03. APRENDENDO A LIDAR COM O ORGULHO
Este sentimento
separa-nos dos outros e só traz atraso para nossas vidas.
Mas, com atitudes
simples e cotidianas, podemos minar a base que o sustenta até libertarmo-nos
dele.
Vamos hoje falar sobre os
sentimentos de orgulho,
o orgulho que os separa de todos os
homens, dos irmãos e também de Deus.
O orgulho é o sentido
da separatividade.
Está calcado no medo - no medo de
ser subjugado,
no medo de não ser amado, no medo
da negação,
da anulação, da morte em última
análise.
O que conseguem com atitudes
orgulhosas?
Muitas coisas.
Principalmente, permanecer
estagnado em seus níveis e padrões de pensamento.
Veja que, pelo orgulho, quantas
coisas já aconteceram em sua civilização.
O orgulho impede de darem o braço a
torcer, como dizem.
Que imagem forte, essa, dar o braço
a torcer, e que doloroso!
Abandonar o orgulho parece
doloroso; é como se tivessem que, ao renunciar a ele, transformar-se nas
últimas criaturas da Terra.
O orgulho parece colocar-lhes de
pé, parece ser sua proteção e sua identidade.
Mas ele provoca
grandes atrasos em suas vidas.
O orgulho os afasta dos outros, em
primeiro lugar.
Ao não abandonarem sua opiniões,
seus conceitos, suas próprias verdades, não entram em acordo com
os outros nem se permitem
modificar.
O orgulho é algo que precisa ser
combatido e eliminado.
Ele fala fundo, sabemos, é aquele
senso também de resistência, de não-entrega, de não-mudança.
Mas, vejam que, enquanto tiverem
orgulho, têm também conflito, têm guerras, têm desentendimentos, têm sofrimento.
Quanto mal lhes traz
esse sentimento humano!
É possível abrirem mão do orgulho,
é possível abandonar essas posições rígidas em favor da Unicidade?
Sim, e alguém tem de
dar o primeiro passo.
Alguém tem de começar
para permitir ao outro fazer o mesmo, e aí está o grande dilema: como eu vou abrir mão do meu orgulho e ceder à vontade e aos caprichos do
outro?
Ele vai me fazer vítima do orgulho
dele, vai me fazer ser subjugado, submisso à vontade dele.
Também não é assim.
Abandonar o seu
orgulho não significa sujeição,
submissão, desde que tenham firmeza
nos seus propósitos.
Desde que continuem se pautando no
que é melhor para si.
O orgulho é um valor tão arraigado
no comportamento humano que sequer imaginam o que seria suas vidas sem ele.
Mas é sim possível manter-se no seu
estado de valores, manter a dignidade, a integridade sem esse nefasto orgulho.
É ele que impede de pedirem
desculpas, mesmo quando reconhecem estar errados.
É o que os leva na direção
contrária a que intimamente sabem ter de ir, só para não dar o braço a torcer,
só para não fazer a vontade do outro.
O orgulho impede de ser razoáveis,
generosos, de procurar um ser querido, de dar algo de si para o seu semelhante.
O orgulho é aquela coisa de eu não vou dar, me rebaixar e
humilhar, porque ele vai se sentir o vitorioso.
Pois a perda desse orgulho, a
negação das atitudes que ele lhes pede e lhes incute a tomar, pode trazer
efeitos e conseqüências realmente saudáveis para o seu ser.
Pedir desculpas; dar algo de si que
a consciência,
pesada e amargurada, pede que se
dê; procurar o outro para uma reconciliação.
Tantas atitudes são possíveis para
quebrar esse orgulho.
A regra é simples: o orgulho é o que os separa do outro.
Então, a negação dele é tudo que os
une ao outro.
É por esse critério que devem se
guiar.
E verão que, como abrindo mão do
orgulho, vocês ganham paz.
Quando é uma atitude serena,
realmente motivada pela tentativa de Unicidade, vocês não estão minimamente
incomodados ou preocupados com o braço a torcer.
Vocês saberão e se contentarão com
a paz que a vitória sobre o orgulho lhes traz.
Quem não se sente aliviado em
confessar um erro,
em pedir desculpas?
Se o outro aceita o erro ou aceita
as desculpas,
realmente, é problema dele.
O que importa é que vocês foram lá
e pediram,
tiveram essa iniciativa.
Perdoar é outra
grande vacina contra o orgulho.
Perdoar os erros alheios, as
ofensas, o que se disse e magoou.
Não se trata de deixar para lá, de
tentar esquecer.
Perdoar é liberar-se da carga que o
orgulho impõe,
da mágoa.
Isso é perdoar.
O perdão também alivia, tira todo
um peso de seus corações.
Se vocês podem pedir desculpas
pelos seus erros,
por que não podem tentar desculpar
os outros pelos deles, não é mesmo?
Agora, perdoar, para isso, não é
preciso que o outro venha e lhes peça desculpas.
Exigir a retratação do outro seria
também uma atitude do orgulho.
Perdoar pode ser algo íntimo, de
você com você mesmo.
É até bom comunicar
isso à pessoa: você não me deve
nada, compreendo sua atitude, você talvez não a tomasse se pensasse melhor. Mas
quero que saiba que não estou magoado, ressentido, que botei uma pedra em cima
e pronto, passou.
