REFLEXÕES
ASTROLÓGICAS SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA
O autor, a partir da interpretação da
Carta Astrológica traçada para o momento da independência do Brasil, discorre
sobre a natureza do país e seus eventos históricos mais importantes.
Considerações Iniciais
É sabido que a interpretação astrológica
de um país envolve os desdobramentos de vários eventos que antecedem e sucedem
ao seu nascimento propriamente dito e, no caso brasileiro, temos como marcos
fundamentais: o Achamento,
A Primeira
Missa, o início e o término do Tráfico Negreiro,
O Brasil
como sede do Império Português, a coroação de D. Pedro I, o Tratado da Independência, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, além de uma ou outra
efeméride de menor importância.
Entretanto, é praticamente uma
unanimidade entre os astrólogos locais
que o Grito do Ipiranga, quando foi proclamada a Independência
do Brasil, fornece as coordenadas ideais que
permitem uma abordagem precisa e profunda da realidade do país.
Historiadores do passado e do presente
concordam sobre a hora em que o então príncipe regente nascido em Portugal,
Pedro, decidiu a sorte do Brasil: foi
por volta das 16:30h.
Retificando o horário para 16:28h,
teríamos o Meio-do-Céu em conjunção exata à posição do Sol da Proclamação da
República (proclamada entre 15 e 16 de novembro
de 1889),
o que parece mais indicado.
Utilizaremos, neste ensaio, a data de 07.09.1822,
às 16:28 h, na cidade de São
Paulo.
Introdução
De acordo com os dados apresentados,
temos um país com o Sol em Virgem, Ascendente em Aquário e Lua em Gêmeos.
Os regentes do mapa, Saturno e Urano, encontram-se em Touro e em Capricórnio, respectivamente, sendo que Urano
está em conjunção Netuno.
Mercúrio,
dispositor do Sol, está domiciliado em Virgem.
Outro dado importante é a conjunção
entre Lua e Júpiter.
Sol em Virgem, casa VII
Como podemos observar, o Sol está na casa VII, o que permite desde
já conclusões fundamentais.
Tendo sido a independência proclamada
pelo príncipe herdeiro do próprio império colonial português, vê-se que a
emancipação do Brasil foi feita pelo homem que representava melhor do que
ninguém os laços com a antiga ordem.
Afinal, Pedro foi coroado imperador e
tornou-se o primeiro governante do novo país, mesmo sendo português.
A este fenômeno, cujas causas remetem ao
estabelecimento do Brasil como sede do império luso em 1808, catorze anos antes,
convencionou-se chamar de interiorização
da metrópole.
Durante as guerras napoleônicas a Corte
Portuguesa optou por deixar Lisboa e estabelecer-se no Rio de Janeiro, isto é, na própria
colônia*
Caso único de uma dinastia européia a
cruzar o oceano e chegar à América, tendo inclusive coroado um rei no Rio de
Janeiro, o fato do Brasil ter se tornado a sede do Império Luso foi decisivo
para que o processo de independência brasileiro fosse completamente diferente
dos demais movimentos emancipatórios envolvendo as jovens nações americanas.
Arrasado pela invasão francesa, nesta
época Portugal, de certa forma, torna-se “colônia” do Brasil.
Alguns historiadores chegam a afirmar que
foi Portugal que, em 1820,
proclamou sua “independência” do Brasil.
Os fatos indicam, portanto, um caso
único de simbiose entre metrópole e colônia às vésperas do nascimento do novo
país, simbolizado pela presença do Sol em Virgem na casa VII.
Apesar de essencial, este é apenas um
pedaço do quebra-cabeça*
É necessário ressaltar que antes da
transposição da sede do Império Português para o Rio de Janeiro (1808) se falava em “os brasis”
A cristalização da imagem do Brasil como
uma unidade mais coesa política e territorialmente ocorre, principalmente, a
partir da chegada da Corte.
O Sol em Virgem e na casa VII também
está diretamente relacionado ao fato de que a vida no país girava, naquela
época, em torno de um intercâmbio incessante com Portugal, Angola e Inglaterra.
Independência sem Quebra de Vínculos
De Portugal tivemos o elemento
colonizador, decisivo até mesmo na independência e na dinastia que aqui
continuaria a se estabelecer por mais de 65 anos.
Radicados na capital do novo país – o
Rio de Janeiro -, os “portugueses” eram mesmo uma força dominante e
controlavam o imenso território com mão de ferro.
A cidade teve um papel decisivo no
processo de interiorização da metrópole e na relação com Portugal, Angola e Inglaterra, posto que
o Rio de Janeiro sempre foi a “porta de entrada” do Brasil.
Durante a assinatura do tratado em que
Portugal e Inglaterra reconheceram a independência do Brasil, em 1825, foi incluída uma cláusula secreta que
garantia o pagamento de 2,5 milhões de libras esterlinas a Portugal.
Curiosamente, este havia sido o mesmo
valor que Portugal tomara da Inglaterra para financiar a guerra contra
independência, anos antes.
A Corte Portuguesa (ou seja, a família de D. Pedro I) ficou com
600 mil libras esterlinas e o restante, com a Inglaterra.
Quando chegou a hora de realizar o
pagamento e o fato tornou-se notícia, foi um escândalo.
Mesmo após a independência do Brasil D. João VI, rei de Portugal,
continuou a assinar documentos como “Imperador do Brasil”
A idéia inicial da dinastia portuguesa
era de que houvesse uma só nação e dois reinos.
Mesmo após a independência D. Pedro I continuou influindo na sucessão
portuguesa, primeiro em proveito próprio, depois em favor de sua filha.
Pedro, aliás, chegou a ser rei de
Portugal durante um período de sete dias, em 1826.
Mesmo tendo renunciado aos seus
direitos, sua relação com os assuntos internos de Portugal foi extremamente
intensa, tendo contribuído inclusive para minar sua popularidade no Brasil.
De Angola tivemos o intenso vínculo (e dependência comercial) que tinha
como pilar o tráfico negreiro, fator crucial no povoamento desde meados do século XVI
É conhecida a importância de diversas
etnias africanas na gênese do Brasil.
Naturalmente que este vínculo sempre
excedeu largamente a parte puramente econômica, havendo uma completa
permeabilidade osmótica entre África e Brasil desde os tempos primordiais.
E a influência do Brasil, na África,
teve igual dimensão.
“As trocas sempre se deram nas duas
direções, e dos dois lados do Atlântico ficava-se sabendo o que acontecia”
Após a independência do Brasil
cogitou-se que Angola, em vez de continuar a fazer parte do Império Luso,
deveria tomar parte no novo império que nascia nos trópicos.
Dois reis africanos, em Benin e no
Lagos, foram os primeiros a reconhecer a independência brasileira, ainda em 1822.
Em 1838, 16 anos
após a independência, o Rio de Janeiro tinha 37 mil escravos numa população de
97 mil habitantes.
Temos ainda, como “parceria” (casa
VII) no processo de independência do Brasil
a presença da Inglaterra, que praticamente tutelou o nascimento do novo país.
Quando a corte portuguesa fugiu de
Napoleão rumo ao Brasil e tornou o Rio de Janeiro capital de seu império, foi a
Inglaterra quem garantiu a segurança da travessia marítima de cerca de quinze
mil portugueses, além da família real.
A contrapartida de Portugal, ainda em
1808, foi garantir a quebra de seu monopólio
comercial abrindo os portos brasileiros aos produtos ingleses a módicas taxas
alfandegárias, inferiores até mesmo às taxas portuguesas.
As bases deste tratado comercial
permaneceram após a independência do Brasil e vigoraram até o final do que
havia sido estabelecido por portugueses e ingleses, a década de 1840.
Esta foi outra concessão embutida no
tratado de 1825.
A Inglaterra foi a grande beneficiária
com a independência do Brasil,
eliminando definitivamente a
intermediação portuguesa para livremente fazer os seus negócios.
Não há como entender o nascimento do
Brasil sem levar em conta o caráter central que o comércio triangular com a África e a
Europa tinha para o país, dotado de posição estratégica no Atlântico Sul.
A dependência do Brasil em relação a
Portugal, Inglaterra e Angola era evidente no momento em que o país começa a
caminhar com os próprios pés, e dá mostras da sua importância através da casa
em que o Sol se encontra.
