ENCONTRANDO NOSSO EU DO PASSADO FORA DO TEMPO
Gerrit
Gielen, janeiro de 2014
Neste
artigo, Gerrit explora as consequências do conceito não
linear de tempo no campo da terapia de regressão.
Argumenta
que entrar em contato com outras vidas não é apenas lembrar-se de algo que
passou e terminou, mas interagir com presenças vivas que ainda estão crescendo
e se desenvolvendo como nós.
Basicamente,
o passado é tão aberto e indeterminado quanto o futuro.
Isto lança
uma nova luz sobre o significado da terapia de regressão e oferece maravilhosas
possibilidades de cura.
Dos campos
da ciência, filosofia e misticismo, vem a alegação de que a progressão linear
do tempo, da maneira que a vivenciamos, na verdade não existe.
Isto se
expressa com mais evidência na
Teoria da Relatividade de Einstein, que mostra claramente que o “agora” não é um momento único
O momento
que é vivenciado por uma pessoa como “agora”,
pode estar
no futuro para outra pessoa e no passado para mais outra, dependendo de suas
respectivas posições no espaço e de seus movimentos.
Acontecimentos
que ocorrem no mesmo tempo para um observador, podem ocorrer em tempos
diferentes para outro.
Mas se o “agora” não é singular, nem um evento único,
então nosso conceito tradicional de tempo cai por terra, do mesmo modo que a
divisão do tempo em presente, passado e futuro
Isto quer
dizer que o passado não é fixo.
Tudo
acontece no “agora” –
inclusive nossas vidas “passadas”
O que isto significa para a terapia de reencarnação e para a tarefa
do terapeuta de regressão?
Para
responder esta pergunta, deixe-me primeiro abordar o significado das memórias.
Quando nos
lembramos de algo, estamos percebendo psicologicamente outro ponto no tempo;
estamos conectando nosso próprio “agora” com outro “agora” que, para nós, está no passado.
Entretanto,
se o passado, o presente e o futuro são de fato um “agora” estendido, então o passado não é algo
que esteja definitivamente acabado.
Lembrar não
é um processo passivo, mas uma interação com uma energia viva, isto é, uma
interação com a parte de nós que está vivendo esse momento particular do
passado na sua realidade- “agora”.
Inclusive,
quando percebemos o eu do passado através da lembrança, a interação ocorre nos
dois sentidos.
Ao nos
conectarmos com um tempo no passado, tocamos esse outro “agora” com a nossa energia e o influenciamos,
assim como recebemos energia e informações em troca.
Se o tempo linear é uma ilusão, lembrar é comunicar-se
A lembrança
é, de fato, um processo de comunicação.
Lembrar é
comunicar-se com o passado. Isto também se aplica às memórias de vidas
passadas.
Aqui, também,
ocorre uma troca energética entre o eu do presente e o eu do passado.
Em algum
nível, todo terapeuta de regressão sabe disto.
Um bom
terapeuta nunca pedirá ao seu paciente para tentar se lembrar de alguma coisa.
Ele sempre
sugerirá que ele se mova em direção e ela durante a regressão.
Por exemplo,
ele poderá dizer “Vá para a verdadeira origem do problema”
O terapeuta
sabe que esta última abordagem funciona melhor que a primeira.
Por quê?
Porque esta
instrução corresponde melhor ao que está realmente acontecendo.
Há algo para
o qual se direcionar; um outro “agora” no qual o evento traumático foi vivenciado primeiro.
O que
acontece quando você conecta seu “agora”, seu presente,
com outro “agora” e começa a se comunicar com seu eu
passado que vive nesse outro “agora”?
O resultado
desse processo de comunicação é a criação de um “agora novo e compartilhado”
No momento
em que você inicia um diálogo com outra pessoa (no caso, o seu eu “passado”), você passa a compartilhar o “agora”, o mesmo presente.
E, deste “presente
compartilhado”, surgem
novas possibilidades; isto significa, especificamente, que você pode enviar
cura e compreensão para o seu eu passado, influenciando,
assim, o
passado de um modo real.
Como o
passado não está terminado, em termos absolutos, você pode modificá-lo a partir
do futuro.
O que o conceito acima significa para a terapia de reencarnação?
