EXILADOS NA
TERRA
sábado,
21 de setembro de 2013
Nathalia Leite
Segundo a crença espírita, milhares de anos atrás, um grupo de
seres oriundos de uma estrela longínqua foi degredado para o nosso planeta.
Algumas tradições afirmam que essa estrela se chama
Capela e, desde a chegada desses seres, ocorreram profundas transformações,
delineando novos rumos para a civilização que começava a se formar no globo
terrestre.
Já entramos no terceiro milênio, e começamos a experimentar as
turbulentas manifestações do expurgo a que terá de se submeter o planeta Terra
para atingir sua nova fase evolutiva.
Para a doutrina espírita kardecista, esta é uma fase de
mudanças; ela explica que os espíritos aqui instalados passaram por terríveis
provações e adversidades ao longo de inúmeras encarnações, e todos tiveram o
apanágio do livre-arbítrio.
Muitos aprimoraram a inteligência, em detrimento do amor
incondicional; outros se tornaram seres amáveis e humildes, mas
intelectualmente atrofiados.
Enfim, todos seguiram por caminhos diferentes, mas tiveram
oportunidades para aprender as mesmas lições.
Muitos acreditam que, chegado o fim deste ciclo de expiações e
provas, os espíritos cujos corações continuam bloqueados pela presença
da maldade, não poderão acompanhar os demais, que se encontram em estágio
superior e, essa forma, não poderão compartilhar da nova fase de regeneração.
Teoricamente, eles irão constituir a nova leva de seres que
serão deportados para outro orbe, inferior a este, para se misturarem às raças
autóctones locais, passarem por novas dificuldades e edificarem uma nova
civilização, até que alcancem o nível evolutivo de sua nação terráquea.
Da mesma forma, acredita-se que há milhares de anos, quando os
primatas terrestres começavam a esboçar os primeiros sinais de hominização, tenha
ocorrido a vinda dos exilados de Capela.
A Perda do Paraíso
"(...) Depois disse Iahweh Deus:
"Se o homem já é como um de nós, versado no Bem e no Mal,
que agora ele não estenda a mão e colha também da árvore da vida e coma e viva
para sempre!
E Iahweh Deus o expulsou do jardim de Éden para cultivar o solo
de onde fora tirado.
Ele baniu o homem e colocou diante do jardim de Éden, os
querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da árvore da
vida".
(Gênesis, Cap. 3, Vs 22-24. Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2002)
Esse episódio do Gênesis, que narra a "perda
do paraíso", é uma das passagens bíblicas mais conhecidas e comentadas.
Existem diversas interpretações para esse mito, versões que
procuram elucidar as mensagens codificadas pela linguagem alegórica da Bíblia (Gilberto, você vê
necessidade de colocar a palavra Bíblia em itálico? Eu tirei.) Os
católicos mais ortodoxos defendem que essas histórias são reais, tendo
existido, de fato,
um casal original que cometeu um pecado, herdado por toda
humanidade.
No entanto, semioticistas famosos, como Joseph Campbell,
interpretam essa narrativa como o mito da separação do Homem com
o Todo Universal, caracterizando a perda do sentimento de unidade com Deus.
Para Campbell, o "pecado original" de Adão e
Eva foi quebrar essa harmonia plena com a natureza, simbolizada pela árvore do
conhecimento, o que resultou na divisão do Todo entre Bem e Mal: a condição
de dualidade subjacente a toda e qualquer experiência humana.
Campbell acredita que Deus, então, seria a transcendência
alcançada pelo Homem quando vence seus medos e seus desejos
– a dupla de querubins
que guardam a árvore da vida
– e atinge a Imortalidade
ou a Iluminação do Buda.
Contudo, existe uma outra versão, compartilhada por muitas
pessoas no meio espírita.
No livro A Caminho da Luz, o espírito Emmanuel diz, no capítulo
em que fala sobre a época dos antepassados do homem:
"Onde está Adão com sua queda do paraíso?