A Dinâmica da Organização do Trabalho, da Hierarquia e da Vocação
Agrícola
Contudo, mais importante ainda que o
vínculo com Portugal, Angola e Inglaterra (casa VII) é o modo arraigado como o sistema escravocrata de produção controlava a sociedade e a economia do Brasil, permanecendo a dirigir a vida do país por mais de 65 anos após
a independência.
Como é ponto de consenso que Virgem rege
o trabalho,
vislumbramos a característica mais
marcante do passado brasileiro:
o fato ter sido a maior nação escravista da era moderna e a última a pôr fim a este sistema
de produção econômica, posto que sua força de trabalho vinha
de fora, da África, e toda a lógica de geração e exploração de riquezas era
dirigida por este sistema, com conseqüências inevitáveis para a sociedade,
especialmente do ponto de vista hierárquico.
Na mentalidade de uma sociedade
escravocrata o trabalho era algo a ser repudiado, coisa de inferiores, de
outros enfim
E esta aversão, esta alteridade em relação
ao trabalho, não apenas se resume às classes de senhores e de escravos, mas a
toda a sociedade “branca”,
ou melhor, “livre”.
Mesmo os negros libertos tinham seus
escravos e seguiam a orientação tradicional (Virgem).
A oposição entre senhores e escravos
estendia-se a toda a sociedade,
independente de parâmetros étnicos, e
envolvia também variáveis econômicas e nobiliárquicas.
A nação brasileira veio ao mundo fundada
nestes princípios, que ainda hoje reverberam na vida do país.
De modo que outro ponto relacionado ao
Sol em Virgem brasileiro é o fato de sua sociedade ter tido desde o seu início
uma forte organização hierárquica distribuída em três castas fundamentais: o
clero, os senhores e os escravos.
Assim, “com
cada coisa no seu devido lugar”, o Brasil dava os
seus primeiros passos.
Mantínhamos o sistema monárquico com a
permanência da dinastia de Bragança, o tráfico de escravos persistia e se
ampliava e éramos extremamente dependentes da Europa e da África.
O Sol em Virgem caracteriza ainda a
forte produção agrícola voltada para o mercado externo através das monoculturas
do açúcar, do tabaco e do café; os dois primeiros presentes inclusive na
bandeira criada após a independência.
Considerado um dos “celeiros do mundo” desde o
início dos tempos de colônia, as privilegiadas condições naturais e climáticas,
além de sua biodiversidade, caracterizam uma grande fonte de integração com as
demais nações, através do comércio (casa
VII e trígono para Saturno na casa III)
Ascendente em Aquário
Num sentido amplo, o Ascendente Aquário
deve ser pensado como a natureza excêntrica
e moderna inerente ao Brasil.
Como vimos, parte da excentricidade teve origem 14 anos antes da independência, em 1808.
Com a transposição da capital do reino
português para o Rio de Janeiro e a coroação de um monarca europeu em plena
colônia*,
as condições que antecederam a criação
do país foram totalmente diversas das demais colônias do continente americano.
É consenso que o processo de
independência teve início com a instalação do governo português no Brasil, o
que tem íntimas correlações com as complexas ambigüidades que envolveram a vida
nacional logo em seguida ao processo de emancipação.
*Em realidade, nesta época (1818) o Brasil já tinha sido elevado à
categoria de Reino Unido, junto com Portugal e o Algarve.
O Brasil terminou optando pelo regime
monárquico diferenciando-se radicalmente das demais nações americanas, cujo
destino parecia mais afeito ao sistema republicano, de acordo com a “lógica histórica”
Afora tentativas efêmeras no México e em
uma ou outra nação, a monarquia brasileira, com quase 70 anos de duração, foi
um caso único.
A manutenção da ordem escravista também
está relacionada a este caráter “excêntrico”, ainda que Aquário seja idealizado como um signo vinculado à idéia de
igualdade social.
Outro dos fatores que caracterizam a
excentricidade do Brasil enquanto nação americana é a língua portuguesa.
Em se tratando da América do Sul, esta diferença é ainda mais marcante,
o que não pode ser desprezado do ponto de vista da alteridade, criando uma
dinâmica específica de intercâmbio, ou mesmo contribuindo para que a
compreensão mútua fosse por vezes rarefeita ou coberta de curiosidade e
estranheza.
Finalmente, o país conseguiu manter a
sua integridade territorial, o que não ocorreu com as demais capitanias-gerais
e vice-reinados da América Espanhola.
Muitos desses países, mesmo depois de
independentes, vieram a se desmembrar ou perderam territórios.
Como a independência brasileira é tardia
se comparada com a maioria de seus vizinhos, o fantasma do desmembramento foi
decisivo para tornar exponencial a ânsia de manter a integridade territorial a
qualquer custo.
Ainda em relação ao Ascendente em
Aquário, temos o caráter moderno da
sociedade brasileira e este é mais um dos fatores que evidenciam uma de suas
principais contradições.
O fato de o Brasil ter sido um imenso
canteiro de miscigenação e de intercâmbio cultural entre índios, europeus,
africanos e outros povos, somado às demais peculiaridades do processo histórico
brasileiro, teve como resultado um verdadeiro laboratório onde o hibridismo deu
origem a um corpo cultural altamente singular e ajudou a criar o mito/falácia
da “democracia racial”.
O sincretismo religioso é um dos
aspectos mais evidentes da poderosa miscigenação que gerou o Brasil,
característica que discutiremos mais à frente.
Já a expansiva sociabilidade dos
brasileiros é outra faceta relacionada ao Ascendente em Aquário.
O Brasil é o país onde, por exemplo, os
internautas gastam mais tempo conectados em virtude da disponibilidade de
ferramentas de interação online e das redes de socialização virtual, que
exercem imensa atração sobre as possibilidades de interação e de novas amizades
para a população.
Finalmente, e apesar do caráter
hierárquico e conservador de sua sociedade, uma das máximas da vida brasileira
é que “não existe pecado do lado de baixo do
Equador” e o país é de fato visto (Ascendente) como um povo “informal” e “transgressor” em diversos aspectos, como no caso do mito da sexualidade brasileira,
por exemplo, ele mesmo altamente contraditório, pois o Brasil é um país
altamente machista.
Em suma, o Ascendente em Aquário aponta
para uma característica essencial da sociedade brasileira e a forma como ela é
vista pelos demais povos: sua modernidade
excêntrica, misturando originalidade, contradição,
estranhamento e transgressão.
Lua-Júpiter em Gêmeos
Como tradicionalmente a Lua simboliza
aspectos cruciais sobre a população de um país e Júpiter está em conjunção
exata a ela, constatamos novamente a importância do fator imigratório para
compreender as peculiaridades do povo brasileiro.
Temos, outra vez em primeiro plano, a
presença marcante de portugueses e africanos, seguidos em menor peso de
italianos,
espanhóis, árabes, japoneses e demais
nacionalidades.
Por outro lado, na época da
independência, os índios já se encontravam distantes da Corte e, de certa
forma, dos principais núcleos de povoamento da sociedade nacional.
Concentremo-nos, pois, nas principais
matrizes da população brasileira, a indígena, a ibérica e a africana.
Desconfia-se que haja pistas longínquas,
mas não se sabe realmente de uma grande civilização pré-colombiana no Brasil.
Nos séculos que se seguiram ao
achamento, o confronto entre a Coroa Portuguesa e os jesuítas estancou um
processo missionário que poderia ter tido a magnitude da experiência paraguaia.
Os índios no Brasil estavam
relativamente dispersos e em número não muito grande quando os portugueses lá
chegaram.
Na maioria das vezes o que houve foi o
extermínio puro e simples como, aliás, em toda a América.
Os índios que se integraram à sociedade
trazida pelo homem branco rapidamente se misturaram aos portugueses e os negros
e, num grau maior ou menor, foram perdendo gradualmente a identidade “original” em prol das vantagens indispensáveis em
barganharem uma identidade “brasileira”, posto o complexo sistema hierárquico a que tinham de se submeter.
Por outro lado, os grupos indígenas que
buscaram o isolamento penetraram cada vez mais os sertões e, em especial, a
região Norte.
