15 de junho de 2012
A
FRATERNIDADE DAS RELIGIÕES:
Um leitor, refletindo por um momento a respeito do
título acima, poderia muito bem declarar:
"Bem!
O que quer que sejam as religiões, o mais certo é
que elas não são fraternais".
E é uma infeliz verdade que se analisarmos a
história religiosa do passado recente encontraremos mui escassa fraternidade;
antes veremos religião combatendo religião, disputando pela supremacia e
esmagando suas rivais até a morte; as guerras religiosas tem sido as mais
cruéis; as perseguições religiosas tem sido as mais impiedosas; cruzadas,
inquisições, horrores de toda sorte, mancham com sangue e lágrimas a história
das contendas religiosas;
pareceria uma pilhéria, por entre campos de batalha
ensangüentados e tenebrosas chamas de incontáveis fogueiras, tagarelar sobre a "Fraternidade das
Religiões"!
Não só entre as
religiões é que a luta contínua acontece.
Mesmo dentro da
esfera de uma única religião formam-se seitas, que amiúde empreendem guerras
entre si.
O Cristianismo se
tornou proverbial entre as nações não-Cristãs por causa dos ódios mútuos dos
seguidores do "Príncipe da
Paz".
Católicos Romanos e Anglicanos, Luteranos e Calvinistas, Wesleyanos,
Batistas, Congregacionistas, etc, tumultuam a paz das nações por suas furiosas controvérsias.
A Grã-Bretanha e a
Irlanda pagam hoje a herança de ódio gerada pelos danos cruéis infligidos sobre
os Católicos Romanos pelo terrível código penal criado por um Parlamento
Protestante; hoje em dia (1907) o Reino Unido se precipitou em
uma grande querela constitucional por causa dos ódios entre Anglicanos e
Não-Conformistas, que não são capazes de concordar nem mesmo sobre uma base
mínima de ensinamento Cristão comum que poderia ser ensinado nas escolas
nacionais às crianças de todos os Cristãos.
A França está
dividida em duas e sob ameaça de guerra civil como resultado da vingança dos
Livres-Pensadores sobre a Igreja Católica Romana por causa dos males que esta
lhes causou em seus dias de supremacia.
Na Bélgica os
assuntos políticos são decididos pela maioria ora clerical ora anticlerical.
O Islã tem as
acirradas lutas entre os Xiitas e os Sunitas, ao passo que ambos se unem para
denunciar o infiel Sufi.
Mesmo no Hinduísmo há
hoje os lados fanatizados dos Vishnuítas e dos Shivaítas, que se denunciam
mutuamente com uma bitolação imitada dos exemplos missionários.
A controvérsia
religiosa se tornou o protótipo do que há de mais amargo e não-fraterno nas
lutas do homem contra homem.
Mas não foi sempre
assim.
O antagonismo entre
as religiões é uma planta que cresceu só há pouco, a partir da semente de uma
reivindicação essencialmente moderna - a de que apenas uma única religião é a
especial e que somente ela é inspirada.
No mundo antigo havia
muitas religiões, e em sua maior parte a religião era coisa nacional, de modo
que o homem de uma nação não tinha o desejo de converter o homem de outra
nação.
Cada nação tinha sua
própria religião, assim como tinha suas próprias leis e seus próprios costumes,
e os homens nasciam e permaneciam no credo de sua terra natal.
Daí que, se olhamos
para a história do mundo antigo, ficamos surpresos com a raridade das guerras
religiosas.
Mesmo quando os
Hebreus invadiram a Palestina e mataram os habitantes idólatras da região, isso
foi antes uma guerra de conquista, causada pela cobiça comum, e uma guerra
entre Javé, seu Deus particular, e os Deuses do povo invadido; de fato, a antiga
tendência geral de assimilar na sua própria religião os Deuses das tribos
conquistadas se apresentou muitas vezes na sua história; esta tendência foi
acidamente denunciada pelos profetas, não como uma heresia, mas como uma
apostasia nacional de sua própria Deidade particular, que os havia libertado da
tirania do Egito e conquistado a Palestina para eles.
Além disso,
observaremos que, dentro de uma única religião, havia muitas escolas de
pensamento que coexistiam sem ódio.
O Hinduísmo tem seus
seis darshanas - seis "pontos de
vista" - e mesmo que os
filósofos disputem e debatam, e que cada escola defenda sua própria posição,
não há falta de sentimento fraterno, e todos os filósofos ainda são ensinados
dentro da uma mesma tol ou pâthashâlâ - escola religiosa.
Até em um mesmo
sistema filosófico, o Vedânta, há
três subdivisões reconhecidas - Advaíta, Vishishtâdvaíta, e
Dvaíta - diferindo no mais
fundamental dos ensinamentos: a relação entre Deus e o espírito individual -
mas todas convivem lado a lado, e os colegas da mesma escola aprendem uma, duas
ou as três sem atacar a ortodoxia alheia.
Uma pessoa pode
pertencer a qualquer uma das três, ou a nenhuma delas, e ainda continuar sendo
um bom Hinduísta, embora, como disse antes, nos tempos modernos o sectarismo religioso
tenha se tornado mais acirrado.
No poderoso Império da Roma Antiga todos os credos
eram bem-vindos, todas as religiões eram respeitadas, e mesmo honradas.
No Panteão - o templo de todos os Deuses - de Roma
eram encontradas as imagens que simbolizavam os Deuses de todas as nações
súditas, e os cidadãos romanos demonstravam reverência a todos.
E se uma nova nação entrava na órbita do Império, e
se esta nação adorava uma forma de Deus diversa daquelas já cultuadas, as
imagens ou símbolos dos Deuses da nova nação-filha eram trazidos para o Panteão
da Pátria-Mãe com toda a honra, onde eram entronizados com reverência.
Assim, todo o mundo antigo era todo permeado pela
idéia liberal de que a religião era um assunto de caráter privado ou étnico,
onde ninguém tinha o direito de interferir.
Deus estava em toda parte, em todas as
coisas; que importava a forma sob a qual era adorado?
Ele era um só Ser invisível e eterno, com muitos
nomes; que importava o título pelo qual era invocado?
