domingo, 18 de maio de 2014

O HOMEM REALMENTE DISCIPLINADO JAMAIS SE PRENDE A NADA

O HOMEM REALMENTE DISCIPLINADO JAMAIS SE PRENDE A NADA
Disciplina é uma bela palavra, mas, assim como, no passado, o foram todas as belas palavras, ela tem sido mal empregada.
A palavra disciplina tem a mesma raiz da palavra discípulo- o significado da raiz é “processo de aprendizagem”.
Aquele que se mostra disposto a aprender é um discípulo, e a atitude de estar disposto a aprender é disciplina.
A pessoa douta nunca está disposta a aprender, pois acha que já sabe muito; ela se mantém muito centrada no que chama de conhecimento. Seu conhecimento não é nada senão alimento para o ego.
Ela não é capaz de ser um discípulo, de se manter sob verdadeira disciplina.
Sócrates disse:
“Só sei que nada sei” — esse é o princípio da disciplina.
Quando você não sabe nada, claro, claro que lhe sobrevém o desejo intenso de inquirir, explorar, investigar.
E, assim que começa a aprender, surge inevitavelmente outro fator: qualquer coisa que você tenha aprendido tem que ser abandonada sempre; em caso contrário, ela se tornará conhecimento, e conhecimento impede a aprendizagem de outras coisas.
O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada; a cada momento, ele morre para qualquer coisa que tenha vindo a saber e volta a ser ignorante.
Essa ignorância é verdadeiramente luminosa.
Concordo com Dionísio quando ele afirma que a ignorância é luminosa.
Uma das experiências mais belas da existência é estar num estado de luminosa ignorância.
Quando está nesse estado de luminosa ignorância, você está aberto, não há barreira em seu ser, você está disposto a investigar.

A disciplina tem sido mal-interpretada.
As pessoas têm dito às outras que disciplinem sua vida, que façam isso, que não façam aquilo.
Têm sido imposto ao homem milhares de deves e não-deves.
E, quando o homem vive com inúmeros deves e não-deves, ele não consegue ser criativo
Ele se torna prisioneiro; em toda parte, ele deparará uma barreira.
A pessoa criativa tem que eliminar todos os deves e não-deves.
Ela precisa de liberdade e de espaço, muito espaço; ela precisa do céu inteiro e de todas as estrelas que existem nele.
Só assim sua espontaneidade pode começar a florescer.
Portanto, lembre-se: minha ideia de disciplina não envolve nenhum dos dez mandamentos; não estou impondo-lhes nenhum tipo de disciplina; estou simplesmente tentando fazê-lo discernir a ideia de como continuar a aprender e jamais arvorar-se em douto.
Sua disciplina tem que vir de seu próprio coração; ela tem que ser inteiramente sua- e há uma grande diferença nisso.
Quando alguém lhe impõe algum tipo de disciplina, talvez ela jamais lhe sirva; será como vestir as roupas de outrem.
Ou elas ficarão grandes demais ou muito apertadas, e você sempre se sentirá um tanto idiota nelas.
Maomé legou um corpo de disciplina aos muçulmanos; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.
Buda legou um corpo de disciplina a milhões de budistas; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.
A disciplina é um fenômeno que se dá no âmbito da individualidade; toda vez que a adota de outrem, você começa a viver de acordo com princípios pré-estabelecidos, preceitos mortos.
E a vida jamais é morte; a vida é transformação incessante.
A vida é movimento.
Heráclito está certo: você não pode entrar no mesmo rio duas vezes.
 Aliás, gostaria de dizer-lhe que você não pode entrar no mesmo rio uma única vez sequer, pois ele se move muito rapidamente!
A pessoa tem que estar atenta a cada situação e suas nuanças, observando-a, e é necessário que a pessoa reaja à situação de acordo com o momento,
e não conforme a algum tipo de respostas prontas, fornecidas por outrem.
Você percebe a estupidez da humanidade?
Há cinco mil anos, Manu transmitiu um corpo de disciplina aos hindus, e,
até hoje, eles o seguem.
Três mil anos atrás, Moisés deixou um corpo de disciplina aos judeus, e ainda hoje eles o seguem.
Há cinco mil anos, Rsabhanatha transmitiu seu corpo de disciplina aos jainistas, e eles ainda o seguem.
O mundo está sendo levado à loucura com essas doutrinas!
Elas são ultrapassadas; elas deveriam ter sido enterradas há muito, muito tempo.
Vocês estão carregando defuntos nas costas, e esses defuntos fedem
E, quando você vive cercado por defuntos, que tipo de vida você pode levar?
Eu lhes ensino o momento, e a liberdade do momento, e a responsabilidade do momento.
Algo pode ser correto neste momento e pode tornar-se errado no momento seguinte.
Não tente ser imutável, pois, nesse caso, você estará morto.
Só os mortos são imutáveis
Procure estar vivo, com todas as suas inconstâncias, e viva cada momento sem nenhuma ligação com o passado nem com o futuro.
Viva o momento, e suas reações serão plenas.
Essa plenitude é sublime, essa plenitude é criatividade
 Com isso, tudo que você fizer terá beleza própria.
Osho, em "Criatividade :
Libertando Sua Força Interior"
Imagem por StandUPP

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