A CRENÇA NA ÉTICA E NA MORAL
A HIPOCRISIA DA SOCIEDADE E DAS EMOÇÕES CONDICIONADAS
MAR 6 2015
Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a
forma dos minerais ou dos vegetais.
Não deliberamos e nem decidimos sobre aquilo que é regido pela Natureza,
isto é, pela necessidade.
Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e acontecer,
depende de nossa vontade e de nossa ação.
Não deliberamos e não decidimos sobre o necessário, pois o necessário é
o que é e o que será sempre, independentemente de nós.
Deliberamos e decidimos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode
ser ou deixar de ser, porque para ser e acontecer depende de nós, de nossa
vontade e de nossa ação.
O Racionalismo
Ètico não é a única concepção filosófica da moral
Uma outra concepção filosófica é conhecida como Emotivismo Ètico.
Para o emotivismo ético, o fundamento da vida moral não é a razão, mas a
emoção.
Nossos sentimentos são causas das normas e dos valores éticos.
Inspirando-se em Rousseau,
alguns emotivistas afirmam que a bondade natural de nossos sentimentos e de
nossas paixões, são, por isso, a forma e o conteúdo da existência moral, como
relação intersubjetiva e interpessoal.
Outros emotivistas salientam a utilidade dos sentimentos ou das emoções
para nossa sobrevivência e para nossas relações com os outros, cabendo à ética
orientar essa utilidade de modo a impedir a violência e garantir relações
justas entre os seres humanos.
Há ainda uma outra concepção ética, francamente contrária à racionalista
(e, por isso, muitas vezes chamada de irracionalista), que contesta
à razão, o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões,
identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e do passional.
Essa concepção encontra-se em Friedrich
Nietzsche e em vários filósofos contemporâneos.
Embora com variantes, essa concepção filosófica pode ser resumida nos
seguintes pontos principais, tendo como referência a obra nietzscheana.
Vejamos a genealogia da moral:
– a moral racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para
garantir o exercício da liberdade;
– a moral racionalista transformou tudo o que é natural e espontâneo nos
seres humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes de virtude e
dever, tudo o que oprime a natureza humana;
– paixões, desejos e vontade referem-se à vida e à expansão de nossa
força vital, portanto, não se referem, espontaneamente, ao bem e ao mal, pois
estes são uma invenção da moral racionalista;
- a moral
racionalista foi inventada pelos fracos para controlar e dominar os fortes,
cujos desejos, paixões e vontade afirmam a vida, mesmo na crueldade e na
agressividade.
Exemplificando
melhor, imaginemos um homem tentando proteger sua família da violência urbana,
ou uma mãe protegendo seus filhos de algum agressor?
Poderemos
chamar isso de crueldade ou julgá-los por um ato agressivo e mau?
Isso não
é uma forma também de afirmar a vida, garantindo direito á ela á todos os agredidos?
Esse ato,
também é um ato de força.
Por medo
da força vital dos fortes, os fracos condenaram paixões e desejos,
submeteram
a vontade à razão, inventaram o dever e impuseram castigos para os
transgressores;
-transgredir normas e regras estabelecidas é a verdadeira expressão da
liberdade e somente os fortes são capazes dessa ousadia.
Para disciplinar e dobrar a vontade dos fortes, a moral racionalista,
inventada pelos fracos, transformou a transgressão em falta, culpa e castigo;
– a força vital se manifesta como saúde do corpo e da alma, como força
da imaginação criadora.
Por isso, os fortes (de caráter e espírito) desconhecem
angústia, medo,
remorso, falsa humildade, inveja.
A moral dos fracos, porém, é atitude preconceituosa e covarde dos que
temem a saúde e a vida, invejam os fortes e procuram, pela mortificação do
corpo e pelo sacrifício do espírito, vingar-se da força vital;
– a moral dos fracos é produto do ressentimento, que odeia e teme a
vida, envenenando-a com a culpa e o pecado, voltando contra si mesma o ódio à
vida;
– a moral dos ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida (às paixões,
aos desejos, à vontade forte), inventa,interesseiramente(não para dar um alento
espiritual,mas para tirar proveito), uma outra vida, futura, eterna,
incorpórea, que será dada como “recompensa” aos que
sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os valores dos fracos;
– a sociedade, governada por fracos hipócritas, impõe aos fortes modelos
éticos que os enfraqueçam e os tornem prisioneiros dóceis da hipocrisia da
moral vigente;
– é preciso manter os fracos, dizendo-lhes que o
bem (o que a sociedade caracteriza
como bem para ela) é tudo o que fortalece o desejo da vida e o mal tudo o que é contrário
a esse desejo, (a eterna manipulação destes conceitos bem e mal)
No caso
específico da ética, estudando a psicanálise, ela mostrou que uma das fontes
dos sofrimentos psíquicos, causa de doenças e de perturbações mentais e
físicas, é o rigor excessivo do Superego,
ou seja, de uma moralidade rígida,
que
produz um ideal do Ego (valores e fins éticos) irrealizável, torturando psiquicamente
aqueles que não conseguem alcançá-lo, por terem sido educados na crença de que
esse ideal seria realizável.
