Leão,
símbolo da deusa babilônica Ishtar, do Portal do Templo de Ishtar
O 12º PLANETA - A SÚBITA CIVILIZAÇÃO
- CAP. 2 - LIVRO I CRÔNICAS DA TERRA
ZECHARIAS SITCHIN
Outubro 23, 2017
segunda-feira,
23 de outubro de 2017
Leão,
símbolo da deusa babilônica Ishtar, do Portal do Templo de Ishtar
O 12º PLANETA - A SÚBITA CIVILIZAÇÃO - CAP. 2 - LIVRO I CRÔNICAS DA TERRA
ZECHARIAS SITCHIN
Outubro 23, 2017
segunda-feira,
23 de outubro de 2017
Durante muito tempo, o homem do Ocidente acreditou que sua
civilização era dádiva conjunta de Roma e da Grécia.
Mas os próprios filósofos gregos escreveram repetidamente que se
inspiraram em fontes ainda mais remotas. Mais tarde, os viajantes de regresso à Europa falaram da
existência no Egito de imponentes pirâmides e cidades-templos meio enterradas na areia
e guardadas por estranhos animais de pedra chamados esfinges. Quando Napoleão
chegou ao Egito, em 1799, levou com ele eruditos para estudar e explicar
esses antigos monumentos.
Um dos seus oficiais, perto de Rosetta, encontrou uma placa de pedra na
qual estava gravada a proclamação do ano 196 a.C.,
escrita na antiga letra pictográfica egípcia. (hieróglifos),
assim como em dois outros escritos.
A decifração dos antigos escritos e língua egípcios e os esforços arqueológicos que se seguiram revelaram ao homem
do Ocidente que existira no Egito uma alta civilização bastante anterior
ao advento da civilização grega.
Os registros egípcios falam de dinastias egípcias que começaram
por volta do ano 3.100 a.C. - dois milênios inteiros antes do início da
civilização helênica.
Alcançando sua maturidade nos séculos 5 e 4 a.C., a Grécia foi mais
retardatária do que inovadora.
O Egito foi então a origem da nossa
civilização?
Por mais lógica que esta conclusão pudesse ter sido, a verdade é que os
fatos falam contra ela.
Os eruditos gregos descreveram, realmente, visitas ao Egito, mas as
antigas fontes do conhecimento de que eles falam foram encontradas noutro
local.
As culturas pré-helênicas do mar Egeu - a minóica, na ilha de Creta, e a micênica, no
continente grego - dão provas de que foi adotada a cultura do Oriente Médio, e não a
egípcia.
A Síria e a Anatólia, não o Egito, foram as principais avenidas
através das quais uma civilização mais remota se colocou à disposição dos
gregos.
Notando que a invasão dória da Grécia e a invasão israelita de
Canaã, seguindo-se ao êxodo do Egito, ocorreram por volta da mesma época
(século 13 a.C.), os eruditos ficaram fascinados por descobrir um número
crescente de semelhanças entre as civilizações semita e helênica.
O prof.
Cyrus H. Gordon (Forgotten Scripts: Evidence for the Minoan Language)
[Manuscritos Esquecidos:
Evidência da Linguagem Minóica] abriu um novo campo de estudo mostrando como um antigo escrito
minóico, chamado "Linear A", representava uma
linguagem semita.
Ele concluiu que "o padrão (distinto do conteúdo) das
civilizações hebraica e minóica é o mesmo até um razoável limite", e
salientou que o nome da ilha, Creta, soletrado em minóico, Ke-reta, era o mesmo que o designado pela palavra hebraica
"Ke-re-et" ("cidade emparedada")
e tinha sua correspondente num conto semita de um rei de Keret.
O próprio alfabeto helênico, do qual o latino e os nossos próprios
alfabetos derivam, veio do Oriente Médio.
Os antigos historiadores gregos escrevem que um fenício chamado
Kadmus ("antigo") lhes
ofereceu oalfabeto que compreendia o mesmo número de letras e pela mesma
ordem que o hebraico; este era o único
alfabeto grego quando a Guerra de Tróia teve lugar.
O número de letras foi aumentado para 26 pelo poeta Simónides de
Ceos no século 5 a.C.
Que a escrita grega e latina e, deste modo, toda a fundação da
nossa cultura ocidental foram adotadas do Oriente Médio pode ser facilmente demonstrado pela comparação entre a
ordem, os nomes, os sinais e até os valores numéricos do alfabeto original
do Oriente Médio com o muito posterior alfabeto grego e o
mais recente alfabeto latino.
Os eruditos tinham consciência clara
dos contatos gregos com o Oriente Médio no 1º. milênio a.C.,culminando com a derrota dos persas
por Alexandre da Macedônia em 331 a.C.
Os registros gregos contêm muitas informações acerca destes persas
e das suas terras (que, grosso modo, se equiparam ao Irã de hoje).
A julgar pelos nomes dos seus reis - Ciro, Dario e Xerxes - e das suas deidades, que parecem
pertencer ao ramo lingüístico indo-europeu, os eruditos chegaram à
conclusão de que eles eram parte do povo ariano (senhorial), que apareceu em algum
lugar perto do mar Cáspio, por volta do fim do 2º. milênio a.C., e se espalhou para
o oeste, para a Ásia Menor, para
leste, em direção à Índia, e para o sul, para aquilo a que o Antigo Testamento chama
as "terras de medos e persas".
No entanto, nem tudo
foi assim tão simples.
A despeito da assumida
origem estrangeira destes
invasores, o Antigo Testamento trata-os como parte
e parcela dos acontecimentos bíblicos. Ciro,
por exemplo, foi considerado como
sendo "consagrado por Javé" -
uma relação bastante invulgar
entre o Deus hebreu e um Deus não hebreu.
De acordo com o livro bíblico
de Esdras, Ciro tomou
conhecimento da sua missão de
reconstruir o Templo de Jerusalém e
afirmou que agia segundo ordens de Javé, a
quem ele chamava "o Deus
dos Céus".
Ciro e os outros reis da sua dinastia
auto-intitularam-se Aquemênidas - título adotado pelo fundador da dinastia, Hacham-Anish.
Não era um título ariano, mas um título
perfeitamente semita que
significava "homem sensato". De modo geral, os eruditos
negligenciaram a investigação das várias pistas que podem indicar as semelhanças entre o Deus hebreu Javé e a deidade Aquemênida
chamada "O Deus Sensato", que eles representaram flutuando nos céus dentro de um globo alado, tal como é mostrado no selo real de Dario.
Foi agora estabelecido que as raízes culturais, religiosas e
históricas destes antigos persas remontam aos antigos impérios da
Babilônia e Assíria, cuja expansão e queda estão registradas
no Antigo Testamento.
Os símbolos que constituem o manuscrito que apareceu nos monumentos
e selos aquemênidos foram primeiramente considerados como sendo desenhos
decorativos. Engelbert
Kampfer, que visitou, em 1686, Persépolis, a velha capital persa, descreveu os sinais como
cuneiformes, ou impressões em forma de cunha.
Quando começaram os esforços de decifração das inscrições
aquemênidas, tornou-se claro que elas
estavam escritas no mesmo tipo de escrita que
as inscrições encontradas em antigos artefatos e barras na
Mesopotâmia, nas planícies e planaltos
que ficam entre os rios Tigre e Eufrates.
Intrigado pelas descobertas dispersas, Paul Emile Botta
partiu em 1843 para conduzir a primeira escavação de grande objetivo.
Ele escolheu um local na Mesopotâmia do Norte,
próximo do atual Mossul, agora chamado Khorsabad.
Botta em pouco tempo conseguiu estabelecer que as inscrições
cuneiformes davam o nome ao lugar de Dur Sharru Kin.
Eram inscrições semitas, numa língua irmã do hebreu, e o nome significava "cidade emparedada
do rei íntegro".
Nossos manuais chamam a este rei Sargão II
.
Esta capital do rei assírio tinha como centro um magnificente palácio
real cujas paredes estavam desenhadas com baixos-relevos esculpidos,
que, colocados em fila, se estenderiam por mais de um quilômetro.
A comandar a cidade e o conjunto real havia uma pirâmide de degraus
chamada zigurate - servia como
"escada para os céus" para os deuses.
O plano da cidade e as esculturas
revelam-nos um modo de vida de alto nível.
Palácios, templos, casas, estábulos, armazéns, paredes,
cancelas, colunas, decorações, estátuas, obras de arte, torres, rampas,
terraços, jardins - tudo
isso foi completado em apenas cinco anos.
De acordo com Georges Contenau (La Vie Quotidienne à
Babylone et en Assyrie) [A Vida Quotidiana na Babilônia e na Assíria], "a imaginação vacila ante a
força potencial de um império que pôde realizar tanto em tão curto período
de tempo", há cerca de 3.000 anos.
Para não serem ultrapassados pelos franceses, os ingleses apareceram
em cena na pessoa de Sir Arthur Henry Layard, que escolheu como seu local
de trabalho um lugar a cerca de 16 quilômetros ao
longo do rio Tigre a partir de Khorsabad.
Os nativos chamam-lhe Kuyunjike e transformou-se na capital assíria
de Nínive.
Nomes e acontecimentos bíblicos começaram a ganhar vida. Nínive era
a capital real da Assíria sob os seus três últimos grandes governantes:
Senaqueribe, Asaradão e Assurbanipal. "Agora, no
décimo quarto ano do rei Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria,
levantou-se contra todas as cidades emparedadas de Judá", relata o Antigo
Testamento (II Reis 18: 13), e, quando o anjo do Senhor reuniu o seu
exército, "Senaqueribe partiu e regressou e assentou morada em
Nínive".
Os morros onde Nínive foi construída por Senaqueribe e Assurbanipal revelam
palácios, templos e obras que ultrapassam os de Sargão.
A área onde se acredita estar o espólio dos palácios de Asaradão não pode ser
escavada porque é agora uma
mesquita muçulmana erigida sobre o lugar
fúnebre que se pretende fazer passar pelo de Jonas, o Profeta, que se diz ter sido engolido por uma baleia quando se recusou a trazer a mensagem de
Javé para Nínive.
Layard lera em antigos registros gregos que um oficial do
exército de Alexandre vira "um lugar de pirâmides e vestígios de
uma cidade antiga” - uma cidade que já estava enterrada
no tempo de Alexandre.Layard escavou-a e viu-se
que era Nimrud, o centro militar assírio.
