Philip Ball BBC Earth 9
de Outubro de 2016
MONDAY,
OCTOBER 17, 2016
És real?
E eu?
Atualmente,
alguns físicos, cosmólogos e outros cientistas não têm problemas em aceitar a
possibilidade de que todos estejamos a viver dentro de uma simulação
computorizada gigante, como no filme famoso do fim dos anos 90, “The Matrix”.
Rebelamo-nos
instintivamente perante essa ideia, claro.
Sentimos
tudo demasiado real como para ser uma simulação.
Mas
pensem um momento no progresso extraordinário que se tem dado na parte da
informática e outras tecnologias, nas décadas recentes.
Os
computadores têm-nos oferecido jogos de um realismo impressionante,
tal
como simuladores de realidade virtual muito convincentes.
É mais
do que suficiente para nos deixar paranóicos.
Como distinguir entre a realidade e a simulação?
E realmente importa em qual das duas vivemos?
O
Universo é uma experiência
A ideia
de que fazemos parte de uma simulação tem alguns simpatizantes de alto perfil.
Em Junho de 2016 o empresário do ramo da tecnologia Elon Musk indicou que as probabilidades de
que estivéssemos a viver numa realidade objetiva era “uma em mil milhões”.
Nessa
mesma ordem de ideias, tanto Alan Guth do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, nos estados Unidos, como o guru das máquinas inteligentes, Ray Kurzwell, sugerem que “talvez todo o nosso Universo é um experimento de ciência de um
estudante de secundária de outro Universo”
Nenhum
deles acredita que sejamos seres físicos presos numa realidade falsa, como em The Matrix.
Por
outro lado, existem pelo menos duas formas em que é possível que o Universo que
nos rodeia não seja real.
O cosmólogo Alan Guth de MIT sugeriu que o Universo pode ser uma espécie de
experimento de laboratório, concebido devido a um Big Bang artificial, por
alguma inteligência superior.
Depois
de formado, criou a sua própria bolha de tempo-espaço.
Mas se
acreditamos nesta teoria, o Universo resultante seria perfeitamente real, ainda
que se tivesse originado por um processo artificial.
O
segundo cenário – que muitas personalidades como Musk apoiam – sugere que os seres humanos, somos seres completamente simulados: pouco mais que informação manipulada por um grande
computador, como os personagens de um jogo de vídeo.
Neste Universo não existe forma de escape ao
estilo de Matrix: este é o lugar onde vivemos e
é a nossa única oportunidade de viver.
Mas, porque acreditar nesta
possibilidade tão estrafalária?
A resposta é simples: já recreamos o
mundo através da realidade virtual.
Não só
realizamos simulações para os jogos de vídeo, mas também para investigações
científicas.
Quem foi que disse que dentro de pouco tempo seremos capazes de criar
seres virtuais com indícios de consciência?
Se
alguma vez alcançarmos esse nível, estaremos a desenvolver uma quantidade
enorme de simulações, mais além do nosso mundo “real”.
Então não é possível que um ser inteligente num outro ponto do Universo
já tenha chegado a esse nível?
Um mundo virtual
O filósofo Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, definiu três
possibilidades relacionadas com esta ideia:
1. As civilizações inteligentes nunca chegam a se desenvolver a um nível
tão elevado como para produzir estas simulações, porque talvez se destroem a si
próprias.
2. Uma civilização alcançou a
capacidade para fazer estas simulações,
mas por
alguma razão decidiu não realizá-las.
3. Existe uma probabilidade muito elevada de que estejamos a viver numa
simulação.
Qual destas três opções é a mais provável?
O
astrofísico e vencedor do prémio Nobel, George Smoot, indicou que não existem razões sólidas para acreditar nas opções 1 e 2.
É certo
que a Humanidade tem causado uma grande quantidade de problemas.
Por
exemplo, a mudança climática, as armas nucleares e a possibilidade de uma
extinção maciça.
Mas
nenhum deles tem de ser terminal, obrigatoriamente.
Com o
aspecto a favor de que não existe nada que determine que simulações
verdadeiramente detalhadas, nas quais os agentes se experimentam a si próprios
como reais e livres, sejam impossíveis, em princípio.
Smoot acrescenta
que, dado o conhecimento alcançado neste momento sobre a existência de outros
planetas, seria o cúmulo da arrogância pensar que somos a inteligência mais
avançada do Universo.
E que dizer da opção 2?
Smoot pensa
que também é improvável.
Depois
de tudo, uma das razões pelas quais fazemos simulações,
atualmente,
é para conhecer melhor o mundo real; para fazê-lo melhor e salvar vidas.
