AS RELIGIÕES E OS EXTRATERRESTRES
quinta-feira,
2 de outubro de 2014
POR
SALVADOR NOGUEIRA
02/10/14
05:57
A descoberta
iminente de possíveis sinais de vida extraterrestre está fazendo muita gente no
mundo da ciência se mexer em tempos recentes.
Mas e quanto às religiões?
Elas estão prontas para lidar com o conceito de que talvez não estejamos
sós no Universo?
Essa foi a espinhosa
investigação a que se dedicou o astrônomo David Weintraub, da Universidade
Vanderbilt, nos Estados Unidos.
Ele acaba de
publicar um livro, “Religions and Extraterrestrial Life”, cujo principal objetivo é buscar pistas de como as
diversas religiões humanas lidam (ou não lidam) com a ideia da
existência de alienígenas.
E a conclusão a que
ele chega pode surpreendê-lo: diferentemente do que se pode imaginar, a descoberta
de vida extraterrestre não ofereceria grande desafio à maioria das religiões
abraçadas hoje pelos terráqueos.
“Para algumas grandes religiões, o próprio conceito de vida
extraterrestre está embutido em suas histórias e/ou escrituras; para outras, ideias
sobre vida extraterrestre são claramente irrelevantes para seus sistemas de
crenças.
Para pelo menos algumas poucas religiões, evidências da existência de
vida extraterrestre exigiriam a realização de alguns ajustes, que podem ser
feitos quando o momento chegar, mas esses ajustes não viriam a um custo
teológico grande; para outros grupos religiosos, crenças importantes e
profundamente enraizadas seriam fundamentalmente podadas pela prova de que
seres extraterrestres existem”,
escreveu Weintraub em seu livro.
O astrônomo analisou
os escritos e a teologia de diversas religiões, entre elas o
judaísmo, o catolicismo, o cristianismo ortodoxo, o anglicanismo, o
cristianismo protestante, o cristianismo evangélico e fundamentalista, o
mormonismo, o islã, o hinduísmo, o budismo, o siquismo, o jinismo e a religião
Bahá’í.
(Aliás, o que chama
atenção na obra é sua amplitude; senti falta apenas do espiritismo, cuja
presença é forte no Brasil e na França, mas não chega a ser uma perda tão
grande, uma vez que os espíritas tratam a ideia de vida extraterrestre de forma
tão natural que não lhes faltam livros específicos sobre o tema)
David Weintraub audaciosamente foi fuçar aonde
quase nenhum astrônomo meteu o bedelho: as religiões.
Para Weintraub, as religiões asiáticas seriam as
que teriam menos dificuldade em aceitar a descoberta de vida extraterrestre.
Ele lembra que
alguns pensadores hindus já especularam que humanos podem reencarnar como
alienígenas, e vice-versa, enquanto a cosmologia budista contempla milhares de
mundos habitados.
Para o Islã, segundo
o astrônomo, há passagens no Corão que parecem suportar a ideia de que seres
espirituais existem em outros planetas.
E os seguidores da
religião judaica não encontram praticamente nada em seus escritos que ajude a
explorar a questão, tanto a favor quanto contra a existência de alienígenas.
Contudo, as análises
mais profundas já feitas do impacto da existência de alienígenas na religião
foram feitas no âmbito dos cristãos, sobretudo entre os católicos.
Eles já debatem as
implicações teológicas de outros mundos habitados há um milênio, segundo Weintraub.
E o principal
desafio para o catolicismo diz respeito ao pecado original.
Alienígenas
obviamente não podem descender de Adão e Eva.
Recai sobre eles o pecado original?
Em outras palavras, eles precisam ser salvos?
Jesus precisaria visitá-los em cada um de seus planetas e se sacrificar
para estabelecer o evangelho em cada um desses mundos?
São perguntas que torturam
os católicos e ainda não têm uma resposta clara,
embora o Vaticano já
tenha dado sinais de que não vê problemas entre a busca científica por vida
alienígena e o conjunto de crenças defendido pela Igreja Católica.
Entre os diversos
grupos cristãos dissidentes, os que têm mais problemas para encarar a hipótese
de vida extraterrestre são os evangélicos e fundamentalistas, que se escoram em
leituras mais literais do texto bíblico.
“A maioria dos líderes cristãos evangélicos e fundamentalistas argumenta
forçosamente que a Bíblia deixa claro que vida extraterrestre não existe
Dessa perspectiva, os únicos seres viventes e tementes a Deus no
Universo inteiro são os humanos, criados por Deus, que vivem na Terra”, aponta o astrônomo americano.
Ainda assim, ele
ressalta que essa opinião não é unânime nem mesmo nesses grupos.
A RELIGIÃO DOS ETs
Um dos dados mais
interessantes que Weintraub apresenta no livro é resultado de
uma ampla pesquisa de opinião feita com 23 mil pessoas em 22 países pela
Reuters/Ipsos, em 2010, que apresenta o percentual das pessoas pertencentes a
diversos grupos religiosos que professam a crença em vida extraterrestre.