Perdoar alguém alivia o fardo da
culpa do outro.
É uma ato de extrema caridade, um
gesto de grande unicidade, que liberta o outro de seus pesares - e vocês, de
seu orgulho.
Veja que não é difícil livrar-se
dos pesos emocionais, das energias incômodas que o orgulho,
como ímã, está a atrair para vocês
e suas vidas.
Vejam que a humildade, a
simplicidade, o reconhecimento da falha humana, seja em si ou no próximo, é tão
libertadora.
Se todos fossem livres para
experimentar e errar,
livres do orgulho que os manda
também serem sempre os certos, a sociedade de vocês teria outros valores,
outros rumos no trato com as pessoas.
O orgulho guarda os ressentimentos,
alimenta aquelas feridas e mágoas pela vida inteira.
Abrindo mão do
orgulho, nem guerras teriam.
O que é toda essa questão que
vivem, por exemplo, a questão histórica da Palestina e
de Israel senão uma grande rocha de orgulho?
Por que não podem ceder um
milímetro israelenses e palestinos em suas posições?
Por causa do orgulho.
Um não quer abrir mão do que acha
que é seu, o outro não quer parar de opor resistência.
Se um dos lados apenas dissesse bem,
recapitulamos nossa
posição, a partir de hoje queremos nos entender, não vamos mais brigar por isso, poderiam
deixar até que mediadores neutros estabelecessem um acordo.
O mundo todo tem grande interesse
na paz entre esses dois povos, e, mesmo assim, está lá o orgulho das raças a
insistir, insistir naquelas mesmas posições.
O orgulho é pernicioso para suas
vidas, para sua paz.
Ganhariam muito se pudessem se
livrar dele.
É possível irem fazendo isso nas
pequenas coisas,
nas pequenas vontades, nas
picuinhas, como vocês chamam.
Pedir desculpas.
Ceder numa coisa não importante.
Oferecer-se em ajuda quando
solicitados, mesmo que aquela pessoa não tenha iniciativa de ajuda para com
vocês.
Ora, com pequenas coisas, podem ir
minando a estrutura do orgulho, fazendo pequenos buraquinhos no alicerce dele,
até que ele todo venha abaixo.
O orgulho os impede, muitas vezes,
de desabafar,
de contar algo que os oprime e
incomoda.
Tentem não permitir que ele lhes
traga pesos e a manutenção de certas situações os oprimam.
Tenham a atitude humilde e corajosa
de ir lá e resolver.
Confessar um erro, pedir desculpas,
dar perdão em pequenas coisas de sua vida, vejam o alívio que isso traz.
Livrando-se desses pequenos pesos
vocês vão também tornando-se fortalecidos e lúcidos para tratar dos pesos
maiores.
É assim que se
trabalha com esse terrível orgulho:
aos poucos, e humildemente,
começando com pequenas coisas.
Os ganhos que terão os animarão a
deixar de lado e resolver até as situações que, no seu julgamento de valor, são
mais graves.
Quando forem ver, estarão se
reconciliando e se unificando até com grandes desafetos do passado.
Estarão muito mais flexíveis em
suas opiniões,
colocarão a cabeça no travesseiro e
poderão dormir em paz.
Abandonar o orgulho
é como tirar um imenso peso de suas almas.
E é mesmo: o orgulho a oprime, a
impede de expressar-se com a beleza e a nobreza que lhe é peculiar, que lhe é
própria como ser espiritual.
Pensem nisso.
Nos pequenos orgulhos que podem ser
vencidos,
nas pequenas atitudes cotidianas
que vão livrando vocês do peso que orgulho acarreta em suas vidas,
haverá um tempo em que todos,
movidos pelo exemplo salutar de todos, estarão também dispostos abrir mão de
seu orgulho - e se não estiverem, repito, vocês não têm nada com isso.
Se você perdoa, mas o outro,
naquele momento,
não aceita o perdão, continua
magoado ou bravo, o problema realmente não é seu.
Seu problema é vencer o seu
orgulho.
Se os outros quiserem permanecer
orgulhosos,
vocês não podem tomar uma iniciativa
de perdão,
por exemplo, com uma expectativa de
contrapartida do outro, pois isso não é uma atitude completamente liberta do
orgulho.
A atitude libertadora é sempre a
que parte de você para o outro.
Pode ser que, com suas atitudes,
outros também venham e lhe perdoem, e desfaçam os mal-entendidos; outros que
vocês nem esperavam.
Porque vocês vão se desanuviando,
vão rompendo as amarras de uma série de situações em sua vida.
Dão o perdão para A, e são também
perdoados por B.
Na vida, a compensações podem não
ser tão diretas, os retornos nem sempre vem do lado que se quer.]
Entender isso e
contar com isso também é uma negação do orgulho: fazer sem
esperar recompensa.
Pensem nisso, meus filhos, e
comecem a exercitar o desmonte do orgulho em pequenas e cotidianas situações de
sua vida.
Quando perceberem, a leveza que
isso lhes trará não permitirá mais que o orgulho e as grandes resistências se
sustentem.
Na paz e na luz de Deus me despeço,
Aprica.
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