A palavra de ordem
da liberdade religiosa do mundo antigo ressoa na esplêndida declaração de Shri
Krishna:
"Por quaisquer caminhos que
os homens tomem para se aproximar de Mim, ali mesmo Lhes dou as boas-vindas,
pois de todos os lados todos os caminhos são Meus"
A primeira vez em que a perseguição religiosa
manchou os anais da Roma Imperial foi quando o jovem Cristianismo entrou em
conflito com o Estado, e derramou-se o sangue de Cristãos, não como sectários
religiosos, mas como traidores políticos, e como perturbadores da paz pública.
Eles reivindicaram supremacia sobre as antigas
religiões, e assim provocaram ódios e tumultos; eles atacaram as religiões que
até então haviam vivido em paz lado a lado, declarando que só eles estavam
certos, e os outros todos,
errados; eles suscitaram o ressentimento por causa
de sua atitude agressiva e intolerante, causando distúrbios aonde quer que
fossem.
E pior ainda, deram origem a suspeitas mais sérias
a respeito de sua lealdade ao Estado, ao se recusarem a tomar parte na
cerimônia usual de espargir incenso no fogo que ardia diante da estátua do
Imperador reinante, e denunciaram a prática como idólatra; Roma viu sua
soberania ameaçada pela nova religião, e o mesmo tempo que era largamente
tolerante para com todas as religiões, era duramente intolerante contra
qualquer insubordinação política.
Foi como rebeldes, e não como heréticos, que ela
lançou Cristãos aos leões, e os expulsou de suas cidades para que vivessem em
cavernas e nos desertos.
Foi essa reivindicação do Cristianismo, a de ser a
única religião verdadeira, que deu origem às perseguições religiosas, primeiro do
Cristianismo, e depois por ele.
Pois enquanto a sua religião é sua e a minha é
minha, e ninguém pretende impor a sua religião sobre o outro, não pode surgir
nenhum motivo de perseguição.
Mas seu eu digo:
"Sua concepção de Deus está errada e a minha está certa, só eu tenho a
verdade, e só eu posso apontar o caminho da salvação; se você não aceitar minha
idéia encontrará a danação"; então, logicamente,
se eu pertenço à maioria, devo virar um perseguidor, pois é mais interessante
assar heréticos aqui do que permitir que espalhem suas heresias, danando a si
mesmo e a outros para sempre.
Se, porém, sou da minoria, provavelmente serei
perseguido por homens que não tolerarão tão prontamente a arrogância de irmãos
que não lhes permitem olhar para os céus senão através de seu próprio
telescópio especial.
De perseguido o Cristianismo passou a dominante, e
arrebatou o poder do Estado.
A aliança entre Estado e Igreja tornou meio
políticas as perseguições religiosas.
A heresia na religião se tornou deslealdade; a
recusa em crer da mesma forma que o Chefe de Estado se tornou traição contra
aquele Chefe; e assim foi escrita a triste história da Cristandade, uma
história que todos os que amam a Religião - sejam Cristãos ou não - devem ler
com vergonha, com tristeza, e quase com desespero.
E como a "Divindade que modela nossos fins" determinou a ruína nacional como o mau fruto da falta de fraternidade
em religião!
A Espanha empreendeu uma feroz perseguição contra
os Mouros e os Judeus;
ela os queimou aos milhares, os torturou e mutilou;
quando cansou de assassínios ela os exilou, e suas estradas ficaram coalhadas
de cadáveres ao longo daquele grande êxodo, cadáveres de velhos, de mulheres,
de mães com bebês, de crianças pequenas; as lágrimas, os gritos dos fracos que
ela esmagou tão impiedosa, se tornaram os Vingadores que a levaram à ruína, e
ela caiu de sua posição de Senhora da Europa para o Poder negligenciável que é
hoje.
O Islã contraiu do Cristianismo a doença mortal da
perseguição, e esqueceu os sábios ensinamentos de Alá para seguir o mau caminho
do assassínio do infiel.
O nome de Maomé, o Misericordioso, foi usado para
afiar as espadas de seus seguidores, e na Índia a queda do Império Mogul nasceu
dos gritos dos agonizantes, mortos por sua fé em Aurangzeb.
Na Índia, assim como na Espanha, a perseguição
religiosa resultou em desastre político.
Por isso a necessidade de fraternidade é encarecida
pela destruição que resulta da falta de fraternidade.
Uma lei da natureza é provada tanto pela destruição
de tudo o que se lhe opõe como pela permanência de tudo o que se harmoniza com
ela.
A multiplicidade de credos religiosos seria uma
vantagem, e não um prejuízo, para Religião, se as religiões fossem uma
fraternidade em vez de um campo de batalhas.
Pois cada religião tem uma peculiaridade própria,
algo de especial que as outras não têm para dar ao mundo.
Cada religião pronuncia uma letra do grande Nome de
Deus, o Um sem outro,
e este Nome só será pronunciado quando todas as
religiões emitirem a letra que lhes foi dada para emitir, em melodiosa harmonia
junto com o resto.
Deus é tão grande, tão
ilimitável, que nenhum cérebro humano, por maior que seja, nenhuma religião,
por mais perfeita que seja, é capaz de expressar Sua perfeição infinita.
É preciso um universo em sua totalidade para
espelhá-Lo, ou melhor, universos incontáveis não bastam para esgotá-Lo.
Uma estrela pode falar de Sua Radiância, Ele que é
o Sol de tudo; um planeta,
girando em ritmo constante, pode falar de Sua
Ordem.
Uma floresta pode sussurrar Sua Beleza; uma
montanha, Sua Força; um rio,
Sua Vida fertilizadora; um oceano, Sua Mutabilidade
imutável; mas nenhum objeto, nenhuma beleza de forma, nenhum esplendor de cor,
nem mesmo o coração do homem onde Ele habita, pode expressar as múltiplas
perfeições deste Ser de riqueza infinita.
Em cada objeto, em cada tipo de vida, se vê apenas
um fragmento de Sua Glória, e somente a totalidade das coisas, passadas,
presentes e futuras, pode representar, com sua infinitude, a Sua Infinitude.
Da mesma forma uma religião só pode expressar
alguns aspectos desta Existência multifacetada.
O que o Hinduísmo diz ao
mundo?
Ele diz DHARMA - lei, ordem, crescimento harmônico e regrado, o lugar certo para cada um,
o dever correto, a obediência correta.
O que diz o
Zoroastrianismo?
Diz PUREZA - pensamento, palavra e ato imaculados.
O que diz o Budismo?
