Caravana Arco Iris
As Drogas na Visão Espírita
ALFREDO QUIRINO DA SILVA.
A FE organizou este bate-papo sobre drogas com três profissionais experientes no assunto. Izanildo é médico anestesista do campus da FOA- UNESP, na Unidade COB- Centro de Oncologia Bucal em Araçatuba e Membro do Centro de Ensino de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Prêto. Alfredo é médico psiquiatra no Hospital Benedita Fernandes de
Araçatuba e Márcia é dentista e uma das fundadoras do Solar Eunice Weaver, de Birigui, especializado no atendimento a soro-positivos para HIV e seus familiares. Os três,
juntamente com outros profissionais, estão participando dos seminários organizados pela Use Regional de Araçatuba e Use's Intermunicipais de Araçatuba, Auriflama, Birigui, Guararapes e Penápolis no "Programa de Prevenção ao Uso Indevido de Drogas" fomentados pela FEB- Federação Espírita Brasileira e USE –União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Na condição de espíritas como enxergam esse grave problema que aflige a humanidade? É o que nos respondem nesta entrevista.
O que leva uma pessoa a se drogar? O meio social tem influência? O que pensa do fator genético?
MRG "Penso que a trajetória espiritual anterior tem peso preponderante nestas situações. Ocasiões difíceis, ou mesmo oportunidades, podem despertar sentimentos ou desejos adormecidos facultando ao indivíduo ingressar no mundo das drogas ilícitas atraindo para si as conseqüências desta opção".
IB. "Penso que seja a busca do prazer imediato sem merecimento. A influência primária do meio social é a família, onde pais fumantes e usuários de bebidas alcoólicas dão maus exemplos à criança, que na sua tenra idade, capta todos os estímulos externos do meio ambiente. E hoje sabemos que esses dois vícios são a porta de entrada para as outras drogas. A correlação genética ainda está longe de se estabelecer; sabe-se que filhos de pais alcoólatras têm 25% de chances de se envolverem com o alcoolismo. A Ciência tem nos informado que existe uma química favorável no sistema nervoso central propiciadora para a adicção, envolvendo os neurotransmissores nas sinapses dos neurônios.
AQS. "Em casos de indivíduos que se drogam encontramos presentes problemas sociais diversos como os das dificuldades financeiras, o morar na "casa pobre" da periferia, o pouco estudo, a vontade de querer se igualar àqueles que julgam lhes sejam "superiores". Também problemas sociológicos existem que fazem surgir os rejeitados ou excluídos política, administrativa e culturalmente, além da carência afetiva que faz gerar a insegurança e a ausência do "espelho familiar". Sob o aspecto Genético se sabe que mães que se drogam na época da gravidez acabam provocando malformações na estrutura genética do feto com grandes possibilidades de lhes transmitir a dependência da droga. A ausência de religião é outro fator que precisa ser considerado para explicar essa triste chaga que assola a humanidade".
Técnicamente o que vem a ser droga lícita ou ilícita?
IZ "Esse conceito é definido pela Legislação Penal que estabelece se uma conduta é tipificada ou não como criminosa. No caso em exame, por exemplo, se uma pessoa comum for apanhada com dolantina, sem motivo justificado, estará portando uma droga ilícita. Porém, a dolantina nas mãos de um médico que a destina para uso terapêutico é tida como droga lícita. Pode deixar de ser lícita, mesmo nas mãos de médico, se a destinação não se amoldar às normas da ANVISA e da legislação pertinente. Infelizmente temos o álcool e o fumo como drogas lícitas mesmo sabendo dos malefícios que causam aos seus dependentes".
Como agem as drogas no corpo físico e no psiquismo do usuário? Quais os males que causam?
AQ "Os males são muitos. No corpo físico vão desde a destruição de células que acabam modificando o funcionamento dos órgãos, até o próprio aniquilamento destes, podendo levar o paciente a óbito. No psiquismo agem excitando, deprimindo ou alterando o funcionamento cerebral; provocam delírios; alucinações; a depressão, que é um caminho perigoso em direção ao suicídio; o embotamento afetivo; a agressividade; a demência, dentre muitos outros".
