ENCONTRANDO NOSSO EU DO PASSADO FORA DO TEMPO
Gerrit Gielen janeiro de 2014
DOMINGO, 23 DE MARÇO DE 2014
Neste artigo, Gerrit explora
as consequências do conceito não linear de tempo no campo da terapia de
regressão.
Argumenta que entrar em contato com outras vidas não é apenas
lembrar-se de algo que passou e terminou, mas interagir com presenças vivas que
ainda estão crescendo e se desenvolvendo como nós.
Basicamente, o passado é tão aberto e indeterminado quanto o
futuro.
Isto lança uma nova luz sobre o significado da terapia de
regressão e oferece maravilhosas possibilidades de cura.
Dos campos da ciência, filosofia e misticismo, vem a alegação de
que a progressão linear do tempo, da maneira que a vivenciamos, na verdade não
existe. Isto se expressa com mais evidência na Teoria da Relatividade de
Einstein, que mostra claramente que o “agora” não é
um momento único.
O momento que é vivenciado por uma pessoa como “agora”, pode
estar no futuro para outra pessoa e no passado para mais outra, dependendo de
suas respectivas posições no espaço e de seus movimentos.
Acontecimentos que ocorrem no mesmo tempo para um observador,
podem ocorrer em tempos diferentes para outro. Mas se o “agora” não é singular, nem um evento único, então nosso conceito
tradicional de tempo cai por terra, do mesmo modo que a divisão do tempo em
presente, passado e futuro.
Isto quer dizer que o passado não é fixo.
Tudo acontece no “agora” –
inclusive nossas vidas “passadas”
O que isto significa para a terapia de
reencarnação e para a tarefa do terapeuta de regressão?
Para responder esta pergunta, deixe-me primeiro abordar o
significado das memórias.
Quando nos lembramos de algo, estamos percebendo
psicologicamente outro ponto no tempo; estamos conectando nosso próprio “agora” com
outro “agora” que, para nós, está no passado.
Entretanto, se o passado, o presente e o futuro são de fato um “agora”
estendido,
então o passado não é algo que esteja definitivamente acabado.
Lembrar não é um processo passivo, mas uma interação com uma
energia viva,
isto é, uma interação com a parte de nós que está vivendo esse
momento particular do passado na sua realidade - “agora”.
Inclusive, quando percebemos o eu do passado através da
lembrança, a interação ocorre nos dois sentidos.
Ao nos conectarmos com um tempo no passado, tocamos esse outro “agora”
com a nossa energia e o influenciamos, assim como recebemos
energia e informações em troca.
Se o tempo linear é uma ilusão, lembrar é comunicar-se.
A lembrança é, de fato, um processo de comunicação.
Lembrar é comunicar-se com o passado. Isto também se aplica às
memórias de vidas passadas.
Aqui, também, ocorre uma troca energética entre o eu do presente
e o eu do passado.
Em algum nível, todo terapeuta de regressão sabe disto.
Um bom terapeuta nunca pedirá ao seu paciente para tentar se
lembrar de alguma coisa.
Ele sempre sugerirá que ele se mova em direção e ela durante a
regressão.
Por exemplo, ele poderá dizer “Vá para a verdadeira origem do problema.”
OO terapeuta sabe que esta última abordagem funciona melhor que
a primeira.
Por quê?
Porque esta instrução corresponde melhor ao que está realmente
acontecendo.
Há algo para o qual se direcionar; um outro “agora” no qual o
evento traumático foi vivenciado primeiro.
O que acontece quando você conecta seu “agora”, seu
presente, com outro “agora” e começa a se comunicar com seu eu
passado que vive nesse outro “agora”?
O resultado desse processo de comunicação é a criação de um “agora novo e compartilhado”
No momento em que você inicia um diálogo com outra pessoa (no
caso, o seu eu “passado”), você passa a compartilhar o “agora”, o mesmo
presente.
E, deste “presente compartilhado”, surgem novas possibilidades;
isto significa,
especificamente, que você pode enviar cura e compreensão para o
seu eu passado, influenciando, assim, o passado de um modo real.
Como o passado não está terminado, em termos absolutos, você
pode modificá-lo a partir do futuro.