Foi lá que Shalmaneser II fez erigir um
obelisco para registrar suas conquistas e expedições militares.
Agora em exibição no Museu Britânico, o obelisco lista, entre os
reis obrigados a pagar tributo, "Jeú, o filho de Omri, rei de Israel
".
De novo, as inscrições mesopotâmicas e os textos bíblicos se
apoiam mutuamente.
Estupefatos por uma corroboração progressivamente mais freqüente
das narrativas bíblicas pelos achados arqueológicos, os assiriologistas,
como se vieram a chamar estes eruditos, voltaram ao capítulo X do livro do
Gênesis.
Aí, Nimrod - "um poderoso caçador pela graça de Javé" - é
descrito como fundador de todos os reinos da Mesopotâmia.
E o começo do seu reino:
Babel,
Erech e Akkad, todas na Terra de Shin'ar Daquela terra foi emanado Ashur
onde Nínive foi construída, uma cidade de largas ruas, e Khalah, e Ressen
- a grande cidade entre Nínive e Khalah.
Havia realmente um morro a que os nativos chamavam Calah, situado
entre Nínive e Nimrud.
Quando as equipes sob as ordens de W. Andreas escavaram a área de 1903 a 1914, desenterraram as
ruínas de Ashur, o centro religioso assírio
e sua remotíssima capital.
De todas as cidades
assírias mencionadas na Bíblia,apenas Ressen está por descobrir.
O nome significa "o freio do cavalo"; era provavelmente aí que estavam localizados
os estábulos reais da Assíria.
Por volta da mesma época, quando Ashur estava sendo escavada,
equipes dirigidas por R. Koldewei completavam a
escavação da Babilônia
a Babel bíblica -, um vasto local de
palácios, templos, jardins suspensos e o inevitável zigurate.
Em breve, os artefatos e inscrições desvendaram a história de dois
impérios competidores da Mesopotâmia: a Babilônia e a Assíria, uma
centrada ao sul, outra ao norte.
Ascendendo e caindo, lutando e coexistindo, os dois impérios
constituíram uma alta civilização que abarcou cerca de 1.500 anos;
ambos ascendendo por volta do ano 1.900 a.C. Ashur e Nínive foram, finalmente, capturadas
e destruídas pelos babilônios em 614 e 612 a.C., respectivamente.
Tal como foi predito pelos profetas bíblicos, a própria Babilônia
encontrou um fim inglório quando Ciro, o Aquemênidas, a conquistou em 539
a.C.
Embora fossem rivais ao longo de toda a sua história, só muito
dificilmente se poderiam deslindar algumas diferenças significantes entre
a Assíria e a Babilônia nos campos cultural e material.
Apesar de a Assíria chamar à sua deidade principal Ashur ("o que
vê tudo") e a Babilônia aclamar Marduk ("filho do puro morro"), os panteões eram, pelo contrário,
virtualmente semelhantes.
Muitos dos museus do mundo contam entre os seus objetos de
exposição privilegiados as passagens cerimoniais, touros alados,
baixos-relevos, carros de batalha, ferramentas, utensílios,
joalheria,
estátuas e outros objetos fabricados em todos os materiais
concebíveis que foram desenterrados dos morros da Assíria e da Babilônia.
Mas os verdadeiros tesouros destes reinos são os seus registros
escritos: milhares e milhares de
inscrições na escrita cuneiforme, incluindo contos cosmológicos, poemas
épicos, histórias de reis, registros de templos, contratos comerciais,
registros de casamentos e divórcios, tábuas astronômicas, previsões
astrológicas, fórmulas matemáticas, listas geográficas, textos escolares,
gramaticais e vocabulares, e, não inferiores aos restantes, textos
tratando dos nomes, genealogias, epítetos, feitos, poderes e deveres dos
deuses.
A língua comum que formou o elo cultural, histórico e
religioso entre a Assíria e a Babilônia foi a acádica.
Foi a primeira língua semita conhecida, semelhante, mas precedente da hebraica, da aramaica,
da fenícia e da cananita.
Mas os assírios e os babilônios não reivindicavam a invenção
da língua ou de sua escrita; de fato, muitas de suas barras têm como
post scriptum a indicação de que foram copiadas de outros originais mais
remotos.
Então, quem inventou a escrita
cuneiforme e desenvolveu a língua, a sua precisa gramática e rico
vocabulário?
Quem escreveu os "remotos
originais"?
E por que os assírios e babilônios
chamavam essa língua de acádica?
A atenção focaliza-se mais uma vez no livro do Gênesis.
"E o princípio do seu reino: Babel e Erech e Akkad." Akkad -
poderia ter existido realmente uma capital real, precedendo Babilônia e
Nínive?
As ruínas da Mesopotâmia forneceram
provas concludentes de que
outrora existiu realmente um reino com o nome de Akkad estabelecido por governantes muito
anteriores que se chamavam a si próprios sharrukin ("o íntegro
governante").
Em suas inscrições ele clamava que o seu império se alargara ("pela graça do
seu deus Enlil") desde o mar Inferior (golfo Pérsico) até ao mar Superior (que se crê ser o
Mediterrâneo).
Gabava-se de "que ao desembarcadouro de Akkad ele fizera atracar
navios" de muitas terras distantes.
Os eruditos estacaram
respeitosos: tinham alcançado um Império Mesopotâmio no 3º. milênio a.C.
Havia, no passado, um salto de uns
2.000 anos desde o Sargão assírio de Dur Sharrukin até o Sargão de Akkad.
E, no entanto, os morros que foram escavados trouxeram à luz do dia
literatura e arte, ciência e política, comércio e comunicações - uma
civilização totalmente prestes a voar do ninho, muito antes do
aparecimento da Babilônia e da Assíria.
E ainda mais, era obviamente o predecessor e a fonte das tardias civilizações
mesopotâmicas - a Assíria e a Babilônia eram apenas ramos do tronco acádico.
O mistério de uma civilização mesopotâmica tão remota tornou-se
mais profundo à medida que as inscrições registrando as realizações e
genealogia de Sargão e de Akkad foram sendo descobertas.
Elas testemunham que o título completo de Sargão era "rei
de Akkad, rei de Kish";
explicaram que antes de ele ter subido ao trono fora conselheiro dos "governantes
de Kish".
Haveria, então, perguntaram-se os
estudiosos, um reino ainda anterior, o de Kish,
que precederia o de Akkad?
Uma vez mais, os versos bíblicos ganham em significação.
E Kush criou Nimrod;
Ele era o primeiro a ser um herói na
Terra...
E o início do seu reino:
Babel e Erech e Akkad.
Muitos estudiosos especularam
que Sargão de Akkad era o bíblico Nimrod.
Se lesse "Kish" em
vez de "Kush" nos versos
bíblicos acima transcritos, pareceria que Nimrod fora de fato precedido
por Kish, como Sargão clamava.
Os estudiosos começaram, então, a aceitar literalmente o resto de
suas inscrições:
"Ele derrotou Uruk e atirou
abaixo o seu muro... foi vitorioso na batalha com os habitantes de Ur...
ele derrotou todo o território desde Lagash até alcançar o mar".
Seria
o Erech bíblico idêntico ao Uruk das inscrições de Sargão?
Como o local agora chamado Warka estava já desenterrado,
descobriu-se que era este o caso.
E o Ur a que se refere Sargão não era
outro senão o bíblico Ur, o local mesopotâmico de nascimento de Abraão.
As descobertas arqueológicas não
justificaram só os registros bíblicos; pareceu também como certo que devem ter existido reinos e cidades
e civilizações na Mesopotâmia mesmo antes do 3º. milênio a.C.
A única questão era: até quando teríamos de recuar para
descobrir o primeiro reino civilizado?
A chave que solucionaria o
quebra-cabeça seria mais uma vez linguística.
Os eruditos rapidamente concluíram que os nomes tinham significado não
só em hebreu e no Antigo Testamento, mas ao longo de todo o antigo
Oriente Médio.
Todos os nomes acádicos, babilônios e assírios de pessoas e
lugares tinham significado.
Mas os nomes de governantes que precederam Sargão de Akkad não
faziam sentido algum: o rei em cuja corte Sargão fora conselheiro chama-se Urzababa; o rei que reinara
em Erech chamava-se Lugalzagesi,
e assim por diante.
Realizando uma conferência perante a Real Sociedade Asiática,
em 1853,
Sir Henry Rawlinson salientou que estes nomes não eram nem semitas
nem indo-europeus; de fato, "eles parecem
pertencer a um grupo não conhecido de línguas ou povos".
Mas, se os nomes tinham um
significado, qual era a misteriosa língua que possuíam?
Os eruditos lançaram um novo olhar às inscrições acádias. Basicamente,
a escrita cuneiforme acádia era silábica: cada sinal representava uma
sílaba inteira (ab, ba, bat etc.).
No entanto, a escrita tornou amplo o uso de sinais que não eram
sílabas fonéticas, mas convencionavam os significados de "deus" "cidade" "campo " ou "vida", "exaltado" e semelhantes.
A única explicação possível para este fenômeno era que eles seriam
os vestígios de um método de escrita mais remota que utilizava a
pictografia.
A língua acádia, então, devia
ter sido precedida por uma outra língua que usava um método de escrita
semelhante ao dos hieróglifos egípcios.
Tornou-se rapidamente óbvio que estava envolvida não só uma remota
forma de escrita, mas também uma remota língua.
Os eruditos descobriram que as inscrições e textos acádios faziam
grande uso de palavras de empréstimo - palavras emprestadas a uma outra
língua, intactas, do mesmo modo que um francês moderno usaria a palavra
inglesa week-end.
Isto era especialmente verdadeiro quando estava envolvida uma
terminologia científica ou técnica, e também em assuntos relativos aos deuses e
aos céus.
Uma das maiores descobertas de textos
acádios foram as ruínas da biblioteca concentrada em Nínive por
Assurbanipal; Layard e seus colegas retiraram
do local 25 mil barras, muitas das quais eram descritas pelos antigos
escribas como cópias de "velhos textos".
Um grupo de 23 barras terminava com a afirmação "23ª.
barra: língua de shumer não modificada".
Outro texto comporta uma afirmação enigmática do próprio
Assurbanipal:
O deus dos escribas fez-me dádiva do
conhecimento da sua arte.
