BRASIL:
UM OLHAR DE QUEM VEM DE FORA
4/17/2014
Você alguma vez parou para olhar
realmente o que acontece à sua volta no Brasil?
Alguma vez já parou para repensar a realidade
do país?
Por que o Brasil, com toda sua riqueza e
diversidade, não consegue evoluir e se igualar a um país de primeiro mundo?
Se eu me fizesse essas perguntas há
alguns anos,
certamente responderia que é culpa da
corrupção, dos altos impostos, da burocracia, da desigualdade social, da falta
de educação, infraestrutura, saúde, empregos etc.
Hoje, depois de passar um ano e meio
fora do Brasil, vejo que a realidade do país é outra.
As situações absurdas, que de tão
comuns já haviam me anestesiado, agora já me causam repulsa novamente.
Aquele modo automático de ignorar o
que eu não queria ver se reverteu.
O efeito da anestesia passou.
Ficam registradas nesse post minhas
impressões ao voltar ao Brasil e vê-lo pela primeira vez.
Descaso, desorganização e caos
A primeira coisa que eu notei ao sair
do aeroporto foi o caos do trânsito de veículos e pessoas.
As ruas de várias cidades estão
abandonadas, não há pintura do meio-fio, há somente resquícios das faixas de
pedestre, é raro encontrar uma sinaleira pra pedestres (exceto nas grandes avenidas da capital), faltam placas, sinalização de lombadas e
iluminação.
Até a novíssima rodovia do Parque
tinha longos trechos sem iluminação 7 dias após sua inauguração.
Como se não bastassem as péssimas
condições de circulação, os motoristas e transeuntes brasileiros não ajudam em
nada.
Uma das características mais
marcantes e irritantes do nosso trânsito são os pedestres cruzando ruas fora da
faixa de segurança, mesmo que esta esteja a 5 metros de distância.
Como se não bastasse, eles ainda
atravessam em esquinas,
cruzamentos, rotatórias, pontos de
difícil visualização para o motorista e até quando o semáforo está verde para
os carros.
Pior ainda é que eles fazem isso não
só sozinhos, mas também acompanhados por crianças
(pra ensinar errado pras próximas
gerações), em grupos (que são mais lentos), carregando coisas (imagina meu susto quando 4
pessoas carregando uma geladeira se jogaram na frente do meu carro semana
passada),
etc. Depois as pessoas são
atropeladas e a culpa é do motorista…
O caos se intensifica ainda mais com
motocicletas e ciclistas.
O problema das motocicletas já é
assunto conhecido para qualquer um que dirija no Brasil.
Elas cortam na frente, circulam em
alta velocidade, não respeitam as faixas de sinalização, etc.
Agora, os ciclistas estão demais.
Eu concordo que faltam ciclovias nas
cidades e que, na falta delas, os ciclistas devem ser respeitados tanto quanto
carros e motocicletas.
Agora, para ser respeitado, tem que
respeitar.
Todo ciclista quer que os carros os
ultrapassem com distância segura e que respeitem sua passagem nas vias
preferenciais.
Mas qual ciclista faz sinal com a mão
quando vai dobrar em uma esquina?
Qual finalização quando vai parar?
Qual nunca cruzou um sinal vermelho
porque “não vinha ninguém” do outro lado?
Qual nunca andou nas calçadas de
pedestres?
Sem falar nos que andam na contramão.
O código de trânsito é claro, e
aquele que o desconhece deve ser multado não só pela infração cometida, mas
também por atestar o desconhecimento da própria lei.
Sobre os carros não tenho muito a
acrescentar.
Continuam dirigindo agressivamente ao
invés de defensivamente, não usam as setas para indicar se, onde e quando vão
dobrar ou parar, estacionam e param em locais proibidos ou em fila dupla
atrapalhando os motoristas atrás deles, etc.
Em suma, o trânsito brasileiro tem
muito a ver com a dinâmica da população em geral: falta respeito, educação e consideração pelo próximo.
