terça-feira, 10 de abril de 2012
BIDI - 08 de abril
de 2012 - 1ª Parte
- AUTRES DIMENSIONS
Bem, BIDI está na
companhia de vocês.
Nós iremos nos fazer companhia e nós iremos
partilhar.
Vocês tiveram a oportunidade de ler o que eu
me proponho a trazer-lhes.
Eu lhes peço de novo, muito, para escutar e
para ouvir.
Minha companhia não é um diálogo nem um jogo
mental, mas sim, uma oportunidade, para vocês, de deixar, de alguma forma, Ser
além do seu Si, além da sua presença.
Este espaço, este tempo, diz respeito a
todos.
Através de uma pergunta que lhes é pessoal,
outros podem estar em ressonância, em afinidade e, portanto, encontrar, atrás
das palavras que eu vou empregar, um ponto particular sobre o qual se apoiar.
O que irá lhes interessar, nesta sequência de
conversações, está diretamente conectado, além do nome que eu lhes dei, à ação
da Luz, à ação do Absoluto.
Minha Presença não é uma presença, mas, sim,
mais do que isso porque ela é também vocês mesmos.
Todos nós temos o seu tempo para caminhar na
vida.
Estejam neutros.
Estejam pacificados.
A neutralidade e a sua paz são as
condições (indispensáveis, suficientes e necessárias)para instalar,
digamos, o que deve ser instalado, em vocês e além de vocês, além mesmo deste
espaço e deste tempo.
Se não houver perguntas preliminares e
técnicas, nós poderemos, então, começar.
Pergunta: como ser liberado do medo
e ter confiança?
O medo, como a
confiança, dependem unicamente do ego.
A confiança jamais irá permitir, assim como o
medo, transpassar.
É preciso reconsiderar o medo e
a confiança porque um como o outro são apenas as duas extremidade de uma
barreira intransponível, situada, como sempre, no ego e
na pessoa: porque nenhuma confiança
como nenhum medo pode permitir transcender um limite.
É preciso, então, que você aceite depositar
os seus medos, como você depositaria a sua confiança.
Há, portanto, um convite para posicionar-se
além do medo porque, se você se situar no instante, pacificamente, sem
pergunta, o medo não pode aparecer.
O medo é
sinônimo de desconhecido, para a pessoa.
O medo representa,
de alguma forma, o elemento de resistência, o próprio contexto onde se inscreve
toda pessoa, todo ego, todo indivíduo.
O medo transpassa.
Enquanto emoção, enquanto pensamento, ele
apenas faz resultar, em última análise,
em seu próprio passado.
Reflita: não há qualquer substrato, qualquer causa, no instante presente,
para o medo.
Assim como não há qualquer razão e qualquer
lógica para estabelecer qualquer confiança, a partir do momento em que você
está aí, e não em um instante anterior e ainda menos em um instante seguinte.
Permanecer tranquilo é isso.
Isso não é colocar-se a questão dos medos, nem se
colocar a questão da confiança.
É instalar-se na Eternidade porque
o medo, como a confiança, inscrevem-se, de maneira definitiva, no
que é linear.
O Absoluto não
conhece o linear.
Ele é justamente transcendência total do
espaço tempo (tal como é conhecido).
O medo é um
limite.
Vocês não pode atravessar o limite
considerando-se inscrito em meio a um limite.
A partir do momento em que a sua atenção for
atraída pelos seus próprios medos,
vocês vai, de algum modo, cristalizá-los,
densificá-los, torná-los viventes, no instante,
no presente.
A partir do momento em que você estiver em
paz e pacificado, nenhum medo pode surgir.
E mesmo se este medo surgisse, o próprio fato
de estar em paz iria trazer-lhe,
inevitavelmente, e quase que imediatamente, a
lógica de que este medo não tem qualquer consistência, qualquer verdade, mas
que é apenas um sinal vindo do que está morto (no
que você vivenciou ou no que você temeu), mas não pode, de forma alguma,
estar presente no instante em que você vive.
A dualidade consistindo
em uma extremidade ou na outra, no que lhe diz respeito,
O medo devendo
ser substituído pela confiança, inscreve você no limite do medo e
da confiança.
Querer substituir o medo pela
confiança instala-o em sua própria dualidade e,
portanto, fortalece a sua própria pessoa.
Quando eu emprego a palavra paz, a outra
extremidade é a guerra.
A meditação como a atenção são estados que se
aproximam da paz.
Evidentemente, a guerra seria a atividade
incessante do mental vindo perturbar a sua paz.
Se você escuta e está atento, não ao que lhe
diz o que está morto, não em uma projeção querendo eliminar este medo, mas, sim,
na aceitação, na compreensão e na lógica de que você não é qualquer dos seus medos
e de que não há que aplicar sobre isto, qualquer confiança.
Simplesmente, viajar na sua paz.
Simplesmente, não mais ser o que emerge do
que é passado, o que emerge do que está morto, e ainda menos o que emerge do
que não pode ter nascido
(e, portanto, não pode estar
presente).
A partir daí você irá colocar, em você, o
próprio fundamento do entendimento e da escuta.
Não do que você acredita ser, não de qualquer
passado, não de qualquer futuro, mas,
sim, na verdade do instante que vocês vive, o
único capaz de fazê-lo atravessar os seus próprios limites e, portanto, de ser
ilimitado.
Lembre-se de que o ilimitado sempre esteve
aí, sempre presente, sempre inscrito além da consciência.
Somente os freios e as resistências oriundos
do que você não é (e aos quais você deu peso, ao
quais você deu crédito) impedem-no de vivê-lo.
Você não é, portanto, os seus medos
porque, como o que não é uma pessoa poderia trazer qualquer medo?
Como poderia existir, em meio ao que não
existe (ou seja, esta pessoa), qualquer amanhã?
