quinta-feira,
6 de junho de 2013
Bebês de todas as classes sociais dormem em caixas de papelão na
Finlândia.
País que já foi pobre na década de 30 hoje é símbolo de
igualdade e apresenta as ‘mães mais felizes do mundo’
Há 75 anos, todas as mulheres grávidas na Finlândia recebem um
kit de maternidade do governo.
O kit inclui uma caixa com roupas, lençóis e brinquedos, e a
ideia é que a própria caixa seja usada como cama durante os primeiros meses de
vida do bebê.
Muitos acreditam que o kit ajudou a Finlândia a alcançar uma das
mais baixas taxas de mortalidade infantil do mundo.
É uma tradição com origem na década de 1930, desenvolvida para
dar a todas as crianças na Finlândia um começo de vida igual, independente da
classe social.
O kit de maternidade é um presente do governo e está disponível
para todas as gestantes.
Todas as gestantes finlandesas tem a opção de receber um kit
maternidade ou uma ajuda financeira.
(Foto: Milla Kontkanen)
Ele contém macacões, um saco de dormir, roupas de inverno,
produtos de banho para o bebê, assim como fraldas, roupas de cama e um pequeno
colchão.
Com o colchão no fundo, a caixa torna-se a primeira cama do bebê.
Muitas crianças, de todas as classes sociais, têm seus primeiros
cochilos dentro da segurança das quatro paredes da caixa de papelão.
ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL
PARA TODOS
As mães podem escolher entre receber a caixa ou uma ajuda
financeira, que atualmente é de 140 euros (R$ 390), mas 95%
optam pela caixa, que vale muito mais.
A tradição começou em 1938, mas inicialmente o sistema só estava
disponível para as famílias de baixa renda.
Mas isso mudou
em 1949.
“A nova lei diz que para receber o kit ou o dinheiro, as
gestantes têm que visitar um médico ou uma clínica pré-natal municipal antes do
quarto mês de gestação,” disse Heidi Liesivesi, que trabalha no Kela, o Instituto de Seguro
Social da Finlândia.
Na década de 1930, a Finlândia era um país pobre e a
mortalidade infantil era alta ─ 65 em 1.000 bebês morriam.
No entanto, os números melhoraram rapidamente nas décadas que se
seguiram.
Mika Gissler, professora
do Instituto Nacional para Saúde e Bem-Estar em Helsinque, acredita que o kit
de maternidade e os cuidados pré-natal para todas as mulheres introduzidos na
década de 1940, um sistema de seguro de saúde nacional e um sistema central da
rede hospitalar na década de 1960 foram fundamentais para reverter
essa situação.
AS MÃES MAIS FELIZES DO
MUNDO
Aos 75 anos de idade, o kit é agora uma parte estabelecida do
rito finlandês de passagem para a maternidade, unindo gerações de mulheres.
“É fácil saber em que ano os bebês nasceram, porque as roupas do
kit mudam um pouco a cada ano.
É bom comparar e pensar:
‘Ah, aquele menino nasceu no mesmo ano que o meu’”, diz Titta
Vayrynen, de 35 anos, mãe de dois filhos pequenos.
Para algumas famílias, o conteúdo da caixa seria inviável se não
fosse gratuito.
“Um relatório publicado recentemente dizia que as mães
finlandesas são as mais felizes do mundo e na hora eu pensei na caixa.
Somos muito bem cuidados pelo governo, mesmo agora que alguns
serviços públicos sofreram pequenos cortes”, diz ela.
O conteúdo da caixa mudou muito ao longo dos anos, refletindo a
mudança dos tempos.
SÍMBOLO DE IGUALDADE
“Os bebês costumavam dormir na mesma cama que os pais e foi
recomendado que esse costume acabasse”, disse Panu Pulma,
professor de História Finlandesa e Nórdica da Universidade de
Helsinque
“Incluir a caixa no kit serviu como um incentivo para os pais
colocarem os bebês para dormir separados deles.”
Em um certo momento, mamadeiras e chupetas foram removidos para
incentivar o aleitamento materno.
“Um dos principais objetivos de todo o sistema era fazer com que
as mulheres amamentassem mais e funcionou”, diz Pulma.
Ele também acha que incluir livros infantis teve um efeito
positivo,
encorajando as crianças a segurar os livros e, um dia, lê-los.
Pulma acredita
que a caixa é um símbolo da ideia de igualdade, e da importância das crianças.
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