Debalde nossos olhos procuram, aflitos, essas figuras
legendárias, com o propósito de localizá-las no Espaço e no Tempo.
Compreendemos, afinal, que Adão e Eva constituem uma lembrança dos
Espíritos degredados na paisagem obscura da Terra, como Caim e Abel são dois
símbolos para a personalidade das criaturas".
Em concordância com essa explicação, o livro Os Exilados
da Capela, escrito por Edgar Armond – esotérico que se converteu ao
espiritismo –, também interpreta esse conto bíblico como um relato das
reminiscências de um povo que, há muito tempo, foi exilado de um lugar
maravilhoso, onde a evolução daquela humanidade atingia níveis morais e intelectuais
inconcebíveis pela imaginação terráquea.
A grosso modo, Armond divide a história humana em três
ciclos.
O primeiro "(...) começa no
ponto em que os Prepostos de Cristo,
já havendo determinado os tipos dos seres dos três reinos
inferiores e terminado as experimentações fundamentais para a criação do (...) tipo de transição entre os reinos
animal e humano, apresentaram, como espécime-padrão, adequado às condições de
vida no planeta, esta forma corporal (...). O ciclo
prossegue com a evolução, no astral do planeta, dos espíritos que formaram a 1ª
Raça-Mãe; depois com a encarnação dos homens primitivos na 2ª Raça-Mãe, suas
sucessivas gerações e selecionamentos periódicos para aperfeiçoamentos
etnográficos;
na 3ª e 4ª, com a emigração de espíritos vindos da Capela;
corrupção moral subseqüente e expurgo da Terra com os
cataclismos que a tradição espiritual registra".
O segundo ciclo "(...) inicia-se
com as massas sobreviventes desses cataclismos; atravessa toda a fase consumida
com a formação de novas e mais adiantadas sociedades humanas e termina com a
vinda do Messias Redentor".
E o terceiro
"(...) começa no
Gólgota, com o último ato do sacrifício do Divino Mestre e vem até nossos dias,
devendo encerrar-se com o advento do Terceiro Milênio, em pleno Aquário, quando
a humanidade sofrerá novo expurgo – que é o predito por Jesus, nos seus
ensinos, anunciado desde antes pelos Profetas hebreus, simbolizado por João no
Apocalipse e confirmado pelos porta-vozes da Terceira Revelação – época em
que se iniciará na Terra um período de vida moral mais perfeito,
para tornar realidade os ensinamentos contidos nos evangelhos
cristãos".
Aprendizado na Terra
Segundo afirma Emmanuel no livro A Caminho da
Luz, haveria uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor
Supremo do Universo, em cujas mãos estariam as rédeas diretoras da vida de
todas as coletividades planetárias.
Esses "obreiros" de Jesus seriam os responsáveis
pela Criação do orbe terrestre e pela evolução dos seres que aqui se
desenvolveram.
Emmanuel explica que há muitos milênios, um dos
orbes da Capela – que guarda muitas afinidades com o globo terrestre –, atingiu
a culminância de um de seus ciclos evolutivos.
Viviam ali povos já purificados física e moralmente, coexistindo
com legiões de espíritos rebeldes e atrasados, não havendo mais sentido em
continuarem habitando o mesmo espaço.
Nessa etapa de transição, ocorreu o que chamamos de "separação
do joio e do trigo", tal como está começando a ocorrer aqui na Terra.
As grandes comunidades espirituais diretoras do Cosmos
deliberaram o exílio desses espíritos aqui na Terra, onde, afirma Emmanuel, "aprenderiam
a realizar, na dor e nos trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes
conquistas do coração e impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos
inferiores".
Estes "irmãos" aos quais Emmanuel se refere
eram os homens primitivos, que caracterizaram a transição do reino animal para
o hominal, configurando as raças autóctones que ficaram conhecidas no meio
espiritualista como "pré-adâmicas", ou seja,
anteriores à vinda de Adão.