A previsão, a antecipação e o medo apenas
irão resultar, sempre, da atividade do mental e somente do mental.
Mas esse mental nasce com a sua vinda a este
mundo durante a sua construção em meio à ilusão e é um elemento, um atributo,
absolutamente real, na dualidade.
Ele permite a você adaptar o que foi
vivenciado ao que se vive e ao que será para viver.
Mas você não é nem o que vivenciou, nem o que
se vive, nem o que está para viver.
Você é a vida.
Há, então, em você, para ver (sem se apegar) os medos como o
que não é a vida,
mas, sim, o que você acreditou da sua vida.
O medo é um
peso morto que resulta do próprio terror do ego e da
pessoa, dos seus próprios limites inscritos entre o nascimento e a morte.
Você não é o que nasceu, nem o que vai morrer
(contrariamente ao que quer fazê-lo crer o seu
mental e você não é o seu mental).
O crédito que você dá à sua pessoa traduz-se
por um crédito mais ou menos grande que você dá à sua própria história, que
está morta e que o afasta da experiência do
Absoluto.
Compreenda bem que não se trata de rejeitar,
como um ato de negação, o que você atravessou em sua história.
Mas a sua história jamais será o que você é
no Si e, ainda menos, no Absoluto.
Mude o olhar.
Eu não falo do olhar dos olhos, eu não falo
do olhar das emoções do seu próprio passado.
Mas mude o olhar sobre você, aí, nesse
presente porque você nada é desta história,
nada deste futuro e nada desta confiança que
você gostaria de adquirir porque nada há a adquirir que já não esteja aí.
Nada há a combater porque tudo o que resiste
fortalece-se.
Considere tudo isso como não tendo qualquer
existência própria porque você não é nem esta história, nem esta confiança, nem
mesmo esta pessoa, nem mesmo a esperança, porque tudo já está aí, na paz além
de qualquer confiança, no instante da sua pergunta e da resposta.
Pergunta: muitas vezes o mental
me desvia para pensamentos para combater a injustiça ou para ver o lado
negativo dos acontecimentos.
Às vezes eu tenho a impressão de que nada se move
mesmo se o sentir Vibratório é certo.
Como transcender esses
processos ou essas resistências?
O julgamento está inscrito no mental.
O mental é feito para discriminar, para pesar
e avaliar o bem e o mal.
Ele é feito para agir neste mundo.
Enquanto você se considerar como deste mundo (e não somente sobre este mundo),
o seu mental será parte interessada das suas
experiências.
A cultura, a educação, o ensinamento, sempre
foram elaborados ao redor desta
dualidade.
A própria moral, o próprio afetivo, e o
conjunto das leis observáveis e utilizáveis neste mundo, apenas vêm daí.
Há uma parte de você que á a totalidade, mas
que o seu ego não pode reconhecer.
Esta parte de você que é desconhecida,
nomeada Absoluto ou Último,
não pode aparecer-lhe (porque ela já está aí)
se o aspecto discursivo do seu mental estiver presente.
Ele é, de algum modo, aquele que envolve, de
maneira opaca, a verdade, a verdade além do aspecto discursivo.
Isso mantém, em você, uma necessidade de
segurança, uma necessidade de ser tranquilizado, mas quem dita isso senão o ego ou a pessoa?
Não há que trabalhar, propriamente falando,
na causa ou no porque dessa necessidade de ser tranquilizado, porque o que você
É está além do fato de ser tranquilizado ou de
compreender.
O conhecimento é apenas, em última análise,
uma ignorância do que você É.
Aceite ser ignorante, aceite não ter
necessidade de ser tranquilizado nem de compreender e, aí, você passará,
inegavelmente, da ignorância para o conhecimento real que não tem necessidade
de qualquer aspecto discursivo, que não tem necessidade de ser tranquilizado,
nem mesmo compreendido.
O olhar, aquele dos olhos, sempre irá levá-lo
a esta vontade de compreender e coloca,
então, em ação, o mental e, portanto, o
julgamento.
No final, se você vir claramente, nenhum
julgamento poderá trazer-lhe a paz porque todo julgamento chama, inevitavelmente, um outro julgamento:
todo olhar colocado, discriminando, pede para
prosseguir o que é discriminatório e, portanto, dual.
Aceite ver isso, não para encontrar uma
origem ou uma compensação, porque nem a origem, nem a compensação irão propiciar-lhe
transcender, nem mesmo superar, esse princípio.
O mental deve servir para viver e agir nas
atividades normais deste mundo.
Mas, a partir do momento em que não se tratar
mais deste mundo, mas do Absoluto que você É, ele não é
mais de qualquer ajuda, de qualquer recurso, de qualquer utilidade.
A dificuldade reside, aparentemente, em
passar de um ao outro.
É-lhe preciso, então, considerar e
reconsiderar que, na vida comum, o mental age por si próprio
em relação às suas experiências passadas, à sua história.
Então, aí também, podemos dizer que o seu
próprio mental age por si só, também nesses atos
cotidianos.
Ele não tem necessidade, propriamente
falando, de você.
Deixe-o agir, deixe-o, de algum modo,
exprimir-se nos momentos rotineiros.
Dessa maneira, se você soltar as rédeas, se
você se contentar em observá-lo e deixá-lo trabalhar, será muito mais fácil
para você, nos momentos Unitários, não deixá-lo interferir com o que você É.
Sirva-se, então, deste aspecto discursivo,
comparativo e habitual, do mental,
observando-o nos momentos comuns da vida e
não, é claro, querendo afugentá-lo nos momentos Interiores porque você jamais
poderá afugentá-lo.
Você apenas pode, simples e facilmente, tomar
consciência da sua atividade
(que não é a sua, aí tampouco) nos momentos os mais ordinários da vida.
Porque esses momentos ordinários apenas se
referem, efetivamente, ao mental e não tem absolutamente necessidade de você
para ser eficaz e eficiente.