O que o conceito acima significa para a
terapia de reencarnação?
Na minha experiência, existem três consequências importantes:
I. CURA O PASSADO EM VEZ DE
REVIVÊ-LO
De acordo com o ponto de vista tradicional, o que podemos fazer
com experiências dolorosas do passado, na terapia de regressão, é revivê-las e
assim aparar as arestas agudas dessas experiências.
Tomemos como exemplo uma pessoa que tenha medo de altura.
Ela vai a um terapeuta e descobre que, ao que lhe parece, ela
teve uma vida anterior na qual morreu devido a uma queda.
Este acontecimento é repassado inúmeras vezes até que o medo de
altura aparentemente desapareça.
A visão tradicional é que a queda fatal numa vida anterior criou
um medo que não foi processado suficientemente de alguma forma, e o resultado é
que acabou se manifestando nesta vida como medo de altura.
Conscientizar-se da causa do medo e revivê-la parece trazer a
solução.
Entretanto, acredito que o que realmente acontece é o
seguinte: em algum lugar do espaço-tempo, alguém está caindo e sentindo
medo.
O medo é tão intenso que um grito de socorro é enviado pelo
espaço-tempo e captado por uma encarnação com estrutura psíquica relacionada ou
por uma encarnação da mesma alma, que então vivencia esse grito de socorro como
um medo de altura.
Quando essa pessoa entra em regressão, ela conecta sua própria
consciência com a da pessoa que está caindo e, deste modo, seu medo de altura é
aliviado.
No meu ponto de vista, a chave para abandonar o medo não é
revivê-lo, mas acrescentar uma consciência amorosa e clara ao medo.
Esta consciência lúcida é você, no presente.
Quando procura alcançar o passado com clareza mental e intenção
de curar, você realmente toca o seu eu do passado que está sofrendo, como se
você fosse um guia espiritual, ou um “anjo da
guarda”, se preferir.
Ao agir como um guia ou anjo e sentir compaixão pela pessoa
ansiosa que é o seu outro eu, você consegue se libertar da sua fobia e
encontrar paz.
No passado, a pessoa que está caindo pode ter uma sensação de
paz e entrega.
Neste caso, ela pode morrer num estado de entrega, de modo que o
trauma resultante dessa morte seja menos intenso.
Ao criar o passado desta forma, seu presente é afetado e você, por
sua vez, é libertado do seu medo de altura.
Esteja com seu eu do passado como seu guia ou “anjo da guarda”
Reviver o trauma de uma vida passada – técnica que é muito usada
na terapia de regressão – só faz sentido de forma limitada.
No pior dos casos, pode trazer à tona muita ansiedade e tensão
desnecessárias.
Sinto que é bem melhor para o paciente entrar na terapia de
regressão como um auxiliar, um guia e amigo dos seus eus passados que estão
sofrendo.
Deste modo, ele não se identifica com o problema, mas muito mais
com a solução: ele não é a vítima, mas o curador; não precisa reviver a
escuridão,
mas levar sua luz a ela.
Especificamente, antes de entrar numa vida passada, convido meus
pacientes a se verem como um ser de Luz, um anjo que pode viajar através do
tempo e do espaço.
Quando eles sentem a verdade disto, peço-lhes que estendam a mão
para a pessoa traumatizada que encontrarem em uma vida passada e que a ajudem,
envolvendo-a com amor, encorajamento e compreensão.
Uma vez tive um paciente que pensou em suicídio durante um
período muito difícil de sua vida, no qual sofreu de depressão.
Num determinado momento, ele ouviu uma voz que o encorajou e lhe
disse que não precisava tirar sua própria vida.
Era uma voz de confiança e segurança.
Aconselhei-o a viajar do presente para aquela época difícil do
seu passado, como um anjo.
No fim do exercício, ele percebeu que aquela voz tinha sido ele
mesmo; do futuro ele próprio se ajudou a passar por aquele período difícil.
II. ABORDA A ANSIEDADE
INEXPLICÁVEL COMO UM PEDIDO DE AJUDA
Muitas pessoas sofrem de um medo inexplicável que está sempre
presente em segundo plano.
Pode estar misturado com outros sentimentos, como tristeza, dor
ou raiva. Geralmente é um sentimento que esteve presente desde a infância, sem
nenhuma razão aparente.