Dê uma olhada.
44% dos muçulmanos
37% dos judaístas
36% dos hindus
32% dos cristãos
55% dos ateus
Entre os cristãos, há
diferenças acentuadas entre os diversos segmentos.
Os mais
entusiasmados com alienígenas são os ortodoxos orientais (41%), seguidos pelos católicos (37%), metodistas (37%) e luteranos (35%).
Somente os batistas (29%) ficaram com um índice abaixo de um terço.
O número que mais me
intriga aí em cima, contudo, é o dos ateus.
É o único grupo cujo
valor ultrapassa a metade.
E acho que isso fala
uma coisa ou duas sobre os ateus — apesar de argumentarem justamente o
contrário, eles parecem ser tão predispostos a acreditar em ideias sem
evidências diretas quanto os demais.
Basta que a hipótese
seja cientificamente mais palatável, ainda que lhe falte suporte nos fatos
conhecidos até o momento.
Ué?
Mas não são os ateus aqueles que sugerem que não devemos acreditar em
nada que não seja sustentado por evidências?
Não devemos ser céticos?
Afirmações extraordinárias não exigem evidências extraordinárias?
Então por que eles aceitam tão facilmente a ideia de alienígenas, mesmo
sem nunca terem visto um?
É um ponto que toco
em meu livro novo, “Extraterrestres”, ao mencionar o
trabalho do historiador da ciência George Basalla.
Após revisar o
pensamento de cientistas de todas as épocas sobre o tema, ele nota a
similaridade entre a convicção de muitos cientistas de que há outras
civilizações avançadas lá fora e outras crenças menos palatáveis aos céticos,
como a existência de anjos.
Será que os cientistas estão se iludindo?
Em favor deles,
temos de lembrar que a aposta em vida extraterrestre encontra sustentação forte
em evidências indiretas
A enormidade do
Universo, a descoberta recente de que planetas como a Terra são comuns no
Universo e o fato de que moléculas precursoras da vida já foram detectadas em
diversas partes do espaço, desde meteoritos até nuvens de formação estelar,
sugerem que os processos que levam à biologia devem ser comuns.
Podemos até estar
enganados, mas tudo parece indicar que não estamos mesmo sozinhos.
Por outro lado, a
dificuldade em explicar a origem da vida na Terra (um problema espinhoso e ainda não
solucionado, embora parcialmente encaminhado pelos cientistas) e, com isso, estimar a chance de
que seja um processo provável e passível de repetição, ainda é uma senhora
pedra no sapato.
Diante disso, não
seria a crença em extraterrestres algo como uma “religião científica”?
No atual ponto do
jogo, os ateus não deveriam se professar, no limite, agnósticos a esse
respeito?
A questão fica como exercício para o leitor.
“Religiões e Vida Extraterrestre:
Como lidaremos com isso?”
DESCOBERTA IMINENTE
De toda forma, é
fato que provavelmente em duas décadas — e com certeza até o fim do século —
saberemos se estamos ou não sozinhos no Universo
Nos próximos anos,
sondaremos a atmosfera de milhares de planetas distantes e exploraremos os
potenciais habitats extraterrestres no Sistema Solar.
Se houver vida como
a que temos por aqui em algum lugar aí fora, obteremos sinais claros de sua
existência.
Se não encontrarmos
nada (embora jamais
possamos confirmar que não exista mesmo em lugar algum, pois não se pode
comprovar negativas), diremos com
segurança que, ao menos num contexto prático, estamos efetivamente sozinhos.
E a pergunta que não quer calar: estamos prontos para esse
conhecimento? O neuropsicólogo
espanhol Gabriel De La Torre fez um estudo com estudantes
universitários e concluiu que não.
Nem mesmo no
ambiente acadêmico, a “consciência cósmica”
é suficientemente desenvolvida a ponto de permitir que lidemos adequadamente
com a ideia de que existem outros seres vivos lá fora.
Em seu livro, Wintraub faz análise similar, mas do ponto de vista do pensamento religioso, e
chega a conclusões parecidas.
“Embora alguns de nós possam afirmar que estão prontos, muitos e muitos
de nós provavelmente não estão… muito poucos entre nós passaram muito tempo
pensando seriamente sobre o que conhecimento factual sobre vida extraterrestre,
sejam vírus, ou criaturas unicelulares, ou bípedes pilotando espaçonaves
intergalácticas, pode significar para nossas crenças pessoais e nossas relações
com o divino.”
Será que a humanidade vai pirar em breve, caso comecemos a encontrar
sinais de outras Terras habitadas espalhadas por nossas vizinhanças cósmicas?
FONTE:
http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/
http://ufos-wilson.blogspot.com.br/2014/10/as-religioes-e-os-extraterrestres.html
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