QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS DEMOCRÁTICAS À
DEMOCRACIA?
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
"Você não muda as coisas lutando contra a realidade atual. Para
mudar algo é preciso construir um modelo novo que tornará o modelo atual
obsoleto"
—Buckminster Fuller
Consenso
A tomada de decisões
baseada no consenso já é praticada pelo mundo todo, desde comunidades indígenas
na América Latina e grupos de ação direta na Europa a cooperativas de
agricultores orgânicos na Austrália.
Em contraste é
democracia representativa, os participantes fazem parte do processo de tomada
de decisões de forma contínua e exercem verdadeiro controle sobre sua vida
diária.
Ao contrário da
democracia governada pela maioria, o consenso valoriza igualmente as
necessidades e preocupações de cada indivíduo; se uma pessoa está infeliz com
uma resolução, é da responsabilidade de todos encontrar uma nova solução que
seja aceitável por todos.
A tomada de decisões
baseada no consenso não exige que uma pessoa aceite o poder de outros sobre
ela, entretanto exige que todo mundo considere as necessidades de todos; o que
ela perde em eficiência compensa dez vezes em liberdade e transparência.
Ao invés de pedir
que as pessoas aceitem líderes ou encontrem uma causa comum se homogeneizando,
o processo consensual integra todos em um todo funcional enquanto permite que
cada um mantenha a sua autonomia.
Autonomia
Para ser livre, você
deve ter controle sobre as suas adjacências imediatas e sobre as coisas básicas
da sua vida.
Ninguém está mais
qualificado que você para decidir como você deve viver; ninguém pode ser capaz
de votar no que você deve fazer com o seu tempo e potencial a menos que você os
convide.
Alegar estes
privilégios para si e respeitá-los nos outros é cultivar a autonomia.
A autonomia não deve
ser confundida com a, assim chamada, independência: na verdade, ninguém é independente, uma vez que nossas vidas dependem
umas das outras.
A glamourização da
auto-suficiência numa sociedade competitiva é um modo enganoso de acusar
aqueles que se recusam a explorar os outros de serem responsáveis pela sua
própria pobreza; e como tal, é um dos obstáculos mais significativos para se
construir uma comunidade.
Em contraste a essa
miragem Ocidental, a autonomia oferece uma livre interdependência entre pessoas
que compartilham consenso.
Autonomia é a
antítese da burocracia.
Não há nada mais
eficiente que pessoas agindo por suas próprias iniciativas como acharem
necessário, e nada é mais ineficiente que tentar ditar as ações de todo mundo ―
isto é, a menos que seu objetivo fundamental seja controlar outras pessoas.
A coordenação de
cima para baixo só é necessária quando as pessoas devem ser forçadas a fazer
algo que elas nunca fariam de seu próprio acordo; da mesma forma, uniformidade
obrigatória, por mais horizontal que seja sua imposição, só pode fortalecer um
grupo ao enfraquecer os indivíduos que o compõem.
O consenso pode ser
tão repressivo quanto a democracia a menos que os participantes retenham sua
autonomia.
Indivíduos autônomos
podem cooperar sem compartilhar um plano idêntico, enquanto todos se
beneficiarem da participação dos outros.
Logo, grupos que
cooperam podem evitar conflitos e contradições, assim como o fazemos
individualmente, e ainda fortalecer os participantes.
Finalmente,
autonomia requer auto-defesa.
Grupos autônomos têm
interesse em se defender da invasão daqueles que não reconhecem o seu direito à
auto-determinação, e em expandir o território da autonomia e do consenso ao
fazerem tudo em seu poder para destruir estruturas coercivas.
Federações Sem Cabeça
Grupos autônomos
independentes podem trabalhar juntos em federações sem que qualquer um deles
detenha a autoridade.
Tal estrutura soa
utópica, mas na verdade pode ser muito prática e eficiente.
O correio e as
viagens de trem internacionais funcionam neste sistema, para citar dois
exemplos: enquanto os sistemas individuais de transporte e correio são
internamente hierárquicos, eles todos cooperam juntos para transportar
correspondências ou passageiros de um país a outro sem que uma autoridade
máxima seja necessária em qualquer estágio do processo.
De forma similar,
indivíduos que não podem concordar suficientemente para trabalharem juntos
dentro de um coletivo ainda podem coexistir em grupos separados.
Para que isto
funcione a longo prazo, é claro, é preciso alimentar, gota a gota, os valores
de cooperação, consideração e tolerância nas gerações futuras ― mas isso é exatamente
o que estamos propondo, e dificilmente conseguiremos executar esta tarefa pior
do que os partisãos do capitalismo e da hierarquia têm feito.
Ação Direta
A autonomia precisa
de que você aja por si mesmo: que ao invés de esperar que solicitações passem
por canais estabelecidos somente para acabarem em burocracia e negociações sem
fim, você estabelece seus próprios canais.
Se você quer que os
famintos tenham comida para comer, não apenas dê dinheiro a uma organização de
caridade burocrática ― descubra onde há comida sendo desperdiçada, recolha-a e
a compartilhe.
