Publicada
em 28.03.2010
ENERGIA ELÉTRICA
Cem
por cento limpeza
Por GEVAN
OLIVEIRA
Empresário cearense
desenvolve o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energia
eólica e solar
Não tem mais
volta.
As
tecnologias limpas – aquelas que não queimam combustível fóssil
– serão o futuro do planeta quando o assunto
for geração de energia elétrica.
E, nessa
onda, a produção eólica e solar sai na frente, representando importantes fatias
na matriz energética de vários países europeus, como Espanha,
Alemanha e Portugal, além dos Estados Unidos.
Também está
na dianteira quem conseguiu vislumbrar essa realidade,
quando havia
apenas teorias, e preparou-se para produzir energia sem agredir o meio
ambiente.
No Ceará, um dos locais no
mundo com maior potencial energético (limpo), um ‘cabeça chata’ pretende mostrar que o estado, além de abençoado pela natureza, é capaz
de desenvolver tecnologia de ponta
O professor
Pardal cearense é o engenheiro
mecânico Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eollic, empresa
que lançou no mercado o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado
por energias eólica e solar.
Com modelos
de 12 e 18 metros de altura (feitos
em aço), o que mais chama a
atenção no invento, tecnicamente denominado de Produtor Independente de Energia
(PIE), é a presença de um avião no topo do
poste.
Feito em
fibra de carbono e alumínio especial – mesmo material usado em aeronaves
comerciais –, a peça tem três metros de comprimento e, na realidade, é a
peça-chave do poste híbrido.
Ximenes diz
que o formato de avião não foi escolhido por acaso.
A escolha se
deve à sua aerodinâmica, que facilita a captura de raios solares e de vento.
"Além
disso, em forma de avião, o poste fica mais seguro. São duas fontes de energia
alimentando-se ao mesmo tempo, podendo ser instalado em qualquer região e
localidade do Brasil e do mundo", esclarece.
Tecnicamente,
as asas do avião abrigam células solares que captam raios ultravioletas e
infravermelhos por meio do silício
(elemento químico que é o principal componente do vidro, cimento, cerâmica, da
maioria dos componentes semicondutores e dos silicones), transformando-os em energia elétrica (até 400 watts), que é armazenada em uma bateria afixada
alguns metros abaixo.
Cumprindo a
mesma tarefa de gerar energia, estão as hélices do avião.
Assim como
as naceles (pás) dos grandes cata-ventos espalhados pelo
litoral cearense, a energia (até
1.000 watts) é gerada a
partir do giro dessas pás.
Cada poste é
capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo.
Ou seja, um
poste com um "avião"
– na verdade um gerador – é
capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas,
uma vez que não utilizam mercúrio, como as fluorescentes compactas) de 50.000 horas de vida útil dia e noite
(cerca de 50 vezes mais que
as lâmpadas em operação atualmente; quanto à luminosidade, as LEDs são oito vezes mais potentes que as convencionais).
A captação (da luz e do vento) pelo avião é feita em um eixo com giro
de 360 graus, de acordo com a direção do vento.
À
prova de apagão
Por meio
dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até
sete dias, ou seja, é à prova de apagão.
Ximenes brinca dizendo que sua tecnologia é mais resistente que o homem:
"As baterias do poste
híbrido têm autonomia para 70 horas, ou seja, se faltarem vento e sol 70 horas,
ou sete noites seguidas, as lâmpadas continuarão ligadas, enquanto a humanidade
seria extinta porque não se consegue viver sete dias sem a luz solar".
O inventor
explica que a ideia nasceu em 2001, durante o apagão.
Naquela
época, suas pesquisas mostraram que era possível oferecer alternativas ao caos
energético.
Ele conta
que a caminhada foi difícil, em função da falta de incentivo
– o trabalho foi desenvolvido com recursos
próprios.
Além disso,
teve que superar o pessimismo de quem não acreditava que fosse possível
desenvolver o invento.
diz. "Algumas pessoas acham que só
copiamos e adaptamos descobertas de outros.
Nossa
tecnologia, no entanto, prova que esse pensamento está errado.
Somos, sim,
capazes de planejar, executar e levar ao mercado um produto feito 100% no
Ceará.
Precisamos,
na verdade, é de pessoas que acreditem em nosso potencial",
Mas esse não
parece ser um problema para o inventor.
Ele até
arranjou um padrinho forte, que apostou na ideia: o governo do estado.
O projeto, gestado
durante sete anos, pode ser visto no Palácio Iracema,
onde passa
por testes.
De acordo com
Ximenes, nos próximos meses
deve haver um entendimento entre as partes.
Sua intenção
é colocar a descoberta em praças, avenidas e rodovias.
O empresário
garante que só há benefícios econômicos para o (possível) investidor.
Mesmo não
divulgando o valor necessário à instalação do equipamento,
Ximenes afirma que a economia é de cerca de R$ 21.000 por quilômetro/mês, considerando-se a fatura cheia da
energia elétrica.
Além disso,
o custo de instalação de cada poste é cerca de 10% menor que o convencional,
isso porque economiza transmissão, subestação e cabeamento.
A
alternativa teria, também, um forte impacto no consumo da iluminação pública,
que atualmente representa 7% da energia no estado.
"Com os
novos postes, esse consumo passaria para próximo de 3%",
garante,
ressaltando que, além das vantagens econômicas, existe ainda o apelo ambiental."
Uma vez que
não haverá contaminação do solo, nem refugo de materiais radioativos, não há
impacto ambiental",
finaliza Fernandes Ximenes.