Diz SABEDORIA - o Conhecimento todo-abrangente, esposado ao perfeito Amor, amor ao
homem, serviço à humanidade, Compaixão perfeita, a condução do mais baixo e do
mais fraco para dentro dos ternos braços do próprio Senhor do Amor.
O que diz o
Cristianismo?
Ele diz
AUTO-SACRIFÍCIO, e tem na Cruz seu mais caro símbolo, a lembrar que
onde quer que um Espírito humano crucifique a natureza inferior e se erga ao
Supremo, ali refulge a Cruz.
E o que diz o Islã, a
mais jovem das grandes Fés mundiais?
Ele diz SUBMISSÃO - auto-entrega à Vontade única que rege os mundos; e vê aquela Vontade em
toda a parte, de modo que não pode entender as pequenas vontades humanas que
vivem senão quando elas se fundem n'Ela.
Não podemos permitir que se perca uma só destas
palavras que resumem as características de cada grande Fé; assim, mesmo reconhecendo as diferenças entre as
religiões, as
reconheçamos também para podermos aprender, antes de criticá-las.
Que o Cristão nos ensine o que tem a ensinar, mas
que não se recuse a aprender de seu irmão Islamita, ou de seu irmão de qualquer
outro credo, pois cada um tem algo a aprender, e também algo a ensinar.
E, em verdade, melhor prega sua religião aquele que
a torna seu poder motivador, em amor a Deus e serviço ao homem.
Analisemos em detalhe o
porquê de não devermos disputar, à parte destes princípios gerais.
Isso pode ser
resumido em uma única frase:
Porque todas as
grandes verdades das religiões são uma propriedade coletiva,
e não pertencem com
exclusividade a nenhuma Fé.
Por isso não se ganha nada de vital ao trocarmos de
religião.
Não precisamos percorrer todo o campo das religiões
do mundo a fim de encontrarmos as águas da verdade.
Cavemos no campo de nossa própria religião, mais e
mais fundo, até encontrarmos jorrando, pura e copiosa, a fonte da água da vida.
Será mesmo verdadeira a frase acima, sobre a
universalidade das verdades religiosas, ou se trata apenas de palavreado?
Podemos seguir
quatro linhas de estudo a fim de provarmos que é um fato: os Símbolos comuns a todas; as Doutrinas comuns; as Lendas comuns, e a
Moralidade comum a todas.
Cada uma destas linhas poderia ser uma seção de
todo um livro intitulado A Fraternidade das
Religiões, mas em uma palestra, ou num artigo, elas só podem
ser abordadas superficialmente, com a esperança de que o ouvinte ou o leitor
consulte uma biblioteca depois de o esboço ter-lhe sido apresentado, e faça ele
mesmo o estudo que só foi delineado esquematicamente.
Símbolos Sagrados:
Em toda a parte, nos templos, tumbas e outros
edifícios das religiões vivas e mortas, encontram-se os mesmos símbolos.
Tomemos a Cruz
Que a Cruz foi usada em todo o mundo como símbolo
religioso muito antes do tempo de Jesus, chamado de o Cristo, já não é matéria
de debate, mas de constatação comum.
A pesquisa arqueológica já estabeleceu isso quanto
ao passado, e a observação durante viagens o estabelece quanto ao presente.
O povo etrusco já era antigo antes da Roma infante
nascer.
As tumbas etruscas pertencem a um tempo tão remoto
que, quando algumas delas foram abertas em nossos dias, somente a primeira
pessoa que as penetrou pôde vislumbrar o perfil de um corpo, antes que este se
desintegrasse em pó impalpável por causa do afluxo de ar.
Mas embora o corpo da pessoa virasse pó, seus
artefatos sobreviveram, e vasos junto aos pés, jarros e salvas e outros objetos falam de sua Fé: nestes antigos exemplares de cerâmica foi traçada a cruz, dizendo que
aquele homem, cujo corpo se desvaneceu em poeira invisível, havia morrido na
certeza da vida imortal, triunfante sobre a morte.
Do Egito - onde ela está gravada em obeliscos, pintada em câmaras mortuárias onde
múmias jazem em seus sarcófagos, afrescada em paredes de templos - ela viajou
para leste através da Assíria, Caldéia e Índia, até a China.
Tabuletas assírias, cerâmica caldéia, templos
indianos e chineses, empregam a cruz como um precioso símbolo da vida.
Viajou também através do Pacífico até a América;
existe no México, onde os antigos templos maias e quíchuas estão sendo
desenterrados por exploradores incansáveis, e ali se vê mais uma vez
reproduzida a cruz em sua forma egípcia.
Atravessando novamente o Atlântico, chegou à
Escandinávia, e nas antigas sagas se ouve falar do Martelo de Thor, mais uma vez a cruz.
Deixemos os edifícios puramente religiosos e
passemos ao Templo Maçônico,
o tesouro do simbolismo antigo, e ali, trazida do
antigo Egito, está a Cruz sobre a Rosa
- a
Cruz, símbolo da vida; a Rosa, símbolo da matéria e
igualmente símbolo do mistério.
E mais, o próprio símbolo do R.W.M., gravado ou
usado como jóia, não passa da Cruz Svástika dobrada sobre si mesma até adquirir
aquela forma.
Por que a Cruz é assim
tão universal?
Porque é o sinal do Espírito triunfando sobre a
matéria, modelando-a, conformando-a, forçando-a a receber sua marca.
É o símbolo do poder criativo, do Deus Supremo
sacrificando a Si mesmo dentro das limitações da matéria, assim como em dias
mais recentes e desespiritualizados se tornou o símbolo do poder criativo no
pólo inferior do ser, em vez de no pólo superior.
Pois a cruz como símbolo fálico, como tanto se
tornou nestes últimos tempos, é apenas a cruz arrastada do céu para a terra;
assim como, em verdade, o poder criativo nos homens, animais e plantas, é o
reflexo, na matéria densa, da Vida Universal de onde todos nós nascemos.
O mais santo dos poderes, em verdade, embora
degradado aos seus usos mais vis.
E a cruz significou também, através de uma fácil
transição, o seguro renascimento da vida além da tumba ou da pira, a certeza da
imortalidade. Quem, então, pode dizer, em qualquer sentido exclusivo, "a
Cruz é minha"?
Minha sim, quando incluir a tudo.
Minha, quando não excluir nada.
E o duplo Triângulo, um voltado para cima e
outro para baixo?
