AOS PÉS DO MESTE
DISCERNIMENTO
30/01/2016
Este será o primeiro de quatro artigos que irão
ser postados aqui neste blogue ao longo da semana.
Quatro são as qualidades necessárias para
a Senda:
I – Discernimento.
II – Ausência de desejos (Desapego, abnegação).
III – Boa conduta.
IV – Amor.
DISCERNIMENTO
Aos Pés do Mestre
Tentarei dizer-te o que sobre cada uma delas o
Mestre me ensinou.
I – DISCERNIMENTO
A primeira dessas qualidades é o Discernimento,
vulgarmente tomado no senti- do daquela distinção entre o real e o irreal, que
conduz o homem para a Senda.
É isto; mas é muito mais ainda, e deve ser
praticado, não somente no começo da Senda, porém a cada passo que nela
diariamente se dá, até o fim.
Entras para a Senda porque aprendeste que somente
nela se podem encontrar as coisas dignas de aquisição.
Os homens que não sabem, trabalham para adquirir
a riqueza e o poder, porém estes bens são, quando muito, para uma vida somente
e, portanto, irreais.
Há coisas maiores do que essas – coisas reais e
duradouras; quando as tiveres visto uma vez, não mais desejarás as outras.
Em todo o mundo há somente duas espécies de
pessoas – as que sabem e as que não sabem – e o conhecimento é o que importa
possuir.
A religião de um homem, a raça a que pertence –
não são coisas de importância; o que é realmente importante é o conhecimento –
o conhecimento do Plano de Deus em relação aos homens.
Pois Deus tem um plano e esse plano é a Evolução;
quando o homem o tiver visto e, realmente, o conhecer, não poderá deixar de
cooperar nele, unificando-se com ele, tal a sua glória e beleza.
Assim, pelo fato de possuir o conhecimento, ele
está ao lado de Deus, firme no bem e resistente ao mal, trabalhando pela
evolução e não com fins pessoais.
Se está ao lado de Deus, é um dos nossos, não
tendo a mínima importância que ele se diga hinduísta, budista, cristão ou
maometano, ou que seja hindu, inglês, chinês ou russo.
Aqueles que estão ao lado de Deus sabem por que
aí se acham,
sabem o que têm a fazer e tentam cumpri-lo; todos
os demais não sabem ainda o que têm a fazer e, por isso, freqüentemente agem de
modo insensato, imaginando caminhos para si próprios, os quais lhes parecem
agradáveis, não compreendendo que todos são um e que, portanto, só aquilo que o
Uno quer pode realmente ser agradável a todos.
Seguem o irreal ao invés do Real.
E, enquanto não aprendem a distinguir entre
ambos, não se colocam ao lado de Deus –
e eis porque o Discernimento é o primeiro passo a dar.
Todavia, mesmo depois de feita a escolha, deves
lembrar-te de que no Real e no irreal há muitas variantes e o discernimento
deve ainda ser exercido entre o bem e o mal, o importante e o não importante,
o útil e o inútil, o verdadeiro e o falso, o
egoísta e o desinteressado.
Entre o bem e o mal não deveria ser difícil
escolher, pois aqueles que desejam seguir o Mestre já se decidiram a seguir o bem
a todo custo.
Porém, o homem e o seu corpo são dois, e a
vontade do homem nem sempre está de acordo com a do corpo.
Quando o teu corpo desejar alguma coisas, para e
considera se tu és Deus e só queres o que Deus quer; necessitas, porém,
penetrar fundo em ti mesmo, para em teu interior encontrares Deus e ouvir a Sua
voz, que é a tua.
Não confundas os teus corpos contigo mesmo, nem o
teu corpo físico,
nem o astral, nem o mental.
Cada um deles pretende ser o Ego, a fim de obter
o que deseja.
Precisas, porém, conhecê-los todos e conhecer-te
a ti mesmo como seu possuidor.
Quando há um trabalho para fazer, é quando o
corpo físico quer descansar, passeará, comer e beber; o homem que não sabe, diz
a si mesmo: eu quero fazer estas coisas e preciso fazê-las.
Porém, o homem que sabe diz: Quem quer não sou eu; portanto espere um pouco.
