quarta-feira,
14 de agosto de 2013
Em razão do aumento constante da concentração de gases de efeito
estufa e de alterações significativas na ocupação do uso do solo, o Brasil deve
chegar ao final do século com temperaturas muito mais elevadas que as atuais e
intensificação sistemática dos eventos climáticos de larga escala
A afirmação faz parte do RAN1, o primeiro relatório de avaliação
nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, PBMC, que será divulgado
na primeira quinzena de setembro.
O trabalho foi assinado por 345 cientistas brasileiros que atuam
em diversas áreas ligadas ao tema.
De acordo com o relatório, as projeções indicam que se o nível
das emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual,
até o final do século a temperatura média de todas as regiões ficará entre 3º e
6ºC mais elevada que em 2001.
A Amazônia e a caatinga experimentarão 40% a menos de chuvas,
enquanto na região dos pampas o nível de precipitação poderá ser
30% maior que o atual.
No entender do climatologista José Marengo,
ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, os estudos mostram
um aumento de temperatura em toda a América do Sul com exceção do Chile, onde a
costa sul e região central apresentam resfriamento há algumas décadas.
"A sensação é de que as estações estão meio loucas, com
manifestações mais frequentes de extremos climáticos”, disse
o cientista.
Com alterações extremas significativas, o país deverá conviver
com períodos de chuva forte e seca prolongada, além da possibilidade de
surgimento de fenômenos com grande potencial de destruição como o furacão
Catarina, que em março de 2004 atingiu a costa de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul.
Além das consequências criadas pela natureza, o estudo aponta
que o crescimento das áreas concretadas e asfaltadas intensificará as ilhas de
calor nas áreas metropolitanas, com consequente aumento da temperatura e
mudança no regime de chuvas.
Poucos Dados
Apesar de o relatório apontar um aumento significativo da
temperatura até o final do século, mais dados serão necessários para obtenção
de quadro mais preciso.
“Fizemos uma compilação crítica dos dados produzidos pelos
estudos mais recentes e verificamos que em regiões como o Centro-Oeste quase
não há dados disponíveis”, explica o meteorologista Tércio
Ambrizzi, da Universidade de São Paulo.
“Além disso, também temos pouca pesquisa sobre o paleoclima no
Brasil”.
Para o paleoceanógrafo Cristiano Chiessi, da USP Leste,
que também trabalha no relatório, as pesquisas sobre como era o clima do
passado na costa do Atlântico em torno do Brasil são extremamente raras.
“Precisamos investir nesse tipo de estudo para sabermos o que é
variação natural do clima e o que é decorrente da ação humana”,
explicou Chiessi.
Modelo Climático Brasileiro
A divulgação do relatório marcará também a incorporação da mais
sofisticada ferramenta para estudo do clima brasileiro, o Modelo Brasileiro do
Sistema Terrestre, ou BESM, um conjunto de softwares que permite simular a
evolução dos principais parâmetros do clima em escala global.
“O Brasil é hoje o único país do hemisfério Sul a contar com um
modelo próprio”, disse o cientista Paulo Nobre,
também ligado ao INPE e um dos coordenadores do BESM.
“Isso nos dará uma grande autonomia para realizar as simulações
que sejam de nosso maior interesse.”
O novo modelo permite, entre coisas funcionalidades, fazer
projeções sobre os efeitos no clima no Brasil provocados por mudanças no padrão
da circulação oceânica do Atlântico Tropical e também nos biomas do país.
A versão atual do BESM roda no supercomputador Tupã, instalado
na unidade do INPE de Cachoeira Paulista e já permite simular diversos
fenômenos em escala global e regional e revelar cenários futuros.
Entre outros, o modelo já consegue reconstituir a ocorrência dos
últimos El Niños e estimar o retorno desse fenômeno climático nos próximos
anos.
Fonte: http://www.apolo11.com/mudancas_climaticas.php?titulo=Estudo_Brasil_pode_ficar_6_graus_mais_quente_ate_final_do_seculo&posic=dat_20130814-095432.inc
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