Ele é tão universal quanto a Cruz, simbolizando o
entrelaçamento do Espírito e da Matéria, do fogo e da água do mundo antigo.
E a Estrela de cinco pontas, que é a Jóia no
Lótus, o Eu no homem?
E a Estrela de sete pontas, e a de nove?
E o Círculo com um ponto no centro, ou com uma Cruz
inscrita, ou com uma Cruz acima ou abaixo dele?
E o Olho, sozinho ou dentro de um Triângulo?
E o Lótus, ou o Lírio, de Vishnu e da Virgem
Maria?
E o Disco giratório, ou relâmpago, da China, Japão,
Índia, Tibete, Grécia, Roma e Escandinávia?
E a Serpente - do Bem e do Mal - e o Dragão,
e a Fruta, e a Árvore?
Mas o tempo é escasso para mencionar sequer um
décimo de todos os símbolos gerais, comuns à mais remota antigüidade da qual
permanecem traços e à mais recente igreja construída pelo mais moderno
arquiteto.
E isso que não falei nada do simbolismo dos ritos e
cerimônias, da tonsura, da sobrepeliz, da estola e da capa; da mão erguida com
dois dedos e o polegar se tocando, gesto usado pelo Papa e pelo sacerdote pagão;
do cerimonial dos gestos, das aspersões simbólicas - e de uma hoste infindável
de detalhes.
Não existe senão Um
Deus, uma só Natureza, e uma só Religião.
E o simbolismo é a linguagem geral com que todas as
religiões falam de sua origem a partir da religião única, a RELIGIÃO-SABEDORIA, a RELIGIÃO-MUNDIAL, antiga mas sempre nova, e com que também contam as verdades perenes
sobre Deus e a Natureza, motivo pelo qual foram instituídas pelos Irmãos Mais
Velhos da Humanidade.
O simbolismo é a linguagem comum, e nenhuma
religião que o emprega - e todas o empregam - pode reivindicar ser especial.
As Doutrinas Comuns a Todas:
Passemos à análise
das doutrinas que são comuns a todas as grandes religiões, e descobriremos que
as verdades fundamentais sobre onde cada religião é erguida formam uma mesma
estrutura básica.
Quais são estas doutrinas principais?
A Unidade de Deus; a
Trindade da manifestação divina; as Hierarquias suprafísicas e seus mundos; a
Natureza do Homem; sua Evolução; as grandes Leis.
Há outras, mas neste
breve sumário devo me limitar às mais importantes.
1 -A Unidade de
Deus.
Qual religião pode reivindicar um monopólio
desta doutrina?
Pergunte ao
Hinduísta e ele responderá:
"Só existe Um,
não há outro".
Pergunte a um Parsi, e ele falará de Zarvan Akarana,
o Ilimitado.
Pergunte ao Judeu, e ele dirá: "Ouve, oh Israel! O Senhor
nosso Deus é Um".
Pergunte ao Budista, e ele falará do Um, incriado, universal, de onde vêm a criação e os
particulares.
Pergunte ao Cristão e ele responderá "Só há um Deus".
Pergunte a um filho
do Islã, e ele bradará "Só Deus é Deus, e não há
nenhum outro".
Os grandes doutores
do Islã e os grandes pândits Vedânta do Hinduísmo discorrem exatamente nas
mesmas linhas sobre a Existência universal única, e estes arrazoados formam uma
das pontes entre o Hinduísmo e o Islamismo por onde, esperamos, muitos pés
poderão passar em dias vindouros.
As religiões, em
face destas declarações categóricas de cada uma, não podem disputar sobre a questão da unidade.
Tudo o que podem
fazer é vestir a grande verdade única em roupagens diferentes, e rotulá-la como
nomes diferentes.
Mas um homem
permanece o mesmo homem quando muda seu casaco, e uma verdade permanece a mesma
verdade, embora expressa em línguas diversas.
Cada religião tem sua
própria língua, e as variedades de língua mascaram a identidade de crença.
2 - A Trindade da
Manifestação Divina.
A que religião pertence com exclusividade o
ensinamento sobre a Trindade?
Neste ponto as
religiões mortas do passado reforçam as religiões vivas do presente - como de
fato o fazem todas as verdades básicas.
O filósofo Hindu
diz: Sat, Chit, Ânanda; a voz popular proclama: Brahmâ, Vishnu, Mahâdeva. O
Budista fala de Amitâbha, a Luz Ilimitada, Avalokiteshvara e Manjusri; O Parsi,
de Ahura-Mazda, Spento e Angro-Mainyush, e Armaiti; o Hebreu, de Kether, Binah
e Chockmah; O Cristão, do Pai,
Filho e Espírito Santo.
O Muçulmano, por
razões históricas óbvias, não se junta ao coro; ele diz "Ele não engendra, nem é
engendrado", aludindo ao
ensinamento Cristão; mesmo assim no Corão rebrilham os atributos de o Poderoso,
o Misericordioso, o Sábio, tão característicos da triplicidade do Ser.
Esta triplicidade é
melhor acompanhada mantendo-se claras na mente as marcas características de
cada aspecto - do primeiro, a Fonte da Eterna Beatitude, a Auto-existência, o
Poder; do segundo, a Fonte da Consciência, de onde procedem as encarnações; do
terceiro, a Mente Criativa ativa que dá existência ao universo.
3 - As Hierarquias
Suprafísicas e seus Mundos.
Aqui a diferença de
língua, de expressão, mencionada antes, tem dado origem a muitas concepções
equívocas.
No Ocidente, Deus e
seus equivalentes sempre significam o Um, sendo, além disso, declarado pelo
Cristianismo que cada uma das Três Pessoas da trindade é Deus, formando em sua
totalidade um só Deus, e não três; há uma unidade de natureza com uma
diversidade de características.
Mas esta palavra
Deus jamais é aplicada no Ocidente às vastas Hierarquias suprafísicas que
povoam os degraus superiores da escada do Ser.
Eles são os Arcanjos, Anjos,
Querubins, Serafins, Potestades, venerados,
invocados, muitas
vezes cultuados, mas sempre reconhecidos como ministros,
como agentes do
Supremo.
Estes seres são
conhecidos pelo Parsi como os Ameshaspentas e suas hostes;
pelos Hebreus e Maometanos como Anjos; pelos Hindus e
Budistas como Devas -
literalmente Seres Brilhantes, um epíteto descritivo de fato adequadíssimo.