Para Amauri Costa, coordenador do curso de evangelização do Centro
Espírita A Luz Divina, a melhor analogia para esse processo evolutivo de
trânsito entre mundos é o método aplicado por nossas escolas.
"O aluno, quando está atrasado em relação ao resto da
classe, é retirado e posto numa outra sala para fazer recuperação, e lá ele irá
encontrar outros alunos que estão no mesmo nível que ele ou num grau de
aprendizagem inferior, até podendo ajudá-los a melhorar", diz Amauri, exemplificando
o que ocorre no Universo com toda a Criação.
"É uma situação drástica, porque o natural seria que todos
se desenvolvessem ao mesmo tempo e caminhassem juntos, mas cada um escolhe o
caminho que quer seguir", observa.
Aqui, portanto, caberia a máxima de que "todos
os caminhos levam a Deus", embora alguns sejam mais longos e dolorosos.
Emmanuel explica que todos os seres foram criados para se tornarem entidades
angelicais, e que todos os homens primitivos se tornarão anjos; alguns mais
cedo, outros, mais tarde.
Amauri acredita que o final dos grandes ciclos se dá pelo esgotamento
das possibilidades e dos recursos planetários,
havendo a necessidade de uma mudança no perispírito humano, de
modo que consiga sobreviver nas novas condições naturais.
"O que vai mudar não é o planeta, mas o ser
humano, que, por sua evolução moral e intelectual, se tornará mais leve e
adequado às condições do planeta.
É o que ocorre com a Terra, que está se tornando cada vez mais
um lugar inóspito para se viver.
Daqui a pouco, não haverá como existir num ambiente tão
degradado, considerando nossa atual constituição física".
Ele explica que, por essa razão, não havia mais possibilidade
daqueles espíritos cheios de iniqüidades continuarem vivendo em Capela, mesmo
porque seus atrasados perispíritos não mais correspondiam à nova realidade
física do orbe.
Assim, esses espíritos desterrados teriam concorrido para a
formação da raça humana, para o seu desenvolvimento e sua evolução, da mesma
forma que o aluno atrasado de que fala Amauri, ajudando seus novos colegas
que estão em estágio inferior.
A descida desses espíritos, segundo Edgar Armond, teria sido
simbolizada na Bíblia pelo surgimento de Adão e Eva no planeta,
cuja descendência – Caim, Abel e Seth – seria uma
representação dos perfis de espíritos que encarnaram no globo, provenientes de
Capela.
Caim e Abel, desse modo, personificam as duas tendências de
caráter dessas legiões emigradas que, em parte, eram formadas por "espíritos
rebeldes, violentos e orgulhosos", que ficaram por muito tempo na
terra cultivando o solo, até que se redimissem de seus erros; e, por outra, por
espíritos cujo temperamento mais pacífico e submisso às vontades de Deus os fez
voltar logo ao orbe de origem.
Já Seth foi gerado à imagem e semelhança de Adão, e
constituiu a corrente familiar que chegou até Noé, sendo,
então, a única "linhagem" sobrevivente ao dilúvio.
É interessante lembrar, também, que Enós, primeiro
filho de Seth, foi o primeiro a invocar o nome de Iahweh Deus, segundo
conta a Bíblia, o que poderia ilustrar a crença de que esses povos foram os
responsáveis pelo despertar da espiritualidade nos ignorantes e primitivos
homens terrestres.
Seth representaria, então, a raça que semeou a chama
divina nos corações dos homens, progrediu, sobreviveu ao cataclisma por vontade
de Deus e deu origem à atual humanidade.
Os Quatro Grandes Povos
Emmanuel não fala em ordenação de raças, mas explica que as atuais raças
brancas são descendentes daquelas oriundas de Capela, que encarnaram nos
principais locais terrestres, onde as concentrações de tribos primitivas eram
mais numerosas e evoluídas, e aí se misturaram aos terráqueos.
A maioria, prossegue Emmanuel, estabeleceu-se na Ásia, de
onde atravessou o istmo de Suez para a África, na região do Egito,
encaminhando-se igualmente para a Atlântida.