Quando uma sociedade reprime os desejos inconscientes de tal modo que
não possam encontrar meios imaginários e simbólicos de expressão, quando os
censura e condena de tal forma que nunca possam manifestar-se, prepara o
caminho para duas alternativas igualmente distantes da ética: ou a transgressão
violenta de seus valores pelos sujeitos reprimidos, ou a resignação passiva de
uma coletividade neurótica, que confunde neurose e moralidade.
Em outras palavras, em lugar de ética, há violência; por um lado, violência
da sociedade, que exige dos sujeitos, padrões de conduta impossíveis de serem
realizados e, por outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois
somente transgredindo e desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver.
Em suma,
sem uma educação para uma sexualidade saudável, não há sociedade nem ética, mas
a excessiva repressão da sexualidade destruirá,
primeiro, a ética e, depois, a sociedade.
O que a Psicanálise propõe é uma nova visão social que harmonize, tanto quanto for possível,
os desejos inconscientes, as formas de satisfazê-los e a vida social.
Essa visão,
evidentemente, só pode ser realizada pela consciência e pela vontade livre, de
sorte que a psicanálise procura fortalecê-las como instâncias moderadoras do Id e Superego
Somos éticamente livres e
responsáveis, não porque possamos fazer tudo quanto queiramos, nem porque
queiramos tudo quanto possamos fazer, mas porque aprendemos a discriminar as
fronteiras , tendo como critério ideal a ausência da violência interna e externa.
Toda cultura e cada sociedade institui uma” moral”, isto é, valores
concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta,
válidos para todos os seus membros (?).
Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com diferenças muito
profundas de castas ou de classes podem até mesmo possuir várias morais, cada
uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social (!)
Nossos
sentimentos, nossas condutas, nossas ações e nossos comportamentos são
modelados pelas condições em que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião,
trabalho, circunstâncias políticas, etc.)
Somos
formados pelos costumes de nossa sociedade, que nos educa para respeitarmos e
reproduzirmos os valores propostos por ela como bons e, portanto, como
obrigações e deveres (?)
Dessa maneira, valores e maneiras parecem existir por si e em si mesmos,
parecem ser naturais e intemporais, fatos ou dados com os quais nos
relacionamos desde o nosso nascimento: somos recompensados quando os seguimos,
punidos quando os transgredimos.(!)
Os costumes, porque são anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido
da sociedade em que vivemos, são considerados inquestionáveis e quase sagrados (as religiões
tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados pelos deuses,na origem dos
tempos).
Ora, a palavra costume se diz, em grego, ethos – donde, ética – e, em
latim,
mores – donde, moral.
Em outras palavras, ética e moral referem-se ao conjunto de costumes
tradicionais de uma sociedade e que, como tais, “são
considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros”.
Se agora, tomarmos como referência um filósofo do século XVII, Espinosa, veremos o quadro
alterar-se profundamente.
Para Espinosa, somos seres naturalmente passionais, porque sofremos a
ação de causas exteriores a nós.
Em outras palavras, ser passional é ser passivo, deixando-se dominar
e/ou conduzir por forças exteriores ao nosso corpo e à nossa alma,nem sempre
ruins, nem sempre perfeitas.
Ora, por natureza, vivemos rodeados por outros seres, mais fortes do que
nós, que agem sobre nós.
Por isso, as paixões não são boas nem más:
SÃO NATURAIS.
Três são as paixões originais: alegria, tristeza e desejo.
As demais derivam-se destas.