Na minha
experiência, existem três consequências importantes:
I. CURA
O PASSADO EM VEZ DE REVIVÊ-LO
De acordo
com o ponto de vista tradicional, o que podemos fazer com experiências
dolorosas do passado, na terapia de regressão,
é revivê-las
e assim aparar as arestas agudas dessas experiências.
Tomemos como
exemplo uma pessoa que tenha medo de altura.
Ela vai a um
terapeuta e descobre que, ao que lhe parece, ela teve uma vida anterior na qual
morreu devido a uma queda.
Este acontecimento
é repassado inúmeras vezes até que o medo de altura aparentemente desapareça.
A visão
tradicional é que a queda fatal numa vida anterior criou um medo que não foi
processado suficientemente de alguma forma, e o resultado é que acabou se manifestando
nesta vida como medo de altura.
Conscientizar-se
da causa do medo e revivê-la parece trazer a solução.
Entretanto,
acredito que o que realmente acontece é o seguinte:
em algum
lugar do espaço-tempo, alguém está caindo e sentindo medo.
O medo é tão
intenso que um grito de socorro é enviado pelo espaço-tempo e captado por uma
encarnação com estrutura psíquica relacionada ou por uma encarnação da mesma
alma,
que então
vivencia esse grito de socorro como um medo de altura.
Quando essa
pessoa entra em regressão, ela conecta sua própria consciência com a da pessoa
que está caindo e, deste modo, seu medo de altura é aliviado.
No meu ponto
de vista, a chave para abandonar o medo não é revivê-lo, mas acrescentar uma
consciência amorosa e clara ao medo.
Esta consciência
lúcida é você, no presente.
Quando
procura alcançar o passado com clareza mental e intenção de curar, você
realmente toca o seu eu do passado que está sofrendo, como se você fosse um
guia espiritual, ou um “anjo da guarda”, se preferir.
Ao agir como
um guia ou anjo e sentir compaixão pela pessoa ansiosa que é o seu outro eu,
você consegue se libertar da sua fobia e encontrar paz.
No passado,
a pessoa que está caindo pode ter uma sensação de paz e entrega.
Neste caso,
ela pode morrer num estado de entrega, de modo que o trauma resultante dessa
morte seja menos intenso.
Ao criar o
passado desta forma, seu presente é afetado e você,
por sua vez,
é libertado do seu medo de altura
Esteja
com seu eu do passado como seu guia ou “anjo
da guarda”.
Reviver o
trauma de uma vida passada – técnica que é muito usada na terapia de regressão
– só faz sentido de forma limitada.
No pior dos
casos, pode trazer à tona muita ansiedade e tensão desnecessárias.
Sinto que é
bem melhor para o paciente entrar na terapia de regressão como um auxiliar, um
guia e amigo dos seus eus passados que estão sofrendo.
Deste modo,
ele não se identifica com o problema, mas muito mais com a solução: ele não é a
vítima, mas o curador; não precisa reviver a escuridão, mas levar sua luz a
ela.
Especificamente,
antes de entrar numa vida passada, convido meus pacientes a se verem como um
ser de Luz, um anjo que pode viajar através do tempo e do espaço.
Quando eles
sentem a verdade disto, peço-lhes que estendam a mão para a pessoa traumatizada
que encontrarem em uma vida passada e que a ajudem, envolvendo-a com amor,
encorajamento
e compreensão.
Uma vez tive
um paciente que pensou em suicídio durante um período muito difícil de sua
vida, no qual sofreu de depressão.
Num
determinado momento, ele ouviu uma voz que o encorajou e lhe disse que não
precisava tirar sua própria vida.
Era uma voz
de confiança e segurança.
Aconselhei-o
a viajar do presente para aquela época difícil do seu passado, como um anjo.
No fim do
exercício, ele percebeu que aquela voz tinha sido ele mesmo; do futuro ele
próprio se ajudou a passar por aquele período difícil.
II.
ABORDA A ANSIEDADE INEXPLICÁVEL COMO UM PEDIDO DE AJUDA
Muitas
pessoas sofrem de um medo inexplicável que está sempre presente em segundo
plano.
Pode estar
misturado com outros sentimentos, como tristeza, dor ou raiva.
