sexta-feira,
8 de março de 2013
O homem nasce sozinho e morre sozinho, mas, entre esses dois
pontos, ele vive em sociedade, ele vive com os outros.
Solidão é sua realidade básica; a sociedade é simplesmente
acidental.
E a menos que o homem possa viver sozinho, possa conhecer sua
solidão em sua total profundidade, ele não pode se familiarizar consigo mesmo.
Tudo o que acontece em sociedade é apenas externo: não é você, é
apenas suas relações com os outros.
Você permanece desconhecido.
Pelo lado de fora, você não pode ser revelado.
Mas nós vivemos com os
outros.
Por causa disso, o autoconhecimento fica completamente
esquecido.
Você sabe alguma coisa de você, mas indiretamente – é algo dito
a você pelos outros.
É estranho, absurdo, que os outros devam lhe dizer sobre você.
Seja qual for a identidade que você carregue, ela é dada a você
pelos outros; ela não é real, é uma rotulação.
Um nome é dado a você.
Esse nome é dado como um rótulo, porque será difícil para a
sociedade se relacionar com uma pessoa sem nome.
Não somente o nome é dado, a própria imagem que você pensa ser é
dada pela sociedade: que você é bom, que você é ruim, que você é belo, que você
é inteligente, que você é moral, um santo, ou seja o que for.
A imagem, a forma, também é dada pela sociedade, e você não sabe
o que você é.
Nem seu nome revela nada, nem a forma que a sociedade lhe deu.
Você permanece desconhecido para si mesmo.
Esta é a ansiedade básica.
Você existe, mas você é um desconhecido para si mesmo.
Esta falta de conhecimento da pessoa sobre ela mesma é a
ignorância, e esta ignorância não pode ser destruída por nenhum conhecimento
que os outros possam lhe dar.
Eles podem lhe dizer que você não é este nome, que você não é
esta forma,
que você é uma “alma
eterna”, mas isso também está sendo dado pelos outros, isso também não é
próximo.
A menos que você chegue até si mesmo diretamente, você
permanecerá na ignorância.
E a ignorância cria ansiedade.
Você não tem somente medo dos outros, você tem medo de si mesmo
– porque você não sabe
quem você é e o que está escondido dentro de você. O que será possível, o que
irromperá de você no momento seguinte, você não sabe.
Você permanece apreensivo e a vida se torna uma ansiedade.
Há muitos problemas que criam ansiedade, mas esses problemas são
secundários.
Se você penetrar profundamente, então, cada problema no final
revelará que a ansiedade básica, a angústia básica, é que você é ignorante de
si mesmo – da fonte de onde você vem, do fim para o qual você está se movendo,
do ser que você é exatamente agora.
Daí, toda religião dizer para se entrar em solitude, na solidão,
de modo que você possa por um tempo deixar a sociedade e tudo o que a sociedade
lhe deu, e se encarar diretamente.
Mahavir viveu, por doze anos, sozinho na floresta.
Ele ficou sem falar durante aquele tempo, porque no momento em
que você fala, você entra na sociedade.
A língua é a sociedade.
Ele permaneceu completamente silencioso, ele não falava.
A ponte básica foi cortada, de modo que ele ficasse sozinho.
Quando você não fala, você está sozinho, profundamente sozinho.
Não há como se mover até os outros.
Durante doze longos anos ele viveu sozinho, sem falar.
O que ele estava fazendo?
Ele estava tentando descobrir quem ele era.
É melhor tirar fora todos os rótulos, é melhor ir para longe dos
outros, de modo que não haja nenhuma necessidade da imagem social.
Ele estava jogando fora todo o lixo que a sociedade lhe dera;
ele estava tentando ficar totalmente nu, sem nenhum nome, sem nenhuma forma.
Eis o que significa a nudez de Mahavir.
Não se tratava apenas de jogar as roupas fora.
Era algo mais profundo.
Era a nudez de ficar totalmente só.
Você também usa roupas em função da sociedade: elas são para
esconder seu corpo, ou elas são para cobri-los aos olhos dos outros, porque a
sociedade não aprova seu corpo todo.
