UM ATALHO PARA NOSSA
MELHOR VERSÃO
SABADO, 26 DE AGOSTO DE 2023
Para promover o
amor e desvendar padrões doentios, a psicóloga clínica Dra.
Becky Kennedy recomenda buscar a interpretação mais generosa.
Cada um de nós nasce
em uma intrincada rede de padrões familiares que são transmitidos
inconscientemente pelas gerações.
Desde a infância,
minha mãe me rotulou como a “boa menina”, ao passo que minha
irmã mais velha foi rotulada como a “menina má”.
Isso começou quando
minha mãe voltou do hospital comigo e encontrou minha irmã de 13 meses
chateada, retraída e difícil de confortar.
Do ponto de vista da
minha mãe, sua filha mais velha estava dificultando as coisas, enquanto eu era
um bebê tranquilo – não tinha cólicas, como minha irmã teve.
Como nossa visão de
mundo é, em grande parte, moldada por nossas próprias projeções, com o passar
dos dias e anos, minha mãe continuamente encontrava evidências que confirmavam
seus preconceitos e tratava suas filhas de acordo.
Certa de que minha
amabilidade dependia de sempre me comportar perfeitamente, cresci com um medo
constante de cair do meu pedestal
precariamente alto em direção ao abismo da
rejeição, enquanto minha irmã
sentia-se frustrada e profundamente magoada por sua incapacidade em provar que
era boa.
Agora, aos 60 e 59
anos, respectivamente, minha irmã e eu estamos lidando com nosso arraigado
condicionamento inicial.
Na desafiadora
jornada de reparação das feridas que muitos de nós enfrentamos, os
conhecimentos compartilhados pela psicóloga clínica e especialista em
parentalidade, Dra. Becky Kennedy, são um recurso
poderosamente transformador e esclarecedor.
A crença na essência da bondade
Dra.
Becky, como é conhecida por seus milhões de seguidores, acredita que todos
são bons por dentro – que, em nossa essência, todos os humanos
são compassivos, amorosos e generosos.
No best-seller Eduque
sem medo: torne-se o pai ou a mãe que você quer ser, ela escreve:
“O
princípio da bondade interior impulsiona todo o meu trabalho
– acredito que crianças e pais são bons por
dentro, o que me permite ficar curiosa sobre o ‘porquê’ do mau comportamento”.
Dra.
Becky destaca a importância de separar quem
a pessoa é do que ela faz.
Em vez de olhar para
o comportamento difícil como uma confirmação de “maldade interna”, ela olha para
essas reações como um sinal de que grandes emoções sobrepujaram a capacidade de
enfrentamento da pessoa.
Quando vemos uma
criança como “uma criança boa passando por um momento
difícil” (em vez de má, descontrolada ou
mimada, por exemplo), isso nos ajuda a intervir de maneira diferente – com bondade,
compaixão e curiosidade em vez de indignação e raiva.
De acordo com a Dra.
Becky, ajudar as crianças a desenvolver habilidades de regulação emocional é
uma tarefa essencial a todos os pais.
Puni-las quando o
comportamento delas demonstra a falta dessas habilidades não só é injusto e
prejudicial, como também leva à vergonha e isolamento, em vez de levar à
crescimento e conexão.
A principal maneira
pela qual as crianças aprendem a administrar seus sentimentos é por meio das
experiências diretas que elas têm com seus cuidadores, então os adultos
precisam desenvolver suas próprias capacidades de regulação emocional junto com
as crianças de quem cuidam.
O poder da interpretação mais generosa
Se quisermos
evoluir à nossa melhor versão e ajudar nossos filhos a fazer o mesmo, Dra.
Becky oferece uma ferramenta simples, mas
excepcionalmente poderosa, que amplia imediatamente nossa perspectiva: buscar a
interpretação mais poderosa (“IMG”) por trás de cada
comportamento.
“Encontrar o que há de bom dentro de nós muitas
vezes pode resultar de uma simples pergunta:
‘Qual é minha interpretação mais generosa sobre o
que acabou de acontecer?’”
Dra.
Becky se faz esta pergunta não só quando se trata dos filhos dela; ela procura
a IMG nas interações com seus amigos, marido
e com ela mesma.
“Sempre
que pronuncio essas palavras, mesmo internamente, percebo
que meu corpo amolece e me vejo interagindo com as pessoas de uma forma que faz
com que me sinta muito melhor”
Ela explica que
encontrar a IMG ensina os pais a se concentrarem no que está acontecendo dentro de seus
filhos (grandes sentimentos, grandes
impulsos, grandes sensações) em vez do que está acontecendo fora
deles (grandes palavras ou grandes ações)
– vendo o
comportamento como uma pista do que a criança possa estar precisando, não como
uma medida de quem ela é.
Quando mudamos nossa
orientação para o interior, ensinamos nossos filhos a fazer o mesmo.
“As
habilidades de autorregulação dependem da capacidade de reconhecimento da
experiência interna”, Dra. Becky escreve;
“então, ao focar no
que está dentro e não no que está fora, estamos construindo em nossos filhos
uma base para estratégias de enfrentamento saudáveis.