Adote isso, verifique a veracidade e,
sobretudo, a eficácia e você verá, então, muito rapidamente que, nos momentos
Interiores ou definidos como tais, o pensamento e o julgamento não podem
alterar, de qualquer maneira e de modo algum, o que você acede em sua
experiência, naquele momento.
Aí também você não pode se opor sem
fortalecer (e principalmente nesses momentos ditos
Interiores) o seu próprio mental.
É isso que ele é.
A sua história é o que ela é.
Mas você não É nem um,
nem outro.
Em suma, deixe o mental ao que ele é, às suas
funções, às suas utilidades, veja-o,
naqueles momentos: será, então, extremamente fácil vê-lo agir e, portanto,
apreender-se, em meio a esses momentos ordinários,
que não é você que age.
Mas se você fizer o inverso (ou seja, aguardar os momentos ditos Interiores para
opor-se frontalmente ao seu próprio mental), você sempre irá perder a
batalha, porque é uma batalha e a paz não pode se acomodar em batalha alguma.
Coloque-se assim e você irá constatar, então,
que o mental fica no seu lugar e nas suas funções.
Pergunta: qual é a minha parte
que eu não conheço para me dizer, no instante presente, para me ajudar a ir
para este Absoluto?
Compreenda que não há que ir.
Porque, a partir do momento em que você pede
para ir, você já coloca uma distância que não existe.
Esta parte que você não conhece nada tem a
lhe dizer no que você conhece, senão ela não lhe seria desconhecida, senão você
seria o Absoluto.
É preciso, então, aceitar que o que lhe é
desconhecido, estritamente nada tem a dizer no seu conhecido.
E que ela não pode aparecer-lhe, revelar-se,
não como algo onde é preciso ir, não como um esforço, mas, sim, a partir do
momento em que você faz calar tudo o que você conhece.
Elimine tudo o que você conhece.
Refute tudo o que é efêmero.
E, em primeiro lugar, o que é efêmero?
Sua própria vida, o passado qualquer que
seja, suas emoções quaisquer que sejam porque elas se inscrevem,
sistematicamente, na lei da dualidade (ação/reação,
sem fim), sem, no entanto, serem eternas já que, por definição, essas
emoções mudam em função do que lhe é dado a viver, a ver e a sentir.
O que lhe é desconhecido não pode ser nem
vivenciado, nem sentido, em meio ao seu conhecido.
Não há, então, possibilidade de fazer entrar
o desconhecido em meio ao conhecido.
É-lhe preciso, portanto, sair do seu
conhecido, não como uma rejeição, não como uma negação, mas, simplesmente,
aceitando que você estritamente nada é do que você conhece.
O verdadeiro conhecimento é independente do
conhecido.
O que o ego interpreta
como conhecimento é uma trapaça porque isso jamais é duradouro, porque isso é,
muitas vezes, procedente de crenças, veiculadas por outras histórias e por
outras experiências que estritamente nada têm a ver como você e as quais, no
entanto, você deu crédito.
Não é porque BUDA existiu
que você vive o BUDA.
Por mais que você tudo leia, por mais que
você tudo compreenda, tudo assimile, você não pode reproduzir seja o que for
porque isso é procedente de crenças.
É-lhe preciso, então, real e objetivamente,
matar todas as suas crenças porque você não é suas crenças.
Você não pode, portanto, de maneira alguma,
ir para o desconhecido com qualquer crença, com qualquer conhecimento, com
qualquer história.
E isso, efetivamente, não pode ocorrer porque
não há qualquer lugar aonde ir, não há deslocamento.
Enquanto você crê buscar o Absoluto, ele jamais
será encontrado, porque ele sempre esteve aí.
E, portanto, crer que você irá a algum lugar
é uma trapaça do seu próprio mental.
Mesmo se o Si não for
você, no Absoluto.
Do ponto de vista do Absoluto, o ego, a pessoa,
este próprio mundo, sua própria história, não existem.
Aí também é uma trapaça, uma simples
projeção, uma Ilusão, um jogo estúpido e estéril.
Não há evolução: só o ego o crê, só o Si pode considerá-lo.
O Absoluto não
se coloca esse tipo de questão.
É impossível que haja qualquer evolução.
Pode ali haver, certamente, transformações.
Pode ali haver, certamente, melhorias.
E o ego se
delicia.
Porque ele estava mal no dia anterior, ele
fica melhor no dia seguinte, porque ele compreendeu a causa e a origem do
sofrimento, a causa e a origem de uma doença, a causa e a origem de um
desequilíbrio, ele tem, então, a impressão de avançar.
Ele tem, então, a impressão de melhorar, mas
isso é uma armadilha porque em momento algum ele irá lhe permitir sair do que
ele o fez crer.
Isso é impossível.
O Desconhecido, o Último, nada é
conhecido, em qualquer tempo, em qualquer espaço.
Do seu ponto de vista, isso é o vazio.
Mas do ponto de vista do Absoluto, o vazio é
você e nada mais.
Quando você fecha os olhos, o mundo
desaparece.
Quando você dorme, o mundo no qual você vive
desaparece também.
Somente a crença, pela experiência, de
acreditar que você vai despertar no dia seguinte faz com que você adormeça sem
preocupação.
E, no entanto, quem pode assegurar-lhe que você vai sair?
E, no entanto, você se coloca a menor
questão?
Nada há a mudar exceto o seu olhar.
Não há lugar algum aonde ir porque você aí já
está.
Não há qualquer esforço a propiciar, muito
pelo contrário.
O ego, a
pessoa é um esforço permanente, através dos sentidos, através das emoções,
através da sua história e do seu mental, que age permanentemente, de maneira
mais ou menos intensa, para que você jamais tome consciência da sua extensão.
