Testemunhas de Jeová vivem sob a angústia de um iminente
fim do mundo e a esperança de serem conduzidos ao céu
DOMINGO, 2 DE DEZEMBRO DE 2012
Ex-fiéis falam sobre
como é penoso viver no mundo de delírios das TJs
Título original: Como é o mundo das
Testemunhas de Jeová
Por Isabel
Lacerda para revista portuguesa Sábado
Mais de 600 pessoas juntaram-se para denunciar a sua antiga
religião.
Oito delas contam à Sábado como, durante anos, as suas vidas foram
dominadas pelo medo de pecar.
E pecar podia ser, simplesmente, soprar uma vela.
“Lembro-me
de ser miúdo, olhas para um estádio de futebol cheio e pensar angustiado que
aquelas pessoas iam ser todas destruídas porque se calhar nenhuma era
Testemunha de Jeová”, lembra Vítor
Máximo.
“As Testemunhas de Jeová acreditam que o mundo de Satanás vai
acabar e que só elas sobreviverão ao Armadegão, passando com vida para o
Paraíso”, explica M. M.,
ex-ancião (um dos mais altos cargos na hierarquia da organização), que pede anonimato com
receio de represálias para a família, que continua na religião.
Todos os crentes são
habituados a esperar pelo fim do mundo desde crianças.
A essa permanente
angústia, os miúdos juntaram as várias coisas que estão impedidos de fazer na
escola e o pavor de ofender Jeová.
Entre as proibições (como
aos adultos), estão a celebração
de aniversário, Carnaval,
Páscoa, Natal, fim de ano e todas as outras datas de
origem pagã que a religião despreza porque, conforme explica Pedro Candeias, um
dos representantes da organização em Portugal, não são mencionadas nas
Escrituras.
P.T. lembra-se de andar
na escola primária e fingir que cantava os parabéns aos colegas, mexendo os
lábios e esquivando-se a bater palmas.
Mesmo assim, só por
estar presente, temia “ser destruída”.
César Rodrigues
fazia o mesmo e, para evitar perguntas sobre a sua festa e presentes, não dizia
quando aniversariava.
Todos os crentes são habituados a esperar o
fim do mundo desde criança
Ambos contam como agora, respectivamente, celebram todos os
aniversários com o maior entusiasmo:
“Faço questão de ter
sempre um grande bolo.
São
30 anos?
Sopro 30 velas!”,
diz P.T. César festeja com igual euforia, mas ainda hoje não consegue cantar os
parabéns.
“E como se estivesse a fazer algo de mal.
Sei que não estou, mas não consigo evitar este sentimento de
culpa.
Nunca cantei os parabéns na vida.”
O maior terror das
crianças Testemunhas de Jeová é o Natal,
antecedido de
atividades como pinturas, composições, festas ou teatros.
Não podem participar em nada.
“Lembro-me
como se fosse hoje dos meninos todos em grupos a fazer enfeites para colar nas
janelas da sala de aula e eu sozinha de lado, a fazer outra coisa qualquer”, conta P.T.
Por se considerarem
politicamente neutras, as Testemunhas de Jeová não votam em partidos políticos
— nos países em que ir às urnas é obrigatório, são incentivados a votar nulo ou
em branco.
Também não saúdam a
bandeira nem canto o hino.
“Lembro-me bem: no 3º ano, todos de pé a aprender o hino, e eu
supernervosa, só a mexer a boca”, recorda P.T.
A
organização não encontra motivos para o embarco infantil:
“Sendo
esses valores baseados na Bíblia, que razões teriam para sentir vergonha?”, questiona Pedro Candeias.
Artes marciais, que
se considera ensinarem a violência, são interditas.
E, com base numa
passagem bíblica interpretada como Deus não gostando que os homens concorram
entre si, a prática de desportos de competição também é desencorajada.
É das coisas que César Rodrigues mais lamenta:
“Era sempre escolhido para a seleção de futebol da escola, mas
era impensável treinar num clube”, conta este co-fundador do fórum
Testemunhas de Jeová.
Já com mais de 600
usuários, o fórum surgiu para denunciar todas essas situações e apoiar antigos
membros.