Assim, seja o que for que a sociedade não aprove, você tem de
esconder. Somente algumas partes do corpo são permitidas ficarem descobertas.
A sociedade escolhe você em partes.
Sua totalidade não é aprovada, nem aceita.
O mesmo está acontecendo com a mente – não somente com o corpo.
Seu rosto é aprovado, suas mãos são aprovadas, mas seu corpo
todo não é aprovado, principalmente as partes do corpo que possam insinuar
alguma coisa de sexo.
Elas são desaprovadas, não aceitas.
Desse modo, a importância das roupas.
E isto está acontecendo com a mente também: sua mente toda não é
aceita,
somente algumas partes dela.
Assim, você tem de esconder a mente e reprimi-la.
Você não pode abrir sua mente.
Você não pode abrir sua mente diante do seu mais íntimo amigo,
porque ele julgará.
Ele dirá:
“É isso o que você pensa!?
É isso que se passa na sua mente!?”.
Então, você tem de lhe dar somente aquilo que pode ser aceito –
uma parte muito diminuta – e tudo o mais que existe em você, tem de ser
escondido completamente.
A parte escondida cria muitas doenças.
Toda a psicanálise de Freud consiste em trazer para fora a parte
escondida. Levam anos antes de a pessoa ser curada.
Mas o psicanalista não está fazendo nada, ele está simplesmente
trazendo para fora a parte reprimida.
Simplesmente trazê-la para fora se torna uma força curativa.
O que isso significa?
Significa que a supressão é a enfermidade.
É uma carga, uma carga pesada.
Você gostaria de confessar a alguém; você gostaria de dizer,
expressar; você queria que alguém aceitasse você totalmente.
É isso o que significa amor – você não será rejeitado.
O que quer que você seja – bom, mau, santo, pecador – alguém
aceitará sua totalidade, não rejeitará nenhuma parte sua.
Eis por que o amor é a maior força curativa, ele é a mais antiga
psicanálise.
Sempre que você ama uma pessoa, você está aberto a ela, e só por
estar aberto, suas partes cortadas, divididas são religadas – você se torna um.
Mas, até o amor se tornou impossível.
Nem à sua esposa você pode dizer a verdade.
Nem com seu amante você pode ser totalmente autêntico, porque
mesmo os olhos dele ou dela estão julgando.
Ele ou ela também quer uma imagem a ser seguida, um ideal – sua
realidade não é importante, o ideal é importante.
Você sabe que se você expressar sua totalidade, você será
rejeitado, você não será amado.
Você tem medo, e por causa desse medo o amor se torna
impossível.
A psicanálise traz a parte escondida para fora, mas o
psicanalista não está fazendo nada, ele está ali sentado simplesmente
ouvindo-o.
Ninguém nunca o ouviu, parece.
Eis por que você agora precisa da ajuda de um profissional.
Ninguém está pronto para ouvi-lo.
Ninguém tem tempo.
Ninguém tem muito interesse em você.
Assim surgiu a ajuda profissional.
Você está pagando alguém para ouvi-lo.
E então entra ano, sai ano, ele o ouvirá todos os dias, ou duas
vezes por semana, ou três vezes por semana, e você será curado.
Isto é milagroso!
Por que você deveria ser curado só por
ser ouvido?
É porque alguém lhe presta atenção sem nenhum julgamento e você
pode dizer qualquer coisa que esteja dentro de você
E só por falar, aquilo vêm à superfície e se torna uma parte do
consciente. Quando você corta algo, proíbe algo, reprime algo, você está
criando uma divisão entre o consciente e o inconsciente, o aceito e o
rejeitado.
Essa divisão tem de ser jogada fora.
Mahavir buscou a solidão, de modo que ele pudesse ser como ele
era, sem medo de ninguém.
Como ele não tinha que mostrar uma face para alguém, ele pôde
jogar fora todas as máscaras, todas as faces.
Então, ele pôde ficar sozinho, totalmente nu, como se fica sob
as estrelas, ao lado do rio e na floresta.
