sexta-feira, 26 de outubro de 2012
"Hoje a postagem é diferente"
DISCURSO
DE RUI BARBOSA NO SENADO EM 1914
A falta de
justiça, Srs.
Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as
nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema
desta pobre nação.
A sua
grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os
auxílios, os capitais.
A
injustiça, Senhores, desanima
o trabalho, a honestidade, o bem;
cresta em
flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a
semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na
fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a
venalidade,
promove a
relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.
De tanto
ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto
ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos
maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha
de ser honesto.
Essa foi a
obra da República nos últimos anos.
No outro
regime, o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para
todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas.
Havia uma
sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto,
guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da
justiça e da moralidade gerais.
Na
República os tarados são os tarudos.
Na
República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos
Governos, da prática das instituições.
Contentamo-nos,
hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a
pouco, delas quase nada nos restando.
Apenas
temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de
uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.
E nessa
destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, Senhores, é a ruína
da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos
partidos, pela influência constante dos nossos Governos.
E nesse
esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade
aos criminosos confessos, é a falta
de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado,
indicado, que todos conhecem ..."
(Rui
Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas
-
Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)
Colaboração: Chau
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