"Grande percentagem daqueles Espíritos rebeldes, com muitas
exceções, só puderam voltar ao país da luz e da verdade depois de muitos
séculos de sofrimentos expiatórios; outros, porém,
infelizes e retrógrados, permanecem ainda na Terra, nos dias que
correm, contrariando a regra geral, em virtude do seu elevado passivo de
débitos clamorosos", conclui Emmanuel.
Essas raças adâmicas teriam se reunido, de acordo com suas
afinidades sentimentais e lingüísticas, em quatro grandes povos da antiguidade:
a civilização do Egito, o grupo dos árias, o povo de Israel e as castas da
Índia.
Os egípcios eram os que traziam mais vivas na memória as
lembranças da antiga morada.
Formaram a civilização mais evoluída e que menos débitos tinha
no tribunal da Justiça Divina.
Como espíritos possuidores de insondáveis segredos a respeito da
vida e da morte, logo saldaram suas "dívidas" e
regressaram a Capela, tendo muitos deles permanecido no astral terrestre com o
intuito de contribuir para a evolução da humanidade,
reencarnando periodicamente.
Às margens do Rio Ganges, formou-se a civilização hindu,
formada pelos arianos puros.
Apesar de seus elevados conhecimentos espirituais, dos quais
provém grande parte da sabedoria espiritual do mundo de hoje,
a civilização hindu espalhou-se pela região dominando os
autóctones descendentes dos "primatas", que possuíam
uma pele escura, dos quais se diferenciavam física e psiquicamente.
Os que ficaram na Índia organizaram uma sociedade de castas,
que não se constituía num sentido apenas hierárquico, mas com a
significação de uma superioridade orgulhosa e absoluta.
Em vez de se integrarem às raças locais, impulsionando sua
evolução de maneira humilde, os arianos da Índia viram nos aborígenes os párias
da sociedade, a ralé de todos os seres.
Outra parte dos árias asiáticos, formada na sua maioria por
espíritos descontentes e revoltados com as condições de seu degredo, migrou
para outras terras à procura de novas emoções.
Deles descenderam as famílias indo-européias como a sociedade
dos gregos, eslavos, celtas, germanos e latinos.
Se, por um lado, estabeleceram as bases da propriedade privada,
que gerou tantos conflitos até os dias de hoje, por outro lado
sua maior virtude foi a assimilação de elementos de todas as tribos que foram
encontrando pelo caminho.
Diz Emmanuel que, de todos os espíritos degredados na
Terra,
foram os hebreus que constituíram a raça mais forte e homogênea,
mantendo inalterados os seus caracteres através de todas as mutações.
No entanto, à semelhança do povo hindu, o paradoxo da comunidade
de Israel foi a grandeza de sua fé na existência do Deus único em proporção ao
seu orgulho e seu sentimento de superioridade espiritual.
Controvérsia
Entre as correntes espiritualistas e espíritas propriamente
ditas, ainda existem muitas versões e divergências no que diz respeito às raças
que povoaram a Terra; de onde vieram, de que maneira, para onde foram, e a
ordem cronológica em que os fatos se deram.
O que deveria ser apenas uma discussão de idéias e de suposições
– afinal, como se sabe, há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que pode
supor nossa vã filosofia – chega a se transformar numa luta de egos, uns querendo impor
suas opiniões e verdades aos outros.
O que se depreende de todas essas histórias – relatadas de
formas diferentes por inúmeros povos ao redor do globo –, é que a evolução é o
destino inexorável do ser humano, do qual ninguém pode escapar.
Jesus, ao longo de sua encarnação na Terra, só nos falou
sobre amor, paz e igualdade.
Sabia que, se nem mesmo essas mensagens ainda haviam sido
compreendidas pelos humanos, o que dizer das extensas e complexas explicações
sobre as transmigrações planetárias?
Irene
Ibelli
Empreendedora
Digital, Humanista e Espiritualista
Eleita
Cidadã Planetária Pelo Projeto
Vôo da Águia
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