E que, jamais tomando consciência da sua
extensão e dos seus limites, você permaneça na prisão e jamais encontre o Absoluto
que não é para encontrar, porque isso não é você que busca, mas é ele que o
encontra, a partir do momento em que você sai de todo conhecido, de toda
referência e de todo ilusório conhecimento que é apenas uma enganação.
Pergunta: como viver mais a alegria e a simplicidade?
A alegria e a simplicidade fazem parte da sua
Essência e da sua natureza.
Aí, tampouco, não há que cultivá-la porque
esta alegria está presente.
Somente a distância que você coloca, e a
ignorância que você ali coloca, podem representar o que é vivenciado como uma
ausência de alegria.
Nada há de mais simples do que o Absoluto.
O que é complicado é o mental e o ego porque
eles elaboram, permanentemente, estratégias, eles elaboram, permanentemente,
condutas, regras a observar, contextos e limites (quaisquer
eu sejam esses contextos e esses limites).
Eles tentam construir uma simplicidade,
preservando-se da complexidade deste mundo, crendo conhecê-lo, crendo senti-lo.
Mas absolutamente nada deste mundo é absoluto
e, no entanto você é Absoluto.
A alegria decorre do Êxtase.
A alegria é a manifestação do Si, do Samadhi.
A simplicidade
está também presente no Samadhi.
Isso lhe permite se aproximar e viver, pela
experiência e por momentos, a não separação.
Mas você permanece inscrito na separação e,
portanto, a simplicidade parece partir,
como a alegria parece
partir.
Não é nem a alegria, nem a simplicidade
que partem, mas é, sim, você que parte de você mesmo.
A alegria e a simplicidade
sempre estiveram aí.
O único movimento é aquele do ego, o único
movimento é aquele do mental e das emoções que se desenrolam e se sucedem em um
tempo linear.
Não há, portanto, nada a cultivar, não há,
portanto, nada a buscar que já não esteja aí,
porque, se você fala da alegria a cultivar,
você considera já, então, a não alegria e, portanto, a outra extremidade está
presente em você.
Não há extremidade.
Considere que a alegria não
pode ser uma experiência situada entre dois períodos de não alegria, mas que é
um estado que resulta diretamente do que você É e tudo irá
mudar para você.
Quanto à simplicidade, ela consiste,
simplesmente, em estar em paz, em não dar corpo ao que quer que seja mais, em
não nutrir o que quer que seja mais.
O Si e o Absoluto são
uma transcendência total, aí também, do que você nomeia alegria e simplicidade
porque o Absoluto não pode se referir (mesmo sendo simples) a qualquer coisa que fosse complicada e a
uma alegria que implicasse uma não alegria.
Esta alegria está,
portanto, além de toda alegria: é por isso que não é mais sábio nomeá-la êxtase ou íntase.
O ego irá se
conservar sempre nesta dualidade de conceito e de experiência.
Ele mantém, portanto, a linearidade.
O Absoluto é a
saída da linearidade.
O Absoluto é a
sua natureza, a sua essência.
Não há, então, que buscar ou que cultivar
qualquer alegria, qualquer simplicidade
porque, se você chegar a permanecer
totalmente à escuta e a ouvir, além de todo tempo, a partir desse momento, o Absoluto está
aí porque ele vem a você.
Querer a alegria,
querer a simplicidade, é já considerar que ela não está presente.
Mas você é a alegria e você é a simplicidade.
A distância resulta simplesmente da
sua história e das suas experiências passadas onde a lembrança e o desejo
competem, em você, para ocupar a frente do palco.
Mas isso é apenas um palco, isso é apenas uma
representação, uma projeção, que não tem qualquer substância, nem mesmo a menor
realidade.
Isso é para descobrir por si mesmo
porque ninguém pode dizê-lo, ninguém pode fazê-lo
viver: há apenas você e você sozinho que pode atualizá-lo.
No final, deixe este corpo viver, deixe os
seus pensamentos viverem, deixe-os trabalhar.
Será que você se coloca a questão quando você
come um alimento para saber se ele vai fazer o que ele tem que fazer?
Não: isso se faz.
Aja do mesmo modo para o que você considera
ter que fazer nesta vida.
Não se implique ali, mas faça-o.
Olhe você agir e depois se coloque a questão
de quem olha.
Será que você é este corpo que absorve um alimento?
Será que você é esse mental que se coloca a questão do efeito do
alimento?
Ou será que você É outra
coisa?
Elimine, também, o que é da ordem do habitual
(lavar-se pela manhã, mesmo se for preciso
fazê-lo): você nada é de tudo isso.
Então, irá lhe aparecer, de maneira explosiva
ou progressiva, o que você É.
Ser o não ser.
O Absoluto não
é nem um desejo, nem um objetivo, nem um caminho.
Não há nem desejo, nem objetivo, nem caminho.
Há apenas a vida que flui, que você ali
participe, ou não, que você ali esteja, ou não.
Torne-se, portanto, a Vida, e o Absoluto irá
aparecer-lhe porque ele sempre esteve aí.
Pergunta: relacionamentos ou
comportamentos empreendidos da dualidade neste plano podem constituir um freio
para a realização do Absoluto?
Primeiramente, não pode existir qualquer Realização no
Absoluto.
A Realização refere-se
ao ego e ao Si, mas em caso
algum ao Absoluto.
Nenhuma manifestação dual pode contrariar,
frear ou bloquear o Absoluto.
Você come.
Toda a fisiologia deste corpo é fundamentada
na dualidade.
Toda a fisiologia das emoções e do mental é
fundamentada na dualidade.
Nenhum elemento deste corpo ou dos seus
envelopes sutis pode alterar, de maneira alguma, o que É.
Pensar e conceber que há uma tarefa a
cumprir, um caminho a seguir, um yoga a praticar, é da competência
da personalidade e do ego, jamais do Absoluto.