São
motivos eticamente indiscutíveis para continuar a recriar a vida.
Com
esses argumentos só nos resta a opção # 3:
Provavelmente,
estamos numa simulação.
Como demonstrá-lo?
Uma das
formas de averiguar se estamos a viver numa simulação, é procurar falhas no
programa que a produz.
Por
exemplo, encontrar inconsistências nas leis da física.
Também
se podem encontrar erros devido ao arredondamento de números nos computadores,
como o sugeriu uma vez o perito em inteligência artificial Marvin Minsky.
Por
exemplo, cada vez que um evento tem vários resultados possíveis, as suas probabilidades
devem somar 1.
Se
detectamos que não é assim, algo deve estar mal.
Para outros cientistas, a prova de que estamos
numa realidade virtual baseia-se no próprio Universo: tudo está
desenhado para que encaixe perfeitamente.
Inclusivamente
a menor alteração das forças naturais teria feito do átomo uma partícula
instável, ou teria feito impossível a vida na Terra.
A
mecânica quântica tem descoberto muitíssimas coisas estranhas.
Por
exemplo, tanto a matéria como a energia parecem
granulares:
como a
pixelização de uma imagem, quando vista, com muito “zoom”
Outro
argumento poderoso é que o Universo parece funcionar através de linhas
matemáticas, como se fosse um programa de informática.
No
entanto, este argumento parece contradizer-se: se uma inteligência superior
estivesse a criar simulações no seu próprio mundo “real”, era suposto que o fizesse baseando-se nos princípios físicos
que regem o seu Universo, assim como nós o fazemos com o nosso.
Nesse
caso, o motivo pelo qual o nosso mundo é matemático não seria porque é
administrado por um computador, mas sim porque o mundo “real” também o é.
Em
qualquer caso, é muito difícil - senão impossível – encontrar evidência consistente que demonstre que estamos
numa simulação.
Em
palavras de Smoot,
talvez nunca o saberemos, porque a nossa mente não está pronta para enfrentar
essa tarefa.
Depois
de tudo, desenham uns agentes numa simulação para que funcionem dentro de umas
regras, não para que as incumpram.
Realidade quântica
No
fundo deste debate repousa a ideia que talvez reduza a preocupação por
determinar se somos apenas informação, manipulada por um computador gigantesco.
De
todos os modos, para alguns físicos, é isso precisamente que o mundo é.
A
teoria quântica está cada vez mais a ser formulada em termos de informação e
informática.
Alguns
especialistas acreditam que no seu nível mais fundamental, pode ser que a
natureza não seja matemática, mas sim informação pura: como os zeros e uns dos
computadores.
O reconhecido físico John Wheeler propôs que tudo o que sucede, desde a interação da
particular, em certa forma é uma questão de informática.
“Se olhamos o interior do Universo – a
estrutura da matéria na sua escala mais pequena – damo-nos conta que não são
mais que bits a realizar operações digitais locais”, diz Seth Lloyd, do Instituto Tecnológico de Massachusetts.
Isto
leva-nos ao núcleo do assunto.
Se a
realidade é apenas informação, então nós não somos mais ou menos “reais”, se estamos numa simulação ou não.
Em
qualquer caso, informação é tudo o que podemos ser.
Quase
que com certeza absoluta Elon Musk não
vai por aí dizendo que todas as pessoas que vê são construções feitas por
computadores, que processam dados codificados pela sua própria consciência.
Em
parte porque é impossível manter essa imagem durante muito tempo nas nossas
mentes e também, porque no fundo sabemos que a única noção de realidade que
vale a pena ter, é a que experimentamos e não algum,
hipotético,
mundo detrás de tudo.
O
conceito do “mundo como simulação” toma uma velha discussão filosófica e veste-lhe uma
roupa de tecnologia.
Isso não faz mal a ninguém: simplesmente
anima-nos a examinar as nossas crenças e preconceitos.
Mas até
que se possa demonstrar que distinguir entre o que experimentamos e o que é “real”, se traduz numa diferença entre o
que observamos ou fazemos, a nossa noção da realidade não muda de maneira
significativa.
A princípios do século XVIII o filósofo George Berkeley argumentava que o mundo era uma
simples ilusão.
E para
questionar esta ideia, o escritor inglês Samuel Johnson exclamou:
“eu refuto isso”, e deu um pontapé numa pedra.
Na
realidade Johnson não desmentiu nada.
Contudo,
pode ser que se lhe tenha ocorrido a resposta certa.
Tradução: Lúcia
http://portugueselovenlightmessages.blogspot.com.br/2016/10/os-cientistas-acreditam-ser-possivel.html
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