As crianças respondem
à versão de si mesmas que os pais refletem para elas e, então, agem de acordo,
e é por isso que a Dra. Becky escreve:
“Se
queremos que nossos filhos sejam verdadeiramente autoconfiantes e se sintam bem
consigo mesmos, precisamos refletir para nossos filhos que eles são bons por
dentro, mesmo tendo dificuldades por fora”
Quebrando padrões
intergeracionais
Existem inúmeras
razões pelas quais encontrar a IMG pode ser um desafio, principalmente quando encontramos um gatilho.
“Primeiro”, Dra.
Becky escreve, “estamos evolutivamente ligados a um preconceito negativo, o
que significa que prestamos mais atenção ao que é difícil em nossos filhos (ou em nós, em nossos parceiros e até no mundo em
geral) do que no que está funcionando bem.
Em segundo lugar,
as experiências da nossa própria infância influenciam a forma como percebemos e
reagimos ao comportamento dos nossos filhos”
É comum reagirmos às
crianças de forma semelhante à forma como nossos pais reagiram à nós; muitas
pessoas foram criadas por pais que lideraram com julgamentos e críticas em vez
de curiosidade e compreensão.
Além disso, podemos
reagir facilmente a gatilhos de comportamentos específicos que aprendemos a
desligar quando éramos crianças – como choro, reclamação, timidez ou expressar
raiva ou desrespeito.
É por isso que a
Dra. Becky enfatiza que é preciso um esforço
intencional para corrigir o rumo e não deixar que a história se repita.
No meu caso,
descobri que quando minha mãe começou a classificar as filhas em papeis
totalmente opostos, ela estava repetindo o mesmo padrão que moldou o
crescimento dela.
Sendo a mais velha
de duas filhas, minha mãe tinha sido colocada permanentemente no papel da
criança “má” pela própria mãe, enquanto sua irmã
mais nova era considerada o anjo da família.
No livro Eduque sem medo, Dra. Becky aborda
especificamente a importância de procurar a IMG no comportamento do filho mais
velho quando um novo bebê se junta à família.
Ela nos pede para
contemplar todo mundo bajulando o bebê enquanto dizem ao filho mais velho como
eles devem estar felizes.
O que acontece, ela
pergunta, se o filho mais velho começar a ter
ataques de raiva frequentes e grita:
“Mande minha irmã de volta para o hospital!
Eu a odeio!”?
Se os pais
estiverem empenhados em encontrar a IMG, será mais fácil para eles verem que
por trás desta preocupante explosão está uma criança com muita dor,
provavelmente com ciúmes e medo ao ver tanto amor e atenção sendo desviados ao
novo bebê.
Como esse filho
mais velho se sentiria se tivesse sido abraçado por seus pais, recebendo uma
abundância de amor, conforto e segurança em
vez de ser mandado para o quarto depois de ser informado de que a explosão que
teve foi cruel e totalmente inaceitável?
Que lições sobre sentir e expressar honestamente
suas emoções ele teria aprendido?
Curando o presente ao imaginar um
passado melhor
É certo que não
podemos mudar o passado.
No entanto, é
curativo imaginar como teria sido diferente para minha irmã se ela tivesse sido
totalmente acolhida pela boa criança que sempre foi, desde o momento em que
minha mãe entrou pela porta de casa, há 59 anos, comigo nos braços.
Fazer isso esclarece
e invalida as suposições negativas de nossa mãe, que há tanto tempo se
enraizaram de maneira tão firme.
Olhando para o
comportamento da minha mãe pelas lentes de uma interpretação mais generosa,
posso ver que ter uma filha “boa” e outra “má” era a dinâmica com a qual o sistema
nervoso dela estava mais familiarizado – e que veio de forma tão natural que
ela nunca pensou em questioná-la.
Consigo sentir
compaixão pela minha mãe, que viveu toda a vida dela com a grande dor de
acreditar que era “má” e com as infelizes consequências de atribuir este mesmo rótulo a muitas
pessoas em sua vida.
Seja em relação à
birra de uma criança, à explosão emocional de um cônjuge ou aos maneirismos
impacientes de um balconista, buscar a
interpretação mais generosa pode abrir nossos olhos para o que antes não
conseguíamos perceber.
Mais importante
ainda, pode nos ajudar a penetrar no filtro de nossos preconceitos pessoais e
gatilhos emocionais, para que sejamos capazes de reconhecer a essência da
bondade em outra pessoa.
Este é um ato de
profunda bondade para com os outros, assim como para nós mesmos.
“Não
há nada mais valioso do que aprender a encontrar nossa bondade em meio às
dificuldades, pois isso nos leva a uma maior capacidade de reflexão e mudança”, Dra. Becky
escreve.
“Todas
as boas decisões começam com uma sensação de segurança em nós mesmos e em nosso
ambiente, e nada parece mais seguro do que ser reconhecido pelas pessoas boas
que realmente somos”
Autor/Canal:
Myra Goodman
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