Freqüentemente, quando há oportunidade de
auxiliar alguém , o corpo insinua:
Que aborrecimento isto me trará; deixemos que
outro qualquer tome o meu lugar.
Porém, o homem que sabe lhe replica: Tu não me impedirás de praticar uma boa ação.
O corpo é teu animal, o cavalo que montas.
Deves, portanto, tratá-lo bem, cuidar bem dele,
não o estafar,
alimentá-lo convenientemente só com alimentos e
bebidas puros, e mantê-lo perfeitamente limpo, sempre, sem o menor vestígio de
impureza.
Pois que, sem um corpo perfeitamente limpo e
saudável, não podes efetuar a árdua tarefa da preparação, nem suportar-lhe os
incessantes esforços.
Deves, porém, ser sempre tu quem o domine, e não
ele o que te domine a ti.
O corpo astral tem seus desejos – e os tem às
dúzias; há de querer ver-te encolerizado, ouvir-te dizer palavras ásperas, que
sintas ciúmes, que sejas ávido por dinheiro, que invejes os bens alheios e
cedas ao desânimo.
Quererá todas essas coisas e muitas outras mais,
não porque deseje prejudicar-te, mas por que lhe aprazem as vibrações violentas
e gosta de mudá-las continuamente.
Tu , porém, não desejas nenhuma destas coisas e,
portanto, deves distinguir os teus desejos dos de teu corpo astral.
O teu corpo mental deseja manter-se
orgulhosamente separado;
quererá que penses muito em ti mesmo e pouco nos
outros.
Mesmo quando o tiverdes desviado das coisas
mundanas, tentará ainda especular acerca de ti próprio, fazer-te pensar no teu
próprio progresso, em lugar de o fazeres na obra do Mestre e em auxiliar os
outros.
Quando meditares, tentará fazer-te pensar nas
diferentes coisas que ele quer, em vez da única de que necessitas.
Não és esse corpo mental, mas dele dispões para o
teu uso; assim,
mesmo aqui, o discernimento é necessário.
Deves vigiar incessantemente, sob pena de vires a
falir.
Entre o bem e o mal, o Ocultismo não admite
compromissos.
Custe o que custar, deves fazer o bem e nunca o
mal.
Diga ou pense o ignorante o que quiser.
Estuda profundamente as leis ocultas da Natureza
e organiza a tua vida de acordo com elas, utilizando sempre a razão e o bom
senso.
Deves discernir entre o que é importante e o que
não é.
Firme como uma rocha em tudo que concerne ao bem
e ao mal, cede invariavelmente aos outros nas coisas de somenos importância.
Pois deves ser sempre amável, bondoso, razoável e
condescendente,
deixando aos outros a mesma plena liberdade que
para ti necessitas.
Procura verificar o que vale a pena ser feito e
lembra-te que as coisas não devem ser julgadas pela sua grandeza aparente.
Uma pequena coisa de utilidade imediata à obra do
Mestre merece muito mais ser feita, do que uma grande coisa que o mundo
considera boa.
Precisas distinguir não somente o útil do inútil,
mas ainda o mais útil do menos útil.
Alimentar os pobres é uma boa obra, nobre e útil;
porém,
alimentar- lhes as almas é ainda mais nobre e
mais útil.
Por muito sábio que já sejas, muito terás ainda
que aprender na Senda; tanto que nela mesma precisas discernir e meditar
cuidadosamente o que deve ser aprendido.
Todo o conhecimento é útil, e um dia o possuirás
integralmente;
enquanto, porém, só possuíres parte dele, cuida
em que essa seja a mais útil.
Deus tanto é Sabedoria como Amor; e quanto mais sábio fores, mais Ele se manifestará por teu intermédio.
Estuda, pois, mas estuda em primeiro lugar o que
mais te habilite a auxiliar aos outros.
Trabalha pacientemente em teus estudos, não para
que os homens te julguem sábio, nem mesmo para gozares a felicidade de ser
sábio
– mas por
que o sábio pode ser sabiamente útil.
Por muito que desejes prestar auxílio, enquanto
fores ignorante,
poderás fazer mais mal do que bem.
Precisas distinguir entre a verdade e a mentira;
deves aprender a ser verdadeiro em tudo: no pensamento, na palavra e na ação.