A desorganização e o caos também se
instalam em locais com grande concentração de pessoas.
Parece que existe um botão de
liga/desliga para a civilidade.
As pessoas transformam-se em animais
para entrar em um trem ou ônibus lotado, para conseguir o último item em uma
promoção, para pegar um lugar bom na fila, no estádio, no teatro, no
restaurante (vide restaurante universitário)
Às vezes me sinto na dança das
cadeiras, aquela brincadeira infantil.
O cúmulo foi o voo que peguei de
Lisboa para o Brasil em dezembro.
A maioria dos passageiros eram brasileiros,
então as pessoas corriam, se empurravam e tentavam furar as filas do raio-X, do
controle de imigração, do check-in, e do embarque.
O cúmulo em questão foi o pessoal ter
ficado 1h30 em pé na fila de embarque do avião pra ser o primeiro a entrar
Alguém me explica isso?
Egoísmo e desrespeito
Acho que logo depois dos exemplos
acima, vale falar sobre como somos individualistas, egoístas e desrespeitosos
em relação ao próximo.
Brasileiro tenta tirar vantagem em
tudo.
Tem que estar sempre à frente, tem
que ter o melhor e, mais importante, tem que se mostrar (afinal, não é por isso que o facebook fez tanto sucesso no país?)
Falta de educação
Ainda em 2014 se vê pessoas jogando
lixo na rua.
Eu ainda vi uma mãe mandando o filho
jogar o papel de bala pela janela do carro para não melecar o lixo do veículo.
E não era um carro ruim, era uma
caminhonete SUV com teto solar e tudo.
O absurdo é tanto que criaram uma lei
explicitamente proibindo espalhar detritos, com direito à multa (embora eu tenha certeza de que isso já se encontra
nas leis de respeito ao patrimônio público).
Essa iniciativa já nasceu morta,
assim como a regra de esticar a mão pra atravessar a rua.
Num país onde faltam policiais e
agentes de trânsito, quem vai ficar de plantão abordando quem jogar lixo no
chão e mandando multa por e-mail?
O problema está na falta de educação
das pessoas.
Não porquê elas não sabem que é
errado, é porque são imbecis mesmo.
Cabe ao governo e aos meios de
comunicação tratar as pessoas como crianças de pré-escola e conscientizá-las
constantemente.
No mesmo balaio cabe o uso das “palavras mágicas”
Me surpreendeu quão pouco as pessoas
pedem por favor,
licença, agradecem ou simplesmente sorriem umas
às outras
No supermercado, vi uma mulher bater
com o carrinho numa prateleira com shampoos, que caíram todos pelo chão.
Em vez de pelo menos colocar os
produtos de volta na prateleira, em qualquer lugar, a mulher olhou a bagunça,
virou-se e seguiu adiante.
Fiquei pasma.
Outro exemplo são os motoristas que
estacionam em vagas para deficientes físicos.
Está faltando a mínima noção de
convívio em sociedade
Abuso de poder
Depois de ver a cena no supermercado,
fiquei pensando nos motivos que poderiam ter levado a mulher a agir com tanta
estupidez.
Será que ela pensou que era trabalho dos
funcionários do mercado limpar sua bagunça?
Aí fica aquela máxima: você, que joga lixo no chão pra não tirar o
emprego dos garis, aproveita e morre pra não tirar o emprego dos coveiros.
É uma noção irreal de superioridade
e, quando associada a uma posição social ou profissional, ao abuso de poder.
Minha mãe, por exemplo, foi multada
no estacionamento por ter deixado o ticket de estacionamento expirar 1 minuto.
A agente de trânsito agiu com
prepotência e arrogância,
ignorou-nos totalmente e emitiu a
multa no momento em que colocávamos a chave na porta do carro.
E quem nunca se irritou com um
funcionário tomando cafezinho, falando no celular ou
passeando no facebook em horário de trabalho enquanto uma fila gigante se forma
no atendimento?
