CRIANÇAS SUPERDOTADAS/ALTAS
HABILIDADES
REFLEXÕES CONCEITUAIS
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Desde crianças ouvimos falar,
popularmente, de pessoas consideradas “geniais”, “habilidosas”, “talentosas”, “superdotadas” enfim, pessoas que se diferenciavam das demais
por apresentarem
alguma, ou várias características
extraordinárias, já que incomuns.
Geralmente comentava-se que a pessoa
tinha uma inteligência muito “alta”, o que a fazia sobressair,
quando comparada com as demais
pessoas.
Tais comentários, na maioria das
vezes, vinham acompanhados de frases do tipo “todo gênio é meio louco”, “todo cara muito inteligente
é meio esquisito”, criando uma associação entre um funcionamento cognitivo
diferenciado e características atípicas de personalidade da pessoa.
Isso tudo muito contribuiu para fazer
das pessoas que apresentavam habilidades extraordinárias,
pessoas consideradas misteriosas, míticas,
e,
portanto, difíceis de convivência com
os demais,
dado a seus interesses diferenciados.
Você teve
alguma vivência desse tipo?
Lembra-se de
algum colega de sala que se destacava dos demais?
Que ideia
sempre fez da criança então chamada de “superdotada”?
Pois é... muitas coisas mudaram no
âmbito do conhecimento sobre pessoas com habilidades especiais, bem como as
práticas utilizadas
em seu processo educacional.
Vamos, então, ver um pouco sobre essa
história....
Reflexões Conceituais
Até o início do século XX não havia
formas de se quantificar atributos da inteligência, o que começou a se tornar
possível quando Alfred Binet, um psicólogo francês, desenvolveu a primeira
escala
de desenvolvimento infantil.
Milhares de crianças foram observadas
sistematicamente, possibilitando a
identificação e a descrição das tarefas que podiam ser desempenhadas em cada
etapa do desenvolvimento
cronológico infantil.
Desta forma, a escala passou a
constituir um referencial descritivo do que se podia esperar de uma criança,
com desenvolvimento normal, em cada etapa de seu desenvolvimento.
Passou, também, a possibilitar que se
avaliasse,
através da observação sistemática, se
uma criança apresentava um desenvolvimento estaticamente normal, em termos
cronológicos, ou se seu desempenho era mais adiantado do que o esperado para a
idade.
Em continuidade ao seu trabalho,
Binet, associando-se a Théodore Simon, construiu o conceito de idade mental, informação
derivada da contraposição das tarefas desenvolvimentais que uma criança
era capaz de cumprir, com sua idade
cronológica.
Embora inicialmente utilizado para
identificação de crianças com menor desenvolvimento mental, aos poucos passou a
servir também para identificar as crianças que apresentavam uma idade mental
mais
alta que as demais crianças da mesma
idade.
Avançando no estudo da inteligência
infantil, Lewis M. Terman, educador e psicólogo norte-americano,
reviu o instrumento criado por Binet e
publicou, juntamente com a Universidade de Stanford, em 1916, a Escala de Inteligência Stanford-Binet. Terman desenvolveu o conceito de QI (quociente de inteligência), índice que se propunha sintetizar a
quantificação da inteligência,
através do estabelecimento de uma relação entre a idade mental da criança e sua
idade cronológica (idade
mental / idade cronológica x 100)
Como a ciência não para e se encontra
em constante processo de construção e produção de novos conhecimentos, novas
ideias e reflexões foram sendo produzidas sobre a questão da inteligência.
Cientistas começaram a defender que
as capacidades intelectuais podiam e deviam ser medidas separadamente, e que um
único “score”, tal como o QI, não ajudava a identificar a capacidade de desempenho da pessoa, em
diferentes habilidades e capacidades envolvidas com o comportamento
inteligente.
J. P. Guilford (1950, 1959, in Hardman et al., 1993),
por exemplo, “levou muitos pesquisadores a
considerar a inteligência como mais do
que uma
habilidade ampla e unitária.