Os yogas, quaisquer
que sejam, conduzem-nos ao Si que é eventualmente para
Realizar.
Mas o Absoluto jamais
será uma Realização, mas, sim, a Liberação de todo yoga e de
toda dualidade.
O que não consiste em negar a dualidade
enquanto esta forma (este corpo), esta
pessoa, esta presença nesta ilusão.
Trata-se, então, sim, de uma transcendência e
de maneira alguma pode tratar-se de uma transformação.
Acreditá-lo é uma enganação do ego.
Você não pode transformar o que é limitado e
acreditar que a imperfeição vai se tornar perfeita.
A perfeição não é deste corpo, nem desse
mental, nem da sua própria vida.
Ela é o Absoluto.
Considerar que algo pode alterar ou impedir o
Absoluto é um fingimento.
É o próprio ego que atua
para acreditar que ele será melhor amanhã.
Ele o será, talvez, ele o será, certamente, mas o que ele vai
ganhar?
Melhorar a saúde, melhorar a respiração,
melhorar as angústias, há um busca desesperada por um ser melhor ou por um
bem-estar, mas nenhum ser melhor e nenhum bem-estar o farão descobrir o não Ser.
Ele irá afastá-lo também, certamente, como o
mal-estar.
São estratégias, elaboradas pelo ego, para
fazê-lo crer que há algo a buscar, algo a melhorar, algo a praticar que vai
fazê-lo se aproximar, mas, no final, você se afasta.
Obviamente, a pessoa (o ego) vai
ficar satisfeita por sentir menos dor, por estar menos angustiada, por viver
melhor e por mais tempo, ou diferentemente, mas isso estritamente de nada
serve.
O que não quer dizer por aí para pôr fim à
ilusão, mas, sim, para estar consciente e lúcido do
que isso é: apenas uma ocupação, apenas um passatempo.
Então, aí também, ocupe, se você quiser, o
seu mental e o seu corpo, mas aceite o princípio de mistificação e de ilusão.
Alimente este corpo quando ele tiver fome,
dando-lhe de beber quando ele tiver sede.
Você não chegaria a imaginar refutar a fome e
a sede e, no entanto, será que satisfazer a fome e a sede deixa o Absoluto aparecer?
Ele não é do mesmo nível do mental.
Você pode alimentá-lo de todas as maneiras,
você pode dar-lhe a ler e, portanto, regá-lo de todo conhecimento, você apenas
fará reforçar a sua própria ignorância do Absoluto.
Isso é apenas o jogo do ego e
do mental que, de maneira duradoura e incessante, quer fazer crer que você vai
ali chegar.
Mas você não pode ali chegar já que não há
parte alguma aonde chegar.
E se houvesse um destino a chegar, bem, isso
significaria, simplesmente, o fim do ego.
Você conhece um ego que
queira morrer por si mesmo, se isso não for pela porta da morte?
O Absoluto não
se ocupa absolutamente deste corpo, absolutamente do que você busca,
absolutamente do que você crê ou espera.
Ele não tem o que fazer, de forma alguma, dos
seus próprios gestos.
São apenas movimentos que nada trazem à paz e
à imobilidade.
São, portanto, realmente, gestos que vão,
simplesmente, atrair a consciência.
O Absoluto não tem o que fazer de tudo isso: ele está instalado
em cima, embaixo, por toda parte, além de todo espaço, de toda eternidade.
Nada há de pior do que crer que você será Liberado porque
você busca a Liberação.
Porque, em última análise, você está Liberado,
desde toda Eternidade, mas simplesmente você não o sabia.
Não há, portanto, aí tampouco, que rejeitar o
que quer que seja, mas, sim, que transcender todos esses aspectos que são
apenas véus e máscaras colocados no
Absoluto.
É preciso, então, cessar toda projeção do que
quer que seja.
A partir deste instante, então, o Absoluto irá
aparecer para você.
Mas é preciso cessar a presunção de crer que
há algo a buscar, algo a Realizar e mesmo algo a Liberar.
Se você fizesse calar todas essas pretensões,
então, o não Ser seria a única possibilidade.
Lembre-se de que você é efêmero no que você
acredita, que isso seja os pensamentos que passam, ou mesmo este corpo que
nasceu e que retornará à terra.
Será que você é este corpo?
Será que você é o que é efêmero?
Será que você é a sua busca?
Será que você é as suas práticas?
No final, o que você é?
Se você for capaz de viver o que você era
antes de ser este corpo (além de todo corpo de
qualquer vida passada que pertencia à personalidade, de maneira irremediável),bem,
instantaneamente, o Absoluto estaria aí porque ele sempre esteve.
Você não pode se apropriar seja do que for
porque você É isso.
Você não pode possuir o que você É.
É apenas o ego que o
faz crer nisso.
Pergunta: eu sempre quis que depois da morte houvesse o nada.
Há diferença entre o nada e Absoluto?
Esse que deseja, depois da morte, é
evidentemente o ego.
A melhor imagem e a melhor representação que
possa sugerir o ego, do Absoluto, é,
obviamente, o nada.
O Absoluto não
é, naturalmente, qualquer nada, mas ele é, também, o Nada.
O Absoluto, após o
fim desta forma, é o retorno ao sem forma, além de toda memória, além de toda
experiência, em qualquer forma, mesmo que ele possa persistir numa forma, nada
mais tendo a ver com uma forma deste mundo.
O Absoluto é o Tudo e o Nada.
O sem forma (ou o
fim da vida, aqui) põe fim, de algum modo, ao complexo inferior
ego/personalidade (envelope físico e envelopes sutis), mas coloca (e colocou, até agora) o
Ser do outro lado da peça.
Mas era a mesma peça e, em caso algum, o
nada.
E então, em caso algum, o Absoluto.
A forma desaparece porque ela é efêmera.