Voltemos ao ponto em questão, a Lua junto a Júpiter em Gêmeos e na casa IV.
Temos aqui uma importante fonte de
interpretações simbólicas sobre as origens e o passado.
Naquele Brasil de 1822 a predominância da etnia nativa já era coisa do passado e, para a
sociedade nacional, uma população muito distante; verdadeiros estrangeiros nos
confins do país.
É interessante observar que após a
independência houve um processo de idealização do mito indígena pelo Romantismo
oficial,
que visava forjar uma identidade comum e
promover a diferenciação em relação aos portugueses, muito em função da
precária coesão social de uma sociedade profundamente hierárquica e cindida.
Mas, nos sertões, as aldeias que
entravam em contato com a expansão migratória da sociedade nacional ficavam na
penúria.
Temos em seguida os portugueses que,
mesmo após a independência, simplesmente não viam sentido em se afirmarem
brasileiros.
E, quando o faziam, buscavam como modelo
a Europa e demonstravam um etnocentrismo radical em relação aos negros e aos
mulatos.
Ser português era ser, essencialmente, “branco” e, numa sociedade que perpetuava a
relação entre senhor e escravo tendo como orientação
hierocrática o catolicismo romano isto era o
fator predominante na distinção.
Os negros, que chegaram já no século XVI e em número cada vez maior, fecham o
grupo das etnias básicas que compõem as origens primordiais do povo brasileiro.
Como se sabe, representam desde o início
uma poderosíssima fonte de práticas e valores culturais, seja na religião, nos
costumes, na música, na alimentação, nos artefatos, enfim, em quase todos os
aspectos da vida brasileira.
O mais curioso é que apesar de todo o
caráter hierárquico da sociedade essas três etnias se fundiram de modo
espantoso, como em poucos lugares do mundo.
E, a elas, se juntaram os grupos que
vieram depois.
O contato (Gêmeos) inter-étnico (Lua, Júpiter) foi capaz de criar, ao longo tempo, uma forte identidade brasileira* (Lua, Júpiter), ainda que, em realidade, ela seja plural
(Gêmeos).
*Observe que a Lua
é o dispositor da casa V, um setor fundamental para a “identidade”
Ademais, desde os primórdios convivemos
com regionalismos marcantes: baianos, fluminenses, pernambucanos, paulistas,
gaúchos, mineiros e uma série de outras denominações localistas que, mantidas
sobre o mesmo país, revelam as dimensões continentais do Brasil, afinal, a casa
IV também diz respeito à base territorial.
Percebe-se, então, o caráter sincrético e multidimensional
inerente à população brasileira; este é um dos
fatores cruciais para se compreender sua “identidade”.
Todavia, no plano hierárquico tinha-se
de fato uma sociedade de castas.
Esta é uma das principais contradições relativas ao nascimento do Brasil
e tem como referência imediata a quadratura entre
o Sol em Virgem na casa VII e Lua-Júpiter em Gêmeos na casa IV.
De modo que existe, neste significativo
encontro de povos, uma generosidade inata, a enorme curiosidade pelo outro, a
preguiça paradisíaca e uma inocência näif; num país erigido sobre a cobiça, o egoísmo, a exploração, a rigidez e o
preconceito.
Ambigüidades que se tornam mais claras
através da percepção do alcance simbólico da quadratura Sol X Lua-Júpiter.
Como a Lua e
Júpiter encontram-se na casa IV, notamos a importância da questão
fundiária e, novamente, a força da agricultura.
O Brasil teve importante papel no
imaginário quimérico sobre o Novo Mundo, muito em razão de suas excepcionais
condições naturais.
Por sua vez, a unidade básica de
ocupação das terras sempre foi o latifúndio, onde o verdadeiro lavrador não era
dono nem da terra e em grande parte das vezes nem de si mesmo.
A concentração das terras nas mãos de “portugueses” permaneceu
após a independência (Sol na casa VII em quadratura a
Lua-Júpiter na casa IV)
Todavia, a produção agrícola brasileira
sempre foi das maiores do mundo, primeiramente através de monoculturas como a
do açúcar,
do tabaco e do café, posteriormente com
uma enorme variedade de outros produtos da terra.
Dentro do universo dos produtores
tropicais, o Brasil sempre teve uma posição de forte destaque.
Do ponto de vista da ocupação do
território sul-americano, a migração da população brasileira teve uma expansão
formidável que, por fim, ultrapassou em larga escala as linhas limítrofes do
velho Tratado de Tordesilhas.
A diversidade de brasileiros, que
ultrapassa inclusive a miscigenação original, criou diversos tipos que se
espraiaram pelo vasto território se adaptando a condições naturais específicas
e gerando culturas locais de uma riqueza impressionante
No início do Brasil independente, a
única forma de manter o território e esses diversos tipos regionais sob o
controle do governo central, sediado no centro-sul, foi o uso da força (Sol quadratura Lua-Júpiter).
Outro detalhe determinante: os
brasileiros têm necessariamente parte importante de sua identidade forjada na diferença
lingüística em relação aos demais países da América do Sul.
Saturno, Urano e Mercúrio
Por possuir Ascendente em Aquário, o
Brasil tem como regentes do Mapa da independência Saturno e Urano.
Mercúrio é o dispositor do Sol, da Lua e
de Júpiter.
Saturno, regente do Ascendente, em
Touro e na casa III
Saturno está em Touro, na casa III, assinalando a tradicional imagem
de país vinculado ao comércio de gêneros agrícolas e minérios, dentro do qual, desde os primórdios da era moderna, teve destaque
Vê-se aqui ainda a rigidez com que suas
diversas regiões mantiveram-se unidas, e a dificuldade em integrá-las através
dos mecanismos de transporte, além das graves deficiências em educação.
Marte, dispositor da casa III, está em oposição a Saturno e, da casa IX, indica as tensões relativas ao movimento de ocupação do território.
A vocação “bandeirante”, entretanto, fica explícita pela casa e pela condição de domiciliado (Escorpião), além da conjunção entre Lua e Júpiter.
Vê-se a natureza expansionista da
sociedade nacional, a despeito das dificuldades de interligação regional.
Por outro lado os brasileiros
mantiveram, após a independência, o frenético tráfico no Atlântico Sul,
dominando por um bom tempo o comércio local, e até mesmo chegando ao sudoeste
da África. Marte,
que também é co-regente do MC,
representa a principal atividade econômica e fonte de poder naqueles tempos, o
tráfico negreiro, que envolvia o transporte de pólvora, aguardente e tabaco
para a África e o fornecimento de escravos para o Brasil.
Seguindo este encadeamento simbólico,
constata-se que a oposição Marte-Saturno também reflete o profundo medo que se
tinha do fim da escravidão, por motivos que vão desde os temores de quebra
econômica até o verdadeiro pavor de que o Brasil seguisse o caminho haitiano.
A oposição, portanto, representa o
verdadeiro engessamento social e freio no desenvolvimento que a perpetuação da
escravidão produziu.
Além de ser um dos regentes do
Ascendente Saturno governa a casa XII, espaço de análises cruciais, como
veremos mais à frente.
Por ora, fica insinuada novamente a
questão da escravidão e, de maneira geral, dos bastidores da vida brasileira.
A casa em que Saturno se encontra (III) diz respeito ainda aos vizinhos
imediatos, sendo que no momento de seu nascimento, o país imaginava que por
fato e direito suas fronteiras deveriam se situar “entre os dois grandes rios” (Prata e Amazonas).
Naturalmente que as coisas não eram tão
simples assim e, nos anos imediatamente posteriores à independência o Brasil
envolveu-se num confronto com a Argentina, em virtude da Banda Oriental.
Por outro lado, Marte na casa IX indica tanto as ambições territoriais
brasileiras como a presença de uma potência estrangeira na contenda, a
Inglaterra, intervindo em favor da criação do Uruguai, criando um empate na
disputa com a Argentina e fazendo justiça ao caráter historicamente singular do
porto de Montevidéu.
Há que se frisar, aqui, o caráter
exponencial da presença do Barão de Mauá na vida financeira do novo vizinho,
decisiva nos primeiros anos de sua formação.