Vento e sol
Com a
inauguração, em agosto do ano passado, do parque eólico Praias de Parajuru, em
Beberibe, o Ceará passou a ser o estado brasileiro com maior capacidade
instalada em geração de energia elétrica por meio dos ventos, com mais de 150
megawatts (MW).
Instalada em
uma área de 325 hectares, localizada a pouco mais de cem quilômetros de
Fortaleza, a nova usina passou a funcionar com 19 aerogeradores, capazes de
gerar 28,8 MW.
O
empreendimento é resultado de uma parceria entre a Companhia Energética de
Minas Gerais (Cemig) e a empresa Impsa, fabricante de
aerogeradores.
Além dessa,
a parceria prevê a construção de dois outros parques eólicos – Praia do Morgado,
com uma capacidade também de 28,8 MW, e Volta do Rio, com 28 aerogeradores
produzindo, em conjunto, 42 MW de eletricidade.
Os dois
parques serão instalados no município de Acaraú, a 240 quilômetros de
Fortaleza.
Se no
litoral cearense não falta vento, no interior o que tem muito são raios
solares.
O calor, que
racha a terra e enche de apreensão o agricultor em tempos de estiagem, traz
como consolo a possibilidade de criação de emprego e renda a partir da geração
de energia elétrica.
Na região dos Inhamuns, por
exemplo, onde há a maior radiação solar de todo o país, o potencial é que sejam
produzidos, durante o dia, até 16 megajoules (MJ – unidade de medida da
energia obtida pelo calor) por metro quadrado.
Essa
característica levou investidores a escolher a região, especificamente o
município de Tauá, para abrigar a primeira usina solar brasileira.
O projeto
está pronto e a previsão é que as obras comecem no final deste mês.
O
empreendimento contará com aporte do Fundo de Investimento em Energia Solar (FIES), iniciativa que dá benefícios fiscais para viabilizar a
produção e comercialização desse tipo de energia, cujo custo ainda é elevado em
relação a outras fontes, como hidrelétricas, térmicas e eólicas.
A usina de Tauá
será construída pela MPX – empresa do grupo EBX, de Eike Batista – e inicialmente foi anunciada com uma
capacidade de produção de 50 MW, o que demandaria investimentos superiores a US$ 400 milhões.
Dessa forma,
seria a segunda maior do mundo, perdendo apenas para um projeto em Portugal.
No entanto,
os novos planos da empresa apontam para uma produção inicial de apenas 1 MW,
para em seguida ser ampliada, até alcançar os 5 MW já autorizados pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os
equipamentos foram fornecidos pela empresa chinesa Yingli.
Segundo o
presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, essa ampliação dependerá da capacidade
de financiamento do FIES.
Aprovado em 2009
e pioneiro no Brasil, o
fundo pagaria ao investidor a diferença entre a tarifa de referência normal e a
da solar, ainda mais cara.
"A
energia solar hoje é inviável financeiramente, e só se torna possível agora por
meio desse instrumento",
esclarece.
Ao todo,
estima-se que o Ceará tem potencial de geração fotovoltaica de até 60.000 MW.
Também
aproveitando o potencial do estado para a energia solar, uma empresa espanhola
realiza estudos para definir a instalação de duas térmicas movidas a esse tipo
de energia.
Caso se
confirme o interesse espanhol, as terras cearenses abrigariam as primeiras
termossolares do Brasil.
A dimensão e
a capacidade de geração do investimento ainda não estão definidas, mas se
acredita que as unidades poderão começar com capacidade entre 2 MW a 5 MW.
Bola
da vez
De fato, em
todas as partes do mundo, há esforços cada vez maiores e mais rápidos para
transformar as energias limpas na bola da vez.
E, nesse
sentido, números positivos não faltam para alimentar tal expectativa.
Organismos
internacionais apontam que o mundo precisará de 37 milhões de profissionais
para atuar no setor de energia renovável até 2030, e boa parte deles deverá
estar presente no Brasil.
Isso se o
país souber aproveitar seu gigantesco potencial, especialmente para gerar
energias eólica e solar.
Segundo o
Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvolvido pelo Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o dever de casa no país passa, em
termos de energia solar, por exemplo, pela modernização de laboratórios,
integração de centros de referência e investimento em desenvolvimento de
tecnologia para obter energia fotovoltaica a baixo custo.
Também
precisará estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que
conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos.
"Um dos
objetivos do estudo, em fase de conclusão, é identificar as oportunidades e
desafios para a participação brasileira no mercado doméstico e internacional de
energia solar fotovoltaica", diz o assessor técnico do CGEE, Elyas Ferreira de Medeiros.
Por
intermédio desse trabalho, será possível construir e recomendar ações
estratégicas aos órgãos de governo, universidades e empresas, sempre
articuladas com a sociedade, para inserir o país nesse segmento.
Ele explica
que as vantagens da energia solar são muitas e os números astronômicos.
Elyas cita
um exemplo: em um ano, a Terra recebe pelos raios solares o equivalente a
10.000 vezes o consumo mundial de energia no mesmo período.
O CGEE destaca, em seu trabalho, a necessidade
de que sejam instituídas políticas de desenvolvimento tecnológico, com
investimentos em pesquisa sobre o silício e sistemas fotovoltaicos.
Há a
necessidade de fomentar o desenvolvimento de uma indústria nacional de equipamentos
de sistemas produtivos com alta integração,
além de
incentivar a implantação de um programa de desenvolvimento industrial e a
necessidade de formação de profissionais para instalar,
operar e manter os sistemas
fotovoltaicos.
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