Eu fui iniciado nos segredos da escrita.
Eu posso até ler as intricadas barras em
shumério;
Eu entendo as palavras enigmáticas nas
gravações de pedra dos dias anteriores ao dilúvio.
A pretensão de Assurbanipal de que podia ler intricadas barras em "shumério" e entender as
palavras escritas em barras de "dias anteriores ao dilúvio", apenas aumentou o mistério.
Mas, em janeiro de 1869, Julles Oppert sugeriu à Sociedade
Francesa de Numismática e Arqueologia que devia ser dado
reconhecimento da existência de uma língua e de um povo pré-acádios.
Salientando que os antigos
governantes da Mesopotâmia proclamavam sua legitimidade pela tomada do
título "rei da Suméria e Akkad", ele sugeriu que o
povo se chamaria "sumério" e ao seu território "Suméria".
À exceção de ter pronunciado mal o nome - era
A Suméria não era uma terra
misteriosa e distante, mas o antigo nome da Mesopotâmia do Sul, tal como
o livro
do Gênesis tinha claramente afirmado:
"As cidades reais de Babilônia e Akkad e Erech eram na 'Terra
de Shin'ar" (Shinar era o nome bíblico de Shumer).
Uma vez aceitas estas conclusões pelos eruditos, abriram-se os diques.
As referências acádias aos “textos antigos" revestem-se de
significado, e os estudiosos depressa compreenderam que as barras com longas
colunas de palavras eram, de fato, léxicos e dicionários acádio-sumérios
preparados na Assíria e na Babilônia para seu próprio estudo da primeira linguagem
escrita, a suméria.
Sem estes dicionários de há muito tempo, estaríamos ainda longe de
ser capazes de ler o sumério.
Com sua ajuda, um vasto tesouro literário e cultural se ofereceu
aos nossos olhos.
Tornou-se também claro que a escrita suméria, originalmente pictográfica
e gravada na pedra em colunas verticais, foi depois escrita
horizontalmente e, mais tarde, estilizada para a escrita em forma de cunha em
barras lisas de argila para se tornar na escrita cuneiforme que foi
adotada pelos acádios, babilônios, assírios e outras nações do
antigo Oriente Médio.
A decifração da língua e escrita
sumérias e a percepção de que os sumérios e sua cultura eram o manancial
das realizações acádio-babilônio-assírias estimularam as pesquisas
arqueológicas na Mesopotâmia do Sul.
Todas as provas concordavam,
agora, que o princípio estava ali.
A primeira escavação
significativa de um campo sumério começou em 1877 com
arqueologistas franceses; e os achados deste único campo
foram tão numerosos que outros arqueologistas lá continuaram a escavar até
1933, sem conseguirem completar a tarefa.
Chamado pelos nativos Telloh ("monte"), o campo revelou-se
uma antiga cidade suméria, a verdadeira Lagash, de cuja conquista Sargão de Akkad
se vangloria.
Era realmente uma cidade real, cujos governantes tinham o
mesmo título que Sargão adotara, à exceção de ser em linguagem suméria:
EN.SI ("o governante íntegro").
Sua dinastia começara cerca do ano 2.900 a.C. e
durou aproximadamente 650 anos.
Durante este tempo reinaram em Lagash 43 ensi's sem interrupção.
Seus nomes, genealogias e duração de
reinado estão todos nitidamente gravados.
As inscrições forneceram muita informação útil.
Apelos aos deuses "para fazer crescer os
rebentos de grão para a colheita... para fazer a planta regada gerar
cereal" atestam a existência de agricultura e irrigação.
Uma taça inscrita em honra de
uma deusa pelo "supervisor do celeiro" indica que os cereais eram armazenados, medidos e
comercializados.
Um ensi chamado Eannatum deixou uma inscrição no tijolo de argila que torna claro que estes governantes
sumérios podiam assumir o trono apenas com o aval dos
deuses.
Registra também a conquista de outra cidade, revelando a existência de outras
cidades-estados na Suméria no início do 3º. milênio a.C.
O sucessor de Eannatum, Entemena, fala em construir um templo e de
o ornamentar com ouro e prata, de nele plantar jardins, alargar
paredes lineadas a tijolo.
Ele gaba-se de construir uma fortaleza com torres de vigia e facilidades
para a atracação de navios.
Um dos mais bem conhecidos governantes de Lagash foi Gudea.
Ele fizera um grande número de estatuetas dele próprio, todas
mostrando-o em atitude votiva, orando aos seus deuses.
Esta atitude não era falsa: Gudea tinha-se realmente devotado
à adoração de Ningirsu, sua principal deidade, e à construção e
restauração de templos.
Suas muitas inscrições revelam que, na pesquisa de raros e
delicados materiais de construção, ele extraiu ouro da África e da Anatólia, prata
das montanhas Tauro, cedros do Líbano e outras madeiras raras de Ararat,
cobre da cadeia montanhosa de Zagros, diorite do Egito, cornalina da
Etiópia e outros materiais até agora não identifIcados pelos eruditos.
Quando Moisés construiu para o Senhor Deus uma residência no
deserto, ele o fez de acordo com as detalhadíssimas instruções dadas pelo
Senhor.
Quando o rei Salomão construiu o primeiro templo em Jerusalém, fê-lo, apenas,
depois de o Senhor "lhe ter dado sapiência".
Ao profeta Ezequiel foram mostrados planos muito detalhados para o segundo templo "numa visão
divina" por "uma pessoa que tinha aparência de bronze e
que segurava na mão uma fita de linho e uma vara de medições". Ur-Nammu, governador de
Ur,descrevia num milênio anterior como
seu deus lhe ordenara que construísse para ele um templo e lhe dera
instruções apropriadas, estendendo-lhe a vara de medições e a fita de
linho enrolada para a execução da tarefa.
Mil e duzentos anos antes de Moisés, Gudea
afIrmou o mesmo.
As instruções, registrou
ele numa inscriçãomuito
longa, foram-lhe dadas numa visão.
"Um homem que brilhava como os
céus", ao lado de quem repousava."um pássaro divino", "ordenou-me
que construísse o seu templo".
Este "homem" que tinha "uma coroa em
sua cabeça" era, obviamente, um deus que foi
mais tarde identificado como sendo o deus Ningirsu.Com ele estava uma
deusa que "segurava uma agulha sagrada",
com a qual ela
indicava a Gudea "o planeta favorável".
Um terceiro homem, também ele um deus, segurava
em sua mão uma barra de preciosa pedra; "o plano de um templo estava aí contido".
Uma
das estatuetas de Gudea mostra-o sentado com esta barra nos joelhos: na barra o desenho divino pode ser claramente
visto.
Sábio como era, Gudea ficou perplexo com estas instruções arquitetônicas
e procurou o conselho de uma deusa que podia interpretar mensagens
divinas.
Ela explicou-lhe o significado destas instruções, as medidas do plano e
o tamanho e forma dos tijolos a serem usados.
Gudea, então, empregou um "advinho, fabricante de decisões", masculino, e uma "pesquisadora de segredos", feminina, para localizarem o lugar, às portas da
cidade, onde o deus desejava que seu templo fosse construído.
Recrutou depois 216 mil pessoas para o trabalho de construção.
O espanto de Gudea pode ser facilmente compreendido, porque o simples
"plano térreo"
deu-lhe a quantidade de informações
necessárias para construir um complexo zigurate elevando-se por sete andares.
Escrevendo em Der Alte Orient (O Velho Oriente),
em 1900, A. Billerbeck foi capaz de decifrar pelo menos parte das divinas
instruções arquitetônicas.
O velho plano, mesmo na estátua parcialmente danificada, é ornado no
topo por grupos de linhas verticais, cujo número diminui à medida que o espaço
entre elas aumenta.
Os arquitetos divinos, parece, eram capazes de fornecer, com um único
plano térreo, acompanhado de sete escalas variáveis, as instruções completas de
um enorme templo de sete andares.
Alguém disse que a guerra estimula o homem para o progresso científico
e material.
Na antiga Suméria, ao que parece, a construção de templos incitou o
povo e seus governantes para maiores realizações tecnológicas.
A capacidade de levar a cabo trabalhos de construção de grande
envergadura, de acordo com planos arquitetônicos preparados, de organizar
e sustentar uma gigantesca força de trabalho, de aplanar terra e erguer
morros, de moldar tijolo e o transportar, de trazer metais raros e outros
materiais de longe, de fundir o metal e moldar utensílios e ornamentos - tudo isto fala de
uma alta civilização, já em plena maturidade no 3º. milênio a.C.
Magistrais como eram os mais remotos templos sumérios,
eles representavam, ainda assim, apenas o topo do iceberg que é a extensão
e riqueza das realizações materiais alcançadas pela primeira grande
civilização conhecida pelo homem.
Juntando-se à invenção e desenvolvimento da escrita, sem a qual uma tão alta civilização não
poderia ter existido, devemos conceder também aos sumérios o crédito de terem
inventado a imprensa.
Milênios antes de Johann Gutenberg ter "inventado" a
imprensa pelo uso de tipos móveis, os escribas sumérios usavam tipos já
feitos dos vários signos pictográficos, que utilizavam como nós hoje
usamos os carimbos de borracha, para imprimir a seqüência desejada de
signos na argila úmida.
Eles inventaram também aquilo que se pode considerar o
precursor de nossas prensas rotativas -o selo cilíndrico.
Feito de uma pedra excepcionalmente dura, este consistia de um
pequeno cilindro no qual a mensagem ou desenho fora gravado ao contrário;
sempre que o selo era rolado na argila úmida, a impressão criava uma cópia
"positiva" na
argila.
O selo dava também a possibilidade de assegurar a autenticidade dos
documentos - no mesmo momento, podia ser feita uma nova impressão para ser
comparada com a gravada no documento.
Muitos registros escritos sumérios e
mesopotâmicos não diziam respeito, necessariamente, com o divino ou com o
espiritual.
Neles se falava também de tarefas do cotidiano, tais como registro
de colheitas, medição de campos e cálculos de preços.
Na verdade, nenhuma alta civilização podia ter sido possível sem um
avançado sistema de matemáticas paralelo.
O sistema sumério, chamado
sexagesimal, combinava um 10 mundano
com um 6 "celestial" para obter o número de base 60.
Este sistema é, em certos aspectos, superior ao nosso atual; de qualquer modo, ele é,
indubitavelmente, superior aos posteriores sistemas grego e romano.