Houve ainda outra guerra contra a
Argentina, mais especificamente com a província de Buenos Aires, logo no início
da década de 1850 e vencida pelo Brasil em apenas um confronto, tendo como aliados o Uruguai (principal interessado) e ainda as províncias
rebeldes de Entre Rios e Corrientes. Durante a contenda, o Brasil reconheceu a
independência do vizinho Paraguai.
Contudo, o grande conflito regional
viria a ser justamente a chamada Guerra do Paraguai, em que formou a Tríplice
Aliança (com Argentina e Uruguai) contra o país sem saída direta para o oceano.
De modo que a oposição entre Marte em
Escorpião na casa IX e Saturno em Touro na casa III pode ser entendida como a tensão inerente ao movimento expansionista brasileiro e a resistência vizinha
a essa expansão.
Urano, co-regente do Ascendente em Aquário, em Capricórnio e na casa XI
Urano, o outro regente do Mapa, é um
caso a parte.
Pontuando o início do primeiro ciclo Urano-Netuno em Capricórnio,
o país ganha sua independência no clímax
do encontro de ambos (conjunção exata).
Por ter o Ascendente nos últimos graus
de Aquário a casa I brasileira é em grande parte focada no signo de Peixes, o
que cria uma instigante simbiose.
O eixo nodal traz o Nodo Norte na casa
XII, em Aquário. Júpiter, o outro regente de Peixes, está conjunto a Lua.
Temos, desta maneira, uma combinação de
elementos uranianos e netunianos (e,
naturalmente, aquarianos e piscianos).
De fato, Urano e Netuno formam um dos
principais canais de expressão da excentricidade e do caráter moderno da
sociedade brasileira.
Este canal está inerentemente ligado ao
processo de miscigenação formado nos trópicos, colocando em ebulição a
inventividade, a negação da ordem tradicional (Urano), a inspiração e o caos (Netuno).
O estado astrológico que esta conjunção
em Capricórnio possui na Carta aponta detalhes importantes do caminho muito
particular pelo qual o Brasil seguiu enquanto o mundo vivia a assimilação da
ordem capitalista e da industrialização, no início do
século XIX.
Revela, sobretudo, boa parte das
soluções encontradas e dos desvios tomados desde então.
Urano-Netuno em Capricórnio representa,
para o Brasil, a permanente utopia em ser o “país do
futuro”.
Os trígonos que Saturno aplica para
Urano-Netuno são de especial importância devido ao fato dos regentes do
Ascendente estarem envolvidos.
As casas são a III e a XI, dando ênfase à inserção diplomática no mundo e de seu papel na busca do
entendimento global.
O país é o primeiro orador nas
assembléias gerais da ONU e teve participação importante na
criação do órgão.
O próprio edifício da entidade é criação
de um brasileiro, Oscar Niemeyer, considerado uma das principais referências da Arquitetura Moderna.
Um papel que cabe ao Brasil é o de tomar
parte na liderança junto aos países subdesenvolvidos e, de fato, trata-se de um
país amadurecido do ponto de vista de suas relações internacionais.
Em se tratando de três planetas lentos e
de destaque crucial na Carta em questão, convém observar que a configuração
está ligada a processos de longo prazo, na temporalidade específica que
concerne às nações de modo geral.
Como o regente do Ascendente é em grande
parte responsável pela imagem que se tem de um ente qualquer, temos no
Carnaval,
considerado um dos maiores “espetáculos” e “festas” que existem,
um elemento de caracterização do que
venha a ser a natureza brasileira pelos estrangeiros.
A originalidade da música brasileira é
outro fator e correntemente mencionado, assim como os mitos da liberdade sexual
e da tolerância racial.
A conjunção com Netuno e o trígono com
Saturno, amplificam certas perspectivas vistas de fora.
A imagem do Carnaval é relativamente
recente e chega ao resto do mundo na década de 1940 com “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso
Nas últimas décadas a alegria, o luxo,
as mulheres, o samba, as inovações técnicas dos carros alegóricos e dos efeitos
especiais e,
principalmente a organização do desfile
das Escolas de Samba no “sambódromo” do Rio de Janeiro, faz com que os cariocas se gabem de terem criado o “maior espetáculo da Terra”
O país tem intimidade com os grandes
eventos e concebeu o histórico Rock in Rio na década de
1980.
Mas o carnaval brasileiro não é apenas o
desfile das escolas, e quem visita qualquer cidade local percebe uma
diversidade impressionante, onde os regionalismos enriquecem um mosaico de
manifestações de alegria e música.
A Bahia, por sua vez, mantém uma ponte
cultural permanente com a África e a Europa, num triângulo que, de certa forma,
nunca deixou de existir (e aqui, mais uma vez, vislumbramos o
Sol na casa VII)
O país mundialmente conhecido por sua
música não respira apenas Samba, e criou no século passado um dos mais
importantes movimentos musicais, a Bossa Nova.
Independente de sua projeção externa, o
Brasil possui uma forte indústria cultural e, neste caso, a conjunção
Urano-Netuno em Capricórnio simboliza a importância da televisão brasileira, em
especial da Rede Globo.
O país é pioneiro em sufrágios digitais
e em programas de combate a Aids.
Para os brasileiros, Santos Dumont é o verdadeiro pai da aviação.
Outro tema que é a cara do Brasil é o
Futebol, um esporte que se massifica no país na passagem da década de 1910 para 1920.
O esporte de ricos rapidamente caiu nos
pés do povo, que o adotou como se o tivesse criado.
A grande festa da Copa do Mundo de 1950 contava com o maior
estádio do planeta e, comemorando o título desde a véspera, só faltou combinar
com o Uruguai para que o campeonato viesse no dia seguinte
Aliás, o país das festas é também o
país das grandes decepções:
a conjunção entre Urano e Netuno (além da conjunção entre Lua e Júpiter)
indica um país volátil emocionalmente, com muitos altos e baixos.
Mas, como dizia o dramaturgo Nélson Rodrigues, poderíamos dizer que, em relação ao
futebol, o Brasil superou o “complexo de
vira-latas”, exorcizando o fantasma de 1950 e se tornando o principal vencedor,
além de ser o único país a vencer em continentes que não o seu.
Em casa, entretanto, ainda permanece a
lacuna.
O futebol é um esporte coletivo (Aquário) jogado com os pés (Júpiter, Netuno)
Ademais, o trígono entre os regentes do
Ascendente, Saturno e Urano, também diz muito sobre o país que possui a 5ª
maior extensão territorial, e fronteiras com uma dezena de vizinhos
(casas III e XI).
Esta configuração ressalta novamente a
capacidade agrícola, a riqueza em minérios, o potencial energético e industrial
e o considerável tamanho de seu mercado interno.
No século XIX o Barão de Mauá foi, sem dúvida, um dos maiores banqueiros e empreendedores fora do eixo
Europa-EUA, chegando a associar-se ao Barão Lionel
de Rothschild.
A conjunção Urano-Netuno reflete outras
características, como a força de sua burocracia cartorial (Capricórnio, e também Virgem),
que opera com um alto índice de
funcionários públicos e de deliberações oficiais de um lado, e de numerosos membros
de uma economia informal inserida numa sociedade marginal de outro (Urano, Netuno).
Mas talvez o exemplo mais evidente que a
conjunção Urano-Netuno em Capricórnio e o trígono de ambos com Saturno indiquem
seja a pluralidade das manifestações culturais e espirituais do Brasil,
gerada através de um sincretismo sólido
advindo da mestiçagem e que deu origem a uma forte identidade nacional, ou
melhor,
“brasileira”, a despeito de seus eventuais conflitos regionais mais sérios, que
praticamente cessaram na metade do século
XIX.
Do ponto de vista mais netuniano,
englobando a espiritualidade e a religião, há que se ressaltar o profundo
sincretismo do país com o maior número de católicos que existe, gerando um
diálogo permanente (ora bom, ora ruim) com as fortes tradições africanas oriundas do Candomblé e misturado a
elementos de natureza indígena.
Ademais, o
país deu origem à Umbanda, uma religião surgida
na passagem entre os séculos XIX e XX, de caráter extremamente moderno, e que contém elementos do Candomblé africano, do Kardecismo francês, da Teosofia e do Ocultismo,
das religiões monoteístas e orientais e de mitos indígenas.