Primeiro no pensamento, e isto não é fácil,
porque há no mundo muitos pensamentos falsos, muitas superstições insensatas e
ninguém que a eles se escravize poderá progredir.
Por conseguinte, não deves acolher um pensamento
simplesmente porque muitas pessoas o acolhem, nem por ter merecido crédito
durante séculos, nem por constar de algum livro que os homens julguem sagrado;
deves pensar por ti mesmo sobre a questão, e por ti mesmo ajuizar se ela é
razoável.
Lembra-te que, embora um milhar de homens
concorde sobre um assinto, se nada conhecerem a respeito, a sua opinião não tem
valor.
Aquele que quiser caminhar na Senda tem que
aprender a pensar por si mesmo, pois a superstição é um dos maiores males do
mundo e um dos empecilhos de que, por ti próprio, te deves libertar
inteiramente.
O teu pensamento acerca dos outros deve ser
verdadeiro; não penses a seu respeito aquilo que não saibas.
Não suponhas que os outros estejam sempre
pensando em ti.
Se um homem faz alguma coisa que julgas poder
prejudicar-te, ou diz algo que parece ser-te dirigido, não suponhas imediatamente:
“ele pretende ofender-me”.
O mais provável é que nunca pensasse em ti pois
cada alma tem as suas próprias preocupações e os seus pensamentos não giram, as
mais das vezes, em torno senão de si própria.
Se um homem te falar colericamente, não penses:
“Ele me odeia e quer ferir- me”.
Provavelmente, alguém ou alguma coisa o
encolerizou e,
acontecendo encontrar-te, voltou a sua cólera
sobre ti.
Procede insensatamente, pois toda a cólera é in-
sensata, mas nem por isso deves pensar falsamente a seu respeito.
Quando te tornares discípulo do Mestre, poderás
sempre averiguar a veracidade do teu pensamento cotejando-o com o Seu.
Pois o discípulo é um com seu Mestre e basta-lhe
fazer retroceder o seu pensamento até ao do Mestre, para verificar se ambos
estão de acordo.
Se não estiver, o pensamento do discípulo é
errôneo e ele deve modificá-lo instantaneamente, pois o pensamento do Mestre é
perfeito, visto que Ele tudo sabe.
Aqueles que por Ele ainda não foram aceitos, não
podem fazer isto perfeitamente; porém
serão grandemente ajudados se freqüentemente se detiverem a perguntar:
“Que pensaria o Mestre a este respeito?
Que faria ou diria Ele em tais circunstâncias?”
Pois nunca deves fazer, dizer ou pensar o que não
possas imaginar que o Mestre faça, diga ou pense.
Deves também ser verdadeiro no falar, exato e sem
exageros.
Nunca atribuas más intenções a outrem; somente o
seu Mestre lhe conhece os pensamentos e bem pode estar agindo por motivos que
nunca penetrassem em tua mente.
Se ouvires uma narrativa contra alguém, não a
repitas; pode não ser verdadeira; e, ainda que o seja, é mais bondoso nada
dizer.
Pensa bem antes de falar, a fim de não caíres em
inexatidões
Sê verdadeiro na ação; nunca pretendas parecer
senão aquilo que és,
pois todo fingimento constitui um obstáculo à
pura luz da verdade,
que deve brilhar através de ti como a luz do Sol
através de um vidro transparente.
Precisas discernir entre o egoísmo e o altruísmo,
pois o egoísmo reveste muitas formas e, quando pensas tê-lo morto, finalmente
numa delas, surge noutra tão forte como sempre.
Porém, gradualmente, o pensamento de auxiliar aos
outros te encherá de tal modo, que não haverá lugar nem tempo para pensares em
ti mesmo.
De outra maneira, ainda deves utilizar o
discernimento: aprende a distinguir a Deus que está em todos e
em tudo, por pior que seja a sua aparência exterior.
Podes ajudar teu irmão pelo que tens de comum com
ele – a Vida Divina.
Aprende a despertar nele essa Vida, aprende a
invocá-la nele; assim o salvarás do mal.
Próximos artigos:
II – Ausência de desejos (Desapego,
abnegação).
III – Boa conduta.
IV – Amor.
Aos pés do Mestre
por ALCIONE (J. KRISHNAMURTI)
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