Não havia ninguém para julgá-lo e ninguém diria:
“Você não tem permissão de fazer isto.
Você tem que se comportar.
Você tem que ser deste modo assim e assim.”
Deixar a sociedade significa deixar a situação onde a repressão
se tornou inevitável.
Assim, nudismo significa ficar como a pessoa é, sem barreiras,
sem qualquer retenção.
Mahavir entrou no silêncio, na solitude, e disse:
“A menos que eu me descubra – não o eu que outros me deram, pois
esse é falso, mas o Eu com o qual nasci -, eu não voltarei para a sociedade.
A menos que eu saiba quem eu sou, eu não voltarei para a
sociedade.
A menos que eu encare diretamente a minha realidade, a menos que
eu tenha encontrado o essencial no homem, não o acidental, eu não falarei,
porque é inútil falar.”.
Vocês são acidentais.
Seja o que for que você pense que você é, é a parte acidental.
Por exemplo: você nasce na Índia.
Você poderia ter nascido na Inglaterra ou na França ou no Japão.
Isso é a parte acidental.
Mas só por ter nascido na Índia, você tem uma identidade
diferente.
Você é um hindu.
Você se pensa um hindu – mas você poderia ter se pensado um
budista no Japão, ou um cristão na Inglaterra, ou um comunista na Rússia.
Você não fez nada para ser um hindu, é apenas um acidente.
Onde quer que você esteja, você teria se juntado à situação.
Você se pensa religioso, mas sua religião é puramente acidental.
Se você tivesse nascido num país comunista, você não teria sido
religioso,
você teria sido tão irreligioso lá, quanto você é religioso
aqui.
Você nasceu numa família jainista; então, você não acredita em
Deus, sem você ter descoberto que não há nenhum Deus.
Mas bem ao lado de sua casa, uma outra criança nasceu no mesmo
dia, e ela é hindu.
Ele acredita em Deus e você não. Isso é acidental, não é
essencial.
Depende das circunstâncias. Você fala híndi, um outro fala
Gujaráti, outro fala Francês – estes são acidentes.
A língua é acidental.
O silencio é essencial.
Sua alma é essencial; seu Eu é acidental.
E descobrir o essencial é a busca, a única busca.
Como descobrir o essencial?
Buda saiu em silêncio durante seis anos.
Jesus também foi para o ermo.
Seus seguidores, os apóstolos, queriam ir com ele.
Eles o seguiram e a certo momento, num certo ponto, ele disse:
“Parem.
Vocês não devem vir comigo.
Agora, eu devo ficar sozinho com meu Deus.”.
Ele entrou no deserto.
Quando ele saiu de volta, ele era um homem totalmente diferente:
ele tinha se defrontado consigo mesmo.
A solidão torna-se o espelho.
A sociedade é o engano.
Eis por que você tem medo de ficar sozinho – porque você terá de
se conhecer na sua nudez, na sua ausência de ornatos.
Você tem medo.
Ficar sozinho é difícil.
Sempre que você está sozinho, você imediatamente começa a fazer
alguma coisa, de modo a não ficar sozinho.
Você pode começar a ler o jornal, ou talvez você ligue a TV, ou
você pode ir a um clube para se encontrar com alguns amigos, ou talvez visitar
alguém da família – mas você tem de fazer algo.
Por quê?
Porque no momento em que você está sozinho sua identidade se
derrete, e tudo que você sabe sobre si mesmo fica falso e tudo o que é real
começa a vir à tona.
Todas as religiões dizem que o homem tem de entrar em retiro
para conhecer a si mesmo.
A pessoa não precisa ficar lá para sempre, isso é inútil; mas a
pessoa tem de ficar em solitude por um tempo, por um período.
E a extensão do período dependerá de cada indivíduo.
Maomé ficou em solitude durante alguns meses; Jesus por somente
alguns dias; Mahavir durante doze anos e Buda durante seis anos.
Depende.
Mas a menos que você chegue ao ponto onde você possa dizer “agora conheci o essencial”, é
imperativo ficar sozinho.
Fonte: Osho
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