Assim como o país faz uso de um rico e
extenso manancial de conceitos para definir o grande mosaico racial que o
constitui, as diversas confissões religiosas individuais sempre apresentam uma
posição variável dentro do complexo gradiente cujos pólos são,
essencialmente, as tradições cristãs e
africanas.
Note que a conjunção entre Lua e Júpiter
também configura um terreno fecundo para o entendimento da dimensão espiritual
na vida dos brasileiros*
* Neste caso, Lua
e Júpiter estão em Gêmeos, signo dado ao “diálogo”.
Por todos os elementos expostos acima, a
conjunção Urano-Netuno reflete um poderoso canal de afirmação da identidade
brasileira.
Mercúrio, dispositor do Sol em Virgem, na casa VIII
Mercúrio é outro planeta de destaque na
Carta brasileira,
especialmente porque é o dispositor do
Sol, da Lua e de Júpiter e está dignificado no signo de Virgem.
Temos, assim, uma importante coordenada
astrológica que toca em aspectos essenciais para a compreensão do país.
Como procurei demonstrar, Sol em Virgem na casa VII assinala a
importância das relações com Portugal e a África (notadamente Angola) e, ainda, com a Inglaterra, quando o Brasil se torna independente.
Mercúrio, na casa VIII, indica toda uma herança que
o novo país incorpora através do antigo intercâmbio europeu e africano, e que
permanece após o Grito do Ipiranga.
Se de Portugal o Brasil herdou a
dinastia de Bragança (e, naturalmente, a própria
Monarquia), com a África o país manteve as
intensas relações comerciais estabelecidas pelos portugueses e que tinham como
núcleo o tráfico negreiro.
Assim, as “relações
carnais” entre Portugal,
Angola e o Brasil deram a este último a sua forte vocação
agrícola (Virgem) e escravista (casa VIII) através de uma rede comercial de grande vulto (Mercúrio domiciliado)
Os recursos naturais do Brasil sempre
foram abundantes e a lógica da exploração portuguesa foi uma consumação das
riquezas ancorada no desmatamento florestal realizado por escravos.
A terra, muito fértil, e o clima,
favorável para a produção de gêneros tropicais que a Europa absorvia com
voluptuosidade, tiveram nos engenhos portugueses com mão-de-obra das regiões da Guiné,
Angola e Moçambique a combinação que colocou o Brasil no centro da distribuição de Açúcar, Tabaco e Café.
A explosão do ciclo do ouro entre os
séculos XVII e XVIII seguiu essa mesma lógica,
intensificando a importação de africanos e a remessa de lucros para Portugal e,
de lá, chegando a seu verdadeiro destino, a Inglaterra.
Mas, terminado o ciclo do ouro, o
tráfico de escravos passou a exercer uma centralidade cada vez mais marcante na
vida econômica do Brasil, já que eram os navios negreiros quem tinham o
monopólio da alocação da força de trabalho nas transações com tribos e reinos
africanos, onde trocavam pólvora, fumo e cachaça por “peças d’África”
Para conseguir os escravos junto aos
traficantes, os latifundiários empenhavam a produção seguinte, dando aos
comerciantes de escravos o controle do crédito na sociedade brasileira.
Portanto, o traficante ficava no topo da
vida financeira do país
Ademais, desde a vinda da Corte Portuguesa em 1808, em troca
do providencial auxílio para os falidos cofres reais, sua ascendência social
passou a ser cada vez maior.
Quando observamos a oposição entre Mercúrio na casa VIII e Plutão na casa II,
percebemos a dimensão do que analisamos nos parágrafos anteriores.
Como acusou Darcy Ribeiro, o Brasil é ainda um verdadeiro “moinho de gastar gente” e essa foi uma das bases de sua fundação.
O mesmo pode-se dizer de suas riquezas
–naturais ou não- e não à toa o país é o campeão do desperdício.
Depois de 13 anos como sede do Império
Português (1808-21), o Brasil viu o rei D. João VI raspar os cofres e voltar para Lisboa.
O retorno da Corte Portuguesa tendo
Portugal novamente no centro da vida política do Império começou a fazer com
que as pessoas se orgulhassem de chamarem-se de “brasileiras”.
Percebendo o que estava por vir D. João disse ao filho de pouco mais de 20
anos, que ficava no Brasil como príncipe
regente:
“Pedro, se o Brasil se separar, antes
seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”.
Sem mexer na ordem hierárquica e
econômica, a independência do Brasil é proclamada no ano seguinte praticamente
sem derramamento de sangue.
A cláusula secreta no tratado de 1825,
em que Portugal e Inglaterra reconheciam a
independência do Brasil, estabelecia o pagamento de 2,5 milhões de libras
esterlinas pelos brasileiros (dinheiro que
Portugal tomou da Inglaterra para custear focos de resistência no Nordeste, em
especial na Bahia), o que fez a nação adquirir uma grande
dívida, que desde então atrela o país aos bancos internacionais (dispositor do Sol está na casa VIII, em oposição a Plutão na casa II).
Por outro lado, constatei que quando o
trânsito de Plutão aplica aspectos para esta oposição temos importantes eventos
ligados à ocupação da Amazônia.
A oposição Mercúrio-Plutão indica a
riqueza econômica do Brasil e o modo voraz como a exploração dessas riquezas
vem sendo efetuada desde os primórdios da nação.
Vênus, em Leão e na casa VI, em
conjunção com o Nodo Sul
Vênus é um planeta importante na
Astrologia Mundial porque, entre uma série de atributos, caracteriza boa parte
do modo como o convívio social ocorre dentro de um país.
O signo, a casa e os aspectos que
realiza indicam os valores, os padrões e o modo como as interações tendem a
ocorrer dentro de uma comunidade específica.
Em primeiro lugar, há que se considerar
a implementação (ou melhor, a continuidade) do sistema monárquico, donde o processo de “interiorização
da metrópole” teve lugar.
Vênus está em uma conjunção
relativamente estreita com o Nodo Sul, e aqui também podemos buscar pela
“herança” dos tempos de colonização.
Como alavanca para esta interiorização tenho buscado enfatizar neste ensaio o
período imediatamente anterior à independência,
quando o Rio de Janeiro foi sede do
Império Português.
Assim, o Brasil, no momento de sua
-ambígua, é verdade- separação política de Portugal, mantém os princípios e as práticas da hereditariedade como hierarquias de
status, raça, cultura e valores que predominavam no regime colonial.
Em seguida à independência o Brasil
implantou um sistema nobiliárquico (Leão) de barões, duques, condes e demais distinções de natureza hierárquica que
continuou a perpetuar um sistema de castas (casa
VI).
Basicamente voltada para a
agro-exportação, essa nobreza latifundiária que não abria
mão de manter a lógica colonial de produção (Vênus-Nodo
Sul em Leão na casa VI) recebia títulos com nomes inspirados no
Romantismo idealista que cultuava referências indígenas.
Marqueses de Quixeramobim, viscondes de
Maranguape e barões de Itaquatiá ostentavam cada qual a sua heráldica, com uma
titulação maquiada de patriotismo em que as elites tentavam, a seu modo,
consolidar uma identidade nacional (Vênus, regente do FC, numa Quadratura T com o Ascendente e o MC, e em
oposição ao Nodo Norte).
Todos se orientavam por estes padrões
hierárquicos, que mantinham a ordem estabelecida numa sociedade francamente
patriarcal e patrimonialista, tão bem descrita por Gilberto Freyre em “Casa
Grande & Senzala”.
No livro, o antropólogo analisa as
contradições e a dinâmica de um país fundado na dicotomia das relações entre
Senhor e Escravo, esta profundamente permeada por um paternalismo autoritário.
Como conseqüência e fruto desta
perpetuação, o Brasil apresenta hoje uma das maiores taxas de desigualdade
social no mundo.
A justiça brasileira serve aos
privilegiados que permanecem distanciados da massa dos excluídos.
Uma burocracia cartorial de origem
portuguesa ainda hoje persiste no país e, voltada para o benefício de poucos,
contribui para engessar a dinâmica da sociedade brasileira em inúmeros
aspectos.
“(…) no drama do ‘você sabe com quem está falando?’ somos
punidos pela tentativa de fazer cumprir a lei ou pela nossa idéia de que
vivemos num universo realmente igualitário.