Ele viu a
inteligência como um conjunto diversificado de habilidades intelectuais e
criativas” (p. 378)
A partir do trabalho de Guilford e
do de Torrance (1961, 1965, 1968), o conceito de superdotação foi ampliado, passando a incluir a
criatividade e seus vários componentes, como por exemplo, pensamento
divergente, solução de problemas e a capacidade de tomada de decisão.
Ainda mais recentemente,
acrescentou-se ao conceito de superdotação o termo talento, de forma que “indivíduos que demonstram habilidades
marcantes nas artes visuais ou nas artes de representação, ou mesmo que excedem
em outras áreas de desempenho, podem igualmente ser designados como
superdotados”
(Hardman et alii, 1993, pág. 379)
Assim, foi-se gradativamente
alterando a concepção de superdotação, no sentido de ampliar sua significação.
Segundo Parcell (1978, in Hardman, 1993), os termos “superdotado”
e “talentoso” se refere a crianças e jovens, identificados na
pré escola, no ensino fundamental ou no ensino médio, como possuidores de habilidades
potenciais ou demonstradas, que evidenciam alta capacidade de desempenho, em
áreas tais como no desempenho intelectual, criativo, acadêmico específico ou
habilidade de liderança, ou nas artes de representação, artes de um modo geral
e que, por
essa razão, necessitam de serviços ou
atividades que não são rotineiramente oferecidas pela escola (Seção 902) (p. 379).
Renzulli (1978, in Hardman, 1993) foi pioneiro ao
apresentar a noção de que a superdotação era uma combinação de conjuntos (conglomerados) interativos
de comportamentos e que uma pessoa
não pode ser identificada como
superdotada, baseando-se em somente um desses conglomerados.
Sua definição dizia que: “a superdotação
consiste
de uma interação entre três conglomerados básicos de traços humanos -
habilidades gerais acima da média, altos níveis de compromisso com as tarefas
que assume e altos níveis de criatividade
Crianças
superdotadas e talentosas seriam, então,
aquelas
que apresentam ou que são capazes de desenvolver este conjunto integrado de
traços, bem como de aplicá-los a qualquer área potencialmente importante do
desempenho humano.
Crianças que
manifestam ou que são capazes de desenvolver uma interação entre os três
conglomerados requerem uma variedade ampla de oportunidades e de serviços
educacionais,
normalmente
não oferecidos nos programas instrucionais regulares.” (p. 380)
Mais recentemente, outras novas
concepções surgiram na literatura sobre inteligência.
Sternberg (1981, in Hardman, 1993) propôs uma
teoria triárquica sobre a
inteligência humana, que defende que o desempenho intelectual compreende três
partes: a inteligência analítica, apresentada por
aqueles que mostram um bom desempenho em
testes de aptidão e de inteligência;
a inteligência sintética,
apresentada por pensadores não convencionais, que são criativos, intuitivos e
apresentam alto nível de insight; e a
inteligência prática,
apresentada por aqueles que lidam de forma extraordinariamente eficiente com os
problemas da vida cotidiana, bem como com os problemas do ambiente de trabalho.
(p. 380)
Em 1991,
Ramos-Ford e Gardner
propuseram uma nova forma de considerar
a inteligência, ou dotação,
através de uma teoria que tem sido
mencionada como a teoria da inteligência múltipla.
Os autores definiram inteligência
como uma habilidade, ou um conjunto de habilidades, que permite a um indivíduo
resolver problemas ou fenômenos que são característicos de um momento ou de um
contexto cultural específicos, ou que são deles consequentes.
Como se pode perceber, a concepção de
inteligência foi se ampliando no decorrer do tempo,
com implicações importantes para a
prática
educacional, e mais especificamente,
para a prática pedagógica do professor, em sala de aula,
especialmente no que se refere à
identificação
das necessidades educacionais
especiais do aluno e ao seu ensino.
A Secretaria de Educação Especial do MEC adota o seguinte conceito por ser abrangente como “altas habilidades/superdotados ou
talentosos os educandos que apresentarem notável desempenho ou elevada potencialidade
em qualquer dos seguintes
aspectos isolados ou combinados:
capacidade
intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo-produtivo,
capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora”.
Fonte: Projeto Escola Viva - Ministério da
Educação,
Secretaria de Educação Especial
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