Deu aos sumérios a possibilidade de dividir em frações e
multiplicar em milhões, para calcular raízes ou elevar números várias
vezes.
Este foi não só o primeiro sistema matemático conhecido, como também aquele que nos deu o conceito
de "posição".
Tal como no sistema decimal o 2 pode ser ou 20 ou 200, dependendo
do lugar do dígito, assim também no
sistema sumério o 2 significa 2 ou 120 (2x60), e por aí adiante,
dependendo da "posição".
O círculo de 360°, o pé e suas 12 polegadas e a "dúzia" como uma unidade não são mais do que alguns exemplos dos vestígios das
matemáticas sumérias ainda presentes em nossa vida diária.
Suas realizações concomitantes em astronomia, o estabelecimento de
um calendário e outros feitos matemático-celestiais serão estudados com
maior pormenor nos capítulos seguintes.
Tal como o nosso sistema econômico-social - os nossos livros de tribunal
e registros de taxas, contratos comerciais e certidões de casamento etc.
- depende do papel, a vida na Suméria e Mesopotâmia dependia da argila.
Templos, tribunais e casas de comércio tinham os seus escribas prontos
com barras de argila úmida na mão, nas quais inscreviam decisões, acordos,
cartas ou se calculavam preços, salários, a área de um campo ou o número
de tijolos
requeridos para uma construção.
A argila era também uma matéria-prima
fundamental para a
manufatura de objetos de uso diário e recipientes para armazenagem e
transporte de gêneros.
Era também usada para fazer tijolo - outra invenção suméria -, o que
tornou possível erigir casas para o povo, palácios para os reis e
imponentes templos para os deuses.
Concede-se aos sumérios o crédito de terem desencadeado dois
avanços tecnológicos que tornaram possível combinar leveza com força
tênsil para todos os produtos de argila, reforçando e cozendo esse
material.
Os arquitetos modernos descobriram
que o concreto armado reforçado,
um material de construção extremamente forte, pode ser criado pela junção
de cimento a moldes contendo varas de ferro.
Há muito tempo, os sumérios davam grande força aos seus tijolos misturando a argila
úmida com pedaços de junco cortados ou palha.
Sabiam também que aos produtos de argila podia ser dada força
tênsil e durabilidade cozendo-os num forno.
Os primeiros arranha-céus e vãos em arco do mundo, assim como os
duráveis utensílios de cerâmica, foram possíveis devido a estes avanços
tecnológicos.
A invenção do forno - uma fornalha na qual temperaturas intensas,
mas controláveis, podiam ser obtidas sem risco de contaminação dos
produtos com cinzas - tornou possível um avanço tecnológico ainda maior -
a Idade dos Metais.
Concluiu-se que o homem descobriu que podia trabalhar “pedras moles" - pepitas
de ouro, cobre e compostos de prata ocorrendo naturalmente - em formas úteis ou agradáveis, em
algum lugar por volta do ano 6.000 a.C.
Os primeiros artefatos de metal batido foram encontrados nas terras
altas dos montes Zagros e Tauros. Todavia, como salientou R. J. Forbes
(The Birthplace of Old World Metallurgy) [O Berço da Velha
Metalurgia Mundial],"no antigo Oriente Médio,
a provisão natural de cobre foi rapidamente esgotada, e os mineiros tiveram de
voltar ao minério bruto".
Isto requereu conhecimento e capacidade para encontrar e extrair os
minérios, esmagá-los e depois fundi-los e refiná-los - processos que não
poderiam ter sido levados a bom termo sem os
fornos de fundição e uma tecnologia generalizadamente avançada.
A arte da metalurgia depressa englobou a capacidade de ligar o cobre
com outros metais inferiores, resultando daí o metal dificilmente
fundível, mas maleável, a que chamamos bronze.
A Idade do Bronze,nossa primeira idade metalúrgica, foi também
uma contribuição mesopotâmica para a civilização moderna.
Muito do antigo comércio era dedicado ao tráfico de metais;
assim se formou a base de desenvolvimento na Mesopotâmia de bancos e do primeiro
dinheiro - o shekel ("lingote de peso") de prata.
As muitas variedades de metais e ligas para
os quais foram encontrados nomes sumérios e acádios e a extensa terminologia tecnológica atestam o alto nível que a metalurgia alcançara na Mesopotâmia. Por
um momento, isto confundiu os estudiosos, porque a Suméria, como tal, era desprovida de minérios de
metal e,no entanto, a metalurgia começou aí, em termos quase definitivos.
A resposta é a energia. A mistura, refinação e liga, assim como a
fundição, não podiam ser feitas sem uma ampla provisão de combustíveis
para ativar os fornos, cadinhos e fornalhas.
À Mesopotâmia podem ter faltado os minérios, mas combustíveis ela os
teve em abundância, o que explica o grande
número de artes remotas inscrições descrevendo a viagem de minérios de metal vindos de muito longe.
Os combustíveis que tornaram a
Suméria suprema, em termos de
tecnologia, foram os betumes e os asfaltos, produtos petrolíferos que se
infiltraram naturalmente para a superfície em muitos lugares da
Mesopotâmia. R. J. Forbes (Bitumen and Petroleum in Antiquity) [Betumes e
Petróleo na
Antiguidade] mostra que os depósitos de
superfície da Mesopotâmia foram as antigas fontes primárias de combustível
desde os mais remotos tempos até
a era romana.
Sua conclusão diz-nos que o uso tecnológico destes
produtos começou na Suméria por volta do ano 3.500 a.C.; na verdade, ele mostra que o uso e
conhecimento dos combustíveis e suas propriedades são maiores nos tempos
da Suméria do que nas civilizações mais tardias.
O uso destes produtos petrolíferos
pelos sumérios foi tão amplo - não
apenas como combustível, mas também como material de construção de
estradas, para impermeabilização,
calafetagem, pintura, esmaltagem e
moldagem - que, quando os arqueólogos pesquisavam
a antiga Ur, encontraram esses produtos enterrados num morro a que os árabes nativos chamam "Morro do Betume".
Forbes mostra que a língua suméria tem vocábulos para
cada gênero e variedade das substâncias betuminosas encontradas
na Mesopotâmia.
Na verdade, os nomes dos materiais betuminosos e petrolíferos
noutras línguas - acádia, hebraica,
egípcia, copta, grega, latina e sânscrita - podem ser decompostos
até as origens sumérias; por exemplo, a palavra mais comum para petróleo - nafta - deriva de
napatu ("pedras que cintilam").
O uso sumério dos produtos de petróleo era também básico para uma química avançada. Podemos avaliar o alto nível de conhecimento sumério não apenas pela variedade de tintas e corantes
usados e processos como a esmaltagem, como também pela notável produção artificial de pedras
semi-preciosas, incluindo um substituto do lápis-lazúli.
Os betumes eram também utilizados na medicina suméria, outro campo onde os níveis de progresso
foram impressionantemente altos.
As centenas de textos acádios encontrados empregam muitas frases e
termos médicos sumérios, salientando a origem suméria de toda a medicina
mesopotâmica.
A biblioteca de Assurbanipal em Nínive inclui uma seção médica.
Os textos estavam divididos em três grupos - bultibu ("terapia"), shipir bel
imti ("cirurgia") e urti mashmashshe ("ordens e
encantamentos"). Primitivos códigos
de leis incluem seções tratando dos
salários pagos a cirurgiões por operações bem-sucedidas e penalidades a eles impostas em caso de fracasso: um cirurgião
utilizando a lanceta para abrir a fronte de um paciente poderia perder a
mão se, ainda que acidentalmente, destruísse a vista do doente.
Alguns esqueletos descobertos nos
túmulos mesopotâmicos possuem indesmentíveis marcas de cirurgia
craniana.
Um texto médico incompleto parcialmente fala da remoção
cirúrgica de "uma sombra cobrindo um
olho de homem", provavelmente uma catarata; outro texto menciona o uso de
um instrumento cortante,afirmando que "se a doença tivesse alcançado o interior do osso, o melhor
seria raspar e retirar".
Nos tempos da Suméria, os doentes podiam escolher entre um A.ZU ("médico de água") e um IA.ZU ("médico de óleo").
Uma barra desenterrada em Ur, com quase 5.000 anos, nomeia um praticante de Medicina como "Lulu, o doutor".
Havia também veterinários - conhecidos quer
como "doutores de bois", quer como "doutores de
asnos".
Um par de pinças cirúrgicas está descrito num cilindro
muito antigo encontrado em Lagash e pertencendo a "Urlugaledina, o doutor"
O selo mostra também a serpente
numa árvore - o símbolo da medicina até hoje.
Um instrumento que era usado pelas mulheres parteiras para cortar, o
cordão umbilical aparece também
freqüentemente descrito.
Os textos médicos da Suméria tratam ainda de diagnósticos e
receituário.
Não deixam dúvidas de que os médicos sumérios não recorriam à
magia ou bruxaria.
Eles recomendavam limpeza e lavagem; banhos de imersão em água quente e
soluções minerais;
aplicação de derivados vegetais,
massagens com compostos de petróleo.
Os medicamentos eram feitos de
compostos de plantas e minerais e eram misturados com líquidos ou solventes apropriados ao método de aplicação. Se tomados
oralmente, os pós eram misturados no vinho, cerveja ou mel; se "colocados
através do reto" - administrados num clister -, eram ministrados com óleos de plantas ou vegetais.
O álcool, que atua de maneira
tão importante na desinfecção cirúrgica e como base de muitos medicamentos, alcançou nossas línguas através do arábico kohl e do acádio kuhlu.
Modelos de fígado mostram que a medicina era ensinada em escolas médicas com a ajuda de modelos de órgãos humanos feitos de
argila.
A anatomia deve ter sido uma avançada ciência,
uma vez que os rituais do templo reclamavam elaboradas
dissecações ou sacrifícios de animais, o que, se compararmos com nosso conhecimento atual da anatomia
humana, significa apenas um mero passo atrás.
Várias descrições em selos cilíndricos ou barras de argila
mostram pessoas estendidas
numa espécie de mesa cirúrgica rodeadas por equipes de deuses ou pessoas.
Sabemos a partir das epopeias e outros textos heroicos que
os sumérios e seus sucessores na Mesopotâmia estavam preocupados
com assuntos relativos à vida, doença e morte.