Pois a identidade que surge do
conflito é que vai permitir hierarquizar.
(…) A moral da história aqui é a
seguinte: confie sempre em pessoas e em relações (como
nos contos de fadas), nunca em regras gerais ou em leis
universais.
Sendo assim, tememos (e com justa razão) esbarrar a todo
momento com o filho do rei, senão com o próprio rei”*
*DAMATTA, Roberto. Carnavais,
Malandros e Heróis, Zahar, 1981,
pp. 167.
De modo que no Brasil as relações
sociais se pautam especialmente através da inclusão ou da exclusão de cada um
em um sistema que põe em primeiro plano a dimensão “pessoal” e uma
poderosa rede de compadrios e favorecimentos mútuos em detrimento do “abstrato” e do “legal”, cristalizando, pois, uma hierarquia social que visa manter privilégios e
o caráter distintivo das elites frente às noções universalistas de democracia,
justiça e igualdade.
No Brasil, valoriza-se a pessoa, e não
o indivíduo.
Vênus indica aspectos importantes da
vida econômica (até porque está na casa VI) e podemos enxergar aqui a manutenção dos latifúndios após a
independência (Vênus rege o FC) e a importância da terra e do tráfico de almas para a ascensão social e a
vida econômica em geral.
Todavia, temos aqui novamente uma
coordenada que assinala a riqueza natural e cultural do Brasil, cuja magnitude
é inegável.
Reconhecidamente um dos países mais
musicais que existem,
vislumbramos aqui parte da explicação
para a qualidade de seus compositores e instrumentistas, o luxo das escolas de
samba e a riqueza dos elementos regionais.
As festas (Leão)
que norteiam o calendário oficial (casa VI) são abundantes, e geralmente evocam, até
hoje, elementos da “realeza”
que insistem em permanecer no imaginário
local.
Os africanos, que vinham de terras onde
já estavam habituados a conviver com reis e rainhas, rapidamente tomaram parte
na lógica da nobreza, misturando tradições africanas com valores da realeza e
ritos cristãos nos festejos, e ratificando instintivamente o sistema
hierárquico na composição do caldeirão cultural brasileiro.
Vê-se ainda, nesta coordenada
específica, a magnitude territorial frente aos vizinhos (Vênus-Leão-Casa VI) e parte do caráter
individualizante em relação a eles, principalmente por uma de suas maiores
heranças portuguesas, a língua.
Marte em Escorpião, na casa IX e Plutão em Áries, na casa II
Marte e Plutão regem o MC da Carta
brasileira e reverberam uma série de evidências sobre
as características do governo, a governabilidade em si, aspectos da percepção
externa e o modo como o Brasil caminha para o futuro.
Marte também é o dispositor da casa III
e, domiciliado, forma uma oposição com Saturno (co-regente
do Ascendente), conforme vimos anteriormente.
Esta oposição denota a ansiedade em não
apenas manter, mas em expandir a base territorial que, frente aos vizinhos
hispânicos, foi vista como uma ameaça (Marte
na casa IX).
Marte também remete ao domínio do
comércio no Atlântico Sul e a oposição com Saturno, por sua vez, a pressão
inglesa pela supressão do tráfico, nas três décadas que antecederam o seu fim.
Outro ponto que foi mencionado
anteriormente e diz respeito a esta oposição foi a dificuldade natural de
integração em um território tão vasto.
Até hoje o país, que incrivelmente teve
a sua malha ferroviária diminuída de forma considerável nas últimas décadas por
privilegiar o transporte rodoviário, tem péssimas estradas.
O Brasil é o país com o maior índice de
mortes no trânsito que existe.
Num eixo evidentemente caro à questão
educacional, desde a alfabetização até o ensino superior e suas
especializações,
percebemos a oposição entre Marte e
Saturno representando o nó da metrópole portuguesa, que intencionalmente vedava
o desenvolvimento de universidades e relegava o ensino fundamental às últimas
das prioridades.
A despeito de uma ou outra faculdade
necessariamente criada após o estabelecimento do Brasil como sede do Império
Português em 1808, os brasileiros, mesmo após a independência, esmeravam-se em
conseguir seus diplomas em Coimbra e nas demais cidades européias como
Montpellier e Edimburgo, para ascenderem dentro da estreita rede de poder do
Estado.
Apesar da conhecida dedicação do segundo
imperador do Brasil pelo seu Colégio Pedro II, o fato é que os ensinos
fundamental e médio (salvo aquela exceção) não receberam prioridade alguma, num país que desde suas origens sempre
teve um elevadíssimo índice de não-letrados e ainda hoje tem um enorme número
de analfabetos funcionais.
Para se ter uma idéia, a primeira
instituição universitária só vai surgir na segunda década do século XX, com a
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
De qualquer modo é nítida, até hoje, a
canalização da maior parte dos recursos federais para o ensino superior,
gratuito, que termina por beneficiar indivíduos oriundos das camadas média e
alta da população, que têm acesso ao ensino básico de qualidade, público ou
privado (dispositor da casa III na casa IX).
Assim, o sistema educacional no Brasil
termina por colaborar para a manutenção da desigualdade social e afunilar as
chances de ascensão para a grande maioria cidadãos brasileiros.
Para se ter uma idéia, o país está hoje
em 76º lugar no ranking de ensino fundamental da Unesco, mas é o 15º na publicação de artigos científicos.
Marte está em sextilha exata com o
também regente Urano e em outra sextilha muito estreita com Netuno, reiterando
a consolidação da extensão territorial, o desejo de ter cada vez mais destaque
no cenário internacional, a força de sua diplomacia e a engenhosidade criativa
dos brasileiros.
Vimos que a conjunção Urano-Netuno tem
relação com o Carnaval e o Futebol e a posição de Marte acentua o alcance, a
originalidade e a plasticidade destas manifestações da cultura brasileira, além
de sua expansiva sociabilidade.
A hegemonia da seleção brasileira de
futebol nos campeonatos mundiais é uma das principais fontes de orgulho e “sensação de poderio” do povo brasileiro,
num país carente de “vitórias”, cujos fracassos sociais e a secular sensação de “desgovernabilidade” podem ser simbolizadas pela frustrante percepção dos próprios limites
imposta pela oposição com Saturno.
No entanto, as sextilhas de Marte com a
casa XI indicam a aptidão constatada nos esportes coletivos, em especial o
futebol e o vôlei.
Estes esportes são sempre lembrados como
“o Brasil que dá certo”
No caso do futebol, a superioridade de
títulos em relação à Argentina e a animosidade que Maradona nutre por Pelé
enche os brasileiros de orgulho.
Marte, na casa IX, tem implicações
diretas com os poderes Legislativo e Judiciário no Brasil.
A atual Constituição do país, de 1988, é simplesmente uma das mais modernas do
mundo, com leis e dispositivos sintonizados com o que há de mais avançado em
matéria de legislação (sextilhas com Urano e Netuno).
Entretanto, grande parte das leis não
vinga posta e extrema morosidade e os entraves na Justiça do país (oposição com Saturno)
Em se falando estritamente da
governabilidade do país, a oposição entre Saturno e o regente do MC caracteriza
os altos e baixos e os freqüentes entraves no caminho do país que busca
realizar o seu futuro.
O outro regente do MC é Plutão em Áries,
na casa II.
As marcantes quadraturas de orbes
estreitas aplicadas a Urano-Netuno em Capricórnio representam o grande estorvo
que mina e por vezes destrói o dinamismo e a vocação para a construção do
próprio futuro simbolizada pelos trígonos que Saturno aplica para Urano e
Netuno.
Como analisamos mais acima, Plutão está particularmente envolvido com a permanência do tráfico e da
escravidão após a independência e a devastadora engrenagem do “moinho do gastar gente”.
Plutão, na casa II, representa de fato a
plutocracia corrupta que trabalha contra a promessa de uma sociedade
universalista e plural (quadratura com Urano-Netuno na casa XI)*.
O Brasil vem ao mundo com um rombo nos
cofres públicos que,
desde então, só fez crescer.
Por outro lado, as ambições desmedidas
dessa plutocracia atacam em cheio a própria vocação de sociedade sincrética.
*Nem sempre trabalha contra, aliás.