Em Portugal, onde há 52 mil Testemunhas de Jeová, é o primeiro,
mas noutros países
da Europa, no Brasil e nos Estados Unidos, o fórum existe há vários anos.
Também há livros e
documentários reveladores do funcionamento da religião.
É o que este grupo que recentemente se organizou pretende em
Portugal:
“Queremos que as pessoas percebam que as Testemunhas de Jeová
não são tão inofensivas como parecer as senhoras que distribuem revistas na
rua”, explica um dos
fundadores do fórum.
Todos os conteúdos
místicos e esotéricos são considerados um perigo para a espiritualidade.
Livros como “O
Senhor dos Anéis” ou “Harry
Potter” não são para abrir.
Quando a família de
P.T. entrou para a religião, os anciões foram livrar-lhes a casa da presença de
Satanás.
Entre o vestido da
noiva que a mãe usara no casamento católico,
todas as fotografias
desse dia e qualquer outra em que aparecesse um crucifixo (para
os fiéis a Jeová, Cristo morreu numa estaca), nada escapou: foi tudo queimado num bidão
de metal, até a sua coleção de livros da Anita.
“Daí para a frente, só lia a Bíblia e as revistas da religião.”
"Testemunhas de Jeová não são inofensivas
como parecem"
As Testemunhas de
Jeová acreditam que “A Sentinela", "Despertai!" e todas as publicações da organização transmitem a palavra de Deus
com a mesma validade que a Bíblia.
“Quando mais cedo começarem o estudo, melhor para já irem
ensinadas para a escola.
Há grávidas que leem o “Meu Livro de Históricas
Bíblicas” em
voz alta para os bebês que têm na barriga”, revela R.M., outra desistente.
Vítor Máximo, crente
durante mais de 35 anos, recorda-se das tardes de quarta-feira passadas a ler
as revistas; P.T. estudava-as com o pai aos sábados à tarde, depois da
pregação.
A pregação porta a
porta é uma atividade fundamental e incontornável para qualquer Testemunha de
Jeová, pois é a única maneira de levar a “Verdade” a mais pessoas, poupando-as
no dia do Juízo Final.
Acreditando nisso,
aos 12 anos G.C. desatou a estudar a Bíblia fervorosamente.
A mãe convertera-se
e ele também.
Acatou os fortes
incentivos da organização para se distanciar das pessoas do Mundo (as
que não são Testemunhas) e afastou-se de
todos os amigos.
De um momento para o
outro, recorda hoje, deixou de brincas na rua e passou a vestir paletó e
gravata para ir às reuniões e a andar de pasta na mão para bater às portas.
Em menos de um ano
estava a entrar, de fato de ganho e
t-shirt branca, na piscina de
Algés, em Lisboa.
Com uma mão em cima
da outra e as duas a tapar o nariz, submergiu totalmente, deitando-se para trás
dentro da água.
Quando veio acima
estava batizado — acabara de se tornar ministro do reino de Jeová.
“É uma dedicação incondicional para toda a vida: ser um escravo
de Jeová e tudo fazer em favor Dele”, lembra mais de 30 anos depois desse momento.
No verão seguinte,
dedicou-se em exclusivo à pregação.
“Eu levava as coisas
muito a sério porque estávamos perto do fim do mundo.
Pensava: ‘É
preciso sacrifícios, vamos fazê-los”’, conta G.C., que foi ancião durante quase 20 anos.
Desde que a religião
foi fundada, em 1879, as Testemunhas já esperaram que o mundo acabasse em
vários anos.
Sempre que as datas
passaram sem que alguma coisa acontecesse, o Corpo Governante (entidade
atualmente composta por oito homens, que é o núcleo administrativo da religião
nos Estados Unidos) emitiu um novo “entendimento”, inquestionável.
“Estão sempre a repetir que a dúvida é um dos laços do Diabo”,
explica R.M.
Invariavelmente, mas sempre a posteriori, a cúpula da organização
nega ter feito qualquer previsão concreta e, apesar de os textos das revistas
oficiais da religião terem sempre mencionado os sucessivos anos em que o mundo
acabaria, diz-se que a expectativa decorreu da má interpretação dos fiéis.