Se você quer
habitações acessíveis, não tente que a câmara municipal aprove uma lei ― isso
levará anos, enquanto pessoas dormem nas ruas toda noite; ocupe prédios
abandonados, abra-os para o público, e organize grupos para defendê-los quando
os capangas dos senhorios ausentes aparecerem. Se você quer que as corporações
tenham menos poder, não peça aos políticos que eles compraram para impor
limites em seus próprios mestres ― tome este poder para si próprio. Não compre
seus produtos, não trabalhe para eles, deboche e desvalorize seus anúncios
publicitários publicamente, e preste atenção no que você financia.
Eles também usam
táticas similares para exercer o seu poder sobre você ― e só parece válido
porque eles compraram as leis e valores da nossa sociedade muito antes de você
nascer.
Não espere por
permissão ou liderança de alguma autoridade de fora, não implore para que algum
poder superior organize sua vida para você. Tome a iniciativa!
Como Resolver Discordâncias Sem Chamar as Autoridades
Num arranjo social
que realmente é do melhor interesse de todos indivíduos participantes, a ameaça
de exclusão deve ser suficiente para desencorajar os comportamentos mais
destrutivos ou desrespeitosos.
Mesmo quando é
impossível evitar, exclusão é certamente mais humanitária que prisões e
execuções, que corrompem a polícia e os juízes tanto quanto amargam os
criminosos.
Aqueles que se
recusarem a respeitar as necessidades dos outros, que não se integrarem em
nenhuma comunidade, podem se ver banidos da vida social ― mas iso ainda é
melhor que exílio na ala dos loucos ou no corredor da morte, duas das
possibilidades que esperam tais pessoas hoje.
Violência só deve
ser usada pelas comunidades em legítima defesa, não com o sentimento convencido
da autorização com o qual ela é aplicada no nosso atual sistema de injustiça.
Infelizmente, num
mundo governado pela força, grupos autônomos baseados em consenso vão
provavelmente entrar em conflito com aqueles que não agem por valores de
cooperação e tolerância; eles devem portanto ser cuidadosos para não perderem
também os seus valores ao tentar defendê-los.
Discordâncias sérias
dentro de comunidades podem ser solucionadas em muitos casos reorganizando ou
subdividindo os grupos.
Freqüentemente
indivíduos que não se dão bem em determinada configuração social obtém mais
sucesso cooperando em outro arranjo ou como membros de comunidades paralelas.
Se o consenso não
pode ser alcançado dentro de um grupo, este grupo pode se dividir em grupos
menores que possam alcançá-lo internamente ― isso pode ser inconveniente e
frustrante, mas é melhor do que as decisões do grupo serem impostas à força por
aqueles que têm mais poder.
Tanto com os
indivíduos e a sociedade, como para diferentes coletivos: se os benefícios de
trabalhar junto superam as frustrações, deve ser incentivo suficiente para que
as pessoas acertem suas diferenças.
Mesmo comunidades
drasticamente diferentes ainda têm em seu interesse coexistir pacificamente, e
devem de alguma forma negociar para alcançar isto…
Vivendo Sem Permissão
… esta é a parte
mais difícil, é claro.
Mas não estamos
falando de só mais um sistema social, estamos falando de uma transformação
total das relações humanas ― pois será necessário nada menos do que isso para
solucionar os problemas atuais da nossa espécie.
Não vamos nos
enganar ― até que possamos alcançar isto, a violência e a luta inerente nas
relações baseadas em conflitos vão continuar a se intensificar, e nenhuma lei
ou sistema será capaz de nos proteger.
Em estruturas
baseadas no consenso, não existem soluções falsas, nenhuma forma de reprimir
conflitos sem resolvê-los; aqueles que participam neles devem aprender a
coexistir sem coerção e submissão.
As primeiras
preciosas sementes deste novo mundo podem ser encontradas nas suas amizades e
casos amorosos sempre que eles forem livres de dinâmicas de poder, sempre que a
cooperação acontecer naturalmente. Imagine esses momentos expandidos de forma a
abranger toda nossa sociedade
― essa é a vida que
nos espera além da democracia.
Pode parecer que
estamos separados deste mundo por um abismo insuperável,
mas o bom do
consenso e da autonomia ẽ que você não tem que esperar pelo governo para votar
neles ― você pode praticá-los agora mesmo com as pessoas ao seu redor.
Coloque-o em
prática, as virtudes deste modo de vida são claras.
Forme seu próprio
grupo autônomo, não respondendo a nenhum poder mas o seu próprio, e busquem a
sua liberdade por si mesmos, se seus representantes não o fazem ― uma vez que eles
não podem fazê-lo por você.
Videos Relacionados:
https://www.youtube.com/watch?v=um02I6Fkv2s
Vladimir
Safatle - A Democracia direta da Islândia
Publicado em
24/10/2013
O Professor da USP Vladimir Safatle
vai a Islândia e comprova o exemplo mais acabado de Democracia popular da
Islândia
https://www.youtube.com/watch?v=B56QvDwYTx8
INTRODUÇÃO
A UMA "ECONOMIA BASEADA EM RECURSOS" [Legendado]
Publicado em
08/11/2011
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min no TEDx [Portugal] , 21 de Março, por Peter Joseph chamada: Introdução a
uma "Economia Baseada em Recursos"
A transmissão ao vivo pode ser
encontrada aqui:
http://evoluasuaconsciencia.blogspot.com.br/2014/10/quais-sao-as-alternativas-democraticas.html
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