Poderia enumerar os tipos de drogas que mais preocupam a sociedade, organismos e governos?
IZ– "Em primeiro lugar o álcool, em segundo lugar o tabaco, em terceiro lugar a maconha, em quarto lugar a cocaína e depois as outras".
Há cura para o dependente de drogas? Quais os tratamentos existentes?
MRG "Minha conclusão pessoal é de que toda mudança comportamental é difícil, porém, não impossível. O comprometimento de si para consigo nesta luta de transformação moral necessita da participação positiva do núcleo social onde o ser esteja inserido. Vontade vigorosa, tal qual nos informaram os benfeitores da Codificação, na questão nº 909 de "O Livro dos Espíritos, e o auxílio externo especializado para o ser dependente e para aqueles do seu convívio".
AQ. "Para os males sempre existe uma possibilidade de cura. No caso das drogas precisamos de uma ajuda externa, consistente no tratamento médico e no apoio familiar, porém, indispensável é a força de vontade e o desejo de se curar do próprio usuário. Os tratamentos consistem em desintoxicação; psicoterapia; medicamentos sintomáticos (ansiolíticos e antidepressivos para evitar insônias); ressocialização, com internações em clínicas especializadas e, repisando, apoio familiar e religioso".
Temos sinais de alerta para saber se uma pessoa está ingressando no mundo das drogas?
MRG " As alterações no comportamento, a agressividade e certas companhias podem ser sinais de que algo há que precisa ser monitorado na educação dos filhos. Os educadores necessitam avaliar o ser como um macro onde o micro interfere, condiciona e/ou facilita a retomada de comportamentos atávicos".
IZ. "Do ponto de vista objetivo temos o "drugwipe", inventado na Alemanha em 1997, um equipamento que chega ao Brasil este ano. É composto de quatro "kits" para: maconha, cocaína, narcóticos e anfetamina (ecstasy). Cada um deles custa dezoito dólares no país de origem e é usado uma única vez. Sua função é detectar a presença de drogas a partir da análise de objetos manuseados pelo observado como mause de computador, telefone, bolsa, suor da roupa, dentre outros. O kit pode agir sobre a pessoa ou objetos por ela utilizados até cinco dias depois, chega alcançar 100% de precisão e a análise não gasta mais que dois minutos. O método já foi aprovado pela polícia dos Estados Unidos no combate às drogas e é utilizado em bafômetros na Alemanha, Inglaterra e França. Não deixa de ser um recurso importante oferecido pela ciência tendo em vista que permite se tirar dúvidas de forma discreta e sem confrontos".
O Espiritismo tem como ajudar as pessoas envolvidas nesse drama?
MRG "O Espiritismo pode auxiliar muito antes da dependência quando informa que ao observarmos nossas tendências atuais temos conhecimento do nosso passado e podemos, através do presente, determinar o nosso futuro. Para resistir aos arrastamentos do mal vale o exercício de Santo Agostinho descrito na resposta à pergunta nº 919 de "O Livro dos Espíritos". Depois de instalada a dependência a Doutrina Espírita fornece conhecimentos e energias suficientes para a luta a ser enfrentada com muito amor e persistência".
IZ– "A melhor ajuda será atuando no preventivo e, para isso, os Centros Espíritas precisam investir nos jovens através dos programas de evangelização. Perguntaram ao mestre suiço de Kardec, Pestalozzi, quando se deveria iniciar a educação das crianças. Ele respondeu: "vinte anos antes delas nascerem". A adicção é um problema de educação intelectual e moral do qual só obteremos respostas favoráveis quando as crianças de hoje forem os pais de amanhã e deixarem de dar maus exemplos aos seus filhos".
AQ "O Espiritismo é um grande aliado no tratamento aos usuários de drogas. Através da fé e da crença na vida futura, nos mostra a responsabilidade que temos por preservar nosso corpo, mente, perispírito e fazendo bom uso do nosso livre arbítrio. Mostra-nos também a necessidade da sintonia com os bons espíritos, que nos ajudam na nossa reforma íntima e afastam os obsessores para estes também serem tratados e esclarecidos".
Ismael Gobi
PUBLICADO NA FOLHA ESPÍRITA, SÃO PAULO, 11/2003
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