sábado, 12 de março de 2011
TERRA FERIDA
por
Oliveira Fidelis Filho -
fidelisf@hotmail.com
No Brasil foram aproximadamente 13 milhões de brasileiros na ultima década, incluindo janeiro de 2011, o que nos coloca hoje entre os 10 no ranking dos países mais afetados, vitimas de catástrofes naturais.
Estima-se que até o fim deste século a temperatura média da Terra deverá subir, consideravelmente.
Diante de uma catástrofe natural, somos, infelizmente, ainda levados a reflexões basicamente religiosas, a acreditar tratar-se de ação divina ou levados a pensar em nível de escatologias apocalípticas, fundamentadas em profecias oriundas de variadas crenças.
Dentro do cristianismo, cada nova catástrofe é uma evidęncia de que o mundo está acabando, a grande tribulação está se aproximando e o grande julgamento está chegando.
Em função, sobretudo, das crenças que nos movem, possuímos ainda muito do comportamento do homem "primitivo" quando, diante das catástrofes climáticas, eram oferecidos sacrifícios, inclusive humanos, na tentativa de aplacar a ira dos deuses.
Um dos efeitos positivos é que catástrofes sensibilizam, geram reflexões, oportunizam o debate e a busca de respostas, podendo nos fazer acordar da hipnose na qual geralmente nos encontramos.
Não podemos, também, desconsiderar o poder das catástrofes em revelar a luz e as sombras, anjos e demônios, o pior e o melhor que existe em nós. Enquanto há os que se desdobram em compaixão, doação, acolhimento, em gestos de incondicional amor, há os que como abutres e bestas feras aproveitam inescrupulosamente da fragilidade do semelhante.
O que fazer face às catástrofes naturais que, ao que tudo indica, tornar-se-ão cada vez mais letais?
Em primeiro lugar, entender que Deus é lei e nesta Lei está a Graça; fora dela avolumam-se os sofrimentos. Ou seja, existem inexoráveis leis universais que precisamos compreender e a elas nos adequar e isso nada tem a ver com o humor dos deuses.
Em segundo lugar, precisamos entender que as catástrofes naturais são, muitas vezes, conseqüęncias de comportamentos antinaturais. Ao nos colocarmos no caminho da natureza, em desarmonia, entramos em rota de colisão com ela.
Em terceiro lugar, se desejarmos continuar a existir no tempo e no espaço, necessário se faz assumir total responsabilidade pelo que acontece neste Planeta. Pesa sobre nós a intransferível e urgente responsabilidade de buscarmos alternativas ecologicamente harmonizadoras.
Em quarto lugar, precisamos aprender a olhar para o Planeta Terra como um ORGANISMO VIVO que ele é.
Há quase dois mil anos atrás São Paulo declarava: "Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora". Parece que a Terra parou de gemer e começou a gritar, parou de suportar e comeįou a reagir. Como ser vivo, ela se angustia e se alegra, contrai e expande, se movimenta, exala aromas, exibe cores, emite sons, persegue a beleza, a arte, a harmonia e é envolta em mistério e magia.
Neste ORGANISMO VIVO nascemos, reproduzimos e morremos. Para entender a Terra como ser vivo basta observar este condomínio chamado corpo humano.
Sabia que sobre sua pele, neste momento, estão vivendo milhões e milhões de bactérias?
Alguns pesquisadores afirmam que, no total, existe um número superior a 10 bilhões de bactérias nos habitando, divididas em mais de 200 espécies diferentes. Portanto, não há razão para se sentir sozinho.
Quanto a estes micro-organismos, seria muito pedir a eles que tivessem conscięncia de que o corpo humano é um organismo vivo. Lembrar-lhes que precisam agir racionalmente e de forma simbiótica, que devem se preocupar com o crescimento numérico excessivo, que farão bem em evitar regiões de risco, ou ainda que não devem devastar e alterar a natureza do corpo onde habitam, para a segurança deles próprios.
Nosso corpo tudo faz para manter o equilíbrio e a harmonia; não pensemos que a Terra agirá diferentemente. De uma forma de outra, ela se livra dos excessos, do inconveniente.
Convém lembrar que a divindade também habita a natureza e que, portanto, cuidar da Terra é uma bela forma de cultuar o Criador. As mãos que cuidam podem ser mais santas que os lábios que oram.
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