Homens como Gilgamesh, um rei de Erech, procuraram a "Árvore da Vida",
ou então algum mineral ("uma pedra") que pudesse dar a juventude eterna.
Havia também referências a esforços para ressuscitar os mortos, especialmente se se tratasse de deuses:
Por sobre o corpo, dependurado do mastro, eles conduziam o pulso e a radiação.
Sessenta vezes a Água da Vida,
Sessenta vezes o Alimento da Vida,
Eles aspergiam por sobre o corpo;
E Inanna ergueu-se.
Seriam conhecidos e usados métodos
ultra-modernos, sobre os quais apenas podemos especular, nessas tentativas de retorno à vida?
Por uma cena de tratamento clínico descrita num selo
cilíndrico datado dos primórdios da civilização suméria podemos pensar que
no tratamento de algumas enfermidades eram já conhecidos e usados materiais
radioativos.
Esse selo mostra, sem sombra de dúvida, um homem deitado num leito
especial, sua face está protegida por uma máscara e ele se sujeita a um
tipo qualquer de radiação.
Uma das mais remotas realizações materiais sumérias foi o
desenvolvimento das indústrias têxteis e de vestuário.
Considera-se que nossa própria Revolução Industrial começou com a introdução de
máquinas de fiar e tecer na Inglaterra por volta de 1760.
Muitas nações em vias de desenvolvimento aspiram,
desde então, a desenvolver uma indústria têxtil como o primeiro
passo em direção à industrialização.
A evidência mostra que este foi o processo seguido não só desde o
século 18, mas desde sempre, desde a primeira grande civilização do homem.
O homem não podia ter feito tecidos antes do advento da
agricultura que lhe proporcionou o linho e a domesticação de animais,
criando uma fonte para a lã.
Grace M. Crowfoot (Textiles,
Basketry and Mats in Antiquity) [Têxteis, Cestaria e Esteiras na
Antiguidade] expressa o consenso
escolástico afirmando que a tecelagem têxtil apareceu primeiro
na Mesopotâmia, cerca do ano 3.800 a.C.
Todavia, a Suméria foi renovada nos tempos antigos não apenas pelos seus tecidos, como
também pelos seus trajes.
O livro de Josué (7:21) relata que, durante o assalto a Jericó, certa
pessoa não resistiu à tentação de "guardar" um
"bom casaco de Shin'ar", que
encontrara na cidade, embora a punição para tal delito fosse a morte.
Os artigos de vestuário de Shinar (Suméria) eram tidos em tão alta conta que as pessoas se arriscavam
a morrer para os possuírem.
Existia já na Suméria uma rica terminologia para descrever
tanto o vestuário, como seus fabricantes. A peça da base do vestuário
chamava-se TUG - sem dúvida alguma, o precursor tanto no estilo como no nome da toga romana.
Estas roupas eram chamadas TUG.TU.SHE., o que significa em sumério "veste que se usa enrolada à volta".
As antigas representações revelam não só uma
espantosa variedade e opulência em termos de vestuário,
como falam também da elegância para a qual
concorriam o bom gosto, a coordenação entre as peças de vestuário,
os penteados, os toucados e as jóias.
Outra grande realização da Suméria foi sua agricultura.
Num território de chuvas apenas de estação, todos os rios eram
usados para regar durante todo o ano as colheitas através de um vasto sistema de
canais de irrigação.
A Mesopotâmia - a Terra
Entre-os-Rios - era um verdadeiro cesto
de comida nesses tempos
remotos.
O damasqueiro - para o qual a palavra espanhola é damasco ("Árvore de Damasco") - tem o nome latino de armeniaca, uma palavra
de empréstimo do termo acádio armanu.
A cereja - kerasos em grego, kirsche em alemão
- deriva da palavra acádia
karshu. Todas as provas sugerem que estes e outros frutos e vegetais
chegaram à Europa vindos da Mesopotâmia.
O mesmo se passou com muitas sementes e condimentos especiais.
A nossa palavra açafrão vem do termo acádio azupiranu; o
crocus, de kurkanu (através do grego krokos); cominho vem de kamanu; hissopo, de zupu; mirra, de
murru.
A lista é longa: em muitas circunstâncias, os gregos forneceram a
ponte física e etimológica pela qual estes produtos da terra alcançaram a
Europa. Cebolas, lentilhas, feijões, pepinos, couves e alfaces eram ingredientes vulgares no regime
alimentar sumério.
O que é igualmente impressionante é a extensão e variedade dos métodos
de preparação da comida na antiga Mesopotâmia, ou seja, sua cozinha.
Textos e gravuras confirmam que os sumérios sabiam como transformar
em farinha os cereais que cultivavam, e dos quais
faziam uma série de pães, flocos, pastéis, bolos e biscoitos levedados e não-levedados.
A cevada era também fermentada com vista a produzir cerveja.
Foram encontrados, entre os textos, manuais técnicos para a produção de
cerveja.
O vinho era obtido a partir
de uvas e tâmaras. O leite estava ao dispor dos sumérios, vindo das
ovelhas, cabras e vacas; era
usado como bebida, para cozinhar, e convertido em iogurte, manteiga,
creme e queijos.
O peixe era um elemento comum
da dieta.
A carne de carneiro era já usada e a carne de porco, animal que os sumérios guardavam em grandes
rebanhos, era considerada uma verdadeira delícia. Gansos e patos devem ter sido reservados, talvez, para
a mesa dos deuses.
Os antigos textos não deixam dúvidas de que a alta cozinha antiga Mesopotâmia se desenvolveu nos templos
e no serviço aos deuses.
Um texto recomenda a oferta aos deuses de "pães
de cevada... pães de trigo; uma pasta de mel e creme; tâmaras, pastéis...
cerveja, vinho, leite... seiva de cedro, creme". A carne assada era oferecida com libações de "ótima cerveja, vinho e leite".
Um corte específico de boi era preparado de acordo com
determinado recipiente, exigindo uma "boa farinha... feita em
pasta com água, boa cerveja e vinho" e misturada com gorduras animais, "ingredientes
aromáticos tirados do coração das plantas", nozes, malte e condimentos.
As instruções para "o sacrifício diário aos deuses da cidade
de Uruk" exigiam que fossem servidas cinco bebidas diferentes com a
refeição e especificavam o que os "moleiros na cozinha" e o "chefe
que trabalhava nas massas" deviam fazer.
A nossa admiração pela cozinha suméria aumenta, certamente, à medida
que deparamos com poemas que cantam as delícias da boa mesa.
Na verdade, o que podemos nós dizer quando lemos num
recipiente milenar para o coq au vin (galo no vinho) a seguinte inscrição:
No vinho da bebida,
Na perfumada água,
No óleo da unção,
Foi este pássaro por mim cozinhado e comido.
Esta economia florescente, esta sociedade de tão extensas empresas
materiais não se poderiam ter desenvolvido sem um eficiente sistema
de transportes.
Os sumérios usaram os seus dois grandes rios e a rede artificial de
canais para o transporte fluvial de pessoas, bens e gado.
Algumas das mais antigas representações mostram,
indubitavelmente, o que eram os primeiros barcos mundiais.
Sabemos a partir de muitos textos antigos que os sumérios se
ocuparam também com viagens no mar alto, usando uma variedade de
barcos para alcançar terras longínquas na busca de metais, madeiras raras,
pedras e outros materiais impossíveis
de obter dentro do espaço físico da Suméria.
Descobriu-se num dicionário acádio da língua suméria uma seção de navios onde se listam 105 vocábulos sumérios para vários barcos de
acordo com seu tamanho, destino ou objetivo (para carga, para passageiros
ou para uso exclusivo de certos bens).
Outros 69 termos sumérios relacionados com o equipamento e a
construção de navios foram traduzidos para acádio.
Só uma longa tradição náutica podia ter produzido navios de tal
forma especializados e tal terminologia técnica.
Para o transporte pelo território, foi a Suméria a primeira a usar a roda.
Sua invenção e introdução na vida diária tornou possível uma quantidade
de veículos desde carroças a carruagens e concedeu, indubitavelmente,
aos sumérios a distinção de terem sido os primeiros a usar tanto a "força do boi" como a "força do cavalo" para a locomoção.
Em 1956, o prof. Samuel N. Kramer, um dos grandes sumeriologistas do nosso
tempo, reviu o legado literário
encontrado sob os montes da Suméria.
O índice do conteúdo do livro (From the Tablets of Summer) [Das
Barras da Suméria] é uma autêntica jóia, uma vez
que cada um dos 25 capítulos relata uma estréia suméria, incluindo as primeiras escolas,
o primeiro congresso com duas assembléias, o primeiro historiador, a
primeira farmacopéia, o primeiro "almanaque" do agricultor, a primeira cosmogonia e
cosmologia, o primeiro "Jó", os primeiros provérbios e
ditos, os primeiros debates literários, o primeiro
"Noé", o primeiro catálogo de biblioteca e a primeira Idade Heróica
do Homem, seus primeiros códigos de leis e reformas sociais, sua primeira
medicina, agricultura e pesquisa para a paz e harmonia universais.
E nada disto é exagero.
As primeiras escolas foram
estabelecidas na Suméria como uma conseqüência
direta da invenção e introdução da escrita.
A evidência (tanto arqueológica, manifesta em reais edifícios escolares, como
escrita, manifesta em barras de exercícios) indica a existência de um sistema formal de educação por
volta do início do 3º. milênio a.C.
Havia literalmente milhares de escribas na Suméria, que englobavam
desde escribas júniores a altos escribas, escribas reais, escribas dos
templos e escribas que assumiam altos cargos oficiais.
Alguns atuavam como professores nas escolas, e ainda hoje podemos
ler seus ensaios nas escolas, seus ideais e objetivos, seu currículo e
métodos de ensino.
As escolas ensinavam não só a ler e a escrever, mas também as
ciências da época - botânica, zoologia, geografia, matemática e
teologia.
As obras literárias do
passado eram estudadas e copiadas e outras novas eram compostas. As
escolas eram dirigidas pelos ummia ("professor perito") e a faculdade, invariavelmente, incluía não só um "homem encarregado do desenho” e um "homem encarregado do
sumério", mas também um "homem
encarregado do chicote".
Aparentemente, a disciplina era estrita; o aluno de uma
escola descreveu numa barra de argila o modo como fora açoitado por faltar
à escola, por insuficiente asseio, por vadiar, por não estar em silêncio,
por mau comportamento e até por não ter uma caligrafia nítida.