Por trás desse medo há sempre um grito de socorro.
É um chamado que vem de um outro “agora”, uma
outra vida, ou às vezes, da infância da pessoa.
No meu ponto de vista, o objetivo da terapia de regressão é
descobrir o que é esse medo, e ajudar essa outra pessoa do mesmo modo que você
ajudaria um amigo querido que estivesse necessitado. Você vai a essa pessoa,
conversa com ela com palavras encorajadoras, e envolve-a com apoio, amor e
compreensão.
Em vez de considerar o medo persistente como sinal de que alguma
coisa está estranha e irrevogavelmente errada com você, você o observa como
algo que não pertence a este “agora”, mas a um outro “agora”, a um
outro “você” que está pedindo ajuda.
Você – o paciente – é aquele que pode solucionar esse medo,
enxergando-o como um pedido de socorro de outra pessoa e envolvendo esse medo
com compreensão e simpatia.
Essa “outra pessoa” é você
em outro “agora”
No momento em que você encontrar essa pessoa e observá-la com
uma consciência compassiva e neutra, seu medo se tornará compreensível para
você e será mais fácil aceitá-lo e gradativamente se desapegar dele.
A ansiedade é liberada quando você a vê como problema de outra
pessoa, porque,
desta forma, você se desassocia da energia do medo.
A partir da perspectiva objetiva do “agora”, na qual geralmente não há nenhum motivo para o medo, você
percebe que é maior do que o medo e que é capaz de acolhê-lo com uma
consciência mais expandida.
Assim, o medo se transforma no portal que o leva a uma outra
vida, que o conecta a um outro “agora”
Ao se permitir mover gradativamente em direção a esse medo na
terapia de regressão, você descobre a origem dele e pode começar a curá-lo.
Geralmente, para criar a mudança necessária e se desassociar do
medo, basta simplesmente fazer a pergunta:
“A quem pertence o medo que eu sinto?”
Tratando-o como um pedido de ajuda vindo de outro ponto do
tempo-espaço, você cria uma ponte para o medo.
Esta ponte faz duas coisas que são benéficas: cria uma distância
entre você e o medo, e leva a cura para o medo.
III. CRIA UM NOVO PASSADO
Outra possibilidade que surge desta nova forma de ver o
tempo-espaço é a de recriar o passado.
Se o passado não é fixo e acabado, e lembrar-se dele é trocar
energia com ele, então nosso ponto de vista tradicional sobre causalidade vai
por água abaixo.
Tradicionalmente, as coisas não podem ser causadas por eventos
do futuro, só por eventos do passado.
Mas o que dizer do homem aflito do
exemplo acima?
Aquele que ouviu uma voz do futuro dizendo-lhe para ter fé e por isso acabou decidindo continuar vivendo?
Neste caso, o futuro parece ter tido um impacto real sobre o
passado.
Como a ideia de criar um novo passado
repercute na terapia de regressão?
Eu geralmente convido meu paciente a reescrever o passado da
seguinte forma. Depois que ele se conscientizou do trauma ocorrido em outra
vida, sugiro que se conecte com a personalidade da vida passada antes do trauma
ocorrer.
Quase sempre existe um momento crítico no tempo, no qual a
personalidade poderia ter escolhido um caminho diferente, um caminho que teria
levado a um futuro mais benéfico, no qual o drama não teria ocorrido.
Enquanto se está na terapia de regressão, ainda é possível
escolher o caminho que não foi seguido; pode-se tomar a senda ou “linha de tempo”
alternativa e ativá-la.
Imagine uma mulher sensitiva e profética, que foi queimada na
fogueira como bruxa numa vida anterior.
Houve momentos nessa vida, na qual ela percebeu que precisava se
proteger melhor, ou fugir talvez, ou cortar os laços com determinadas pessoas.
Na terapia de regressão, ela tenta conectar-se com esse momento
crucial, esse momento no qual ela poderia ter feito escolhas que teriam evitado
sua morte na fogueira.
Se a paciente conseguir conectar-se emocionalmente com uma linha
de tempo alternativa que podia ter se desenvolvido, o trauma é parcial ou
completamente apagado do seu passado.