Geralmente é
um sentimento que esteve presente desde a infância, sem nenhuma razão aparente.
Por trás
desse medo há sempre um grito de socorro.
É um chamado
que vem de um outro “agora”, uma
outra vida,
ou às vezes,
da infância da pessoa.
No meu ponto
de vista, o objetivo da terapia de regressão é descobrir o que é esse medo, e
ajudar essa outra pessoa do mesmo modo que você ajudaria um amigo querido que
estivesse necessitado.
Você vai a essa
pessoa, conversa com ela com palavras encorajadoras, e envolve-a com apoio,
amor e compreensão.
Em vez de
considerar o medo persistente como sinal de que alguma coisa está estranha e
irrevogavelmente errada com você,
você o
observa como algo que não pertence a este “agora”, mas a um outro “agora”, a um outro “você” que está pedindo ajuda
Você – o
paciente – é aquele que pode solucionar esse medo,
enxergando-o
como um pedido de socorro de outra pessoa e envolvendo esse medo com
compreensão e simpatia.
Essa “outra
pessoa” é você em outro “agora”
No momento
em que você encontrar essa pessoa e observá-la com uma consciência compassiva e
neutra, seu medo se tornará compreensível para você e será mais fácil aceitá-lo
e gradativamente se desapegar dele
A ansiedade
é liberada quando você a vê como problema de outra pessoa, porque, desta forma,
você se desassocia da energia do medo.
A partir da
perspectiva objetiva do “agora”, na
qual geralmente não há nenhum motivo para o medo, você percebe que é maior do
que o medo e que é capaz de acolhê-lo com uma consciência mais expandida.
Assim, o
medo se transforma no portal que o leva a uma outra vida, que o conecta a um
outro “agora”
Ao se
permitir mover gradativamente em direção a esse medo na terapia de regressão, você
descobre a origem dele e pode começar a curá-lo.
Geralmente,
para criar a mudança necessária e se desassociar do medo, basta simplesmente fazer a pergunta:
“A quem pertence o medo que eu sinto?”
Tratando-o
como um pedido de ajuda vindo de outro ponto do tempo-espaço, você cria uma
ponte para o medo.
Esta ponte
faz duas coisas que são benéficas: cria uma distância entre você e o medo, e leva a cura para o
medo.
III.
CRIA UM NOVO PASSADO
Outra
possibilidade que surge desta nova forma de ver o tempo-espaço é a de recriar o
passado.
Se o passado
não é fixo e acabado, e lembrar-se dele é trocar energia com ele, então nosso
ponto de vista tradicional sobre causalidade vai por água abaixo.
Tradicionalmente,
as coisas não podem ser causadas por eventos do futuro, só por eventos do
passado.
Mas o que dizer do homem aflito do exemplo acima?
Aquele que
ouviu uma voz do futuro dizendo-lhe para ter fé e por isso acabou decidindo continuar
vivendo?
Neste caso,
o futuro parece ter tido um impacto real sobre o passado
Como a ideia de criar um novo passado repercute na terapia de
regressão?
Eu
geralmente convido meu paciente a reescrever o passado da seguinte forma.
Depois que
ele se conscientizou do trauma ocorrido em outra vida, sugiro que se conecte
com a personalidade da vida passada antes do trauma ocorrer.
Quase sempre
existe um momento crítico no tempo, no qual a personalidade poderia ter
escolhido um caminho diferente, um caminho que teria levado a um futuro mais
benéfico, no qual o drama não teria ocorrido.
Enquanto se
está na terapia de regressão, ainda é possível escolher o caminho que não foi
seguido; pode-se tomar a senda ou “linha de tempo” alternativa e ativá-la.
Imagine uma
mulher sensitiva e profética, que foi queimada na fogueira como bruxa numa vida
anterior.
Houve
momentos nessa vida, na qual ela percebeu que precisava se proteger melhor, ou
fugir talvez, ou cortar os laços com determinadas pessoas.
Na terapia
de regressão, ela tenta conectar-se com esse momento crucial, esse momento no
qual ela poderia ter feito escolhas que teriam evitado sua morte na fogueira.
Se a
paciente conseguir conectar-se emocionalmente com uma linha de tempo
alternativa que podia ter se desenvolvido, o trauma é parcial ou completamente
apagado do seu passado.