Infelizmente os
Ocidentais têm traduzido a palavra Deva como Deus, e por isso temos os trinta e
três milhões de Deuses, sobre os quais os ignorantes fazem troça.
A palavra Brahman é o verdadeiro sinônimo da palavra Deus, e Deva o é de Anjo.
Todo leitor de
literatura inglesa sabe que John
Bunyan, em seu Pilgrim's Progress, usa este mesmo termo, os Seres
Brilhantes, para designar os Anjos;
e esta é a palavra
natural para qualquer vidente usar, tendo-os visto fulgurar através do empíreo
em suas missões de administração, de socorro e de libertação.
O Deva, para o
Hinduísta e o Budista, é exatamente o mesmo que o Arcanjo e o Anjo
do Cristão e do Muçulmano,
e sua existência não tira nada da unidade de Deus em um caso mais do que no
outro.
Se fôssemos seguir
esta linha de argumento poderíamos da mesma forma supor que os Vice-reis, os
Juízes, os Magistrados, os Comissários, os Generais e os Almirantes do Império
diminuem a autoridade suprema do Rei-Imperador,
como os Devas
diminuiriam a supremacia de Deus.
Eles apenas
administram as leis da natureza, auxiliam os homens, mulheres e crianças,
salvam-nos de muitos perigos e os encorajam em muitas aflições;
não é que eles sejam
Deus - a não ser que neste sentido também sejamos Deus - mas que Deus está
neles assim como em nós, e só podem entender o politeísmo dos Hinduístas e
Budistas aqueles que percebem que "é por causa do Eu que o Deva é amado".
Quão miserável, quão
solitário seria o mundo se só houvesse as inteligências do homem e de Deus!
Quão vazio seria,
não fosse por estes Seres Brilhantes que ocupam cada degrau da escada acima de
nós!
Há uma vasta escada
de consciência desde o mineral até o Senhor do Universo, e estamos em
determinado nível nesta escada, não diferindo em essência daqueles acima ou
abaixo de nós.
Os Devas não
perturbam, mais que os homens, a unidade de Deus.
É fato que os
Hinduístas e os Budistas, assim como os Católicos Gregos e Romanos, tiram
partido do ministério dos Anjos, e invocam estes Ministros divinos.
Por que não?
O Anjo, o Deva,
encarna um fragmento do Eu Universal, e a luz de Brahman brilha através dele.
Será errado que os
frágeis rebentos de piedade, amor e culto no mais ignorante, mais tolo e mais
subdesenvolvido dos filhos do Pai Universal,
cresçam debaixo da
forma radiosa de alguma Inteligência benévola, mais prontamente compreensível, mais
facilmente adorável do que o Eu Onipresente?
Idolatria?
Ah, não!
Não no mau sentido;
a idolatria errada é adorar o eu separado; a idolatria certa é adorar o Eu
Universal sob qualquer forma que estimule a inteligência, que avive o coração.
Os mundos das
Hierarquias são os mundos mais sutis que o físico, imperceptíveis pelos
sentidos físicos.
Os livros Hindus e
Zoroastrianos falam extensamente destes mundos e deles dão muitas descrições.
O Buda nos fala que
viu estes mundos, "o mundo
abaixo, com todos os seus espíritos, e os mundos acima".
Os Cristãos e
Muçulmanos acreditam em um céu e um inferno, e suas escrituras falam disso.
Não vale a pena nos
estendermos em fatos tão bem conhecidos.
4 - A Natureza do
Homem.
O homem é divino, em sua
essência mais íntima é um Espírito, usando vestes de matéria.
O Hindu proclama "Eu sou Ele".
O Budista Chinês
fala do "homem
verdadeiro sem posição",
o Espírito-jóia no lótus do corpo.
O Fravarshi do
Zoroastriano é o Âtmâ do Hindu.
O Hebreu declara "Vós sois Deuses", e o Cristão proclama exultando
que o corpo é o templo de Deus.
O Muçulmano não fala
tão claramente, mesmo assim temos a imortalidade claramente atribuída ao homem,
e então quando lemos que "tudo perecerá
salvo a Face de Deus"
(Al-Corão, XXVIII) somos forçados a concluir que
eles também reconhecem a identidade na natureza de Deus e do Homem.
E esta unidade transparece claramente no
ensinamento Sufi:
Jãmi declara:
Tu és o Ser absoluto; tudo o mais não passa de um
fantasma,
pois em Teu universo todos os Seres são um.
Tua Beleza, que cativa o mundo, a fim de expressar
suas perfeições
aparece em milhares de espelhos, mas é uma só.
No Gulshan-i-Raz lemos:
Tu és o olho da reflexão
enquanto Ele é a luz do olho...
quando olhas bem dentro da raiz da matéria,
Ele é o Vidente, e o Olho, e a Visão.
"Às vezes
se pergunta: O homem tem um
Espírito?"
Não, não tem.
Ele é um Espírito e
possui um corpo.
O corpo não possui o
Espírito, mas o Espírito possui o corpo.
Ele não é dono do
Espírito, mas o Espírito é o senhor do corpo.
O corpo é
transitório, o Espírito é eterno; o corpo nasce e morre no mundo; o Espírito é
não-nascido, é imortal.
Se alguma vez
observamos um moribundo, que conheceu sua própria natureza, e viu como o
Espírito se rejubila na vida mais vasta e potente que se abre diante de si
quando é descartado o peso da carne, devemos ter compreendido a verdade da
frase que diz que não existe tal coisa chamada morte, em qualquer sentido real
do termo.
A morte é a passagem de uma sala para outra dentro
da mansão do universo;
a morte é a retirada de um pesado capote e a
passagem para uma vida em traje mais ligeiro.
Na morte o homem não perde nada de seus poderes
espirituais, intelectuais e emocionais; ele não perde nada senão a carne.
Nós somos Espíritos, Centelhas do Fogo Único, Raios
de um Único Sol; estamos na imagem da eternidade de Deus; somos tão eternos
quanto Ele.
5 - Sua Evolução.
Aqui pode brotar uma
pergunta dos lábios de alguém:
"Não se pode
dizer que as religiões ensinem o mesmo a este respeito.
Como se pode reconciliar a reencarnação do
Hinduísta com a criação especial de cada Espírito do Cristão?"
Obviamente não se
pode; a doutrina de uma criação especial para cada Espírito é moderna,
antifilosófica e blasfema, e completamente indefensável.