Para se conseguir isto, são necessários os seguintes passos:
- O paciente faz uma conexão emocional com a vida passada
traumática.
O ponto de entrada normalmente é o momento do próprio trauma.
- Em seguida, ele volta no tempo para o momento anterior ao
trauma, quando a escolha decisiva ainda é possível.
- O paciente, então, começa a se comunicar com a pessoa que ele
era nessa vida anterior.
E lhe explica porque ela deveria escolher a opção positiva.
Ele a encoraja e lhe oferece insights a partir da perspectiva
mais ampla que ele tem agora.
Isto cria um “agora” novo e
compartilhado, com possibilidades de cura para ambas as partes.
- A personalidade da vida passada sente-se inspirada a tomar um
rumo novo e diferente e os eventos traumáticos não acontecem mais.
Quando você envia cura para uma vida passada, ela, em troca,
envia cura de volta para você.
Ao criar um novo passado, o presente é alterado também.
De acordo com este ponto de vista, o passado não é fixo: o
passado, como o futuro, é um oceano de possibilidades.
A partir do presente, do nosso “agora” atual,
sempre podemos escolher o caminho a tomar, a linha de tempo a ativar, tanto no
passado quanto no futuro.
Nossas vidas acontecem num continuum espaço-temporal, que se
move e muda constantemente; estamos constantemente interagindo com nossas
outras vidas e elas conosco.
A parte que faz essa interação é a nossa consciência, nossa
percepção consciente.
Esta parte é nossa essência e independe de tempo e espaço.
Ela viaja através da teia do espaço-tempo, mas não está no
tempo.
É a nossa parte que é eterna e imutável.
Por ser independente de tempo e espaço, nossa consciência é uma
fonte de Luz e cura para tudo o que existe no tempo.
Quanto mais conscientes nos tornamos, mais entramos num plano
atemporal, a partir do qual irradiamos luz para todas as nossas vidas.
CONCLUINDO:
Entendo que a introdução desta perspectiva nova e fascinante
sobre tempo e causalidade na área da terapia de regressão levanta muitas
questões que não podem ser respondidas no contexto deste breve artigo.
No entanto, sinto que um conceito não linear de tempo, que é
muito mais flexível do que nosso conceito tradicional, oferece grandes
promessas para esta área e faz muito mais justiça à misteriosa natureza da
nossa alma.
A alma é como um sol com inúmeros raios, cada um representando
uma vida que expressa uma parte do nosso Eu.
Todos os raios irradiam suas luzes simultaneamente, ao mesmo
tempo em que estão conectados em suas raízes, interagindo uns com os outros
através do centro do sol.
Há muitos anos atrás, eu estava sentado à beira de um lago num
dia quente de verão, observando como a água refletia a luz do sol.
Pensei na vida como um ser humano na Terra.
Os padrões irregulares das manchas de luz na água, juntamente
com o calor,
tinham um efeito hipnótico em mim.
A imagem de um sol eternamente brilhando, que se dividia em
incontáveis manchas de luz dançantes, parecia oferecer uma metáfora do que era
a vida
As manchas de luz são as muitas vidas humanas que vivemos, sendo
que cada uma delas, a seu próprio modo imperfeito, reflete uma fonte superior.
Juntas elas executam a perpétua dança da vida; juntas elas criam
um todo perfeito.
Na realidade, não existe nenhum tempo; tudo existe em um único e
grande presente.
Quando uma das manchas cresce devido ao movimento da água, outra
imediatamente se encolhe.
Todos nós temos inúmeras vidas na Terra e elas são
interconectadas de maneiras dinâmicas e profundamente significativas.
Todas essas vidas estão direcionadas ao mesmo propósito.
Juntas elas refletem uma fonte superior; juntas elas são o todo.
Acredito que o mesmo vale para a humanidade em geral.
Em um nível interior profundo, estamos todos conectados com a
mesma fonte de Luz.
É nossa missão expressar essa fonte de Luz da melhor forma que pudermos,
no tempo.
Por favor, respeite todos os créditos ao compartilhar
@ Gerrit Gielen 2014 –
Tradução de Vera Corrêa veracorrea46@ig.com.br
–
Grata Vera!
LUZ!STELA
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