Um poema épico tratando da história de Erech diz diretamente respeito à rivalidade entre Erech e a cidade-estado
de Kish.
O texto épico relata como os enviados de Kish procederam com Erech,
oferecendo um acordo pacífico para a sua disputa.
Mas o governante de Erech naquele tempo, Gilgamesh, preferiu
lutar a negociar.
O que é interessante é que ele teve de sujeitar o assunto à votação
na Assembléia de Anciões, o "Parlamento" local:
O Senhor Gilgamesh, Antes que os Anciões de sua cidade colocassem o
assunto
Procurou a decisão:
Não nos submetamos à casa de Kish,
Derrotemo-los pelas armas.
A Assembléia de Anciões era, no entanto, pelas negociações.
Intrépido, Gilgamesh levou o assunto à consideração dos mais jovens, a
Assembléia dos Homens Lutadores, que votou pela guerra.
O significado da narrativa reside na descoberta que um governante sumério
tinha de submeter questões de guerra ou de paz ao primeiro Parlamento de
duas Assembleias, há cerca de 5.000 anos.
O título de primeiro historiador foi concedido por Kramer a Entemena,
rei de Lagash, que gravou em cilindros de argila sua guerra com o vizinho
Umma.
Enquanto outros textos eram obras literárias ou poemas épicos, cujos
temas eram acontecimentos históricos, as inscrições de Entemena eram pura
prosa, escrita somente como registro factual de história.
Devido ao fato das inscrições da Assíria
e da Babilônia terem sido decifradas muito antes dos registros sumérios, acreditou-se durante muito tempo que
o segundo código de leis foi compilado e decretado pelo rei
babilônico Hamurabi, cerca do ano 1.900 a.C.
Mas como a civilização suméria não fora descoberta, tornou-se claro
que as "estreias" no tocante a sistemas de leis, conceitos de
ordem social e pura justiça administrativa pertenciam à Suméria.
Bastante antes de Hamurabi, um governante sumério da cidade-estado de Eshnunna (a nordeste da Babilônia) codificou leis que fixam os preços máximos dos
alimentos e dos aluguéis de compartimentos e barcos para que os pobres não
fossem explorados.
Havia também leis tratando das ofensas contra
pessoas e propriedades e regulamentos pertencentes à vida familiar e a relações
senhor-servidor.
Ainda anteriormente foi
promulgado um código por Lipit-Ishtar,
um governante de Isin.
As 38 leis que continuam legíveis na
barra parcialmente preservada (uma cópia do original que foi
gravada numa estela de pedra) legislam a compra
de propriedades, escravos, trabalho de criados, matrimônios e heranças, aluguel
de barcos, aluguel de bois e falta de pagamento de impostos.
Como foi feito por Hamurabi, depois dele, Lipit--Ishtar explicou no
prólogo de seu código que agia segundo instruções dos "grandes deuses", que lhe ordenaram que trouxesse "o bem-estar aos
sumérios e aos acádios".
No entanto, nem Lipit-Ishtar
foi o primeiro codificador de leis.
Os fragmentos de barras de argila que foram encontrados contêm
cópias de leis codificadas por Urnammu, um governante de Ur, cerca do ano
2.350 a.C. - mais de um milênio e meio antes de Hamurabi.
As leis decretadas sobre a autoridade do deus Nannar eram projetadas
para parar e punir "os que se apoderavam dos bois, ovelhas e
burros dos cidadãos" com o
fim "de que os órfãos não caíssem nas garras dos abastados, os
fracos não fossem presa fácil dos poderosos, o homem de um shekel não
caísse nas mãos do homem de sessenta shekels".
Urnammu decretou também "pesos e medidas honestos
e constantes".
Mas o sistema legal sumério e o reforço da justiça remontam a tempos
ainda mais longínquos. Por volta do ano 2.600 a.C.já deviam ter tido lugar tantos acontecimentos
na Suméria que o ensi Urukagina julgou necessário instituir
reformas.
Uma longa inscrição sua foi chamada pelos eruditos de registro precioso
de uma reforma social humana baseada no sentido da liberdade,
igualdade e justiça -uma "Revolução Francesa" imposta por um rei
4.400 anos antes de 14 de julho de 1789.
O decreto-reforma de Urukagina lista primeiro os males de seu tempo
e depois as reformas.
Os males consistem basicamente no uso injusto de poderes por parte
dos supervisores no sentido de guardarem para eles a melhor parte; o abuso de
status oficial; a extorsão de altos preços por grupos monopolizantes.
Todas estas injustiças, e muitas mais, foram proibidas por
decreto-reforma.
Um oficial já não podia fazer seu próprio preço para "um
bom burro ou uma casa".
Um "homem grande" não podia exercer coerção num cidadão comum.
Os direitos dos cegos, dos pobres, dos viúvos e dos órfãos foram restabelecidos.
À mulher divorciada, há quase 5.000 anos, era garantida
a proteção da lei.
Durante quanto tempo teria a civilização
suméria existido para requerer uma reforma de base?
Com certeza, durante muito tempo, uma vez que Urukagina afirmava que
fora o seu deus Ningirsu quem o chamara "para restaurar
os decretos dos dias de outrora".
A implicação é nítida: era preciso um retorno a sistemas ainda mais
antigos e a leis ainda mais remotas.
As leis sumérias eram sustentadas por um sistema de
tribunais nos quais tanto os processos como os julgamentos ou os contratos eram meticulosamente registrados e
preservados.
A justiça agia mais com jurados do que com juízes; um tribunal era normalmente constituído por três ou quatro
juízes, um dos quais era um "juiz
real" profissional e os outros destacados de um júri de 36
homens.
Enquanto os babilônios faziam leis e
regulamentos os sumérios estavam preocupados com a justiça, porque eles acreditavam que os
deuses designavam os reis, basicamente, para assegurar o cumprimento da
justiça na Terra.
Mais que um paralelo pode ser aqui traçado com os conceitos
de justiça e moralidade do Antigo Testamento.
Ainda antes de os hebreus terem reis, eram governados por juízes; os reis eram
julgados não pelas suas conquistas ou
riqueza, mas pelo alcance que obtinham "fazendo aquilo que era
justo".
Na religião judaica, o ano-novo marca um período de dez dias durante os quais
os feitos dos homens eram julgados e avaliados para determinar seu destino no
ano vindouro.
É, provavelmente, mais que uma coincidência que os sumérios acreditassem que uma deidade chamada
Nanshe julgasse anualmente a
humanidade da mesma maneira; afinal, o primeiro patriarca hebreu - Abraão -era da cidade suméria de Ur, a cidade de Urnammu e de seu código.
A preocupação suméria com a justiça ou com sua ausência
encontrou também expressão naquele a que Kramer chamou o primeiro
"Jó".
Jogando com fragmentos de barras de argila no Museu de Antiguidades, em
Istambul, Kramer foi capaz de ler boa parte de um poema sumério que, tal como o
livro bíblico de Jó, trata da queixa de um homem
justo que, em vez de ser abençoado pelos deuses, sofria toda a espécie de
perdas e desrespeitos.
"A minha palavra
verdadeira foi tornada numa mentira", grita ele angustiado.
Em sua segunda parte, o anônimo sofredor dirige súplicas ao seu deus
de uma maneira semelhante a alguns versos dos salmos hebreus:
Meu deus, tu que és o meu pai, que me criaste - ergue a minha face...
Até quando me negligenciarás...
Me deixarás desprotegido...
E
sem orientação?
Segue-se depois um fim feliz.
"As palavras justas, as palavras puras proferidas por ele,
foram aceitas pelo seu deus... o seu deus retirou a sua mão da malfazeja
manifestação." .
Precedendo o livro
bíblico do Eclesiastes em cerca de dois milênios,
os provérbios
sumérios transmitiam muitos dos
mesmos conceitos e graças:
Se estamos condenados a morrer - gozemos o tempo.
Se vivermos muito - salvemo-nos.
Quando um homem pobre morre, não o tentes fazer voltar à vida.
Ele que possui tanta prata, pode ser feliz;
Ele que possui tanta cevada, pode ser feliz;
Mas quem não tem nada, pode dormir!
Homem: para o seu prazer: casamento;
Se volta a pensar nisso: divórcio.
Não é o coração que leva à animosidade;
A língua é que leva à aversão.
Numa cidade sem cão de guarda,
A raposa é quem vê tudo.
As realizações materiais e espirituais da civilização suméria foram
também acompanhadas por um amplo desenvolvimento do desempenho artístico.
Uma equipe de estudiosos da Universidade
da Califórnia, em Berkeley,
foi notícia em março de 1974, quando anunciou que fora decifrada a mais
velha canção do mundo.
O que os profs. Richard L. Crocker,
Anne D. Kilmer e Robert R. Brown conseguiram foi ler e tocar realmente as notas musicais escritas
numa barra cuneiforme de cerca do ano 1.800 a.C. encontrada em Ugarit na costa
mediterrânea (Síria).
"Sempre soubemos", explica a equipe de Berkeley,
"que havia música nas remotas civilizações assírio-babilônias, mas
até à sua decifração não podíamos saber que tinha a mesma escala
heptatônica-diatônica, que é característica da música ocidental
contemporânea e da música grega do 1º. milênio a.C. Pensou-se até há pouco
que a música ocidental tivera suas origens na Grécia; agora foi
estabelecido que a nossa música - como
tantos elementos mais de nossa civilização ocidental - nasceu na
Mesopotâmia.
Isto não deve surpreender, uma vez que o erudito Filo tinha já
afirmado que os mesopotâmios eram conhecidos por "procurarem a
harmonia e o uníssono através dos tons musicais".
Não pode haver dúvida de que música e canções devem também
ser reclamadas como "estréias" sumérias.
De fato, o prof.
Crocker apenas pôde tocar a
velha melodia construindo uma lira como as que foram encontradas nas
ruínas de Ur. Textos do 2º. milênio a.C.indicam a existência de "números-chave" musicais e de uma coerente teoria musical, e a própria
profa.
Kilmer escreveu ainda anteriormente (The Strings of Musical Instruments: Their
Names, Numbers and Significance) [As Cordas de Instrumentos
Musicais: Seus Nomes, Números e Significado] que muitos textos-hinos sumérios tinham "aquilo que parecia
ser anotações musicais nas margens".