Para se
conseguir isto, são necessários os seguintes passos:
- O paciente
faz uma conexão emocional com a vida passada traumática.
O ponto de
entrada normalmente é o momento do próprio trauma.
-Em seguida,
ele volta no tempo para o momento anterior ao trauma, quando a escolha decisiva
ainda é possível.
-O paciente,
então, começa a se comunicar com a pessoa que ele era nessa vida anterior.
E lhe
explica porque ela deveria escolher a opção positiva.
Ele a
encoraja e lhe oferece insights a partir da perspectiva mais ampla que ele tem
agora. Isto cria um “agora” novo e compartilhado, com possibilidades
de cura para ambas as partes.
-A
personalidade da vida passada sente-se inspirada a tomar um rumo novo e
diferente e os eventos traumáticos não acontecem mais.
Quando você
envia cura para uma vida passada, ela, em troca,
envia cura
de volta para você.
Ao criar um
novo passado, o presente é alterado também.
De acordo
com este ponto de vista, o
passado não é fixo:
o passado,
como o futuro, é um oceano de possibilidades.
A partir do
presente, do nosso “agora”
atual, sempre podemos escolher o caminho a tomar, a linha de tempo a ativar,
tanto no passado quanto no futuro.
Nossas vidas
acontecem num continuum espaço-temporal, que se move e muda constantemente;
estamos constantemente interagindo com nossas outras vidas e elas conosco.
A parte que
faz essa interação é a nossa consciência, nossa percepção consciente.
Esta parte é
nossa essência e independe de tempo e espaço.
Ela viaja
através da teia do espaço-tempo, mas não está no tempo
É a nossa
parte que é eterna e imutável.
Por ser
independente de tempo e espaço, nossa consciência é uma fonte de Luz e cura
para tudo o que existe no tempo. Quanto mais conscientes nos tornamos, mais
entramos num plano atemporal, a partir do qual irradiamos luz para todas as
nossas vidas.
CONCLUINDO:
Entendo que
a introdução desta perspectiva nova e fascinante sobre tempo e causalidade na
área da terapia de regressão levanta muitas questões que não podem ser
respondidas no contexto deste breve artigo.
No entanto,
sinto que um conceito não linear de tempo, que é muito mais flexível do que
nosso conceito tradicional, oferece grandes promessas para esta área e faz
muito mais justiça à misteriosa natureza da nossa alma.
A alma é
como um sol com inúmeros raios, cada um representando uma vida que expressa uma
parte do nosso Eu
Todos os
raios irradiam suas luzes simultaneamente, ao mesmo tempo em que estão
conectados em suas raízes, interagindo uns com os outros através do centro do
sol.
Há muitos
anos atrás, eu estava sentado à beira de um lago num dia quente de verão,
observando como a água refletia a luz do sol. Pensei na vida como um ser humano
na Terra.
Os padrões
irregulares das manchas de luz na água, juntamente com o calor, tinham um efeito
hipnótico em mim.
A imagem de
um sol eternamente brilhando, que se dividia em incontáveis manchas de luz
dançantes, parecia oferecer uma metáfora do que era a vida
As manchas
de luz são as muitas vidas humanas que vivemos,
sendo que
cada uma delas, a seu próprio modo imperfeito,
reflete uma
fonte superior. Juntas elas executam a perpétua dança da vida; juntas elas
criam um todo perfeito.
Na
realidade, não existe nenhum tempo; tudo existe em um único e grande presente.
Quando uma
das manchas cresce devido ao movimento da água,
outra
imediatamente se encolhe.
Todos nós
temos inúmeras vidas na Terra e elas são interconectadas de maneiras dinâmicas
e profundamente significativas.
Todas essas
vidas estão direcionadas ao mesmo propósito
Juntas elas
refletem uma fonte superior; juntas elas são o todo.
Acredito que
o mesmo vale para a humanidade em geral
Em um nível
interior profundo, estamos todos conectados com a mesma fonte de Luz.
É nossa
missão expressar essa fonte de Luz da melhor forma que pudermos, no tempo.
@ Gerrit Gielen 2014 –
Tradução de Vera Corrêa veracorrea46@ig.com.br
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