A última data
mundialmente difundida para o Armagedão, com muitas famílias a vender tudo que
tinha para se dedicarem em exclusivo à pregação e garantirem a passagem para o
novo mundo,
foi 1975.
Depois nunca mais se
referiu um ano específico.
Pregação alerta que "arsenal de Deus" inclui chuva de fogo e
apodrecimento de partes do corpo
Com o mundo a poder
acabar a qualquer altura, as Testemunhas de Jeová vivem ao mesmo tempo na
expectativa do recomeço de uma nova vida e apavoradas com esse
momento.
Porque, mesmo para o
povo eleito, o acontecimento implicará grande sofrimento.
Uma revista "Despertai!", de
2005, avisa:
“O arsenal de Deus inclui neve, saraiva, terremotos, doenças
infecciosas, aguaceiro inundante, chuva de fogo e enxofre, confusão mortíferas,
relâmpagos e um flagelo que causará o apodrecimento de partes do corpo.”
Além disso, o
Paraíso só está ao alcance de quem não tiver “culpa de
sangue”, ou seja, quem não
estiver a falhar nos preceitos da religião.
“Eu perdi a minha vida! Não fazia nada com medo de ofender Jeová
e ser destruída”, afirma P.T.
Vítor Máximo conta
que desde criança, e mesmo em adulto, acordou várias vezes a meio da noite “a
chorar, com pesadelos com o Armagedão”
A grande prioridade
das Testemunhas de Jeová é estudar e divulgar os mandamentos de Deus da maneira
a salvar o maior número de pessoas possível.
Por isso, são
altamente desincentivadas a investir em atividades que,
para a organização,
apenas servem para roubar tempo ao testemunho porta a porta e de nada valem
perante o fim de tudo.
Quem vai para a
faculdade mostra que está fraco na fé e passa a ser olhado com desconfiança.
Quando Vítor Jacinto
decidiu licenciar-se em Engenharia Química,
passou a receber
visitas de anciãos e superintendentes de circuito (que
supervisionam várias congregações) quase semanalmente.
A sua biblioteca
fazia-lhes particular confusão.
“Diziam que aqueles livros continham ensinamentos não cristãos e
queriam que me desfizesse deles.
Foi aí que começou a minha grande guerra contra eles.”
Os livros ficaram, o
curso foi acabado, deixou de ir à reuniões.
Investir na carreira
é encarada como outra afronta a Jeová.
“Das coisas que me faziam mais impressão era ver pessoas subir à
tribuna e contar, cheias de orgulho, que tinham recusado um promoção para não
prejudicar a sua vida espiritual”.Revela R.M.
Outro exemplo de
dedicação à religião incutido nas reuniões e nas revistas é o desincentivo que
a organização faz a que se tenha filhos:
por um lado, são
grandes consumidores de tempo, por outro, não é aconselhável pôr crianças num
mundo que vai acabar.
Para G.C., isso
ficou claro no dia do casamento.
Depois de uma
adolescência em que não podia beijar nenhuma rapariga, nem mesmo como
cumprimento, no rosto, e de um namoro com alguém da mesma congregação, sempre
na presença dos pais e sem um único beijo na boca, casou-se num Salão do Reino.
“O ancião que fez o discurso disse que de forma nenhuma
deveríamos ter filhos, porque estamos no tempo do fim e era uma atitude pouco
sábia, pouco espiritual.”
Só contrariou a
instrução mais de 10 anos depois, quando a mulher começou a ficar clinicamente
deprimida com receio de já não conseguir engravidar por causa da idade.
“Os casais que decidem ter filhos são criticados pelos outros
que optam por não ter em virtude das orientações da organização”, revela M.M., outro
ex-ancião.
“Conheço casais que não têm filho e que agora já não podem e
outros que continuam na expectativa de vir o fim para depois poderem ter um
filho. É horrível”, afirma G.C.
Este antigo ancião
deixou o cargo e as reuniões há cinco anos.