Só faltava levantar a cabeça e rir
dos palhaços esperando ali, muitos deles até usando seu curto horário de almoço
pra pagar uma conta.
Isso acontece com muita frequência e,
ironicamente, as pessoas com os poderes mais insignificantes são os que mais abusam dele.
Talvez por serem mal-pagos, infelizes
e quererem descontar nas outras pessoas.
Agora, outra situação que muitos de
vocês (inclusive eu) nunca tinham percebido como abuso é praticado
pelas pessoas supostamente mais frágeis e vulneráveis.
O melhor exemplo são os “idosos” (isso mesmo!).
Coloquei aqui idosos entre aspas
porque me refiro ao que a legislação considera como idoso: pessoas com mais de 60/65 anos de idade.
Pra mim, idoso mesmo é aquela pessoa
com dificuldades físicas e/ou psíquicas decorrentes do envelhecimento, como
dificuldade pra caminhar ou ficar em pé.
Pessoas de rua
Me deu uma dor no coração de ver
pessoas idosas, jovens,
de meia-idade, enfim, qualquer pessoa
abandonada na rua,
dormindo em caixas de papelão, com os
pés pretos de sujeira.
E são muitas pessoas assim.
Acho que quando a gente passa muito
tempo vivendo no Brasil acaba se acostumando com essas situações e fica “cego” em
relação a elas.
Gente, pensem bem: é um ABSURDO alguém morar na rua!
Onde está a assistência social?
Os programas de inclusão?
Os programas de reabilitação e de combate
às drogas?
Por que não temos albergues públicos em
número suficiente?
O pior é que nós, a sociedade, somos
tão responsáveis quanto o governo pelo que está acontecendo.
Nós não cobramos.
Nós não nos envolvemos.
Nós não defendemos os direitos dos
mais fracos porque não queremos nos incomodar e sair da nossa zona de conforto.
Nós não vemos as pessoas que precisam
de nossa ajuda.
Nós escolhemos não vê-las.
Agora, coloca uma foto de um cachorro
abandonado nas redes sociais pra ver se não vai ter 100,000 compartilhamos…
Somos todos hipócritas.
Jeitinho brasileiro
Eu acho que muita gente tem orgulho
do “jeitinho brasileiro”.
Eu também tinha há até pouco tempo,
quando me dei conta do que isso realmente significa.
O jeito brasileiro é o jeito “malandro”, o “atalho” pra uma
solução mais rápida e que exija menos esforço.
Concordo que muitas vezes somos
forçados a usar o jeitinho brasileiro para escapar da maldita burocracia
(que deveria ser um capítulo à parte), mas isso não o torna menos inaceitável.
O jeito brasileiro incluiu fazer as
coisas de qualquer jeito,
fazê-las só pra dizer que foram
feitas, fugir dos caminhos legais, “molhar” a mão de alguém, furar a fila, deixar que a
próxima pessoa lide com o problema, improvisar uma “gambiarra” porque
requer menos esforço do que fazer do jeito certo.
É um reflexo do nosso egoísmo, da
nossa falta de consideração com o próximo.
Não, eu não tenho orgulho do “jeitinho brasileiro”
Eu tenho vergonha.
No final, eu fiz esse post por um só
motivo: eu amo meu país (apesar de tudo).
Eu realmente AMO ser brasileira e eu acredito na capacidade de cada
brasileiro (eu, você, e todos!) de ser uma pessoa melhor, uma pessoa que faz
decisões pensando no bem comum, que não se aliena face aos problemas da nossa
sociedade.
Espero que esse post tenha feito você
re-pensar a realidade à sua volta e parar de aceitar aquilo que, no fundo,
todos nós sabemos que está errado.
Você não precisa mudar o país de um
dia.
Comece mudando o seu comportamento em
relação às outras pessoas e pare de fazer coisas absurdas só porque todo mundo
o faz.
Você pode fazer a diferença mudando a
si mesmo.
Lembre-se:
tudo começa com um ponto (e se você não viu esse vídeo ainda,
por favor, assista!).
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