domingo, 2 de janeiro de 2011

O Visitante - Capítulo 13 - Márcio Lupion

O Visitante - Capítulo 13
              
O Visitante - Capítulo 13 - Márcio Lupion


por Márcio Lupion - marcio@kallipolis.org

Depois das várias impressões, do encontro com seres de outras dimensões, realmente a gente 
não consegue mais perceber o que é a realidade de terceira dimensão, onde nós temos tempo 
  e distância, onde precisamos nos locomover entre as pessoas e os vários cenários.
  Agora havia uma mudança de percepção, em que cada cenário é constituído de espaço e sentimento. 
  Em alguns momentos a gente consegue até sentir o anseio das pessoas que nos concebem, o 
  sentimento-raiz: a intenção.
  A realidade agora parece uma mescla de estruturas materiais que antigamente não eram percebidas 
  e agora o são: objeto, emoção e sentimento.
  O objeto em si parece estar lá parado, imóvel. A emoção é o que faz a gente olhar pra ele e percebê-lo;
  o sentimento é o que faz a gente cuidá-lo. É como se todos os dias aquela emoção inicial pudesse se repetir, 
  se repetir, se repetir  conosco, mantendo um diálogo entre as partes. Esse diálogo funciona exatamente 
  como aquele entre as pessoas, onde cada dia é diferente do outro, havendo sempre algo novo a ser construído.
  Em meio a isso tudo, a memória daquele ser de olhos brilhantes e de limpeza incomensurável voltou a ser 
  ativada no dia em que nós voltamos pro Ashram.
  Todos os monges preparavam-se alegremente para a festa de Natal e eu subi a escada pro vestiário para 
  colocar minha roupa, quando, ao olhar para a porta, encontrei um convite que dizia: dia 20 de dezembro, 
  todos vocês estão convidados para a festa do Jesus. Havia ainda um desenho, um esboço feito com grafite. 
  O rosto naquele desenho tinha olhos brilhantes, na mesma intensidade do mendigo protagonista de 
  encontros tão marcantes. Olhei para aquilo com forte espanto, quase como um susto, e comentei de 
  forma espontânea com o Mukunda, o monge mais velho, que estava ao meu lado:
  - Mukunda, que desenho é esse? Quem fez isso? Quem é esse homem?
  Ele olhou, sorriu e respondeu:
  Quem fez foi o nosso mestre.
  - Pois é... Encontrei um mendigo na rua, exatamente igual! Encontrei-o já duas vezes...
  Ao comentar isso, meu corpo sentiu como que uma forte descarga de adrenalina e ficou dormente e 
 foi como se eu tivesse ouvido o que eu mesmo havia falado.
 Sentei no vestiário. O Mukunda me olhou com os olhos arregalados e desceu a escada em direção à 
 residência de nosso mestre. Fiquei ali parado, observando aquela imagem e tentando entender por 
 que o meu corpo estava assim,  por que o rosto daquele homem estava ali no Ashram. E com uma 
 dedução infantil pensei: será  que este homem é o Jesus? Mas nem se parece com o Jesus que a 
 gente encontra em todas as figuras, na verdade parece ser outra pessoa. Mas, por que o meu 
 mestre teria desenhado exatamente igual àquele mendigo?
 Tive uma espécie de intenso choro compulsivo; disfarcei, fui ao banheiro e voltei com o rosto lavado. 
 Sentei no meu lugar de monge, o Mukunda sentou à minha esquerda e fizemos a puja. Cantamos, 
 manifestamos nossa devoção e comemos a nossa prashada (o alimento servido no final). Antes de ir 
 embora, ele me chamou lá embaixo numa salinha que era o escritório do Ashram e pediu para eu 
 descrever a cena com o mendigo. Naquele momento eu já sabia que alguma coisa significativa 
 tinha acontecido. No final da descrição eu perguntei:
  Mukunda, o que aconteceu de verdade?
  - Esse homem que você viu, é um homem que apareceu muito na infância do nosso mestre, ao lado 
 de sua cama. Era como se fosse um visitante. Vinha de tempos em tempos e ficava olhando pra ele.