Tecnicamente, está
inativo, situação de que não entrega há seis meses relatórios com o número de
publicações que distribuiu e de horas que pregou.
O seu mal-estar com
a religião começou quando, numa formação para cerca de 200 anciões, lhes
foi ordenado que escrevessem na página do manual sobre o abuso sexual de
menores:
“Sempre que surja um
caso de pedofilia, contatem de imediato a filial [a sede, em
Alcabideche, Cascais].
“ Perguntou: “Mas
a pedofilia é crime, não deveria denunciar-se à polícia?”
Responderam-lhe peremptoriamente: “Nós não denunciamos os nossos irmãos. As ordens são estas,
escreva isso aí.”
No manual dos anciões a que a Sábado teve acesso está impresso:
“Se o acusador ou o
acusado não estiverem dispostos a reunir-se com os anciãos, ou se o acusado
continuar a negar a acusação de uma única testemunha e a transgressão não tiver
sido comprovada, os anciãos devem deixar o caso nas mãos de Jeová”
Fiéis são proibidos de terem contato com os expulsos da religião
Esta política de não
divulgação valeu recentemente às Testemunhas de Jeová a condenação à maior
indenização alguma vez já paga nos Estados Unidos a uma vítima de pedofilia:
22 milhões de euros.
O tribunal
considerou provado que a estrutura da organização tinha sabido e abafado o
caso.
Esta é das mais
desconfortáveis questões no interior da Religião.
Outra é a da
desassociação, ou expulsão — o pior que pode acontecer a uma Testemunha e aos
seus familiares, O contato com desassociados é simplesmente proibido, mesmo que
seja da família.
De possuída pelo
demônio, a prostituta, P.T., com cerca de 40 anos,
ouviu os piores
insultos da boca dos pais quando foi desassociada, em 2006.
Proibiram-na de
voltar lá a casa.
“Fiquei desnorteada, pensava que ser destruída, perdi a minha
família e todos os meus amigos, que nem sequer me cumprimentavam.
Como todas as pessoas que são desassociadas, fiquei sem
ninguém.”
“Jeová nos observará
para ver se acatamos, ou não, seu mandamento de não ter contato com nenhum
desassociado”, lê-se na revista “A Sentinela”, de abril deste ano.
“Um simples ‘oi’ dito a alguém pode ser o
primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade.
Queremos
dar esse primeiro passo com alguém desassociado?”,
questionava a mesma
publicação já em 1981 (as Testemunhas de Jeová guardam todas as revistas que
consultam).
“Toem sua posição
contra o Diabo (...).
Não procure
desculpas para se associar com um membro da família desassociada, como, por
exemplo, trocando e-mails”, diz “A Sentinela” de janeiro de 2013 já
disponível no site da organização.
O ostracismo a que
os desassociados são votados pode originar problemas extremos.
Dos oito antigos
fiéis que a Sábado entrevistou (dois dos quais ex-anciãos), quatro tiveram de
procurar ajuda médica para depressões e estado de ansiedade grave — alguns
fizeram terapia, todos foram medicados.
Dois pensaram no suicídio.
Vítor Máximo julgou
que os pais se reaproximassem quando lhes comunicasse o seu segundo casamento.
Afinal, deixaria de
ser um “fornicador”, um dos maiores pecados para a religião.
Mas, como a mulher
era uma mundana e ele um apóstata (abandonou a religião há
cinco anos), os pais nem foram
à cerimônia.
“Nesse dia, quando cheguei a casa, em vez de estar a relembrar
os bons momentos da festa, sentei-me na beira da cama e desatei a chorar”, lembra.
Embora o expulsem,
insiste em aparecer de vez em quando na casa deles, nos arredores do Porto, mas
na última vez que falou com o pai ele chamou-lhe adorador do Diabo e ameaçou
ligar para a polícia caso voltasse.
Durante muitos
meses, a conversa ao jantar com a mulher terminava invariavelmente em lágrimas.
Teve de ir ao
psiquiatra e só superou a depressão com a ajuda de medicamentos.
Quem privar com um
desassociado arrisca-se a ser expulso.
Isso é ficar sem
nenhuma rede social (família e amigos), porque as Testemunhas de Jeová não criam laços com pessoas do
Mundo.
