Maquete do projeto. FOTO: Reprodução
sábado,
9 de março de 2013
Com o início da
construção previsto para setembro, o novo acelerador de elétrons do Brasil, batizado de
Sirius e orçado em R$ 650
milhões, deve ser o mais poderoso da América Latina e um dos mais avançados do
mundo.
Atualmente, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, abriga um síncroton de segunda geração, chamado de UVX,
utilizado por
pesquisadores e empresas de todo o continente.
Mas suas limitações
levaram o LNLS na direção de um
acelerador de terceira geração, que colocará o Brasil em uma posição de maior
competitividade científica.
Com ele, buscam-se
mais possibilidades de pesquisas e maior colaboração com cientistas de outras
nações, atraídos pela nova tecnologia.
A luz síncroton é de
extrema importância para o desenvolvimento científico e tecnológico, pois ela
propicia o estudo da matéria em suas mais variadas formas.
“Ela ‘penetra’ em materiais orgânicos e
inorgânicos, permitindo desvendar seu arranjo atômico e molecular.
É a ferramenta experimental com o maior número de aplicações e
de maior impacto sobre o conhecimento e desenvolvimento de materiais, incluindo
os biológicos”, explica o professor
doutor Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS.
Dessa forma, o projeto
conceitual de Sirius foi elaborado e
submetido à avaliação de um grupo de especialistas de aceleradores do Brasil e
do exterior.
Após reconhecer a
qualidade do trabalho, a comissão o considerou “ambicioso”.
Segundo Nelson Velho de
Castro Faria, professor emérito
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante da comissão, a opção técnica do LNLS foi elogiada e considerada excelente para os padrões de hoje.
Faria e seus
companheiros provocaram os técnicos do laboratório a ousar e tentar condições
para uma máquina do futuro (emitância menor do que 1 nanômetro).
“Os técnicos do LNLS aceitaram o
desafio.
Na reunião da Comissão Internacional, em 2013, a nova proposta
foi apresentada e discutida, sendo bastante elogiada”, diz Faria.
Enquanto o síncroton
atual tem alta emitância, quando comparado com os síncrotons mais modernos, e
impossibilidade de gerar raio-X de alta energia, devido à baixa energia dos
elétrons, que é de 1,37 GeV (gigaelétron-volt), a nova fonte de luz síncrotron brasileira terá uma energia de
elétrons maior do que o dobro (3 GeV) e uma emitância aproximadamente 360 vezes menor (0.28
nm.rad) do que a do anel
atual.
“Nesse caso, menos é mais.
Essa combinação fará com que o brilho da radiação emitida seja,
em certas frequências, mais de um bilhão de vezes superior ao que a fonte atual
disponibiliza para os pesquisadores brasileiros hoje”, argumenta Roque.
Rosângela Itri, professora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do comitê científico internacional, que avalia o atual
síncroton a cada dois anos sobre as atividades e avanços atingidos,
explica que o novo
síncroton, em termos de brilhância, propiciará o desenvolvimento de novas
linhas para análise de materiais e imagens.
“Tal característica, acoplada à redução nas dimensões finais
do feixe de luz atingindo amostras a serem analisadas, possibilitarão o uso de
novas técnicas e metodologias não disponíveis no Brasil e na América Latina”.
Conforme Roque, os raios-X dezenas de vezes mais energéticos que o Síncrotron
atual permitirão penetrar materiais como o concreto, em até centímetros, bem
como estudar materiais importantes, como terras raras.
De acordo com o diretor do
LNLS, o projeto
brasileiro almeja ser o síncrotron com a menor emitância e, portanto, o maior
brilho dentro da sua classe de energia.
“Sirius colocará o Brasil em condições de competir com os
melhores aceleradores do mundo”, diz.
Para o professor Mikael Eriksson, diretor de Máquina do MAX-IV, o novo síncrotron da Suécia que está em construção, e um dos
especialistas do comitê internacional independente, o aumento da performance do
brilho vai levar Sirius para a próxima geração de fontes de luz síncroton.
“Esta geração, que consiste agora de MAX IV e Sirius (pelo menos
mais seis em todo o mundo podem seguir esse caminho mais tarde), vai permitir investigações mais rápidas e mais precisas da
matéria.
Experiências que não poderiam ser feitas antes, porque eram
muito demoradas, agora serão possíveis”, aponta.
Segundo Faria, ter um acelerador
de elétrons de terceira geração no Brasil vai permitir condições de pesquisa
encontradas em poucos laboratórios no mundo.
“Uma consequência mensurável será o aumento do número de
pesquisadores e da qualidade da pesquisa nacional”, explica.
Para Roque, não somente o
número, mas a diversidade e competitividade das pesquisas deverá aumentar,
porque o Brasil contará com um equipamento que permite dar respostas a um
número muito maior de perguntas formuladas pela ciência.
O custo total é
estimado em R$ 650 milhões, bancados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e
Inovação, outras instituições públicas e parceiros privados.
Com uma área total
de 42 mil metros quadrados, o projeto conceitual de Sirius está pronto, mas o
projeto executivo da parte civil ainda está em curso, e deverá ser
concluído entre maio e junho deste ano.
As atividades de
limpeza de terreno, terraplanagem e drenagem principiarão em abril e se
estenderão até agosto, para que a construção de Sirius comece em setembro.
O cronograma prevê o primeiro feixe no meio do ano de 2016 e a expectativa de abertura para os usuários, em 2017.
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