Mas posso alegar que até
533 dC o Cristianismo não negava a
pré-existência do Espírito, e cabe aos Cristãos explicar por que negaram a
antiga doutrina e impuseram uma heresia ao mundo Cristão.
A doutrina da
reencarnação - o desdobramento dos divinos poderes do Espírito através de uma
série de veículos cada vez mais evoluídos e melhores - é uma doutrina comum a
todas as antigas Fés.
O Hinduísmo e o
Budismo a ensinam, ou mais
precisamente, fundamentam seus ensinamentos neste fato natural bem
estabelecido.
Os Egípcios baseavam
nela suas concepções da
vida pós-morte; Platão,
Pitágoras e os mundos
grego e romano a reiteravam.
Os Judeus a
ensinavam, como pode ser lido em Josephus, na Kabbala, e em outros lugares.
Era a doutrina
corrente no tempo de Jesus, e foi aludida por Ele em mais de uma ocasião;
diversos Padres da Igreja a ensinaram; a doutrina permaneceu na Igreja Cristã
entre algumas seitas como os Albigenses; reapareceu com força na Igreja da
Inglaterra, nos séculos XVII e
XVIII, e foi ensinada por
clérigos desta Igreja assim como por leigos eruditos.
Um pouco mais tarde
Wordsworth cantou:
Nosso nascer é apenas dormir, é tão-somente
olvidar..
E esta alma que vive em nós, de nossa vida a
estrela,
já habitou noutro lugar e bem de longe procede ela.
Mais uma vez, em
nossos dias, esta doutrina está sendo pregada na Cristandade por clérigos da Igreja
Fundamentalista.
Há uma frase,
acreditada pelos Cristãos ter sido dita por seu Mestre, que é de longe um
argumento mais persuasivo do que o que emerge do significado de textos
disputados:
"Sêde, pois,
perfeitos", ordenou Ele aos Seus
discípulos, "assim como
vosso Pai que está no céu é perfeito".
Perfeitos assim como
Deus é perfeito.
Pretende-se que
qualquer um de nós, frívolos, tolos, limitados, podemos
- antes que o túmulo
nos receba ou o fogo nos consuma - nos tornar tão perfeitos como Deus é perfeito,
onisciente, todo-poderoso, todo-santo?
Que palavras humanas podem abranger a
descrição das perfeições do Supremo?
Mesmo assim Jesus não
hesitou em dizer "Sêde perfeitos
assim como vosso Pai no céu é perfeito".
Como este mandamento
pode ser obedecido senão através de muitas, muitas vidas, ao
longo das quais subimos lentamente na longa escada da perfeição?
Que nenhum Cristão,
pois, deixe de reivindicar sua esplêndida herança como filho de Deus: que ele
reclame seu direito de nascença de reproduzir a semelhança divina em si mesmo.
A posição do
Muçulmano quanto à reencarnação é duvidosa: alguns sustentam que ela pode ser inferida do Corão, mas certamente ela
não faz parte da educação religiosa Muçulmana comum.
Mas no século XIII dC temos o dervixe Jelâl, cujos ensinamentos são preservados
no Mesnavi, e ele diz:
Eu morri como mineral, e me tornei uma planta.
Eu morri como planta, e reapareci em um animal.
Eu morri como animal, e me tornei um homem.
Por que então devo
temer?
Quando é que me tornei
menor ao morrer?
Da próxima vez eu morrerei como homem, para que
possa ganhar asas de anjo.
E mesmo do anjo devo esperar avanço; todas as
coisas perecerão, salvo Sua Face.
Mais uma vez devo alçar meu caminho acima dos
anjos;
E me tornar o que não cabe na imaginação, e por fim
me tornarei nada, nada;
pois as cordas da harpa cantaram para mim:
"Em verdade
havemos de voltar para Ele".
A posição do
Zoroastriano também é dúbia neste ponto - alguns Parsis a afirmam, outros a
negam; e somente podemos apontar para o fato de que o Zoroastrianismo é "uma religião em
fragmentos", e dizer que esta
doutrina é ensinada nos escritos gregos e neoplatônicos, que parecem reproduzir
os ensinamentos Persas, depois da destruição da biblioteca de Persépolis por
Alexandre.
6 - As Grandes Leis.
Por "Grandes Leis" quero significar a Lei do Karma,
ou de causa e efeito; e a Lei do sacrifício, ou de propagação e manutenção da
vida.
A Lei do Karma é
apresentada pela ciência nas seqüências invariáveis que ela chama de leis da
natureza; o teólogo a chama de justiça divina.
É a rocha sobre onde
tudo é construído, o verdadeiro sustentáculo de todo o pensamento e de toda
atividade.
Ela prevalece em
todos os mundos, densos e sutis; é uma lei universal.
É bem clara no
versículo Cristão:
"Não vos
enganeis, de Deus não se zomba; o que quer que um homem plante,
aquilo é o que
colherá" (Gálatas, VI, 7).
Diz Buda:
"Se um homem fala ou age com pensamento
maligno, a dor o segue, assim como a roda segue as pegadas do boi que puxa o
carro..
Se um homem
fala ou age com um pensamento puro, a felicidade o segue como a sombra que
jamais o abandona".
O Hinduísmo abunda em
tais passagens, e elas podem ser colhidas em todas as escrituras.
A Lei do Sacrifício é
a declaração do fato de que tudo o que vive, vive pelo sacrifício, forçoso ou
voluntário, de outras vidas; que a Vida emanada do Supremo é o esteio do mundo.
Nos reinos inferiores
o sacrifício é compulsório - os minerais se desintegram para que a planta possa
viver; as plantas, para que animais e homens vivam.
No reino humano, com
o grande crescimento da inteligência, se torna possível a associação voluntária
da vontade individual com a Vontade universal.
À medida que isso se
torna mais completo se desdobra a vida espiritual, e por fim se realiza
plenamente.
O símbolo da Cruz
encarna, para o Cristão, a vida ideal de sacrifício; e todo aspirante a
Brahman, a Buda, ou a Cristo, trilha o Caminho da Cruz.
O estudante pode
expandir este breve resumo em um livro, e quanto mais ele estudar, mais claramente transparecerá a Fraternidade
de todas as Religiões
expressa através de
suas Doutrinas Comuns.
Temos ainda de
considerar as Lendas Comuns e a Ética Comum a todas elas.