A personalidade
desaparece porque ela é efêmera.
Mas se alguma coisa retorna, essa alguma
coisa não está inscrita em qualquer forma e em qualquer personalidade.
Hoje, no sentido do seu tempo, não há nada
que faça voltar ou se afastar do Absoluto.
No final, o nada (que ele seja querido, desejado ou rejeitado com horror e
medo) é, efetivamente, o Absoluto, para o ego para
a pessoa, para o mental.
Considerar o seu próprio fim, enquanto
efêmero, pode encher de terror ou de paz,
mas, em um caso como no outro, representar a
morte como um nada não permite, de modo algum, viver o Absoluto,
que isso seja mantendo esta forma, ou não, porque o nada permanece, nesse caso (e permanecerá sempre), uma crença.
Uma crença não tem qualquer peso.
Uma crença é uma justificativa da própria
ausência da experiência.
Nenhuma crença pode substituir a experiência.
Nenhuma história pode ser escrita no
instante.
A crença os faz crer no instante ou no
instante seguinte ou no instante passado, mas ela não é o presente.
O ego não foi
feito para conhecer o nada já que ele desaparece, ainda menos o
Absoluto porque ele não pode ali se
reconhecer, nem ali se conhecer.
O Absoluto não
pode ser, como o nada, um desejo, já que vocês não podem desejar, em última
análise, o que vocês São realmente e que já está aí.
É o ego que vai
acreditar que ele tem que desejar.
Em um momento posterior, chamado de morte, o
nada já está aí, para o ego.
Recusar vê-lo é recusar o Absoluto.
Colocá-lo no amanhã, ou dizer-lhe que é
impossível, é uma forma de negação do
Absoluto.
O ego busca,
ele também, à sua maneira, refutar o que lhe é desconhecido, negá-lo, e eu
diria que isso é legítimo.
Se vocês permanecerem tranquilos e em paz, se
vocês estiverem além daquele que observa, se vocês estiverem além da
testemunha, além de todo conceito, além de toda percepção, além de todo
consciente ou inconsciente, se vocês saírem de toda referência, de toda
projeção, de todo sentido de antecipação, então vocês dão lugar à
Verdade, ao Absoluto.
Vocês não podem refletir sobre o Absoluto.
Você não pode colocar-se a questão do nada,
simplesmente experimentar a vertigem [o medo
patológico de cair no vazio] ou a plenitude (isso
é conforme), mas o que você experimenta, naquele momento, não pode ser
validado, nem mesmo ser uma prova.
A única prova do Absoluto é o Êxtase
e, preliminarmente, sua testemunha:
a Onda da Vida.
Nada pode ser além disso.
E nada pode ser menos do que isso.
Não há mistério no Absoluto, somente o ego o
crê e tende a fazê-lo viver porque o
Ego não pode representar o que,
efetivamente, não tem qualquer representação.
Então, a palavra ‘nada’
pode aparecer como um recurso final, atraente ou temível.
Mas isso permanece um último recurso.
Pergunta: será que esta latência, à qual você faz alusão, como suporte do
Absoluto, pode ser vivenciada como uma sensação de não ter que se incomodar, o que quer que viva ainda a personalidade?
E que a
Alegria profunda e a Beleza que animam, então, são uma Verdade à qual podemos nos agarrar?
O Absoluto não
pode ser agarrado em parte alguma: é preciso, então,
desprender-se.
Enquanto você está preso à sua própria Alegria,
você coloca seu próprio limite ao
Absoluto e, portanto,
você não pode vivê-lo.
Você não pode, então, permanecer ligado ou
agarrado ao que quer que seja.
Qualquer fixação é um freio.
Mesmo se existirem camadas sucessivas
permitindo e dando a Ilusão de ascender ao que quer que seja, é um momento em
que mesmo isso é para abandonar.
Como você pode viver o Absoluto
enquanto você não abandona o Si e a sua Alegria?
É, efetivamente, muito mais fácil e sedutor
viver a Alegria, e várias estruturas que se expressaram, ali os convidaram (nota:
o Conclave Arcangélico, a Assembleia dos Anciãos, das Estrelas...) porque a Alegria é um alívio e que o alívio pode ser
considerado como benéfico.
E isso o é, contrariamente ao peso e à
densidade.
Mas se aliviar não basta para fazer
desaparecer a projeção, em meio à Ilusão.
É, então, um instante (ou um tempo, se vocês preferirem) para, aí também, aceitar não
mais estar fixado.
Não pode ser concebível, nem aceitável, que o
fato de viver a Alegria, de maneira contínua, possa permitir-lhe, um dia, ser o Absoluto.
Como as estruturas que se expressaram
lhes disseram: vocês estão Liberados.
Mas estar Liberado não
é, necessária e implicitamente, viver a Liberação.
A problemática do Absoluto,
contrariamente à Realização, é que isso não pode ser,
de modo algum, uma Consciência
nova ou mesmo um salto de Consciência.
Não há possibilidade porque não há ponte
entre a Realização e o Absoluto.
O Absoluto é (justamente e muito pelo contrário) o
desaparecimento na crença de toda ponte, ou de toda possibilidade, ou de toda Verdade à
qual permanecer fixado.
É preciso, realmente, não mais estar fixado.
Aceitar, de qualquer forma, Abandonar-se à Fonte
de si mesmo, sem conhecê-la.
Abandonar o Si, que é
conhecido, através da Alegria e da Beleza.
O Absoluto e o Último
jamais foram, nem jamais serão, outra coisa que o que é
Verdadeiro e que o que É, desde
toda Eternidade porque não efêmero.
A Alegria à
qual você pretende estar fixado irá desaparecer, assim como a forma irá
desaparecer.
Não pode ser, portanto, eterno, nem ser
duradouro, mesmo se isso estiver instalado de maneira que lhes pareça
duradouro.