O desfile das Escolas de Samba, no
Carnaval, é financiado pelos banqueiros do “jogo-do-bicho” e da contravenção, um fato notório
O que só amplifica a idéia de
contradição entre as dimensões legal e ilegal.
Outro ponto importante relacionado às
quadraturas entre Plutão e Urano-Netuno é o fato do Brasil possuir a sexta
maior carga tributária do mundo; no país
trabalha-se cinco meses do ano apenas para pagar impostos.
As quadraturas entre Plutão, Urano e
Netuno expõem a nu uma nação extremamente violenta, onde as armas de fogo matam
mais do que na guerra do Iraque a cada ano e estão presentes no dia-a-dia das
grandes cidades ou no campo.
Temos então um país de incontáveis
riquezas (Plutão na casa II)
cujos fundamentos sociais excludentes (quadratura com a casa XI) ressoam de
modo brutal no convívio social e no cotidiano,
ameaçando a própria governabilidade (Plutão, regente do MC),
como nos casos do Rio de Janeiro e de
São Paulo, ou no campo, vide os pistoleiros da Amazônia.
A quadratura indica também a violenta
repressão e aniquilamento dos movimentos insurrecionais ocorridos especialmente
no Nordeste e no Rio Grande do Sul entre os anos que antecederam a
independência e a década de 1840, para garantir o comando e a integridade territorial frente aos
movimentos de emancipação regional, através do uso da força e de um centralismo
político sediado na antiga capital (Rio de
Janeiro) e respaldado pelo Centro-Sul, que
sufocava as aspirações de maior autonomia provincial.
O trígono entre Plutão (co-regente do MC) e o MC atesta a capacidade dos governos
brasileiros em manter o território unido,
assim como em superar as crises que eles
mesmos provocam (quadraturas com Urano-Netuno)
Plutão e Marte sugerem ainda a imagem do
próprio proclamador da independência, Pedro, cujo turbulento reinado oscilou de
forma esquizofrênica entre medidas obsessivas de austeridade financeira e
gastança despudorada, e entre a defesa do regime constitucional e o apego
monárquico ao absolutismo.
O choque entre D. Pedro I e a Assembléia
Constituinte, em virtude de seu desejo em instituir o Poder Moderador idealizado por Benjamin Constant e a tendência dos constituintes em
aprovarem uma Carta na qual os poderes Legislativo e Judiciário estariam acima
do imperador, leva Pedro a destituir a Assembléia.
A primeira constituição do Brasil é imposta pelo Imperador em
1824, que queria poder dissolver a Câmara
quando quisesse.
Em contrapartida, vários estados do
Nordeste se rebelaram contra a Constituição.
O simbolismo deste embate pode ser
representado pela quadratura entre Plutão (co-regente
do MC) e Urano-Netuno na casa XI (Assembléia Constituinte).
Nos dias atuais, o excesso de medidas provisórias do Poder
Executivo está associado a este aspecto.
Pedro embarcou na ilusão de conquistar
definitivamente a Província Cisplatina, declarando guerra à Argentina na
derrota que resultou no nascimento do Uruguai.
Boêmio, bom músico e com um voraz
apetite sexual desde a adolescência, D. Pedro I
teve 18 filhos conhecidos.
Após a independência, aumentou
drasticamente os limites de sua fazenda, com o caso indo parar na justiça.
Casou-se por encomenda com Leopoldina da
Áustria, tornada imperatriz do Brasil.
Diz-se que ao vê-lo pela primeira vez,
Leopoldina enamorou-se de imediato.
Paralelamente ao casamento, Pedro teve
uma relação apaixonada com Domitila de Castro, a quem nomeou dama-de-companhia
da imperatriz e titulou Marquesa de Santos.
Aos poucos a imperatriz Leopoldina foi
caindo em depressão, tendo que conviver com a amante do marido no palácio.
Num episódio sinistro e criminoso, D. Pedro I teria dado pontapés na esposa quando
esta estava grávida de três meses, com a imperatriz vindo a morrer menos de um
mês depois.
Sua morte chocou e revoltou o país
contra o imperador, que afirmava ter visto em seguida o fantasma de Leopoldina
no Palácio Imperial, passando a se sentir como que amaldiçoado.
O reinado de D. Pedro I (1822-31) é caracterizado pelo total descontrole das finanças públicas e o
endividamento, além de uma governança caótica por subjugar o pragmatismo
político com seu ego, buscando imitar toscamente o ídolo Napoleão, o mesmo que
forçara seu pai a transferir a Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808.
Pedro criou uma situação tão
insustentável (Marte, co-regente do MC em oposição a
Saturno) que, mesmo com o apoio maciço do povo e
das elites à monarquia, teve de renunciar ao trono de Imperador e Defensor
Perpétuo do Brasil em favor do filho e partiu para defender a ascensão de sua
filha ao trono do Portugal, tornando explícito o fato de que mesmo com a
independência a dinastia de Bragança não abria mão de controlar os dois países (Sol na casa VII)
Três anos depois de abdicar do trono
brasileiro D. Pedro morre de tuberculose, em Portugal, com a idade de 36 anos.
Como vimos, a conjunção Urano-Netuno
está diretamente ligada à imagem do país (Urano, regente do Ascendente) e a
quadratura com Plutão é o canal que caracteriza boa parte de uma visão externa
muito negativa que se tem do Brasil, pelos padrões que expus nos parágrafos
acima.
A quadratura assinala ainda as
constantes ameaças à normalidade democrática, ao desenvolvimento perene das
instituições brasileiras,
às esperanças de igualdade social, à
riqueza de seu sincretismo e à originalidade de suas soluções para o mundo,
fragilizando a confiança externa e contribuindo consideravelmente para a “má-fama”
Assim, se o envolvimento de Saturno com
Urano-Netuno sugere riqueza, regionalidades que se costuram e catalisam a
identidade nacional, a promessa da democracia racial e uma inserção positiva no
cenário internacional; a quadratura com Plutão acusa a violência,
o desperdício, a corrupção política que
assola os 3 poderes e o enraizamento do poder oligárquico que despreza o
objetivo maior do bem estar e da prosperidade coletiva.
No encontro dos ciclos Urano-Netuno,
Urano-Plutão e Plutão-Netuno, a quadratura entre Urano-Netuno em Capricórnio e
Plutão em Áries sintetiza as contradições entre o
caráter moderno da sociedade brasileira e o arcaísmo de sua própria ambição
destrutiva.
Nodo Sul em Leão e na casa VI, Nodo
Norte em Aquário e na casa XII
O eixo formado pelos Nodos Norte e Sul é
um importante foco de interpretação do “papel” que cabe a um país frente aos recursos e desafios que o constituem.
O Brasil possui o Nodo Sul em Leão, na
casa VI, e em conjunção com Vênus.
Como vimos acima, esta é uma
configuração que sintetiza os padrões herdados na interiorização da metrópole
portuguesa e o arcaísmo que ela consolidou.
Todavia, a conjunção Nodo Sul-Vênus
revela a manutenção da integridade territorial (Leão,
casa VI) e também as enormes riquezas que o novo
país possuía ao nascer, especialmente do ponto de vista de seus recursos
naturais e da vocação agrícola (Vênus na casa VI)
A combinação destes fatores resultou na
permanência, desde os tempos de colônia, do grande latifúndio alicerçado na
economia de plantation e mantido pela mão-de-obra escrava, gerandouma
nação onde as valiosas riquezas estão concentradas nas mãos de uns poucos
eleitos.
O Nodo Norte, em Aquário e na casa
XII, é o outro pólo do eixo nodal.
Como mencionei anteriormente, ele faz
parte de um corolário de referências aquarianas e piscianas, como o Ascendente
Aquário e a predominância de Peixes na casa I, as conjunções Urano-Netuno e
Lua-Júpiter e o fato de um dos regentes do Ascendente, Saturno,
reger a casa XII.
Referências que se contrapõem
diretamente ao destaque que os signos de Leão e Virgem, além da casa VI,
possuem no Mapa do Brasil.
Saturno (co-regente
do Mapa) está em trígono com o Sol e em
quadratura para o eixo nodal.