Por medo do que pode acontecer aos familiares, algumas pessoas falaram
para este artigo sob anonimato; outras não revelaram a identidade porque estão
afastadas, mas não se querem dissociar (voluntariamente) nem ser desassociadas, sabendo que nesse momento terão de cortar
relações com os que lhes são mais próximos
A contraditória proibição à transfusão de sangue tem
levado muitos à morte
César Rodrigues, 38
anos, foi Testemunha de Jeová desde que nasceu e as suas dúvidas só surgiram há
quatro anos, quando fez uma coisa que a organização desaconselha
insistentemente: meteu-se num fórum de dissidentes brasileiros na internet.
“Para mim, aquilo era tudo mentira. Pensei: ‘Vou mostrar-lhes o
que é uma verdadeira Testemunha de Jeová’”.
Mas foi ele que
acabou convencido.
Uma das coisas que
mais o chocaram foi perceber as incongruência na proibição de transfusões de
sangue, que já provocou a morte a um número incalculável de crentes.
“As Testemunhas acreditam que a transfusão de sangue lhes é
proibida por passagens bíblicas como estas:
“Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer”, explica o representante
da organização, Pedro Candeias.
Plasma, plaquetas,
glóbulos brancos e vermelhos também são rejeitados.
Mas o recurso a
fracções desses componentes é permitido.
“É extremamente
incoerente condenar o uso de determinadas fracções e permitir o de outras e não
existe base bíblica nem científica para tal distinção.
Por
exemplo, se se pode aceitar hemoglobina, que é 97% de um glóbulo vermelho, por
que não se pode aceitar glóbulos vermelhos? “É como se eu dissesse que você pode comer uma uva sem pele, mas
com pele não pode”, afirma M.M., que foi ancião durante mais de uma década.
Quando César começou
a fazer perguntas aos amigos (“Sabias que era assim?”), foi denunciado.
Fizeram-lhe quatro
comissões judicativas (tribunais eclesiásticos).
Já sem acreditar em
nada do que tomara por certo durante anos,
negou todas as
acusações de falta de fé. Recusa-se a ter de deixar de falar com os pais.
Quando conheceu uma antiga Testemunha de Jeová, perguntou:
“É possível ter amigos do Mundo?”
Descobriu que sim.
Deixou de aparecer
nas reuniões.
R.M. demorou a
fazê-lo, mesmo depois de, no ano passado, ter lido o proibidíssimo livro “Crise
de Consciência, de um antigo membro do Corpo Governante, e de perceber que
“toda a vida tinha vido enganada”.
“Sinto que é mesmo
uma lavagem cerebral, da qual é muito difícil libertamo-nos”, explica.
Só conseguiu
afastar-se quando descobriu o fórum Testemunha de Jeová.
Diz que só passar à
frente de um Salão do Reino a deixa “agoniada”
Mas não está
preparada para deixar de falar com a família.
Para M.B., o momento
está para breve.
Aos 18 anos,
aproveitou o fato de sair de casa e mudar de cidade para confessar aos anciãos
que fumava, o que é proibido.
Já sabia o que o
esperava: uma semana depois lhe comunicaram a expulsão.
De regresso a
Lisboa, foi assaltado e ficou sem dinheiro nenhum.
Ninguém da família
lhe atendeu o telefone nem respondeu às mensagens — nem nessa altura nem em
todo o ano que se seguiu.
“Sentia-me perdido, culpado, abandonado.
Passava noites inteiras sem dormir.”
Desenvolveu um
transtorno de ansiedade incapacitante.
A família continuava
a não lhe atender o telefone.
Pensou no suicídio.
“Mas depois achei que ninguém iria ao meu funeral”.
Um dia em que
insistiu mais uma vez, inesperadamente, a mãe atendeu.
Como o motivo era
doença, os anciões, aos quais ela pediu autorização, permitiram que o recebesse
em casa.
Mas agora que está
mais estável, M.B. sabe que vai ter de voltar a sair.
E que vai ter de se
despedir para sempre.
maio de 2012
abril de 2012
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