Há, então, em Verdade, que se desprender de
todo conhecido, sem qualquer exceção.
A partir do momento em que algo lhes pareça
como conhecido, ele não pode ser o
Absoluto.
Os limites representados pelos medos,
pelos obstáculos, não são de qualquer utilidade, nem de qualquer assistência (e de maneira alguma) para que o Absoluto encontre
vocês.
Finalmente, o mecanismo de latência é o que
dá a perceber a existência de um tempo e o que dá a perceber a existência de um
futuro.
Mas o Absoluto não
tem nem passado, nem presente, nem futuro.
Ele É, além do Ser.
Ele é Isso.
Você não pode, portanto, permanecer fixado,
nem ser devedor de uma Verdade relativa porque toda Verdade, mesmo
relativa, não é o Verdadeiro, é apenas uma etapa.
E o Absoluto não
é uma etapa.
Se você recusar isso, se você aceitar a
incidência, então o Absoluto irá encontrá-lo.
Lembre-se de que você não pode prender-se,
nem buscar.
Pergunta: se um projeto foi feito
antes da Passagem no Absoluto, esse projeto pode se manter ou ele desaparece?
Será que o Absoluto faria
desaparecer o projeto de uma forma que está na vida?
De maneira alguma.
Mas mesmo se esse projeto chegar a
desaparecer, isso não é uma ação da
Personalidade e,
evidentemente, ainda menos uma ação do Absoluto.
O Absoluto não interfere e não
modifica as circunstâncias deste mundo.
Entretanto, a Liberação pelo
Absoluto faz movimentar o conjunto do Universo, o
conjunto dos Mundos.
O que é relativo em um projeto, qualquer que
seja (que seja um projeto de vida, um projeto de
negócio) irá desenrolar-se ou não irá se desenrolar.
O Absoluto não
está ali por nada.
A mudança de olhar sobre o projeto e sobre a
forma não chama, obrigatoriamente, ao desaparecimento do projeto ou da sua
forma.
Mas isso não tem qualquer importância já que
vocês não são mais este projeto, vocês não são mais esta forma.
Quer vocês continuem a apoiar o projeto, como
a portar esta forma (porque é um peso),isso
em nada muda o Verdadeiro.
O Absoluto não
é referido pelo limitado, mas ele engloba o limitado.
O limitado não tem qualquer ponte nem
qualquer continuidade com o Absoluto.
O Absoluto engloba-o.
Não há que se colocar a questão deste corpo,
como de qualquer relação.
Não há qualquer razão válida e objetiva ou
lógica, para o Absoluto decidir ou querer o que quer que seja.
Por outro lado, o relativo inscrito em uma
forma (ego, pessoa) pode ser levado a
reposicionar-se porque o Absoluto fez, efetivamente, mudar o olhar.
Mas isso não é nem obrigatório, nem uma
obrigação, mesmo isso podendo ocorrer.
O Absoluto, vivenciado
e inscrito em uma forma, continua a fazer viver esta forma.
Não há oposição ou antagonismo.
Há apenas a evidência do Absoluto, o fim do
questionamento sobre o sentido e o porquê.
Mas esta forma relativa continua a evoluir ou
sempre é o que ela o crê.
O Absoluto pode
pôr fim às ilusões, mas não à ilusão deste corpo, nem sempre, mas isso não tem
qualquer espécie de importância porque aquele que é Liberado Vivente
não pode mais ser levado para a morte, para
qualquer ilusão, para qualquer jogo.
Tudo isso é transcendido, verificado e
verificável, a cada minuto, a cada sopro.
Que este corpo permaneça ou que este corpo
desapareça, a desidentificação é total com o corpo, sem, no entanto, que haja
um desprendimento deste corpo.
Tudo pode parecer semelhante e, no entanto,
tudo é diferente, não simplesmente transformado, mas, sim, realmente,
transcendido.
Há um antes e um depois do ponto de
basculamento no Absoluto, para a pessoa.
Este antes e este depois podendo ser
idênticos ou radicalmente diferentes.
Isso não tem qualquer incidência e qualquer
repercussão.
Ser Liberado Vivente
é agir Livremente e em Liberdade, é não mais
ser devedor de qualquer moral, de qualquer sociedade, de qualquer relação.
Vocês estão liberados, enquanto podendo
amplamente continuar a estar neste mundo, mas, simplesmente, vocês sabem que
vocês ali não estão.
Vocês irão considerá-lo como um jogo.
Vocês descobriram o fingimento.
Vocês descobriram a enganação.
Vocês são Liberados Viventes
e vocês apenas podem ser, aliás, Viventes.
O que muda e o que deve mudar não é em função
de um desejo da personalidade,
nem de qualquer transgressão, mas, sim, o
efeito direto da transcendência.
As relações, o posicionamento em relação ao
outro, em relação ao mundo, em relação à sociedade e à moral, não serão nunca
mais as mesmas, porque vocês se tornaram o testemunho vivo do Absoluto e
porque vocês estão descondicionados, mesmo estando presentes em algumas
condições.
Aí está o Verdadeiro.
Pergunta: você poderia indicar o
que permite, daí onde eu estou, o ponto de basculamento que você abordou?
Não esteja mais em parte alguma.
Não busque mais referências.
Aceite.
Nada há a buscar, não existe qualquer lugar
melhor do que outro.
Crer e esperar que um lugar seja melhor,
coloca-o na perspectiva linear da pessoa e da personalidade.
Você não pode se aproximar, de forma alguma,
do que você já é, porque isso já está aí.
Portanto, esse ponto de basculamento não
depende de nada mais além de você.
Mas não você em meio a uma ação ou a um
desejo, mas você na ausência total de ideal, na ausência total de busca.
Trata-se de uma capitulação e de uma rendição
total de tudo o que você acredita ser, de tudo o que você manifesta.
