tinta, bem como da escrita e da gramática, mostrou que o documento é antigo
"Nenhuma
evidência de fabricação moderna ("falsificação") foi encontrada", declarou a Harvard Divinity School em um comunicado.
O fragmento provavelmente remonta a uma data
entre os séculos VI e IX, mas poderia ter sido escrito até mesmo no
segundo século da Era Comum, segundo os resultados do estudo publicados na Harvard Theological Review.
A datação por radiocarbono do papiro e uma
análise da tinta utilizando espectroscopia Micro-Raman foram realizadas por especialistas da Universidade de
Columbia, da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
"A equipe
concluiu que a composição química do papiro e os padrões de oxidação são
consistentes com papiros antigos, ao comparar o fragmento do Evangelho da
Esposa de Jesus (Gospel of Jesus'
Wife - GJW, em inglês) com um fragmento do
Evangelho de João", declarou o estudo.
"O teste atual
suporta, assim, a conclusão de que o papiro e a tinta do GJW são antigos", esclareceu.
Origem desconhecida
A origem do papiro é desconhecida.
Karen King, historiadora
da Harvard Divinity School, o recebeu de um colecionador - que pediu para permanecer
anônimo - em 2012
King, uma
historiadora do cristianismo primitivo, declarou que a ciência mostrar que o
papiro é antigo não prova que Jesus era casado.
"A questão
principal do fragmento é afirmar que as mulheres que são mães e esposas podem
ser discípulas de Jesus - um tema que foi muito debatido no início do
cristianismo, num momento em que a virgindade celibatária se tornou cada vez
mais valorizada", explicou King em um comunicado.
"Este fragmento
do evangelho fornece uma razão para reconsiderar o que pensávamos que sabíamos,
ao se perguntar o papel que as declarações sobre o estado civil de Jesus
desempenharam historicamente nas controvérsias cristãs sobre casamento,
celibato e família"
O fragmento mede 4 cm x 8 cm. King declarou que
a data do documento - escrito séculos depois da morte de Jesus - significa que o autor não conhecia Jesus pessoalmente.
Sua aparência bruta e os erros gramaticais
sugerem que o escritor tinha apenas uma educação elementar, acrescentou.
Leo Depuydt, professor de
Egiptologia da Universidade Brown,
escreveu um artigo, também publicado na Harvard Theological Review, descrevendo
por que acredita que o documento é falso
"O fragmento do
papiro parece perfeito para um esquete do Monty Python (famoso grupo de comediantes britânicos)",
declarou.
Ele apontou erros gramaticais e o fato de as
palavras "minha
esposa" parecerem ter sido enfatizadas em negrito, o
que não é utilizado em outros textos coptas antigos.
"Como um
estudante de copta convencido de que o fragmento é uma criação moderna, sou
incapaz de fugir à impressão de que existe algo quase engraçado no uso das
letras em negrito",
escreveu.
King publicou uma
refutação às críticas de Depuydt, dizendo que o
fato de a tinta estar borrada era comum e que as letras abaixo de "minha esposa" eram ainda mais escuras
FONTE: G1.COM
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