Assim,
da alegria nascem o amor, a devoção, a esperança, a segurança, o contentamento,
a misericórdia, a glória; da tristeza surgem o ódio, a inveja, o orgulho, o
falso arrependimento, a falsa modéstia, o medo, o desespero, o falso pudor; do
desejo puro e sincero provém a gratidão, a positividade,o amor verdadeiro e a
paixão, na acepção mais sublime da palavra;da paixão pelos instintos mais
baixos, advém o sexo em sua forma mais inferior e todos os vícios que corrompem
e degradam o ser humano.
Uma paixão triste é aquela que diminui a capacidade de ser e agir de
nosso corpo e de nossa alma; ao contrário, uma paixão alegre aumenta a
capacidade de existir e agir de nosso corpo e de nossa alma.
No caso do desejo, podemos ter paixões tristes (como a crueldade, a
ambição, a avareza) ou alegres (como a gratidão e a ousadia).
Egoísmo, agressividade, avareza, busca ilimitada de prazeres corporais,
sexualidade sem freios, mentira, hipocrisia, má-fé, desejo de posse (tanto de
coisas como de pessoas), ambição desmedida, crueldade, medo, covardia,
preguiça, ódio, impulsos assassinos, desprezo pela vida e pelos sentimentos
alheios são algumas das muitas paixões que nos tornam incapazes de relações
decentes e dignas com os outros e conosco mesmo.
Quando
cedemos a elas, perdemos o autocontrole e deixamos de vivenciar as coisas
reais, para viver de ilusões.
A ética apresenta-se, assim, como trabalho da inteligência e/ou da
vontade para dominar e controlar essas paixões.
O
desejo é paixão.
A
vontade, decisão.
O
desejo nasce da imaginação.
A
vontade se articula à reflexão.
O
desejo não suporta o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata e o
prazer imediato.
A
vontade, ao contrário, realiza-se no tempo; o esforço e a ponderação trabalham
com a relação entre meios e fins e aceitam a demora da satisfação.
Mas é o
desejo que oferece à vontade os motivos interiores e os fins exteriores da
ação.
À
vontade cabe a educação da qualidade do desejo.
Na
concepção intelectualista, a inteligência orienta a vontade para que esta
eduque o desejo.
Na
concepção voluntarista, a vontade boa tem o poder de educar o desejo,
enquanto
a vontade baseada em falsos valores submete-se a ele e pode, em muitos casos,
pervertê-lo.
A ÉTICA E O AMOR NOS
RELACIONAMENTOS AFETIVOS
As relações humanas têm como pacto principal o
Amor.
Seja este Amor filial, fraternal, parental ou carnal.
É o amor que aproxima as pessoas.
A aceitação e a admiração são expressões deste Amor.
Quando nos sentimos aceitos e admirados por alguém, nos sentimos amados
e quando ainda por cima isso é recíproco, mais do que nunca queremos manter
esta relação.
O grande problema é que só amor (o que já não é pouco numa relação) não basta,
porque em nome deste amor que é dado, muitas vezes são exigidas coisas que não
são do direito e nem legitimadas pelo Amor.
Percebemos as invasões dos espaços do outro em nome do Amor, sentimos o
desrespeito em nome deste Amor.
Portanto, além de Amor, uma relação não sobrevive sem o Respeito.
É fundamental respeitar a individualidade do outro, bem como nos
respeitar;
respeitar nossa individualidade na relação com o outro.
Outro ingrediente imprescindível em qualquer relação é a Confiança.
Sem confiança não investimos, não nos envolvemos e não nos entregamos em
nada.
Sem confiança a relação fica estabelecida na
superficialidade, sem nunca saber, realmente, com quem estamos e quem está
conosco não sabe, de verdade, quem somos.
Mas, para que haja respeito e confiança numa relação é absolutamente
fundamental que haja Educação.
E o que é Educação?
Eu chamo de se ter Educação quando a pessoa tem um mínimo de consciência
de seus limites – direitos e deveres enquanto indivíduo, em toda e qualquer
situação de vida – ou seja, noções básicas de ética.
Hoje é justamente pela deficiência de parâmetros claros e definidos de
tais limites, que as pessoas estão muito mais autocentradas em suas próprias
necessidades.
Não estão conseguindo pensar no outro, nas necessidades do outro e,
consequentemente, não confiam que o outro genuinamente possa fazê-lo
também.
Estão todos vivendo pelo princípio do prazer, como diria Freud; porque lidar
com a realidade realmente não é fácil.
As
pessoas querem ter tudo, mas não querem dar nada: querem viver e experimentar
tudo o que a vida se lhes apresenta, mas não querem assumir nenhum compromisso
e responsabilidade sobre isso, como qualquer adulto saudável faria. Isto é
princípio do prazer.