Isso foi nomeado, por aqueles que intervêm em
algumas estruturas, a Crucificação.
Do mesmo modo que não é preciso aproximar-se
de uma verdade qualquer, não há ponto de vista ou ponto de basculamento melhor
do que outro.
Há apenas que refutar tudo o que você
acredita ser.
Enquanto houver, em você, um apego à sua
própria pessoa, forma ou envelope sutil, este apego prende-o (também certamente como uma corda) à pessoa, à
personalidade ou ao Si.
Não há qualquer troféu de caça ou de guerra
para exibir.
Justamente, é preciso desprender-se de tudo o
que foi fixado, criar o vazio sem se colocar
questões: uma forma de aceitação do nada, uma forma de aceitação de que nada
há e, sobretudo, nem medalha ou recompensa.
E ainda menos uma mente a conquistar ou a Liberar.
É-lhe preciso, portanto, estar Presente, inteiramente
e na totalidade, à Vida, sem atividade, sem ação, sem reivindicação.
Apenas se colocar aí onde você
sempre esteve: no não Ser.
Fazer cessar o Eu de uma
pessoa, de uma forma, de uma vontade ou de uma medalha.
Nada há a ganhar.
Nada há a conquistar.
O fato de ganhar e de conquistar pertence à
personalidade que deseja possuir e ter.
O Absoluto é
uma devolução de todos os seus bens, de todas as suas medalhas, de todas as
suas vontades, mesmo as mais sutis ou as mais espirituais.
Porque, em última análise, tudo isso apenas
representa uma fraude que não tem qualquer consistência, nem qualquer
substância.
Atuar Verdadeiramente
é aceitar não mais jogar.
Simplesmente, colocar-se, receber, escutar o
que chega então, que jamais partiu.
Assim É o Absoluto.
Fazer o Silêncio (e não somente exteriormente) das atividades,
quaisquer que sejam,
de expressões (corporais,
visuais, sexuais ou verbais), mas, muito mais,
o Silêncio Interior
da imobilidade, da não vontade e da não volição.
Deixando todo o lugar, porque não há lugar
definido.
Deixando todo o espaço porque não há espaço
no Ilimitado.
Aceite e acolha o que É e
não o que você deseja.
O Si é ainda
um desejo, preenchido pela Realização.
O Absoluto é
não desejo, pela Liberação.
Nada há a manifestar, nada a criar e nada a
empreender, visto que isso já É.
Pergunta: além do ponto de basculamento, a consciência do si torna-se a
Consciência de ser o Tudo ou a consciência desaparece?
A consciência desaparece,
na totalidade.
Os quatro estados da consciência não
têm qualquer sentido, nem qualquer legitimidade, no Absoluto.
Não pode existir uma solução, aí tampouco, de
continuidade, entre a consciência e a não consciência.
A consciência está,
irremediavelmente, ligada à observação, à projeção (que
esta projeção seja separada ou não separada, ou seja, no ego ou no Si).
A ausência de separação não é o Absoluto, já que o Absoluto
não pode ser apreendido, de maneira alguma, pela própria consciência.
A única testemunha que a Consciência
pode ter é o que lhes foi denominado a Onda da Vida.
Mas, mesmo aí, a um dado momento, deve
existir uma forma de tomar distância disso.
Esta tomada de distância não é uma distância,
no sentido de afastamento, mas, sim,
uma tomada de distância da própria testemunha
em relação ao que é vivenciado e observado.
A aniquilação da pessoa, da forma, das
percepções desta forma, vai inscrever a consciência nesse ponto de
basculamento, que irá resultar no nada (para a
personalidade) e (do ponto de vista não
pessoal) no Absoluto.
A Onda da Vida,
vivenciada então como experiência (com suas
consequências e suas implicações), fará de vocês uma Onda da Vida, eliminando
a distância e colocando-os em distância.
Aí está o Absoluto.
Não podem existir outras testemunhas ou
outros marcadores além deste.
A Onda da Vida
percorre-os até o momento em que vocês percorrem a Onda da Vida, fazendo-os,
irremediavelmente, sair de toda projeção, a tal ponto que vocês experimentam (não por projeção) totalmente outra coisa,
totalmente outra consciência,
qualquer que seja, em qualquer reino que
seja.
Isso não quer dizer que vocês irão vivê-lo
permanentemente, mas, sim, que isso faz parte do possível, demonstrando o Verdadeiro e a
Verdade do Absoluto.
Passar no Ilimitado torna-os, efetiva e
concretamente, Ilimitado.
E ainda mais Ilimitado e sem limite de
qualquer forma, mesmo a sua (na qual vocês estão,
de maneira efêmera).
A Onda da Vida, enquanto
testemunha e marcador, chama também, a um dado momento, da sua parte, uma forma
de identificação e de renúncia a vocês mesmos, dando-lhes a viver a Vida, além
de toda forma e não importa qual forma, mesmo se for mais fácil, em um primeiro
momento, viver isso com uma forma que vocês conheceram ou que lhes é conhecida,
neste mundo ou em outros lugares, pondo fim à separação, pondo fim à
ignorância, fazendo de vocês um Liberado Vivente.
Esse Liberado Vivente
nada terá a reivindicar, nada terá a explicar, nada terá a justificar, porque
ele É.
Terá apenas que testemunhar, sem o desejar,
sem vontade deliberada, mas porque isso É e faz
parte da Vida.
Ele é a testemunha, ele é o mensageiro, além
de todo papel, de toda função.
Nós não temos mais perguntas, nós lhe agradecemos.
Eu agradeço a vocês, então, pela nossa
conversa e pela minha.
Certamente, até muito em breve, conforme a
fórmula consagrada.
NOTA: Em sua intervenção de 29 de março de 2012, BIDI apresenta suas modalidades de intervenção.
A escuta desta intervenção, em áudio, está sendo
preparada.
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