Como também governa a casa XII, indica
como as negociatas e demais práticas
suspeitas norteiam os caminhos do Estado, tendo
sua origem na incorporação sistemática da corrupção inerente ao reino
português.
Do ponto de vista antropológico vemos
que o fato de ser a maior nação escravista da era moderna fez nascer no Brasil
uma poderosa miscigenação, gerando o sincretismo cultural que se expressa de modo original através de esferas como a religião, a
música e o esporte
Os trígonos que Lua e Júpiter aplicam
para o Nodo reforçam a vocação “plural” de sua população.
Sob a ótica formal, percebe-se que no
Brasil a dicotomia entre as dinâmicas da legalidade e da ilegalidade assume
proporções abissais que, no entanto, se interpenetram de forma surpreendente.
O formalismo arcaico de sua burocracia
cartorial convive naturalmente com o caráter informal e excêntrico da enorme
sociedade que fica à margem da ordem constituída.
Temos aqui uma das práticas locais mais
exacerbadas, a do “jeitinho brasileiro”, conjugando o drible às formas legais (muitas
das vezes, opressoras) que orienta as ações individuais como
modo de escapar às sempre precárias condições em que se encontra o povo.
A este “jeitinho” corresponde a criatividade marginal que, por sua vez, cristaliza as
transações obscuras, o não-cumprimento das leis, a criminalidade, a corrupção e
o desvio.
Contudo, esta criatividade também
resulta em novas soluções frente às condições extremamente adversas, fazendo
com que os administradores internacionais de empresas considerem o trabalhador
brasileiro como um dos empreendedores mais originais que existem.
Conclui-se, assim, que o eixo nodal
brasileiro, entre os signos de Leão e Aquário nas casas VI e XII, acentua a
condição de nação situada na encruzilhada entre o arcaico e o moderno, entre a
hierarquia e a tolerância cultural e entre a usura e o sublime.
É neste eixo que encontramos uma
poderosa expressão de síntese que conjuga todos os aspectos apresentados
anteriormente.
Esta encruzilhada fica sublinhada pelos quincúncios entre o Sol em Virgem e o Nodo Norte em
Aquário e entre Mercúrio (dispositor do Sol) e o Ascendente, enfatizando o potencial inato e a dimensão trágica da
realidade brasileira.
Comentário
O Quincúncio é um aspecto de 150º graus e não é uma unanimidade entre os astrólogos.
Na tradição ptolomaica usam-se os aspectos
de 0º, 60º, 90º, 120º e 180º graus.
Aspectos derivados, 30º, 45º, 75º dentre outros, não se enquadram no
ordem dos sólidos platônicos que expressam o conceito aristotélico dos orbes
planetários no qual Ptolomeu se baseou para fundamentar a teoria astrológica
dos aspectos planetários.
Kepler também
demonstrou que a harmonia das esferas é baseada nos aspectos ptolomaicos, ou
seja, estes aspectos menores são funções matemáticas que servem para um
geômetra, mas para a astrologia estes aspectos não são denotadores de
influências relevantes e tampouco acrescentam algum traço significativo na
análise de uma carta natal que se sobreponham aos aspectos maiores de razões
harmônicas definidas pelo próprio mecanismo do estudo da astrologia.
O Brasil e os Grandes Ciclos Planetários
A título de conclusão deste ensaio e
para melhor orientar aquele que se interessa em desvendar astrologicamente os
caminhos do Brasil,
convém atribuir destaque aos ciclos
configurados pelas conjunções entre Urano, Netuno e Plutão.
Urano-Plutão
Em primeiro lugar temos o ciclo
Urano-Plutão, que vêm ocorrendo nos signos de Touro e Virgem e, portanto, em
sintonia com a marcante presença do Elemento Terra na Carta brasileira.
A conjunção entre ambos no signo de Touro* (casa III), no início da década de 1850, formou trígonos com Urano-Netuno em Capricórnio e oposições com Marte
na casa IX, pontuando o fim do tráfico negreiro e do tratado comercial dos
tempos de colônia que beneficiava a Inglaterra.
* Na verdade tratou-se de uma conjunção Saturno-Urano-Plutão em Touro e, desta forma,
o Brasil passava por seu primeiro Retorno de Saturno.
O enorme volume de capital obrigado a
voltar-se para outras atividades econômicas com o fim do tráfico (1850) revolucionou a economia brasileira,
provocando seu primeiro surto -tímido, é verdade- industrial.
As novas taxações aos produtos ingleses
encheram os cofres do Tesouro com os impostos sobre importação, iniciando um
longo período de prosperidade e afrouxamento das severas condições de
insolvência, oriundos do Tratado de Independência, em 1825.
É instalado o cabo submarino para a
utilização do telégrafo e criada a primeira ferrovia, fatos de suma importância
tendo em vista as dificuldades para o Brasil integrar suas diversas regiões.
Cessam as insurreições separatistas e os
historiadores afirmam que é somente neste momento que surge uma verdadeira
identidade nacional.
A segunda conjunção entre Urano e Plutão
ocorreu no signo de Virgem, em meados da década de
1960, sobre o Sol do Brasil
Ela está relacionada à fratura entre
esquerda e direita no ambiente político da Guerra Fria e deu origem ao golpe militar de 1964, que impôs um regime
de exceção por mais de 20 anos.
Em 1964, enquanto
Urano-Plutão estava sobre o Sol do país na casa VII, Saturno cruzava o
Ascendente e ingressava na casa I.
Na mesma época a população do Brasil
torna-se majoritariamente urbana*.
* Também com
uma conjunção Urano-Plutão (década de 1850), a Inglaterra passou a ter a maior parte de sua população em núcleos
urbanos.
Netuno-Plutão
O ciclo Netuno-Plutão vem tendo as suas
conjunções no signo de Gêmeos desde o Renascimento.
A última conjunção ocorreu na passagem
entre as décadas de 1880-90,
sobre Lua-Júpiter do Mapa brasileiro (casa
IV).
Ela marca a Abolição da Escravatura (1888) e a
Proclamação da República (1889),
dando aos negros o status definitivo de “brasileiros”,
promovem -ainda que de modo muito incipiente- a
igualdade formal entre os seus habitantes e rompe com muitas duas heranças do
passado colonial: a escravidão e a monarquia.
Esta época pontua ainda o auge da
imigração européia não-portuguesa, especialmente italiana.
Os ítalo-brasileiros são considerados a
maior população de oriundi fora
da Itália, assim como ocorre com os japoneses e o Japão.
Durante a passagem de Netuno e Plutão
pela casa IV, o Brasil obteve um aumento considerável de seu território por
meio de tratados internacionais
Entre 1895-03 foram definitivamente incorporados o Amapá, o Acre e parte do Amazonas e
de Santa Catarina.
Urano-Netuno
O ciclo Urano-Netuno em Capricórnio
revolucionou-se novamente na década de 1990, formando trígonos para o Sol brasileiro, logo após a primeira eleição
direta para presidente em quase 30 anos,
cujo desfecho foi o melancólico
impeachment do presidente Fernando Collor.
A conjunção também está relacionada ao
Plano Real, que trocou a moeda e deu início a um período de austeridade
financeira dentro do qual o país ainda se encontra, e que vem demonstrando ter
criado um ambiente mais sólido frente às crises externas.
Naquela época, Plutão passava pelo MC
do Brasil.
Nos dias atuais, com a proximidade da
conjunção entre Plutão e Urano-Netuno da independência, o país se vê diante da
possibilidade de viver uma profunda revolução na política, na sociedade e na
economia, sendo que neste último campo esta transformação parece dar sinais
mais concretos, pegando carona nos derradeiros anos de ciclo de crescimento da
economia mundial,
relacionados ao trígono entre Saturno e
Plutão (Leão/Virgem e Sagitário/Capricórnio
nas casas VI-VII e X-XI)
De modo que a Quadratura T entre Saturno
em Libra, Urano em Áries e Plutão em Capricórnio no início da próxima década,
envolvendo diretamente a conjunção
Urano-Netuno em Capricórnio e Plutão em Áries da Carta brasileira, certamente
trará um tempo de novas possibilidades e enormes desafios para a nação
brasileira.
Como Urano é um dos regentes do Ascendente e receberá conjunção de
Plutão, conclui-se que o país está em fase de franca mutação.
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