"Os sumérios tinham uma vida
muito musical", conclui ela.
Não admira, então, que encontremos gravados em selos cilíndricos e
barras de argila uma grande variedade de instrumentos musicais, assim como
cantores e dançarinas atuando.
Em 1956, o prof. Samuel N. Kramer, um dos grandes sumeriologistas do nosso
tempo, reviu o legado literário
encontrado sob os montes da Suméria.
O índice do conteúdo do livro (From the Tablets of Summer) [Das
Barras da Suméria] é uma autêntica jóia, uma vez
que cada um dos 25 capítulos relata uma estréia suméria, incluindo as primeiras escolas,
o primeiro congresso com duas assembléias, o primeiro historiador, a
primeira farmacopéia, o primeiro "almanaque" do agricultor, a primeira cosmogonia e
cosmologia, o primeiro "Jó", os primeiros provérbios e
ditos, os primeiros debates literários, o primeiro
"Noé", o primeiro catálogo de biblioteca e a primeira Idade Heróica
do Homem, seus primeiros códigos de leis e reformas sociais, sua primeira
medicina, agricultura e pesquisa para a paz e harmonia universais.
E nada disto é exagero.
As primeiras escolas foram
estabelecidas na Suméria como uma conseqüência
direta da invenção e introdução da escrita.
A evidência (tanto arqueológica, manifesta em reais edifícios escolares, como
escrita, manifesta em barras de exercícios) indica a existência de um sistema formal de educação por
volta do início do 3º. milênio a.C.
Havia literalmente milhares de escribas na Suméria, que englobavam
desde escribas júniores a altos escribas, escribas reais, escribas dos
templos e escribas que assumiam altos cargos oficiais.
Alguns atuavam como professores nas escolas, e ainda hoje podemos
ler seus ensaios nas escolas, seus ideais e objetivos, seu currículo e
métodos de ensino.
As escolas ensinavam não só a ler e a escrever, mas também as
ciências da época - botânica, zoologia, geografia, matemática e
teologia.
As obras literárias do
passado eram estudadas e copiadas e outras novas eram compostas. As
escolas eram dirigidas pelos ummia ("professor perito") e a faculdade, invariavelmente, incluía não só um "homem encarregado do desenho” e um "homem encarregado do
sumério", mas também um "homem
encarregado do chicote".
Aparentemente, a disciplina era estrita; o aluno de uma
escola descreveu numa barra de argila o modo como fora açoitado por faltar
à escola, por insuficiente asseio, por vadiar, por não estar em silêncio,
por mau comportamento e até por não ter uma caligrafia nítida.
Um poema épico tratando da história de Erech diz diretamente respeito à rivalidade entre Erech e a cidade-estado
de Kish.
O texto épico relata como os enviados de Kish procederam com Erech,
oferecendo um acordo pacífico para a sua disputa.
Mas o governante de Erech naquele tempo, Gilgamesh, preferiu
lutar a negociar.
O que é interessante é que ele teve de sujeitar o assunto à votação
na Assembléia de Anciões, o "Parlamento" local:
O Senhor Gilgamesh, Antes que os Anciões de sua cidade colocassem o
assunto
Procurou a decisão:
Não nos submetamos à casa de Kish,
Derrotemo-los pelas armas.
A Assembléia de Anciões era, no entanto, pelas negociações.
Intrépido, Gilgamesh levou o assunto à consideração dos mais jovens, a
Assembléia dos Homens Lutadores, que votou pela guerra.
O significado da narrativa reside na descoberta que um governante sumério
tinha de submeter questões de guerra ou de paz ao primeiro Parlamento de
duas Assembleias, há cerca de 5.000 anos.
O título de primeiro historiador foi concedido por Kramer a Entemena,
rei de Lagash, que gravou em cilindros de argila sua guerra com o vizinho
Umma.
Enquanto outros textos eram obras literárias ou poemas épicos, cujos
temas eram acontecimentos históricos, as inscrições de Entemena eram pura
prosa, escrita somente como registro factual de história.
Devido ao fato das inscrições da Assíria
e da Babilônia terem sido decifradas muito antes dos registros sumérios, acreditou-se durante muito tempo que
o segundo código de leis foi compilado e decretado pelo rei
babilônico Hamurabi, cerca do ano 1.900 a.C.
Mas como a civilização suméria não fora descoberta, tornou-se claro
que as "estreias" no tocante a sistemas de leis, conceitos de
ordem social e pura justiça administrativa pertenciam à Suméria.
Bastante antes de Hamurabi, um governante sumério da cidade-estado de Eshnunna (a nordeste da Babilônia) codificou leis que fixam os preços máximos dos
alimentos e dos aluguéis de compartimentos e barcos para que os pobres não
fossem explorados.
Havia também leis tratando das ofensas contra
pessoas e propriedades e regulamentos pertencentes à vida familiar e a relações
senhor-servidor.
Ainda anteriormente foi
promulgado um código por Lipit-Ishtar,
um governante de Isin.
As 38 leis que continuam legíveis na
barra parcialmente preservada (uma cópia do original que foi
gravada numa estela de pedra) legislam a compra
de propriedades, escravos, trabalho de criados, matrimônios e heranças, aluguel
de barcos, aluguel de bois e falta de pagamento de impostos.
Como foi feito por Hamurabi, depois dele, Lipit--Ishtar explicou no
prólogo de seu código que agia segundo instruções dos "grandes deuses", que lhe ordenaram que trouxesse "o bem-estar aos
sumérios e aos acádios".
No entanto, nem Lipit-Ishtar
foi o primeiro codificador de leis.
Os fragmentos de barras de argila que foram encontrados contêm
cópias de leis codificadas por Urnammu, um governante de Ur, cerca do ano
2.350 a.C. - mais de um milênio e meio antes de Hamurabi.
As leis decretadas sobre a autoridade do deus Nannar eram projetadas
para parar e punir "os que se apoderavam dos bois, ovelhas e
burros dos cidadãos" com o
fim "de que os órfãos não caíssem nas garras dos abastados, os
fracos não fossem presa fácil dos poderosos, o homem de um shekel não
caísse nas mãos do homem de sessenta shekels".
Urnammu decretou também "pesos e medidas honestos
e constantes".
Mas o sistema legal sumério e o reforço da justiça remontam a tempos
ainda mais longínquos. Por volta do ano 2.600 a.C.já deviam ter tido lugar tantos acontecimentos
na Suméria que o ensi Urukagina julgou necessário instituir
reformas.
Uma longa inscrição sua foi chamada pelos eruditos de registro precioso
de uma reforma social humana baseada no sentido da liberdade,
igualdade e justiça -uma "Revolução Francesa" imposta por um rei
4.400 anos antes de 14 de julho de 1789.
O decreto-reforma de Urukagina lista primeiro os males de seu tempo
e depois as reformas.
Os males consistem basicamente no uso injusto de poderes por parte
dos supervisores no sentido de guardarem para eles a melhor parte; o abuso de
status oficial; a extorsão de altos preços por grupos monopolizantes.
Todas estas injustiças, e muitas mais, foram proibidas por
decreto-reforma.
Um oficial já não podia fazer seu próprio preço para "um
bom burro ou uma casa".
Um "homem grande" não podia exercer coerção num cidadão comum.
Os direitos dos cegos, dos pobres, dos viúvos e dos órfãos foram restabelecidos.
À mulher divorciada, há quase 5.000 anos, era garantida
a proteção da lei.
Durante quanto tempo teria a civilização
suméria existido para requerer uma reforma de base?
Com certeza, durante muito tempo, uma vez que Urukagina afirmava que
fora o seu deus Ningirsu quem o chamara "para restaurar
os decretos dos dias de outrora".
A implicação é nítida: era preciso um retorno a sistemas ainda mais
antigos e a leis ainda mais remotas.
As leis sumérias eram sustentadas por um sistema de
tribunais nos quais tanto os processos como os julgamentos ou os contratos eram meticulosamente registrados e
preservados.
A justiça agia mais com jurados do que com juízes; um tribunal era normalmente constituído por três ou quatro
juízes, um dos quais era um "juiz
real" profissional e os outros destacados de um júri de 36
homens.
Enquanto os babilônios faziam leis e
regulamentos os sumérios estavam preocupados com a justiça, porque eles acreditavam que os
deuses designavam os reis, basicamente, para assegurar o cumprimento da
justiça na Terra.
Mais que um paralelo pode ser aqui traçado com os conceitos
de justiça e moralidade do Antigo Testamento.
Ainda antes de os hebreus terem reis, eram governados por juízes; os reis eram
julgados não pelas suas conquistas ou
riqueza, mas pelo alcance que obtinham "fazendo aquilo que era
justo".
Na religião judaica, o ano-novo marca um período de dez dias durante os quais
os feitos dos homens eram julgados e avaliados para determinar seu destino no
ano vindouro.
É, provavelmente, mais que uma coincidência que os sumérios acreditassem que uma deidade chamada
Nanshe julgasse anualmente a
humanidade da mesma maneira; afinal, o primeiro patriarca hebreu - Abraão -era da cidade suméria de Ur, a cidade de Urnammu e de seu código.
A preocupação suméria com a justiça ou com sua ausência
encontrou também expressão naquele a que Kramer chamou o primeiro
"Jó".
Jogando com fragmentos de barras de argila no Museu de Antiguidades, em
Istambul, Kramer foi capaz de ler boa parte de um poema sumério que, tal como o
livro bíblico de Jó, trata da queixa de um homem
justo que, em vez de ser abençoado pelos deuses, sofria toda a espécie de
perdas e desrespeitos.
"A minha palavra
verdadeira foi tornada numa mentira", grita ele angustiado.
Em sua segunda parte, o anônimo sofredor dirige súplicas ao seu deus
de uma maneira semelhante a alguns versos dos salmos hebreus:
Meu deus, tu que és o meu pai, que me criaste - ergue a minha face...
Até quando me negligenciarás...
Me deixarás desprotegido...
E
sem orientação?
Segue-se depois um fim feliz.
"As palavras justas, as palavras puras proferidas por ele,
foram aceitas pelo seu deus... o seu deus retirou a sua mão da malfazeja
manifestação." .
Precedendo o livro
bíblico do Eclesiastes em cerca de dois milênios,
os provérbios
sumérios transmitiam muitos dos
mesmos conceitos e graças:
Se estamos condenados a morrer - gozemos o tempo.