As Lendas Comuns:
Há certas histórias,
que se contam sobre os Fundadores das Religiões, cujo perfil é semelhante em
todas elas; esta identidade de linhas gerais se deve ao fato de que cada
Fundador é visto como uma encarnação do Logos, e que o símbolo do Logos, em todos os credos, é o Sol.
De fato o Sol - a
fonte da vida e da luz para os mundos deste sistema - é considerado nas antigas
religiões como sendo o corpo do Logos, Sua forma manifesta no plano da matéria
física, ao passo que nas religiões modernas o Sol é usado como símbolo do
Senhor onipresente, imagem perfeita para Aquele que sustenta todos os mundos.
A sempre repetida
lenda do Sol, a história anual de nossa Terra, é a verdade fundamental, é o
mito estruturador da manifestação física de todo Fundador de uma grande
religião, e Suas vidas humanas sempre repetem o drama do Sol sobre o palco do
mundo.
Esta declaração não
vale quanto à religião do Islã, e a razão é evidente.
O grande Profeta da
Arábia é considerado pelos
seus seguidores como sendo puramente humano, e não como uma encarnação do
Logos, e eles pensam corretamente; mas em todas as religiões onde o Fundador é
visto como uma encarnação divina reaparece o perfil do grande mito.
Este fato tem sido
usado como argumento para provar que os Fundadores não possuem existência
histórica, mas isso é um equívoco.
A vida histórica
contém os elementos que reencarnam o mito, e da figura histórica fulgem os
raios do Sol divino; não é que seja o Sol o Fundador, mas que ambos, Sol e Ele,
são representantes físicos da vida central de um sistema mundial, e aquilo que
o Sol é para seu sistema o Fundador é para Sua religião.
O Mitra da Pérsia tinha como ícone o Touro, assim
como Osíris no Egito,
porque o Touro era o
signo zodiacal do equinócio vernal - a Ressurreição - quando a religião se
estabeleceu; Oannes na Caldéia tinha o Peixe como símbolo, pela mesma razão;
Júpiter era Júpiter Ammon; e Jesus era o Cordeiro, pela mesma razão.
O Fundador Divino
nasce em um lugar secreto, assim como o fez Shri Krishna em uma prisão, e o
Senhor Mitra em uma caverna, e o Senhor Jesus em uma gruta - mudada para estábulo
nos relatos canônicos.
Os mistérios de
Adônis antes eram
celebrados, diz-se, também numa gruta.
O nascimento é no
solstício de inverno, e é sempre
acompanhado por eventos maravilhosos, que variam conforme a nação.
Os Devas fazem chover
flores sobre Devâki, a mãe, e sobre seu Filho Divino;
os Anjos enchem o ar
com suas canções quando Maria, a Mãe Virgem, dá à luz o Divino Infante; vozes divinas cantam
que o Senhor nasceu quando Neith, a Virgem Imaculada, dá nascimento a Osíris, o
Salvador; quando nasce Zoroastro, a luz de seu corpo enche o aposento com sua
radiância; os Devas cantam jubilosos quando Buda nasce, e nos escritos
chineses, embora não nos indianos, diz-se que ele nasce de uma Mãe Virgem,
Mâyâ, encoberta por Shing-Shin, o Espírito.
O nascimento de diversos destes Seres foi anunciado
pelo aparecimento de uma estrela. Krishna e Jesus foram ambos ameaçados de morte na
infância,
um por Kamsa, o outro
por Herodes.
Nârada proclama a
natureza de Krishna infante, Asita fala das futuras glórias do pequeno Buda,
Simeão saúda o Jesus bebê como a salvação do mundo.
Buda é tentado por
Mâra, e Jesus por Satã.
Todos estes Grandes
Seres curaram doentes, endireitaram deformados,
ressuscitaram mortos.
Assim se assemelhando
em suas vidas, os Fundadores das Fés mundiais se assemelharam também em suas
mortes.
Sua morte é violenta,
de qualquer forma que ocorreu; e sempre emergiu da idéia de sacrifício, o
sacrifício do Logos por quem os mundos foram criados,
como consta no Purusha
Sukta do Rig-Veda.
Desta morte Eles se
erguem triunfantes, ascendendo ao céu.
Osíris é assassinado,
Seu corpo é desmembrado, como o do Purusha do Veda;
mas Ele se ergue e
reina.
Thammuz é lamentado
morto, e festejado ressurrecto.
A história de Adônis
é uma réplica do Thammuz sírio.
Krishna é alvejado
por uma flecha de um caçador, e sobe para Seu próprio mundo.
Mitra é morto, e
ascende da morte, para a salvação de Seu povo.
Jesus é morto, mas se
ergue e ascende aos céus.
E todas as mortes e
ressurreições recaem no equinócio vernal.
Estas inumeráveis
semelhanças não podem surgir do acaso, são sinais de uma trajetória comum,
reaparecendo continuamente.
As semelhanças
superficiais saltam aos olhos à medida que folheamos as páginas das escrituras
mundiais, e quanto mais estudamos, mais as lendas comuns se revelam os sempre
repetidos contos de fadas da Lenda Mundial.
A Ética Comum:
Que uma moralidade
sublime seja uma posse comum a todas as Religiões Mundiais é um fato
estabelecido bem demais para necessitar discussão.
Tudo o que é preciso
aqui é fazer algumas poucas citações, o bastante para indicar os ricos veios de
metal de onde estas inestimáveis pepitas são retiradas.
Devolver Bem pelo
Mal.
O Manu diz:
"Com o perdão
do mal o sábio é purificado"; "Não vos
enfureçais com o homem furioso; se vos falam asperamente, respondei com
suavidade".
No Sâma-Veda:
"Faz a trocas
difíceis de fazer: paz pela ira; verdade pela falsidade".
O Buda ensina:
"A um homem que
tolamente me prejudica, lhe devolvo a doçura de meu amor incondicional; quanto
mais ele me der mal, mais bem lhe devolverei";
"Que um homem
vença a raiva com o amor; que vença o mal com o bem; que vença a cobiça com a
liberalidade, a mentira com a verdade";
"O ódio não
cessa jamais com ódio; o ódio cessa com o amor".
Lao-Tsé diz:
"Ao bom dou
bondade; ao não-bom também dou bondade. Ao fiel dou fidelidade; ao não-fiel
também dou fidelidade; a Virtude é fiel. Recompensa o mal com gentileza".