  Na Índia, não tinha como o nosso mestre descrevê-lo, até o dia em que ele conta que, menino, 
 estava passando num lugar sagrado, na frente de milhares de santos da Índia e de repente se 
 deparou com o altar desse Santo. Era uma imagem do Jesus e ele falou para o avô que o 
 acompanhava: "este é o homem que me visita toda noite".
  O avô sorriu de forma singela, ele tinha qualidades sensíveis para perceber o que estava 
 acontecendo com a criança e respondeu "você está sendo visitado por um grande ser, pelo 
 próprio filho de Deus".
  Essa colocação foi feita lá na Índia, no meio de todas aquelas religiões e de inúmeras 
 possibilidades de perceber Deus. Essa criança guardou isso com ele e quando chegou 
 próximo à idade adulta fez um esboço exatamente do que viu. Aquele era exatamente o 
 rosto daquele homem.
  Passou o tempo, passaram semanas, o Natal e o Ano Novo. Em meados de Janeiro sentei 
 para refletir como tudo aquilo acontecera. Como pôde a vibração daquele ser, ou melhor, 
 como pude eu alcançar a capacidade de ver um ser dessa vibração e hierarquia? Não era 
 uma simples clarividência, era uma visita. Fiquei então tentando entender como isso se 
 manifestava e por que não acontecia o dia inteiro com todas as pessoas...
  Usando a memória mais uma vez, percebi que as semanas que antecederam a visita daquele 
 ser foram as semanas em que eu mais me preocupara com os outros. Foram semanas em 
 que andava pela rua tirando meu casaco para cobrir as pessoas dormindo na rua. 
 Lembro-me de ter oferecido o tênis para uma pessoa que andava de sandália num dia muito 
 frio. Lembro-me de ter dado todo o dinheiro do bolso e deixado de comer por semanas inteiras;
  de ter deixado de pegar condução para dar o dinheiro a quem precisava. Foi quando vivi o outro 
 e comecei a entender a importância de se esquecer de si mesmo. Efetivamente, comecei a 
 sentir o outro.
  Num desses dias, olhei para o outro lado da rua e vi um cachorro com muita fome e eu
  percebi a fome dele. Comprei comida, alimentei-o e a fome do cachorro passou, junto com 
 a minha. Foi o momento em que entendi que todos somos um de fato, que realmente todos 
 os sentimentos que passam por nós passam por todos os seres. E são os mesmos sentimentos, 
 independente do espaço-tempo ou em que vida estejamos; é o mesmo sentir.
 O ser humano simplesmente quer viver em paz, alimentar-se de forma pura e sensível e encontrar 
 o amor.
 A última reflexão sobre esse momento foi que, quando a gente manifesta o amor, o amor 
 incondicional, o amor sem restrições, acredito que todos os seres irão olhar para frente e ver o 
 amor manifesto. Nesse caso, na figura desse homem de limpeza absoluta, de ternura 
 incondicional. Cheguei por fim na frente do meu mestre e perguntei por que isso acontecera. 
 Ele sorriu, olhou no meu olho e falou:
 - Satyananda, você está querendo uma resposta ou está querendo conferir uma intuição?
 Eu quero conferir uma intuição.
 - Filho, os seres humanos vêem aquilo que eles são. Você só conseguiu perceber esse Ser
 porque você o alcançou. Atingiu um estado de consciência, o estado de vibração em que ele 
 sempre permanece. Esses seres são onipresentes e estão na vida de todos, com corpos, 
 sentimentos, inspirações. Eles sempre estarão lá. Isso é o Amor. O Amor se veste de forma, 
 se veste de uma brisa, se veste de inspiração pra qualquer pessoa que assim o desejar. 
 Se você aprender a viver no amor, a gente estará conversando com Deus, ou com o filho de 
 Deus, o tempo inteiro.
 Essa sensação é o espírito sagrado, essa impressão é o espírito santo. Viva assim e, só assim, 
 você conseguirá ser útil para a sua própria vida e pra toda a humanidade. Capítulo 12

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