Viver o bem bom da vida sem qualquer comprometimento de sua parte
Está faltando – coletivamente – maturidade para viver a vida
realisticamente.
Falta o
desenvolvimento de valores verdadeiros e éticos na relação com a vida e,
consequentemente, na relação com as pessoas.
ENTÃO, VAMOS NOS QUESTIONAR MAIS?
Para aqueles que ainda vivem em total inconsciência, é praticamente
impossível perceber quem verdadeiramente são, do que e do que necessitam para
serem felizes.
Para eles, a vida se resume em seguir uma direção que lhes foi
determinada,
inicialmente pela família e, mais tarde, pela sociedade.
Eles seguem a trilha sem jamais questionar o porquê dela não os estar
levando na direção da felicidade.
Nunca se
perguntam sobre as razões desta discrepância.
E, a
menos que algum acontecimento verdadeiramente devastador lhes aconteça,
continuarão a interpretar seu velho papel, até o final da vida.
Alguns, após vivenciarem uma experiência que lhes retire toda a base de
segurança que acreditavam possuir, começam lentamente a desconfiar de que
existe algo errado com suas convicções.
Descobrem que elas já não servem para fazê-los voltar à antiga situação
de conforto, quando a ilusão e a inconsciência predominavam.
Embora este seja um processo extremamente doloroso, ele é, ao mesmo
tempo, muito libertador.
Pois, a partir daí, se torna possível que comecem a busca, aquela que os
levará ao encontro de sua verdade mais profunda.
Quando
passamos a questionar quem de fato somos,no que acreditamos,como reagimos aos
acontecimentos de nossa vida de verdade e não pela cabeça dos outros, estas
perguntas se tornam a base para toda e qualquer diretriz que possamos dar à
nossa vida.
Crenças e valores arraigados caem por terra, deixando-nos com um vazio,
que aos poucos passa a ser preenchido por nossas verdadeiras
necessidades,
aquelas que emergem do ser real, e não mais daquele que foi moldado para
adaptar-se convenientemente aos valores do mundo.
A viagem
se torna cada vez mais perigosa, pois exigirá de nós coragem,
determinação
e um desejo profundo de ir ainda mais fundo nesta descoberta
Entretanto,
voltar atrás se torna impossível, pois o novo ser que acabamos de conhecer,
jamais se moldará novamente à máscara que nos ensinaram a usar para ocultá-lo.
Deixamos
aos leitores uma reflexão sobre esses conceitos,reafirmando a necessidade de
cada um de reavaliar suas crenças, suas atitudes e valores de vida em
sociedade, em família, na vida particular e em todos os relacionamentos
afetivos.
O
objetivo desta série é o despertar de cada um, de acordo com os valores
adotados pelo nível consciencial em que cada um está, que não é necessariamente
o que a sociedade espera e prega.
O
importante é a liberdade de escolha com responsabilidade pelos atos cometidos,
pelas atitudes tomadas, pelas vontades,pelos desejos e pelas paixões de cada
um.
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A moralidade se preocupa com ideais como
você deveria ser, o que você deveria ser.
Portanto, moralidade é basicamente
condenação.
Você nunca é o ideal, então, você está
condenado. Toda moralidade é criadora de culpa.
Você pode nunca tornar-se o ideal; você está
sempre ficando para trás.
A distância estará sempre lá, porque o
ideal é o impossível; e através da moralidade se torna mais impossível.
~OSHO
Nota;
A imagem refere-se á passeata em Paris pelos
líderes do G1, em apoio ás vítimas do atentado ao jornal satírico francês Charlie Hebdo.
Como dizia Jean-Paul Sartre;“
Pour connaître les hommes,il est
essentiel de les voir acte”
(Para conhecer os homens, torna-se
indispensável vê-los agir).
E “Vive
La Hypocrisie”.
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Bibliografia para consulta
Ètica e Consciência Moral na
Psicanálise
Camila Junqueira
Moral e Ètica-Dimensões Intelectuais
e Afetivas
Yves de La Taille
Ètica, Direito , Moral e Religião no
Mundo
Fábio Konder Comparato
Além do Bem e do Mal
Friedrich Nietzsche
Divulgação: A Luz é Invencível
https://portal2013br.wordpress.com/2015/03/06/a-crenca-na-etica-e-na-moral-a-hipocrisia-da-sociedade-e-das-emocoes-condicionadas/
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