Se vivermos muito - salvemo-nos.
Quando um homem pobre morre, não o tentes fazer voltar à vida.
Ele que possui tanta prata, pode ser feliz;
Ele que possui tanta cevada, pode ser feliz;
Mas quem não tem nada, pode dormir!
Homem: para o seu prazer: casamento;
Se volta a pensar nisso: divórcio.
Não é o coração que leva à animosidade;
A língua é que leva à aversão.
Numa cidade sem cão de guarda,
A raposa é quem vê tudo.
As realizações materiais e espirituais da civilização suméria foram
também acompanhadas por um amplo desenvolvimento do desempenho artístico.
Uma equipe de estudiosos da Universidade
da Califórnia, em Berkeley,
foi notícia em março de 1974, quando anunciou que fora decifrada a mais
velha canção do mundo.
O que os profs. Richard L. Crocker,
Anne D. Kilmer e Robert R. Brown conseguiram foi ler e tocar realmente as notas musicais escritas
numa barra cuneiforme de cerca do ano 1.800 a.C. encontrada em Ugarit na costa
mediterrânea (Síria).
"Sempre soubemos", explica a equipe de Berkeley,
"que havia música nas remotas civilizações assírio-babilônias, mas
até à sua decifração não podíamos saber que tinha a mesma escala
heptatônica-diatônica, que é característica da música ocidental
contemporânea e da música grega do 1º. milênio a.C. Pensou-se até há pouco
que a música ocidental tivera suas origens na Grécia; agora foi
estabelecido que a nossa música - como
tantos elementos mais de nossa civilização ocidental - nasceu na
Mesopotâmia.
Isto não deve surpreender, uma vez que o erudito Filo tinha já
afirmado que os mesopotâmios eram conhecidos por "procurarem a
harmonia e o uníssono através dos tons musicais".
Não pode haver dúvida de que música e canções devem também
ser reclamadas como "estréias" sumérias.
De fato, o prof.
Crocker apenas pôde tocar a
velha melodia construindo uma lira como as que foram encontradas nas
ruínas de Ur. Textos do 2º. milênio a.C.indicam a existência de "números-chave" musicais e de uma coerente teoria musical, e a própria
profa.
Kilmer escreveu ainda anteriormente (The Strings of Musical Instruments: Their
Names, Numbers and Significance) [As Cordas de Instrumentos
Musicais: Seus Nomes, Números e Significado] que muitos textos-hinos sumérios tinham "aquilo que parecia
ser anotações musicais nas margens".
"Os sumérios tinham uma vida
muito musical", conclui ela.
Não admira, então, que encontremos gravados em selos cilíndricos e
barras de argila uma grande variedade de instrumentos musicais, assim como
cantores e dançarinas atuando.
Como muitas outras conquistas sumérias, a música e a canção foram
também criadas nos templos.
Mas, começando a serviço dos deuses, estas artes foram rapidamente
levadas para fora dos templos.
Empregando o jogo de palavras favorito sumério, um dito popular
comenta os salários exigidos pelos cantores:
"Um cantor cuja voz não é doce é realmente um 'pobre' cantor".
Foram encontradas muitas canções de amor sumérias; eram
indubitavelmente cantadas com acompanhamento musical. Muito comovente, no
entanto, é a canção de ninar que uma mãe compôs e cantou para seu filho
doente:
Vem sono, vem sono, vem ao meu filho.
Apressa-te para meu filho, sono;
Faz dormir seus olhos que não repousam...
Sofres, meu filho;
E eu estou perturbada; fico muda,
E fito as estrelas.
A nova lua brilha em tua face;
A tua sombra derrama lágrimas para ti.
Repousa, repousa no teu sono...
Possa a deusa da maturidade ser tua aliada;
Possas tu ter um eloqüente guardião no céu;
Possas tu alcançar um reino de dias felizes...
Possa uma mulher ser o teu apoio;
Possa um filho ser a tua futura sorte.
O que há de impressionante nestas músicas e canções não é só a conclusão de que
a Suméria foi a fonte da música ocidental em estruturas e
composições harmônicas.
Não menos significativo é o fato de que, enquanto Ouvimos
a música e lemos os poemas, eles não soam estranhos ou diferentes, mesmo
em sua profundidade de emoção e em seus sentimentos.
De fato, quando contemplamos a grande civilização suméria,
descobrimos que não só nossa moral e nosso sentido de justiça, nossas leis
e arquitetura,
artes e tecnologia têm suas raízes na Suméria, como também as
instituições sumérias nos parecem familiares e íntimas. No fundo, parece,
somos todos sumérios.
Depois de escavarem em Lagash, as pás
dos arqueólogos
desvendaram Nippur, o centro religioso tanto
da Suméria como de Akkad.
Dos 30 mil textos aí encontrados, muitos ainda não foram
decifrados. Em Shuruppak foram
desenterrados edifícios escolares datados do 3º. milênio a.C. Em Ur, os eruditos encontraram vasos, jóias, armas,
carros, elmos feitos de ouro, prata, cobre e bronze, vestígios de uma
fábrica de tecidos, registros de tribunais e um zigurate de torres que
ainda hoje domina a paisagem. Em Eshnunna e Adab, os arqueólogos descobriram templos e estatuetas
artísticas dos tempos pré-sargônicos.
Em Umma foram encontradas inscrições falando dos primitivos impérios,
e em
Kish foram descobertos edifícios
monumentais que datam do ano 3.000 a.C., aproximadamente.
Uruk (Erech) levou os arqueólogos de
volta ao 4º. milênio a.C.
Aí foram descobertos os primeiros potes coloridos, cozidos em
forno, e as provas do uso da primeira roda de oleiro.
Um pavimento de blocos de pedra calcária é a mais velha construção
de pedra encontrada até hoje.
Em Uruk, os arqueólogos encontraram também o primeiro zigurate, um grande morro construído pelo homem, no
topo do qual estão situados um templo branco e um templo vermelho.
Os primeiros textos inscritos foram também encontrados aí, assim
como os primeiros selos cilíndricos.
Destes últimos, Jack Finegam (Light from the Ancient Past) [Luz do Passado Antigo] disse:
"A qualidade dos selos em sua primeira aparição no período de Uruk
é fantástica".
Outros locais do período de Uruk dão provas da iminência da Idade
do Metal.
Em 1919, H.R. Hall deparou com velhas ruínas numa vila agora chamada El- Ubaid.
O local deve seu nome àquilo que os eruditos consideram como sendo a primeira fase da
grande civilização suméria.
As cidades sumérias
daquela época, que se estendem desde a Mesopotâmia do Norte ao sul dos
montes Zagros, testemunham o primeiro uso
de tijolos de argila, paredes de gesso, mosaicos decorativos, cemitérios de
túmulos delineados por tijolos, manufaturas de cerâmica pintada e decorada com
desenhos geométricos, espelhos de cobre, contas de turquesa importada,
pintura para as pálpebras, machados de guerra com acabamento em cobre,
roupas, casas e, acima de tudo, monumentais edifícios de templos.
Mais para o sul, os arqueólogos encontraram Eridu,
a primeira cidade suméria, de acordo com textos antigos.
À medida que os escavadores cavavam mais fundo, depararam com
um templo
dedicado a Enki, o Deus da Sabedoria da Suméria,
que parece ter sido construído e reconstruído vezes sem conta.
Os estratos levaram claramente os eruditos de volta aos inícios
da civilização suméria: 2.500 a.C., 2.800 a.C., 3.000 a.C., 3.500 a.C.
Depois, as pás dos arqueólogos encontraram os alicerces do primeiro templo dedicado
a Enki.
Abaixo dele havia solo virgem:
nada ali fora construído antes.
Estava-se por volta do ano 3.800 a.C.
Foi quando a
civilização começou.
Não foi só a primeira civilização, no sentido estrito do termo.
Foi uma civilização mais ampla, englobante, e de muitos modos mais
avançada que as outras antigas culturas que a seguiram.
Indubitavelmente, a nossa
civilização se baseou naquela.
Começando a usar pedras como instrumentos há cerca de 2 milhões de
anos, o homem alcançou uma civilização sem precedentes na Suméria por
volta de 3.800 a.C.
E o espantoso de tudo isto é que, até o presente, os eruditos
não têm nenhuma suspeita acerca da identidade dos sumérios, de sua
procedência e do como e porquê do aparecimento de sua civilização.
Porque seu aparecimento foi
repentino, inesperado, vindo do nada.
H. Frankfort (Tell Uqair) diz que o fato é espantoso Pierre Amiet
(Ellam) taxou-o de extraordinário.
A. Parrot (Sumer) [A Suméria] descreve-o como "uma chama que saltou repentinamente". Leo Oppenheim (Ancient Mesopotâmia) [A Antiga Mesopotâmia] salienta "o período de tempo espantosamente
curto" no qual esta
civilização se ergueu.
Joseph Campbell (The Masks of God) [As Máscaras de Deus] resume-o deste modo:
"Com uma atordoante brusquidão... aparece neste pequeno e
barrento jardim sumério... toda a síndrome cultural que constitui desde
então a unidade embrionária de todas as grandes civilizações do mundo".
(continua ...)
Autor : Zecharia Sitchin
Livro: O 12º PLANETA
Tradução: ANA PAULA CUNHA
EDITORA BEST SELLER
2ª Edição - 1976
Zecharia Sitchin 1920/2010
Sobre o autor:
Um dos poucos estudiosos capazes de ler e interpretar antigos
comprimidos de argila Sumérios e
Akkadianos, Zecharia Sitchin (1920-2010) baseou seu best-seller The 12th Planetem textos
das antigas civilizações do Próximo Oriente.
Com base em tanto interesse e crítica generalizadas, suas controversas
teorias sobre as origens da humanidade Anunnaki foram traduzidas para mais de
20 idiomas e apresentadas em programas de rádio e televisão em todo o mundo.
Mais sobre o autor: Sitchin (Site Oficial)
Nota do Blog :
O livro O 12º Planeta - Livro I
das Crônicas da Terra está descrito na íntegra.
Os grifos em vermelho são
originais do livro.
Este livro também pode ser
encontrado na internet em pdf gratuitamente.
Veja capítulo anterior:
https://mostradoresdaluz.blogspot.com.br/2017/10/o-12-planeta-subita-civilizacao-cap-1.html