Confúcio respondeu a um questionador:
"O que não queres para ti não o faças a
outrem; quando estiveres trabalhando para outros, que seja com o mesmo zelo
como se fora para ti mesmo".
Jesus disse: "Amai vossos inimigos, abençoai os que vos amaldiçoam, fazei o bem
aos que vos odeiam, e rogai por aqueles que vos desprezando abusam de vós e vos
perseguem".
Humildade e Ternura.
Lao-Tsé diz:
"Com vigilância constante sobre a natureza
passional, e com ternura, é possível se tornar uma criancinha.
Afastando a impureza do olho oculto do coração é
possível se tornar imaculado.
Há uma pureza e quietude com as quais podemos reger
todo o mundo.
Por preservar a ternura eu me torno forte".
"O sábio... coloca a si mesmo por
último, mesmo assim ele é o primeiro; ele abandona a si mesmo, mas mesmo assim
é preservado.
Não vem isso de ser altruísta?
Por isso ele preserva intacto o auto-interesse.
Ele não se exibe, e portanto brilha.
Ele não se autopromove, e por isso é distinguido.
Ele não louva a si mesmo, e por isso tem mérito.
Ele não louva a si mesmo, e assim permanece no
alto".
Jesus ensina:
"A não ser que
vos torneis como crianças pequenas não podereis entrar no reino dos céus"; "Aquele que exaltar a si mesmo será rebaixado, e aquele que se
humilhar será exaltado".
A Retidão é mais Importante que as Formalidades.
O Manu declara a lei da ação "mental, verbal e
corpórea": "desta
ação tríplice, saiba o mundo que é o coração o seu instigador"
"A um homem contaminado pela sensualidade, nem
os Vedas, nem a liberalidade, nem os sacrifícios, nem as observâncias, nem
as austeridades, lhe trarão felicidade".
O Buda diz: "É o coração da fé acompanhando as boas ações o que como que
espalha uma sombra benéfica do mundo dos homens ao mundo dos anjos".
Jesus lamentou: "Vós pagais dízimo da hortelã, do endro, do anis e do cominho, e
omitistes os preceitos mais importantes da lei - justiça, misericórdia e
verdade".
As Sefirats são explicadas do
seguinte modo, de acordo com Eliphas Levi:
(Evolução do Homem)
1 - Kether - A Coroa, o poder equilibrante ;
2 - Hocmah - A Sabedoria, equilibrada na sua
ordem imutável pela iniciativa da Inteligência ;
3 - Binah - A Inteligência ativa, equilibrada
pela Sabedoria ;
4 - Chesed - A Misericórdia, segunda concepção da Sabedoria,
sempre benévola porque é forte ;
5 - Geburah - O Rigor necessitado pela
própria Sabedoria e pela Bondade.
Sofrer o mal é impedir o bem.
6 - Tiphereth - A Beleza, concepção luminosa
dos equilíbrio nas formas, o intermediário entre a coroa e o reino, o princípio
mediador entre o criador e a criação ;
7 - Netsah - A Vitória, triunfo eterno da
Inteligência e da Justiça ;
8 - Hod - A Eternidade das vitórias do
espírito sobre a matéria, do ativo sobre o passivo, da vida sobre a morte ;
9 - Iesod - O Fundamento, isto é, a base de
toda crença e de toda a verdade, o Absoluto ;
10 – Malkuth - O Reino, o Universo, a Criação, o
espelho de Deus,
a Razão Suprema.
************
Eu poderia prosseguir assim citando texto após
texto sobre cada virtude, e da árvore de cada religião se poderia retirar
folhas semelhantes
Pois todas ensinam
as mesmas verdades; todas são canais da vida única; todas as escrituras repetem
a mensagem única, porque só existe uma única grande Fraternidade de Mestres, e cada um que dela procede fala a mesma língua.
Daí que as religiões não
são rivais, e não devem odiar-se mutuamente.
Elas são filhas de um mesmo pai, proclamando para o
benefício da humanidade as verdades que aprenderam na casa ancestral.
Existe uma Fraternidade de Religiões real, e todos
os que estudam as religiões do mundo devem reconhecer a identidade de seus
ensinamentos.
Para quem estuda Mitologia Comparada, todas as religiões
são igualmente falsas, e são frutos da ignorância.
Para um Teosofista todas as religiões são
verdadeiras, e são o fruto da SABEDORIA.
Toda religião tem o mesmo direito a todas as
verdades, e nenhuma pode reivindicar nada como seu exclusivamente, "meu, não teu nem dele".
Antes a frase verdadeira é "meu, porque é teu e é
também dele".
Há uma só Religião - o conhecimento de Deus, e todas as religiões são ramos desta mesma árvore, a Árvore da Vida,
cujas raízes estão no céu enquanto seus ramos se esparramam no mundo dos
homens.
A raiz celeste é a SABEDORIA - não a fé, não a
crença, não a esperança, mas o conhecimento do Deus que é a Vida Eterna.
De qualquer um de seus ramos uma pessoa pode colher
uma folha para a cura das nações.
Que ninguém negue o que para outra pessoa é
verdade, pois ela pode ver uma verdade que outros não conseguem ver; mas que
ninguém tente impor sua própria visão sobre outros, pois pode cegá-los ao
forçá-los a ver o que não está dentro de seu campo de visão.
Só existe um Sol, e cada energia em nossa Terra não
passa de alguma forma de força solar; e assim como um só Sol alimenta toda a
Terra, um só Eu brilha em todos os corações.
Só existe uma blasfêmia - a negação de Deus no
homem.
Só existe uma heresia - a heresia da separatividade, que
diz: "Sou
outro além de ti, nós não somos um só".
Para a redenção do mundo nós precisamos mais do que
altruísmo, por mais nobre que ele seja.
Precisamos aprender a anulação do eu individual, o
sacrifício, a auto-entrega,
mas não estaremos firmes no Um antes de podermos
dizer "Não há outros;
é o Eu em tudo".
Quando todos os
homens disserem isso o mundo conhecerá sua Era Dourada:
quando um homem diz isso através de sua vida, sua
presença é uma bênção onde quer que ele vá.
Somos irmãos, mas mais que irmãos.
Os irmãos têm apenas um mesmo pai; nós temos um Eu
comum.
Em tudo à nossa volta vejamos a Glória do Eu, e
lembremos que negar o Eu no mais baixo é negá-lo em nós mesmos e em Deus.
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